Entre os sistemas de decoração ocupa um dos principais
lugares a técnica da decoração aplicada: a relativa facilidade da sua
execução permitiu a sua aplicação tanto em tempos antigos como em épocas
mais recentes. Consiste em aplicar uma série de elementos previamente
modelados a objectos de vidro com função decorativa: a aplicação realiza-se
antes que o objecto e a decoração vítrea solidifiquem por completo;
realiza-se assim um processo de adesão recíproca entre as partes que, já
unidas, se introduzem num forno de recozimento para que através de um
processo lento de arrefecimento, se unam a uma temperatura ambiente.
Em Portugal, esta técnica foi bastante desenvolvida na
Fábrica da Vista Alegre, segundo um processo novo inventado por Appley
Pellat, que consistia em preparar-se à parte uma pequena bolsa cilíndrica de
vidro cristalino, sendo um dos lados aderente à cana e o outro com uma
abertura pela qual se introduzia o camafeu, feito de caulino e de
super-silicado de potassa, ligeiramente cozido e ainda quente; fechava-se a
seguir a bolsa, levada ao rubro e premida, fazendo com que a figura ficasse
ao centro, após o que embocava então o vidreiro a cana enquanto reaquecia o
vidro na outra extremidade, aspirando o ar em vez de soprar, e aperfeiçoando
assim o colapso por efeito de pressão atmosférica, fazia com que o vidro e o
camafeu passassem a constituir uma massa
homogénea.
Este processo, designado
cristallo
ceramic, "além de ser prático e artístico para decoração das peças
de vidro, servia para prestar homenagem a personagens célebres. Na fábrica
da Vista Alegre foram assim homenageados, além de outras personagens, vultos
políticos, como o Duque de Palmela, D. Pedro IV e a Rainha D. Maria II".
São inúmeros os diversos tipos de decorações aplicadas:
basta-nos recordar alguns casos mais famosos, como a aplicação de gotas (humpen)
a jarros e outros objectos, que tem a sua origem na vidraria tardo–romana e
que se converteram em produtos típicos da produção alemã medieval e
renascentista graças ao muito difundido jarro alemão com saliências
aplicadas, chamado römer; ou também o caso dos chamados
vasos alados ou com aletas (flügelglass, no mundo alemão)
caracterizado pelas suas asas decoradas com serpentinas, típicas da arte do
vidro veneziana do séc. XVI e barroca, espalhada também na Alemanha; ou
também a aplicação de adornos compostos por flores, assim como a produção de
objectos figurados, compostos por várias partes aplicadas sobre um corpo
principal soprado; ou também a formação de asas aplicadas sobre vasos, etc.