projecto museu do vidro

 

FEIS - Fábrica Escola Irmãos Stephens

 

 

 

Até 1992, era a fábrica de vidro mais antiga que se encontrava em funcionamento.

Ocupava uma área de 18 hectares com a configuração de um trapézio.

Fundada em 1748 por John Beare, foi restabelecida com uma nova orientação geográfica, um novo plano arquitectónico e com novas funções, por Guilherme Stephens. Este, há muito estabelecido em Portugal, desenvolvia várias actividades industriais

Em 1769 iniciou-se com o fabrico de vidraça necessária à reconstrução da cidade de Lisboa que fora arrasada pelo terramoto em 1755. Instalou-se nas oficinas deixadas por John Beare e recorreu aos fornos, instrumentos de trabalho e mão de obra pre-existentes. O primeiro catálogo de peças de manufactura de Guilherme Stephens na Marinha Grande baseou-se naquele que fora o último da fábrica fundada por vontade do rei D. João V (Coina).

Actualmente os testemunhos arqueológicos da primeira fase da fábrica jazem soterrados sob os alicerces do ex-recinto fabril dos Stephens.

 

No seu todo, o complexo foi concebido a partir de um projecto previamente planeado, reflectindo uma forma de desenvolvimento industrial inventada e posta em prática na Grã-Bretanha, pátria de Stephens.

A funcionalidade e eficácia das secções de que era composta aliava-se sempre a preocupações de ordem estética. O arquitecto que concebeu o plano da fábrica utilizou um estilo em que a sobriedade das linhas se harmonizam com os elementos do vocabulário decorativo clássico. Tal principio manifesta-se no Palácio, mas também está presente nas oficinas que constituiram o complexo fabril.

Os vários edifícios desenvolvem-se a partir de um núcleo central, o pátio, surgindo pouco a pouco os elementos industriais por excelência, ou seja, os fornos e oficinas anexas.

No núcleo arquitectónico central encontra-se o palácio onde residiu a família Stephens, que serviu de morada aos generais das tropas francesas aquando das invasões e que foi igualmente sede de algumas administrações.

Exteriormente não apresenta alterações significativas, mantendo-se presente o estilo toscano, em moda no final do séc. XVIII.

Junto ao palácio situa-se o teatro que, no entanto, já não é o original.

 

As alterações que se registaram no conjunto arquitectónico, embora não tenham sido profundas foram, em grande parte dos casos, consequências de modificações funcionais, como é o caso da última olaria que se encontrava instalada no celeiro da fábrica e da cantina que ali funciona actualmente, que ocupa a primitiva oficina dos lapidários, também conhecida como "casa das flores". Este interessante edifício possui rasgadas janelas orientadas de forma a aproveitar o máximo de horas de luz.

Curioso é igualmente um edifício com planta octogonal, acerca do qual se dividem as opiniões quanto à função para que foi planeado, afirmando uns tratar-se de uma estufa de madeiras, outros de um forno de recozimento ou mesmo um pequeno forno contemporâneo da administração de John Beare. No entanto, ultimas investigações levadas a cabo por Jorge Custódio apontam para uma estufa de secagem de potes.

Do caminho de ferro utilizado no transporte de combustível para a fábrica e o escoamento de peças acabadas, restam só vestígios, secções de laboração embora a grande maioria tenha desaparecido após a desactivação.

De época remota são também travejamentos em madeira existentes em algumas zonas das antigas secções e restos das canalizações que alimentavam as quedas de água existentes no jardim.

É de referir igualmente que a propriedade Stephens compreendia para além das instalações fabris, uma Quinta na qual se produziam os produtos hortícolas e animais de capoeira consumidos na fábrica.

Existiu um aqueduto com cerca de 3 km que transportava a água necessária para regar a quinta, alimentar as oficinas da fábrica e ainda fazer funcionar o moinho de moer quartzo calcinado.

A fábrica possuia oficinas de apoio: roça, lapidação, gravura (a ácido e a jacto de areia), pantogravura, pintura, escolha, controle de qualidade, carpintaria, olaria, embalagem e expedição.

 

Ao longo dos decénios, e apesar de ter começado pela vidraça, a produção da Fábrica foi diversificada. Assim, passou também pelo fabrico de garrafaria e todo o tipo de embalagens, produzindo cristal de qualidade superior e vidro vulgar: serviços, cálices, vidros de ofertas e peças de prestigio.

 

 

BREVE CRONOLOGIA

 

1719 – É fundada a "Real Fábrica de Vidros de Coina", pelo rei D. João V.

 

1747 – John Beare, administrador da "Real Fábrica de Vidros de Coina", transfere-se para a Marinha Grande levando consigo parte da maquinaria e alguns dos melhores operários da Fábrica. Instalou-se junto ao Pinhal do Rei, no local onde hoje se ergueu manufactura de Stephens.

 

1769 – São acesos os fornos da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, restabelecida pelo cidadão britânico Guilherme Stephens. A instalação faz-se após insistências do Primeiro Ministro do rei D. José I, Marquês de Pombal.

Contou de inicio com um empréstimo de 32.000$000 reis amortizáveis com cal proveniente do forno que o cidadão britânico possuía em Alcântara e que se destinava à reconstrução de Lisboa. Este empréstimo foi feito pelo prazo de 15 anos. Foi concedido o privilégio entre outros de se poder abastecer livremente de lenha no pinhal de Leiria.

Inicia-se a produção de vidraça.

 

1770 – Inicio da produção de vidro cristalino.

 

1772 – Publicação do 1.º catálogo dos Vidros da Real Fábrica da Marinha Grande

 

Alvará de D. Maria I prorrogando por mais 15 anos a isenção de direitos de entrada de matérias primas e de saída dos Produtos da Real Fábrica.

É regulada a importação de chapa de vidro com o fim de se aumentar a produção nacional.

 

1786 – Concessão de Alvará isentando as matérias primas importadas para a fabricação do vidro. Ficam também livres de impostos os produtos acabados que saíam pelas alfândegas.

 

1790 – Alargamento das regalias confirmadas por 10 anos através de Alvará de 7 de Outubro.

 

1799 – São prorrogados os privilégios concedidos à Real Fábrica de Vidros da Marinha grande.

Guilherme Stephens é louvado pelo impulso que deu à cultura, à formação dos operários e à melhoria das vias de comunicação.

 

1799 – 1802 – Novos privilégios são concedidos entre os quais a prorrogação por mais 10 anos das isenções concedidas anteriormente.

É regulado definitivamente o fornecimento de lenhas do pinhal.

Morre Stephens, sucedendo-lhe seu irmão Diogo na exploração da Fábrica.

 

1805 – General Junot exige em nome do Imperador Napoleão que todos os bens móveis, jóias e bens de raiz de qualquer espécie pertencentes a cidadãos da Grã-Bretanha e existentes no território nacional, sejam confiscados.

 

1807 – General Junot exige o pagamento de direitos sobre o vidro fabricado.

 

1808 – 1811 – Período conturbado na História da Marinha Grande em consequência das invasões francesas.

A fábrica saqueada e desactivada durante a permanência do General Massena em Portugal.

 

1826 – João Diogo Stephens morre legando a Fábrica e outros bens à nação portuguesa.

 

1827 – A Fábrica passa para a posse do Estado, mas o governo não aceita o legado recorrendo às arrematações particulares.

 

1827 – 1847 – Administração do Conde de Farrobo e Visconde de Picoas, por um prazo de 20 anos.

 

1847 – O Conde de Farrobo mostra-se desinteressado em continuar a arrendar a Fábrica obedecendo às condições acordadas anteriormente.

Surge novo interessado António de Macedo Pereira Coutinho. Contudo, a proposta não é aceite por falta de garantia.

Publicação de uma portaria dispondo que se proceda à venda da Fábrica em hasta pública.

 

1848 – Por solicitação do Duque de Saldanha, Manuel Joaquim Afonso (proprietário de uma fábrica de vidros em Vieira de Leiria) inicia a administração da fábrica, gerência que se prolongará até 1859.

Introduzem-se grandes modernizações, sendo a de maior relevo a que diz respeito à primeira máquina a vapor na oficina de lapidação.

 

1859 – Por portaria de 4 de Junho é nomeada uma Comissão de Inquérito à fábrica composta por Sebastião Betânio de Almeida, Manuel José Ribeiro e Andrade Corvo. É elaborado um Relatório Oficial que acabará com uma situação de 93 anos de privilégio.

 

1859 – 1860 – A fábrica permanece encerrada.

 

1860 – 1862 - Arrendamento feito a Casimiro José de Almeida por um prazo de 10 anos.

 

1864 – Administração de Jorge Croft (Visconde da Graça) e António Augusto de Freitas (Visconde de Azarujinha).

 

1865 – São solicitados à Câmara Municipal de Leiria vários terrenos para a exploração de barro necessário aos potes da fábrica.

 

1894 – Tomada de posse de uma nova administração sob a forma jurídica de parceria cuja denominação é Bracourt, por um período de 15 anos. Contudo este contrato só durou um ano devido aos graves problemas laborais e económicos com que se defrontou.

 

1895 – É fundada a "Associação dos Operários Vidreiros da Antiga Fábrica Real de Vidros da Marinha Grande".

 

1896 – Conclusão de negociações para a nova administração tomar conta desta fábrica. O contrato é formado com a Companhia Nacional e Nova Fábrica de Vidros da Marinha Grande por um prazo de 2 anos.

Na fábrica Nova o administrador é António Magalhães Júnior, enquanto na Nacional se encontra Guilherme d’Orey.

É construído um barracão onde se instala um forno à portuguesa com capacidade para 10 potes, a norte das oficinas de cristal, que são convertidas em depósitos.

Instalação de um forno a tanque para fabrico de vidraça. O construtor é Pedro Durão (francês), segundo um projecto de Guilherme d’Orey.

 

1902 – Registam-se grandes conflitos laborais entre trabalhadores da Fábrica Nacional e a administração em consequência da ambiguidade dos contratos que classificava os operários conforme as encomendas e vantagens do momento.

 

1904 – Guilherme d’Orey abandona a administração ficando esta constituída por Adolfo Burnay e António Magalhães Júnior.

 

1905 – É desmontado e transferido para a Fábrica de Braço de Prata em Lisboa o forno de vidraça.

 

1907 – Em consequência de constantes queixas apresentadas junto do governo, este delibera levar a cabo um Inquérito cuja conclusão implicou a rescisão do contrato de arrendamento.

A laboração pára.

 

1908 – Tomada de posse de nova administração composta por Francisco Xavier Esteves, Júlio da Cruz, Sebastião Aguiar e outros capitalistas.

A Identificação da Fábrica é alterada passando a ser "Empresa Exploradora de Fábrica Nacional de Vidros da Marinha Grande".

 

1909 – Reinicio da produção de cristal e vidraça.

 

1912 – Introdução de energia eléctrica para iluminação.

Reforma total da fábrica em consequência da introdução de tecnologia alemã.

 

1918 – Motim dos operários vidreiros.

 

1919 – 1924 – Período de co-gestão da administração da fábrica partilhada entre representantes do Estado, Município e operários vidreiros.

 

1922 – Decisão de colocar a fábrica à venda que não é efectivada por intervenção do alerta lançado nos meios de comunicação, pelo jornalista Alfredo Gândara.

 

1928 – Administração directa do Estado.

Nomeação pelo Governo do Engº Calazans Duarte para director da fábrica.

 

1934-01-18 – Levantamento de operários vidreiros em aliança com outros sectores que culmina com a prisão e deportação dos dirigentes.

 

1938 – 1945 – A fábrica é posta sob tutela do Ministério da Guerra. A decisão fundamentou-se no facto de se utilizar pólvora na fábrica.

 

1950 – 1960 – Apresentação do projecto "Baccarat", mas que é reprovado pelo engenheiro Calazans Duarte, sendo posteriormente aceite com êxito pela fábrica Crisal.

 

1954 – Alteração da denominação para F.E.I.S. – Fábrica Escola Irmãos Stephens), com a finalidade de formação tecnico-profissional dos operários vidreiros e criação de um Museu do Vidro.

 

1970 – É abandonada definitivamente a lenha como combustível.

 

 

Recolha efectuada por Flora Caldas, 1991

 

 

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