projecto museu do vidro

 

OS MOLDES

 

 

O uso de moldes para obtenção de formas tridimensionais, ocas ou maciças, está ligado às origens do vidro. Na proto-história do vidro, antes da descoberta do vidro soprado (século I), os moldes fechados, para onde se vazava a pasta, apenas permitiam a obtenção de objectos maciços. Outras vezes, tratava-se apenas de um núcleo que se rodeava de pasta vítrea, sendo depois retirado. Não se trataria, portanto, ainda de moldagem, a qual se aplica às técnicas de vidro soprado, mas antes modelação.

Com o vidro soprado, e consequente aproveitamento da essência transformadora do material vidro, foi possível absorver essas técnicas arcaicas e potenciá-las.

«Assim, a moldagem é também uma técnica que está indissoluvelmente ligada à descoberta do vidro soprado». [A indústria do vidro na perspectiva da arqueologia industrial, APAI, 1989]

A moldagem de um copo consiste na seguinte operação:

«Após o vidro estar arranjado na marma, coloca-se num molde de ferro ou madeira que tem a configuração e o tamanho do objecto que se deseja produzir; então o ajudante sopra ao mesmo tempo que dá movimento de rotação à cana. O vidro pela pressão do sopro dilata-se e toma a forma do molde; a seguir, o ajudante passa a cana, com o copo já com o formato [...] necessário, para o oficial, que lhe faz a haste e o pé, servindo-se primeiro de um ferro com ranhuras e depois das pinças e palmatória. Fica assim o copo fechado na parte superior, devendo depois em máquinas de acabamentos ser essa parte separada para se formar os bordos» [C. Melo]

A possibilidade de reproduzir n objectos idênticos a partir de um mesmo molde contribuiu decisivamente para a sua popularização, reduzindo os custos gerais de produção, sobretudo de objectos de grande utilidade em vários campos, como garrafas, copos e contentores, em geral.

Ainda assim, foi necessário esperar pela Revolução Industrial, no século XVIII, para que a pressão do consumo levasse ao ensaio das primeiras técnicas de moldagem por prensagem mecanizada. A prensagem manual, conhecida desde há séculos, efectuava-se com espátulas, nas peças maciças (como contas e motivos para decoração millefiori, etc.), espigões ou contramoldes introduzidos manualmente para recipientes ocos. Em todo o caso, dispensa-se o sopro. A prensagem, manual ou mecanizada, por requerer a existência de um contramolde, que comprima o vidro contra o molde e assim lhe dê forma, mostra-se muito mais útil para peças muito abertas, como pratos, copos, taças, etc. Certos recipientes, como garrafas necessitavam de moldes múltiplos para serem fabricadas pelo sistema de prensagem. As elevadas proporções da produção dos últimos decénios conduziu à sectorização industrial dos objectos destinados a embalar líquidos ou alimentos, e à sua total automatização. A história deste processo pode ser revista no Museu da fábrica Santos Barosa da Marinha Grande.

 

Os moldes tradicionais podem ser feitos de vários materiais.

«Os de madeira são adequados para peças lisas. [...] A sua origem e evolução não são ainda perfeitamente conhecidas. É de admitir que venham da Antiguidade e tivessem rivalizado com os moldes de barro refractário. Ainda utilizados hoje para diversos fins e obras, têm contudo tendência a rarear [...]». Antigamente era «[...] comum ver-se nas fábricas de vidro, uma área de tanques com água, geralmente ao ar livre, onde os moldes de madeira eram mergulhados para que não abrissem». Caso contrário, a madeira ressequia e inviabilizava o uso do molde. Junto ao Palácio Stephens, existem preservados vários destes tanques.

«O barro refractário foi também utilizado no fabrico de moldes. Temos prova deste facto através da intervenção arqueológica em Coina [anos 80], onde foram descobertos vários fragmentos de moldes de canelar que se podem datar do período entre 1719 e 1747. Provavelmente, serão os deste tipo que aparecem nas gravuras de Georges Agricola, ou então cavados na pedra, de que não subsistem actualmente nenhuns exemplares em Portugal.

Os moldes de bronze [...] surgiram provavelmente com a expansão da metalurgia no século XVI. Foram utilizados em Portugal, segundo se crê, na primeira metade do século XVIII, tendo sido introduzidos na Marinha Grande por John Beare ou pelos Stephens. Eram moldes só para soprar, podendo apresentar determinados canelados mais perfeitos do que os refractários. Tinham grande durabilidade, mas eram dispendiosos e, por isso, serão substituídos pelos de ferro, no advento da fundição deste metal em altos-fornos.

Com o desenvolvimento da fundição do ferro e da metalomecânica surgiram os moldes de ferro fundido [...]. De Inglaterra e de França, onde já eram utilizados no século XVIII, passaram para os Estados Unidos que, doravante, iriam iniciar a indústria de moldes para vidro.

Numa primeira fase, a função destes moldes era semelhante à dos moldes de madeira e, sobretudo, dos moldes de bronze, pois podiam ser utilizados no moldado soprado. Mais tarde, justificou-se, sob um ponto de vista económico, a sua aplicação mais extensa e comum no moldado prensado.

Os moldes de ferro fundido, cuja gravação requeria bastante trabalho, eram mais duráveis e possibilitavam uma maior especialização das formas. Introduziram-se no mercado como uma indústria própria, que podia estar ou não integrada numa fábrica de vidro. [...] A especialização obrigou à criação [de] secções e, consequentemente, à catalogação dos moldes [...]».

Os moldes de ferro permitiam ainda dar uma certa «...têmpera ao vidro, tornando-o mais resistente e, caso fossem cromados, maior brilho. Contudo, tinham um problema: envelheciam rapidamente devido à oxidação».

A sua substituição foi feita por moldes de aço, mais duráveis e com maior perfeição nas costuras»

Mais recentemente, surgiram os moldes de alumínio, «...como resultado da exploração internacional da bauxite, que possibilitou o fabrico de moldes mais baratos».

Os moldes manuais têm «...uma ou várias partes articuladas, geralmente, três ou quatro para obter desenhos mais complicados. Mas há ainda os moldes de pedal, muito utilizados na garrafaria e na frascaria e usuais antes do semi-automático (entre nós, antes de 1936-38). Neste caso, o operário acciona o molde com o pedal, ajeitando nele a massa sem concurso do ajudante. A técnica de [moldagem] permite ainda a utilização de um ou mais moldes para a mesma peça, mais complicada de fabricar, como é o caso da chaminé dos candeeiros a petróleo.

O processo de moldar permitiu também inscrever no vidro marcas, selos, recomendações, frases. Através das marcas reconhecem-se os clientes das diversas fábricas de vidro, sendo ainda possível assinar uma determinada produção. No vidro de embalagem, isso tornou-se uma regra, sobretudo, a partir da década de 40, tendo sido aprovadas por diploma legislativo as siglas que, desde então definem a unidade produtiva (SB - Santos Barosa; RC - Ricardo Galo; BA - Barbosa e Almeida; CV - Centro Vidreiro do Norte de Portugal; etc.)». 

[A indústria do vidro na perspectiva da arqueologia industrial, APAI, 1989].

 

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