projecto museu do vidro

 

O VIDRO DE ILUMINAÇÃO

 

A aplicação do vidro à iluminação, embora muito antiga, só tardiamente se foi generalizando. O candeeiro a petróleo, que surge no século XIX, foi de início utilizado, sobretudo, pelas famílias mais abastadas. Nas casas dos pobres, e fora das cidades, vigoravam os meios tradicionais de iluminação, as candeias de azeite, em barro e folha-de-flandres.

 

«As múltiplas aplicações do vidro à iluminação faz dele um produto imprescindível que, até hoje, não encontrou ainda substituto.

Prestou-se a ser receptáculo para conter óleos na época da lamparina. Reflectiu ou ampliou a luz nas lanternas, nos candelabros, nos lustres, foi e é suporte de velas. Ajudou a implantar a iluminação a gás e a petróleo, Tornou-se imprescindível na era da electricidade. Protegeu a visão da intensidade luminosa.

As lucernas e as lâmpadas primitivas eram produzidas em cerâmica ou metal. Não se sabe ao certo quem primeiro aplicou o vidro neste tipo de iluminação, em substituição daqueles materiais. Nas lanternas o vidro surgiu como chapa protectora da combustão interna.

Em 1780, Argaud, de Giron, inventou a mecha circular controlável pelo movimento da mão, feita de algodão tecido, e, ao mesmo tempo, a chaminé de vidro, elementos que constituíram uma autentica revolução na iluminação particular. A era das chaminés de vidro começou então e prolongou-se até à electrificação total do território.

Expandiu-se ainda mais com os candeeiros a petróleo, cuja primeira fase foi a das lâmpadas americanas (imaginadas por Ménard em 1843). O candeeiro a petróleo e a utilização do bico que permitiu a aspiração do petróleo pela capilaridade influenciaram a moldagem dos diferentes tipos de chaminés e as inúmeras possibilidades da intensidade da luz que elas pressupunham na sua forma. Os próprios reservatórios do petróleo eram fabricados em vidro.

Mas o advento da moderna utilização do vidro na electricidade deveu-se às lâmpadas de incandescência, cuja primeira realização data de 1881. A lâmpada compõe-se de uma ampola onde se obtém o vazio e que contém um filamento condutor em carvão, platina ou metal apropriado, que se torna a dado momento incandescente com a passagem de corrente, sem que, contudo, se consuma na combustão.

Foi o aparecimento das lâmpadas eléctricas, tornadas viáveis desde Edison, que determinou o aparecimento de fábricas especializadas na sua produção. Em Portugal, a primeira data dos anos 30 e as suas lâmpadas tinham a marca Lumiar. Na Marinha Grande, existiu mais tarde a fábrica de lâmpadas Philips».

 

Entrado o século XX, a intensidade da luz levou ao desenvolvimento dos abat-jours, entre os quais os de vidro ocuparam e ocupam um lugar especial».

 

«As primeiras utilizações do vidro na iluminação nasceram da verificação de algumas das propriedades da sua transparência e capacidade de reflexão.

A expansão do catolicismo e, depois, do islamismo, permitiu a utilização de lâmpadas e lamparinas em vidro como recipientes do óleo onde queimavam os pavios. A luz atravessava o vidro, provocando uma maior intensidade e uma maior área de iluminação.

Também se fabricavam candeias em vidro, mas foram as lamparinas a óleo que generalizaram no séc. XIII o uso daquela matéria-prima. As lanternas, que passaram estar em voga nos séculos XVI – XVII e foram utilizadas na iluminação pública de certas cidades, também procuraram no vidro a protecção contra o vento e a reflexão da luz. Os próprios candelabros chegaram a ser fabricados em vidro e, com o advento do lustre, o vidro passou a ser matéria fundamental da industria de candeeiros. Se as velas de cera eram sobretudo utilizadas nas igrejas, a descoberta da vela de estearina incrementou a utilização privada deste tipo de iluminação, quer nos palácios, quer nas choupanas.

Contudo, o vidro foi, durante muito tempo, utilizado apenas para estas duas funções : suporte ou protecção da luz. A revolução da iluminação ocorrida nos finais do séc. XVIII e na primeira metade do séc. XIX levou ao fabrico e á divulgação das chaminés de vidro a partir de 1780. O gás de iluminação vai combinar diversas formas de iluminação pública e privada com as técnicas adquiridas de protecção da chama com o uso das chaminés e bicos para a combustão do gás.

As cidades, no seu crescimento, exigem a iluminação pública e, na passagem da noite natural para a noite artificial, o vidro vai ocupar um lugar charneira nas industrias de iluminação, em função das suas características e propriedades

Nesta altura, na fábricada Marinha Grande, na continuação da produção da fábrica de Coina, produziam-se vidros para iluminação, entre os quais se devem salientar as "alampadas" para óleos vegetais. O desenvolvimento da iluminação a gás em Lisboa provoca uma primeira especialização em vidros de iluminação na fábrica das Gaivotas, cuja localização era próxima da fábrica do gás da Boavista.

Simultaneamente, surgem técnicas de sinalização em que a iluminação passava a transmitir-se a longa distância. As pesquisas sobre as lentes e o seu poder reflector e amplificador da luz vieram a ocupar a atenção dos construtores dos modernos faróis.

Uma outra revolução foi a dos candeeiros a petróleo, cuja produção foi crescendo á medida que o petróleo se vulgarizou no nosso território. Indo ao encontro da descoberta de Ménard (1843), o candeeiro de petróleo divulgou-se na 2ª metade do séc. XIX, vindo da América, vulgarizado pelos próprios trabalhadores das bacias petrolíferas. A iluminação privada ganha então um enorme relevo através deste óleo mineral e, pela primeira vez, o vidro vai ocupar um lugar central na iluminação pelas quantidades produzidas, pela universalidade do uso e pela gama de produtos que oferece.

Na Marinha Grande, todas as fábricas produziam candeeiros a petróleo.

A Exposição da Electricidade, realizada em Paris em 1881, vulgariza a grande revolução das lâmpadas de incandescência com fio condutor de carvão, que em breve iriam substituir na via pública os candeeiros a gás e, nas casas, os candeeiros a petróleo, com o advento do abastecimento domiciliário de electricidade.

O fabrico mecânico da lâmpada impôs-se com a expansão da energia eléctrica e das novas formas de iluminação a preços baixos. A expansão da iluminação eléctrica leva a profundas transformações no estudo da luz, hoje fundamental em muitos sectores.

A era das túlipas, na 2.ª metade do séc. XIX e 1.º quartel do séc. XX, foi posta em causa pelo período Deco , cujos obreiros estavam interessados no design industrial para a iluminação».

 

 

Extracção de textos

Jorge Custódio, In A Industria do Vidro na Perspectiva da Arqueologia Industrial, APAI, 1989.

 

 

Projecto Museu do Vidro da Marinha Grande

 

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