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Para conseguir um produto refinado na sua estrutura e
transparência é necessária toda uma série de processos intermédios. Antes de
tudo, há que escolher com cuidado os componentes da mistura e seguir com
atenção as mudanças de temperatura. Pode ainda haver necessidade de usar
descolorantes ou, ao contrário, corantes.
O ponto de fusão, ou seja, a temperatura à qual a mistura
passa do estado sólido ao líquido muito viscoso, varia entre os 1300º e os
1500º C, embora por vezes possa ser superior. Na Antiguidade, devido à
impossibilidade de atingir essas temperaturas com os combustíveis
conhecidos, apenas se conseguia uma fusão parcial a cerca de 1000ºC. Por
isso, algumas impurezas da pasta vítrea não se fundiam, como também não se
conseguia eliminar completamente as bolhas de ar presentes na pasta,
obtendo-se um vidro menos transparente.
Uma vez realizada a fusão, a mistura adquire gradualmente
consistência sólida mediante um processo de lento arrefecimento, tomando o
seu aspecto característico de material sólido transparente. O processo de
arrefecimento tem de ser lento para impedir a cristalização dos silicatos
presentes na mistura, o que originaria uma diminuição sensível da
transparência do vidro, tornando-se opaco e sujeito a quebrar-se ou a
escamar com facilidade.
MATÉRIAS-PRIMAS EMPREGUES NO FABRICO
Sílica
É um corpo composto de silício e oxigénio, muito
abundante no estado livre, pois que a areia, a pederneira ou sílex, o
quartzo, o cristal de rocha, a opala e a ágata não são outra coisa senão
sílica. Combinada com certos metais, como o potássio, sódio, cálcio, ferro,
alumínio, etc., forma os silicatos, que entram na constituição dos granitos,
das argilas e outras espécies de rochas.
A melhor sílica conhecida para o fabrico do vidro é a da
Boémia, a seguir vêm as de Fontainebleau, Champagne e Namours, em França. Em
Portugal, as areias mais empregadas são as de Coina e Vale maceira, e o
quartzo da Beira Alta, Crestuma e Vermoil.
A sílica a usar na composição deve ser isenta o mais
possível de ferro. Para os vidros finos emprega-se o quartzo calcinado e
pulverizado ou moído. Para os vidros comuns usam-se areias menos finas e,
para os vidros ordinários podem empregar-se lavas vulcânicas e rochas
felspáticas.
Ácido bórico
Por vezes substitui-se na composição, uma pequena
quantidade de ácido silícico por ácido bórico, a fim de aumentar a
fusibilidade da massa, dando ao vidro grande brilho e evitando a
desvitrificação.
Potassa
É a combinação do metal potássio com o ácido carbónico,
formando o carbonato de potássio ou potassa do comércio, corpo
sólido branco, agregado em cristais e que se pode obter das cinzas das
plantas, madeira e, nomeadamente, dos resíduos provenientes da preparação de
açúcar de beterraba.
A melhor potassa para o fabrico de vidro é a potassa
perlássa, ou seja, um salino totalmente isento de matéria
orgânica e de cor acinzentada. As potassas para vidro não devem conter,
quanto possível, soda, porque esta base cora os vidros de verde, o que os
torna de menos valor.
Soda
Antigamente, preparava-se soda natural pela
incineração de plantas marítimas, tais como a sálsola ou
barrilheira. Porém, hoje obtém-se a soda artificial por processos
químicos.
Cal
É a combinação do metal cálcio com o oxigénio,
formando o óxido de cálcio ou cal. Esta combinação não se encontra
formada na natureza, mas é muito abundante unida ao ácido carbónico,
formando as rochas ou pedras calcáreas que têm o nome genérico de
carbonatos calcáreos.
Este elemento entra no fabrico do vidro no estado de
carbonato, ou no de cal extinta, sendo em geral previamente reduzido a pó
muito fino. Na Boémia, empregam um silicato calcáreo natural, cujas
propriedades são apreciadas no fabrico do fino cristal. A cal deve ser
sempre pura e quanto possível isenta de ferro. Nos vidros para garrafas,
substituia-se a cal por cré, obtendo-se um vidro mais ordinário. Para a
produção de vidro ordinário, as nossas fábricas, em geral, empregavam terras
calcáreas lavadas.
Chumbo - Óxido salino de chumbo, ou mínio e
zarcão
É constituído pela combinação de chumbo com o oxigénio. É
um pó vermelho. O zarcão emprega-se no fabrico do cristal fino, dando
maior fusibilidade, limpidez e maior poder de refracção. Porém, é necessário
que seja de uma grande pureza, pois que a menor quantidade e até mesmo
simples vestígios de cobre, ferro, antimónio ou estanho, podem corar o vidro
de verde ou amarelo, ou torná-lo opaco.
Óxido de zinco
Este produto é obtido industrialmente pela oxidação
directa do zinco ao ar a alta temperatura. É um corpo sólido, branco
amarelado sob a acção do calor e tornando-se branco pelo esfriamento.
Conhece-se no mercado pelo nome de branco de zinco ou alvaiade de
zinco. O branco de zinco emprega-se na fabricação do vidro,
sempre que a cor não tenha influência nas obras a manipular. Em geral é de
combinação com o ácido bórico que se emprega o branco de zinco, obtendo-se
uma qualidade de vidro intermédia entre o cristal e o vidro ordinário. Os
vidros de sódio são descorados com este produto.
Óxido de bismuto
Só raramente se encontra na natureza. Industrialmente
obtém-se calcinando o bismuto em contacto com o ar, ou decompondo pelo calor
o azotato, o carbonato ou o hidrato de bismuto. É um corpo sólido,
pulverulento e de cor amarela clara.
Emprega-se no fabrico de vidro para óptica, mas sempre em
pequenas quantidades.
Em vez do óxido pode usar-se o azoto neutro de bismuto.
Sulfato de sódio
Obtém-se pela acção do ácido sulfúrico sobre o cloreto de
sódio, formando um corpo branco e de sabor amargo. No comércio conhece-se
este produto com o nome de sal de Glauber sendo largamente empregado
no fabrico da vidraça ordinária. O sulfato substitui o carbonato de soda,
devido principalmente ao seu baixo preço e a tornar a vidraça menos dura ao
corte.
Não pode porém empregar-se o sulfato sem que se adicione
à mistura carvão vegetal em pó, a fim de facilitar a sua redução em presença
da cal e da sílica. Deve porém notar-se que um excesso de carvão é sempre
nocivo, porque se forma uma grande quantidade de sulfureto de sódio que vai
corar o vidro de castanho.
Alumina
É a combinação do alumínio com o oxigénio; abundando
muito nas argilas combinada com a sílica e formando silicatos de alumínio. É
um pó branco, leve, que adere à língua. Como a alumina, forma com a soda,
com a potassa e com a barita aluminatos solúveis, emprega-se no fabrico do
vidro com fim de o baratear, elevando o grau de fusibilidade da massa e por
essa razão, se deverá diminuir a quantidade das bases que formam a
composição vitrificavel.
Barita ou prótoxido de bário
É o resultado da combinação do metal bário com
oxigénio. A barita é um corpo sólido, acinzentado e esponjoso. Sendo
a barita um liquefaciente ou fundente, obtém-se, com uma mistura de sílica e
de potassa, um belíssimo vidro que se manufactura muito bem, e que possuí um
brilho superior ao do vidro não plúmbeo, de base de cal. Debaixo deste ponto
de vista pouco inferior é aos cristais plúmbeos; mas também não oferece os
inconvenientes destes. A barita pode ser substituída pelo sulfato de barita,
que se encontra na natureza, quase sempre acompanhado o quartzo.
Empregando-se o sulfato de barita, tem de se juntar à
massa vitrificável uma quantidade de carvão para transformar o ácido
sulfúrico do sulfato em ácido sulfuroso, de contrário não conseguiríamos uma
vitrificação completa.
Feldspato
É um silicato duplo de potassa e alumina, que tem o nome
de ortose e se apresenta debaixo da forma de cristais lamelosos,
brilhantes e muitas vezes corados. Este produto é uma matéria preciosa para
a fabricação do vidro, e sendo possível encontrá-lo em quantidade e por
baixo preço, pode-se, juntando-lhe bórax e óxido de chumbo, fabricar um
vidro que satisfaz a todas as exigências.
Basaltos
Os basaltos são rochas provenientes de erupções
vulcânicas de cor escura, que vai até ao negro. A sua superfície não tem
brilho e a sua textura é compacta, algumas vezes um pouco lamelosa e outras
granulosa.
Traquites
São também produtos vulcânicos, muitas vezes ásperos ao
tacto, outras compactos, de brilho vítreo resinoso e em alguns casos
terrosos. A sua composição é feldspática com cristais de feldspato vítreo.
Estes três últimos elementos, bem como as lavas
traquiticas e a pedra pomes, as argilas de fácil fusão, e o
grés calcário, empregam-se no fabrico do vidro com vantagem e sem
necessidade de se lhes juntar qualquer outro elemento. São em geral
empregados de preferencia no fabrico do vidro ordinário e do destinado a
garrafas e garrafões.
Carvão
O carvão empregado na indústria vidreira para a
composição do vidro é o carvão vegetal, obtido em regra pelo processo de
medas. É, como todos sabem, um corpo negro, cujas propriedades variam
conforme a madeira donde foi produzido, o processo de carbonização e com a
temperatura.
Em geral, no nosso país emprega-se o carvão de pinho,
previamente pulverizado ou moído em pó fino.
Fontes e extracção de textos adaptados:
Campos de Melo, Indústria do vidro, s/d, do
original de Pedro Proste
Corrado Maltese, Las tecnicas artisticas, 1997
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