projecto museu do vidro

 
SÉCULOS  XVIII  e  XIX

 

 

No decorrer dos séculos XVIII e XIX, várias fábricas de outras regiões marcaram a produção nacional. Vejamos algumas delas:

 

 

 

     .  Fábrica de Coina

     .  Fábrica da Praia do Calvário

     .  Fábrica de Duarte Harper (Douro)

     .  Fábrica de vidros de Vilarinho das Furnas

     .  Fábrica da Rua das Gaivotas (Lisboa)

     .  Real Fábrica de Porcelana, Vidro e Processos Chimicos da Vista Alegre

     .  Fábrica de Paço de Rey

     .  Outras fábricas na centúria de novecentos

 

 

Fábrica de Coina

 

A Real Fábrica de Vidros de Coina constituiu um importante marco na história da indústria vidreira nacional. Estabelecida em 1719, na região a sul de Lisboa, junto de Aldeia Galega, por D. João V, conheceu várias fases, na última das quais teve como administrador John Beare (1741), que mais tarde (1748) se transferiria para a Marinha Grande.

Esta fábrica tivera como precursora uma outra, mandada erigir no Forte da Junqueira em 1714, para que fora contratado João Palada. Esta fábrica, porém, nunca viria a existir, retomando-se o projecto cinco anos mais tarde, com a fábrica de Coina.

Referindo-se a esta fábrica, escreve Matos Sequeira:

 «Os copos pintados, axaroados e doirados com “Vivas a El-Rei”, as garrafas com legendas de saudação, de feitios venezianos, as salvas e pratos, os galheteiros de bolsas estriadas que se cruzam, os cálices de pés espiralados, os vidros de redoma, os frascos de perfumes, as bocetas doiradas de flores e os frascos de licores que se encaixavam, com jogos de coparia fina, em estojos de madeira, abundam nas colecções com atribuição muito provável ao período de D. João V, em que se fundou, no primeiro terço do século, uma Real Fábrica de Vidros».

Também a esta fábrica se refere o poeta setecentista Tomás Pinto Brandão na seguinte laudatória:

Quebrada é a melhor aza
do de Veneza; já agora
não virá vidro de fora
tirar ouro da nossa casa;
hoje aos mais Reynos atraza
o luzido Portugal, 
que do precioso metal
rios logra permanentes;
e não só de ouro correntes
mas de excelente cristal

Sabe-se hoje que nesta fábrica se produziu vidro variado e de boa qualidade, sendo também provável terem-lhe pertencido os catálogos de produção já referidos, datados do século XVIII, que viriam a ser usados na Marinha Grande.

  


 

Fábrica da Praia do Calvário

 

Vasco Valente refere também a fundação de uma fábrica nesta localidade, por Jácome Ratton, em finais do século XVIII, a qual porém foi efémera. Pouco se sabe sobre a sua produção.

  


 

Fábrica de Duarte Harper, margens do Douro

 

Por provisão de D. João, Príncipe Regente, de 6 de Abril de 1805, foi concedida licença a “Duarte Harper, negociante da nação britânica” para erigir nas margens do rio Douro, “em sítio que mais cómodo lhe parecesse, uma fábrica de toda a qualidade de vidros, sendo seu primeiro objectivo fabricar garrafas pretas, servindo-se de carvão de pedra das nossas minas nacionais, e gozando de todas aquelas graças, izenções e privilégios com que EU costumo assinar e proteger semelhantes estabelecimentos”. Não se sabe, porém, se esta fábrica chegou a laborar.

  


 

Fábrica de Vidros de Vilarinho de Furna

 

Fundada pela firma Gomes, Mattos, Araújo & Cª, foram-lhe, por alvará do Príncipe Regente, D. João, de 15 de Abril de 1807, concedidos, além de outros, todos os privilégios, graças e isenções outorgados à Fábrica da Marinha Grande.

Construída muito perto de Vilarinho, na extensa chã de Linhares, margem esquerda do rio Homem, ainda à vista de Bargiela, que é o mais importante maciço florestal espontâneo do Gerez, não havendo, portanto, receio da falta do combustível, e tendo à mão abundância de felspato e de quartzo, o que lhe permitiria fabricar vidro como o da Boémia, não poderia, realmente, ter sido mais feliz a escolha do local.

Foi muito curta a sua existência, de dois anos apenas, tendo, porém, chegado a produzir “variados artefactos de nítida vidraria com auspiciosos  prelúdios de longo alcance industrial...”.

 


 

 Fábrica da Rua das Gaivotas

 

Fundada em 1811 por Silvério Taibner, pertencia em 1870 a Tomaz José de Oliveira, que lhe deu grande impulso. Por processos modernos, manufacturava então: vidro liso, lapidado, gravado e moldado; garrafas de todos os géneros, menos pretas; vidros e frascos para drogarias. Tinha um forno circular de cinco potes e uma máquina a vapor de 4 cavalos.

A fábrica encerrou definitivamente na década de 80 do século XX.

 


 

 Real Fábrica de Porcelana, vidro e processos chimicos da Vista Alegre

 

Esta fábrica foi fundada em 1824 por José Ferreira Pinto Basto que, influenciado pela iniciativa de Stephens e seduzido pela proximidade de grandes pinhais que então se estendiam de Quintans a Cantanhede e que lhe permitiriam alimentar os seus fornos, como os de Leiria alimentavam os da Marinha Grande, e montou na sua Quinta de Vista Alegre, perto de Ílhavo, por ele adquirida em 1815. José Ferreira Pinto Basto associou nesta empresa os seus quinze filhos. A provisão régia autorizando o estabelecimento da fábrica é de 1 de Julho de 1824.

Fundada com o propósito de manufacturar porcelana, vidro e estudar processos químicos, para o que tinha um laboratório, foi, contudo, a indústria do vidro que nos primeiros anos a celebrizou, pois a da porcelana estagnara por falta de matéria-prima, o caulim.

Só a partir de 1832 é que, descoberto por Luís Pereira Capote o caulim em Val Rico, no concelho da Feira, se iniciou o fabrico em grande escala de porcelana na Vista Alegre. Entretanto, já três anos antes, a manufactura do vidro atingira tal desenvolvimento que lhe permitiu fazer um catálogo litografado (Colecção primeira de desenhos das peças de vidro e seus preços fabricadas na Real Fábrica de porcelana, vidro e processos chymicos da Vista Alegre de Ferreira Pinto & Filhos, 1829).

Nesta data, apesar da fábrica ter então apenas cinco anos de existência, a enorme variedade de artigos de vidro lançados no mercado, denota o extraordinário desenvolvimento que ela atingiu.

De fabrico posterior à Colecção Primeira são os vidros prensados e os copos e pratos com incrustações de camafeus que celebrizaram a fábrica.

De 1837 a 1840 foi avultada a produção de peças de vidro e cristal. “A sua qualidade era da melhor, sem defeitos de coloração ou cosedura, e executados com perfeição inexcedível. Datam de então as peças de vidro moldado que rivalizaram com as inglesas”, algumas com as referidas incrustações de camafeus.

 

Em 1846, mercê de vários problemas, a fábrica fecha por dois anos. Neste período, são vendidos muitos stocks (Lisboa, Porto, Aveiro) a preços bastante mais baixos, o que permitiu a divulgação, em maior escala, dos vidros desta fábrica. Em 1848, quando reabre, é já bastante conhecida, o que lhe permite uma maior expressão no mercado. No entanto, a produção de vidros foi bastante reduzida, e só de vidro liso “por, entretanto, se terem dispersado os bons artistas floristas e lapidários, alguns dos quais migraram para a Marinha Grande...” Em 1848, ainda concorre à Exposição da Indústria Nacional, em Lisboa, onde os seus vidros foram muito apreciados. As peças apresentadas eram, porém, de produção anterior a 1846. Na Exposição de Londres de 1851, obteve uma menção honrosa pela sua “vidraça pintada”.

 

A produção de vidros sofreu várias interrupções, até terminar em 1880.

Foi então demolido o forno e vendidos a peso todos os moldes. “Apenas escapou, decerto por um rebate de sentimentalismo, o dum cantil fabricado especialmente para os soldados seus operários que constituiram o célebre e histórico Batalhão Nacional da Vista Alegre, organizado por ocasião da revolução da Maria da Fonte”.

 


 

  Fábrica de Paço de Rei

 

 

 

Esta fábrica estava situada na zona de Vila Nova de Gaia, na Quinta de Paço de Rei, propriedade do notável ceramista Francisco da Rocha Soares, que a apetrechou em data anterior a 1839.

A 4 de Abril de 1841 e com o intuito de comemorar a inauguração dos trabalhos da ponte pênsil do Porto, sendo ele delegado a Direcção da respectiva empresa construtora, promoveu a realização dum jantar com carácter patriótico, levado a efeito na sua Quinta, conseguindo que todos os utensílios fossem portugueses. E, assim, apresentou na mesa, além de loiças das sua fábricas de Miragaia e de Massarelos, toalhas, guardanapos, facas, garfos e colheres de Guimarães, vidros da sua fábrica de Paço do Rei e da do Côvo.

A fábrica terá suspendido a sua laboração nos anos 50 do século XIX.

 

 

Vasco Valente refere ainda outras fábricas na centúria de novecentos:

 

-        Fábrica Mota Gomes (Lisboa). Situada em Alcântara, produziu garrafas e artigos de coparia.

-        Fábrica da Malhada (Ílhavo). Fundada por João da Cruz, antigo operário da Vista Alegre.

-        Fábrica de João José Veríssimo (Lisboa).

-        Fábricas de André Michon (V. Nova de Gaia e Buarcos). Fundadas em meados do século XIX, só produziram vidraça.

-        Fábrica do Cabo Mondego (Buarcos). Fundada em 1869, anexa às instalações da Companhia Mineira e Industrial do Cabo Mondego. “Na Exposição Distrital realizada em Coimbra em 1884, apresentou grandes tubos ou mangas de vidro transparente que, estendidas, constituiam a chapa ou vidraça e amostras de vidro branco, opaco, e cor de violeta, diamantino, amarelo, azul claro, violeta, encarnado e riscado, formando uma colecção tão notável pela beleza das cores como pela perfeição da chapa. Chamaram igualmente a atenção geral os vidros mousselines e foscos lavrados. Apresentou mais vários modelos de garrafas e garrafões de vidro preto, verde e branco, bem como garrafaspara limonada, cerveja, gasosa e conhaque. Tinha uma máquina a vapor e três fornos: um para vidraça, outro para garrafas e um terceiro para cristal.”

 

 

 

Extracção de textos:

Vasco Valente, O Vidro em Portugal, 1950

Carlos Barros, II centenário Real Fábrica de Vidros, 1969

Carlos Barros, “O vidro em Portugal do século XV ao século XIX”, in cat. O vidro em Portugal, 1989


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