projecto museu do vidro

 

INCISÃO 

 

 

Gravação

Gravação a ácido

Foscagem

  . Vidro Musselina

  . Givré

  . Cameo Glass

Gravação a jacto de areia

Lapidação [Talhe e Gravação]

 

 

 

 

 

 

 

A Gravação

 

Para conseguir motivos decorativos gravados na superfície recorre-se a várias técnicas: do gravado à roda, ou com ponta de diamante, mais antiga, até à gravação por jacto de areia ou a ácido fluorídrico.

A técnica de gravação era já conhecida pelos romanos que, não obstante, utilizavam o pedernal (quartzo muito duro) em lugar de pontas de diamante para traçar motivos decorativos. Esta decoração, muito refinada e elegante, aplica-se de preferência sobre vidros de paredes finas. Estendeu-se especialmente a partir do séc. XVI, tanto em Veneza, adequando-se à natureza do vidro cristalino em uso, como na Alemanha e no Tirol, e em Inglaterra (os típicos Jacobite Glasses). No entanto, o apogeu consegue-o na Holanda, no século XVII e no seguinte (exemplos típicos são as complicadas decorações dos vasos flute).

No século XVIII, a gravura à roda substitui os processos mais antigos que até então eram usados, o que se deve ao aperfeiçoamento dos tornos ou engenhos de movimento circular.

O processo consiste em desgastar a superfície do vidro por meio de discos de cobre, aço ou diamante, movidos a pedal, vapor ou electricidade, em torno próprio semelhante aos usados para lapidação. A principal diferença reside nas dimensões dos discos que, para a gravura, apenas têm alguns milímetros de diâmetro e uma espessura muito fina. Conforme a complexidade do motivo a gravar, é o desenho feito previamente no vidro ou, sendo simples, o operário prescinde do desenho e segue sem esse apoio o modelo que tem em vista.

A principal dificuldade da gravação à roda é o facto de se ter que manipular o suporte do desenho (o vidro), em vez do instrumento de desenhar, o que exige uma grande destreza por parte do artesão.

 

Em Portugal, foram descobertos em Coina fragmentos de vidro gravado a ponta de diamante, o que demonstra a influência inglesa na nossa produção.

Também, «depois da hegemonia dos Stephens, a Real Fábrica da Marinha Grande procurou timidamente actualizar-se em termos morfológicos e decorativos. No século XIX, chegam à Marinha Grande, por meio de exposições universais, as tendências francesas (Saint-Louis, Baccarat) e belgas (Val de St. Lambert), estas sobretudo no final do século.

Haviam sido, contudo, os fabricantes da Boémia (inícios do século XVIII) e os ingleses (com a descoberta do cristal de chumbo) quem introduzira os gostos pelo vidro lavrado, gravado ou lapidado, junto da burguesia conquistadora. A valorização da peça passava do fabrico a quente para as oficinas mecanizadas (trabalho a frio) onde o gravador e o lapidário ocupam um lugar de charneira. Ao lado dos fornos, estas oficinas transformam-se em centros técnicos e artísticos.

 

 

 

Temos também que recordar dois tipos de gravados introduzidos numa época mais recente: referimo-nos ao químico, por meio de ácido fluoridrico e ao mecânico, por jacto de areia.

 

 

GRAVAÇÃO A ÁCIDO

 

O ácido fluorídrico (H2F2), é o único ácido que reage com o vidro, atacando a sua superfície. Este processo de gravura química foi aplicado pela primeira vez em 1670 por Henry Schwanhardt, de Nurenberga, tendo--se implementado industrialmente na Segunda metade do século XIX. Conheceu desde então múltiplas aplicações, associando-se à mecanização, de que é exemplo o sistema da pantografia.

Consiste em fazer actuar sobre o vidro, após a protecção de certas partes da sua superfície com um verniz, o ácido fluorídrico gasoso ou líquido à temperatura ambiente. Emprega-se normalmente como verniz protector das partes a manter polidas, uma solução de cera em essência de terebentina. Sobre a película formada pelo verniz executam-se, com um estilete, os mais variados motivos. Removido o verniz, através desta operação, o vidro fica a descoberto nesses pontos. Coloca-se então o objecto dentro de um recipiente de chumbo contendo o ácido, ou expõe-se à acção do ácido gasoso. Das duas formas, o vidro é atacado nas partes a descoberto, permanecendo a restante superfície preservada da sua acção.

Empregando-se o ácido no estado líquido obtêm-se gravuras brancas de vidro fosco - em termos químicos, a reacção do ácido consiste em formar fluoreto de silício, que é volátil, e fluoretos duplos e insolúveis de potássio, sódio ou chumbo, conforme o fundente usado. Estes fluoretos depositam-se na forma de cristais brancos sobre a superfície atacada pelo ácido, sendo eles que fazem aparecer a imagem em branco. Se se usar o ácido em estado gasoso, o resultado é mais fraco, pois não havendo depósito de cristais brancos, o vidro, apesar de ser atacado, conserva-se transparente ou quase transparente.

 

O desenvolvimento das técnicas de gravação a ácido levou à invenção de máquinas auxiliares, aumentando a reproductibilidade das decorações.

Uma delas é a prensa para gravura a ácido, que se baseou no processo do decalque, permitindo reproduzir inúmeras vezes o mesmo motivo decorativo. O desenho era inicialmente feito numa chapa de aço ou sobre uma pedra litográfica, utilizando-se uma tinta composta preparada para o efeito. Transpunha-se então o desenho para uma folha de papel de seda muito fino, o qual se aplicava de seguida sobre o vidro, pelo lado impresso. A passagem do desenho ao papel podia ser feito manualmente, pela pressão vertical, ou através da prensa, onde se fazia passar a chapa com o desenho e o papel. Lavando-se o objecto de vidro, o papel solta-se mas não a tinta. Finalmente, o objecto é submetido à acção do ácido, sendo o vidro atacado nos pontos onde não existe tinta, reproduzindo o desenho.

 

A pantografia foi outra forma de aplicar a mesma técnica. A primeira máquina para este efeito foi inventada por Guillocher, um mecânico francês. Os efeitos de guilhochado consistem em linhas quebradas ou curvas, mais ou menos regulares, que se cruzam, desenhados a estilete sobre peças de vidro previamente cobertas com cera. s desenhos podem ser muito variados, dependendo do número e do diâmetro das rodas da engrenagem. Existiam máquinas Guillocher para gravar um, dois, quatro e até seis peças ao mesmo tempo.

Fundando-se nos mesmos princípios da máquina Guillocher, surgiu mais tarde o pantógrafo (segundo quartel do século XX). No entanto, permitia gravar motivos mais complexos ou compostos, como paisagens, flores, retratos, monogramas, etc. O desenho encontra-se sobre uma mesa, insculpido numa chapa metálica: o operário gravador executa o desenho sobre a chapa com um apertador metálico que está ligado aos estiletes que traçam o desenho sobre o vidro encerado. Ao movimento do apertador corresponde o movimento dos estiletes. Este processo permitiu a produção em série de peças gravadas e atender às solicitações de consumo, sobretudo, de serviços de mesa.

No Museu do Vidro existem um exemplar de Guillocher e um pantógrafo de 24 cabeças (para 24 peças), este último já restaurado.

 

O uso do ácido estendeu-se também à pintura. Simplesmente pigmentado com tinta da China, ou empregue em misturas mais complexas, pode ser usado para fixar desenhos ao vidro.

 

«O ácido fluorídrico veio pôr termo às dificuldades que muitas vezes se apresentavam para encontrar um operário bastante hábil e prático». Simultaneamente, amplificou enormemente o uso da gravura decorativa, reduzindo os preços das obras.

 

 

FOSCAGEM

 

A foscagem do vidro é uma técnica muito antiga, consistindo em despolir o vidro, retirando-lhe a transparência. Tem sido usada como processo de decoração, mas também como aplicação prática. Pela sua eficácia em quebrar a intensidade da luz, difundiu-se a sua aplicação à iluminação, em globos, chaminés de candeeiros e vidraças, transformando a luz directa em luz difusa. Os efeitos de foscagem podem ser obtidos por fricção, jacto de areia, vapor de água, etc. Antigamente, colocavam-se chapas de vidro em caixas de madeira, que se cobriam com água, areia, seixos e gesso. Agitando a caixa com movimentos regulares, o arrastamento desses materiais sobre o vidro, provocava o despolimento de forma homogénea e intensa.

 

 

VIDRO MUSSELINA

 

Através de processos de foscagem podem obter-se diferentes decorações. É o caso do chamado vidro musselina, cuja designação se deve à semelhança que apresenta com o tecido desse nome. Consiste na aplicação de água gomada sobre a superfície vítrea, contendo pó muito fino de cristal. Estende-se uma primeira camada de forma uniforme, alisando-a depois com escovas. Para que essa camada fique bem aderente, e assim se possa obter maior opacidade, junta-se outra camada de cristal em pó com essência de terebentina e alfazema, indo depois à mufla para secar. Para a obtenção do musselina, antes da secagem aplica-se uma folha de Flandres ou um papel com o desenho recortado, que se fricciona fortemente com uma escova. A fricção arrasta o pó de cristal nos pontos abertos do desenho e assim o vidro só fica despolido nos pontos protegidos, surgindo então o desenho nas partes polidas.

 

 

VIDRO GIVRÉ

 

Um outro efeito decorativo pode ainda ser obtido a partir do vidro fosco: o givré, aplicado sobretudo em vidraça. Para o obter, cobre-se a chapa foscada com uma preparação à base de grude e deixa-se secar. O grude, ao secar, contrai-se e estala, com tal energia que se enrola em fragmentos, arrancando pequenas porções do vidro, que assim fica polido nesses pontos, apresentando efeitos de arborescências, lembrando folhas de feto.

 

 

 

GRAVAÇÃO A JACTO DE AREIA

 

O sistema de incisão por areia consiste em realizar os motivos gravados, lançando a toda a velocidade um jacto de areia continuo sobre as paredes de vidro, seguindo esboços previamente traçados. O sistema, na sua feição moderna, foi introduzido em 1871 por Benjamim Tilghman, nos Estados Unidos, e estendeu-se rapidamente por toda a Europa.

O processo consiste em despolir ou esculpir o vidro nos pontos em que incide o jacto. Para obtenção de motivos isolados e de pormenor, usam-se écrãs ou estampilhas, que cobrem o vidro nos pontos onde não se deseja fazer incisão. Usou-se muito este processo, por ser prático, para fazer marcas e letreiros de garrafas, desenhos em copos, etc.

A areia contida no reservatório é projectada por ar comprimido ou pressão de vapor de água.

 

 

CAMEO GLASS

 

Entre os processos de incisão do vidro há que mencionar, finalmente, o cameo glass, associado às técnicas de vidro duplo (doublé). De forma similar ao que acontece para a decoração de pedras duras, baseia-se na possibilidade de utilizar efeitos cromáticos de duas ou mais capas de material vítreo sobrepostas. Uma vez obtidos de dois estratos de vidro diferentes (geralmente brancos no exterior e azuis no interior, no entanto, ás vezes as cores variam) procede-se ao talhe ou desgaste do vidro exterior de maneira a que se estabeleça uma relação de contrate cromático entre os motivos decorativos ou figurados. Consegue-se com este sistema, por exemplo, retratos nos quais uma parte da figura é formada por vidro do fundo, e outra parte com o da superfície. Esta técnica desenvolveu-se de forma especial em Inglaterra (onde foram especialistas Northwood e Richardson) e em Itália no séc. XIX. Citemos entre os exemplares mais representativos da Antiguidade o chamado Vaso de los amorcillos (Nápoles, Museo Nazionale) e o Vaso Barberini ou Portland (Londres, British Museum) ambos alexandrinos, datados do séc. I a. C. e o séc. I d. C..

 

 

 

 

A LAPIDAÇÃO

 

A técnica decorativa da incisão, contrariamente à técnica pictórica, actua directamente sobre o corpo dos objectos de vidro: portanto só se pode aplicar a vidros que possuam um grau suficiente de espessura e de dureza.

A modalidade mais utilizada é a incisão com disco, à semelhança da gravação.

Normalmente o processo consiste em submeter as paredes vítreas à acção de mós ou rodas de tamanhos e espessuras diferentes que as talham com maior ou menor profundidade. «Lapidar consiste na formação de facetas no vidro através do desbaste de grandes camadas da superfície». Frequentemente, a lapidação associa-se à gravação, obtendo-se efeitos decorativos mais ricos e significativos.

As mós, na sua maioria de cobre, que antigamente se faziam girar por meio de correias de transmissão ligadas a um pedal, hoje movem-se de forma totalmente mecânica.

Em Portugal, a primeira máquina a vapor aplicada à lapidação, instalou-se em 1848 na Real Fábrica da Marinha Grande, à época administrada por Manuel Joaquim Afonso. No entanto, a lapidação já aqui se efectuava há muito, por processos manuais.

Para que resulte mais fácil, menos brusco, e se possam evitar quebras e roturas, introduz-se constantemente entre a parede de vidro e a mó uma mistura semilíquida de um pó de esmeril: depois do primeiro contacto, aparecem sobre o vidro sulcos opacos que seguem o desenho que se deseja traçar. Depois, mediante mós de material menos duro (primeiro madeira, depois cortiça e feltro), realiza-se o polimento e o acabamento do talhe.

A dificuldade deste tipo de decoração reside em conseguir uma precisão constante da mó sobre as paredes de vidro para que os cortes não sejam de diferentes profundidades, para o qual é imprescindível a habilidade do artesão e a sua experiência. A dificuldade técnica era, logicamente, maior antes da mecanização da industria vidreira, pela descontinuidade da rotação das mós.

A localização do engenho de lapidar era também muito importante, ficando situado em frente a janelas viradas a sul, para que se pudesse não só aproveitar a luz diurna durante todo o dia, como obter bons níveis de iluminação, fundamental nos trabalhos de pormenor.

 

Por meio deste sistema de lapidação conseguem-se representações e decorações "em negativo", quer dizer, "entra-se" dentro das paredes de vidro, seguindo os motivos decorativos esboçados previamente. Existe contudo uma técnica de talhe que proporciona motivos decorativos em positivo: em vez de se talhar a parede do vidro segundo os motivos decorativos, procede-se em sentido contrário, trabalhando com mó as paredes de vidro e fazendo sair o motivo decorativo.

Nos finais do séc. XVII e princípios do seguinte esta técnica estendeu-se especialmente pela Alemanha, nos centros de Kassel, Postdam, Peterdorf, etc.

A redescoberta do cristal de chumbo, em 1675, pelo inglês George Ravenscroft, permitiu um enorme desenvolvimento desta técnica.

«A sua importância foi de tal ordem, que fez nascer junto aos fornos de fundição oficinas especializadas de lapidação, que constituiram importantes centros da técnica e da arte do vidro.

 

Há que assinalar que, actualmente, muitos dos cristais lapidados que circulam no mercado se realizam por meio de molde. Na prática, os cristais de mó, distinguem-se porque observando o talhe a contraluz notam-se sinais perceptíveis da roda de lapidar, em forma de ligeiras estrias paralelas à superfície do próprio talhe, enquanto que nos realizados com molde os sulcos aparecem perfeitamente lisos. Também, o polimento dos entalhes dispensa frequentemente a segunda roda, sendo o polimento feito a ácido fluorídrico.

 

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