Como um legítimo santo

          Para alguns estudiosos de Santo Agostinho, a maior curiosidade que ronda em sua biografia diz respeito à mulher com quem o bispo de Hipona teve um filho.
          Nas famosas Confissões, de Aurélio Agostinho - segundo algumas pessoas a melhor fonte biográfica sobre ele próprio - Agostinho cita uma única vez sua paixão/pecado na adolescência, mesmo assim, sem dizer qualquer nome, referindo-se à sua concubina como nada mais que um passado pecador. E (teoricamente?) arrependido.
          Formado em Filosofia e Teologia, o norueguês Jostein Gaarden, autor do consagrado O Mundo de Sofia, e fã de Santo Agostinho, faz um livro o qual contém uma carta, de aspectos altamente pessoais, ao então bispo de Hipona, remetida pela desconhecida Flória Emília, a concubina de Agostinho.
          Na carta, que o autor diz ter encontrado em um sebo de livros em Buenos Aires (e que então lhe pareceu raridade), Flória relembra momentos íntimos com Agostinho, sempre em tom de sermão: "Alguma vez pensaste dessa maneira sobre o que aconteceu? A levar em conta tuas confissões, parece que não. Mas não é exatamente uma forma intensificada de infidelidade abandonar o ser amado para salvar a própria alma?".
          Idealizamos com a carta, um Santo Agostinho bem diferente daquele das Confissões, cujos pensamentos (que imaginamos com as observações de Flória) se contrapõem com seus dogmas de bispo, bem como os da Igreja.
Vita Brevis, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, deixa ao leitor também uma curiosidade: sobre a autenticidade da carta, que é posta em duvida pelo próprio autor.

Luiza Rey

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