O DNA das Testemunhas de Jeová

 

 

 

* Antes de tudo, quero deixar claro que este artigo trata o comportamento das Testemunhas e ex-Testemunhas de Jeová de forma genérica, porém, nunca com o objetivo de generalizar ou vulgarizar, porque sei que em ambos os lados existem muitas exceções e à estas peço antecipadamente o meu perdão.

 

Durante muito tempo, após a minha resignação como ancião e a subseqüente dissociação da organização das Testemunhas de Jeová, eu tentei entender as causas e os motivos que me levaram a tornar-me uma delas e mesmo as causas e motivos que levam outras pessoas a tornarem-se Testemunhas, haja vista que tornar-se uma delas provoca drásticas mudanças na vida da pessoa, mudanças estas que afetarão para sempre o seu círculo íntimo, família e amigos inclusos.

Depois de horas e horas de reflexão, descobri que nunca vou conseguir entender as tais causas e motivos, porém, como efeito colateral de minhas reflexões, descobri algo profundamente indesejável: “uma vez Testemunha de Jeová, sempre Testemunha de Jeová”. Isso, infelizmente, não nas virtudes que as Testemunhas também possuem, mas nos defeitos que elas carregam.

Ocorre que os líderes das Testemunhas de Jeová inserem muito fundo nelas algumas coisas que, por mais que digam que é para “preservar o nome de Jeová”, na verdade serve apenas para criar um exército de iguais, onde aqueles que apresentam alguma diferença são logo identificados e isolados.

Reparemos nas Testemunhas. Há uma uniformidade, um padrão de comportamento. No serviço de campo, todas agem de maneira muito similar ao abordarem as pessoas, porque são treinadas para isso, com um discurso pronto e respostas prontas, que não admitem alguma criatividade ou modelo diferenciado. Ao passo que o apóstolo Paulo disse ser “como os das nações” para convencer os das nações, as Testemunhas que fazem o trabalho de pregação nas casas e nas ruas, fazem questão de mostrar-se diferentes, tanto na maneira de se vestir como no comportamento, quase sempre o mesmo padrão forçado. Na maioria das vezes, até a maneira como andam entre uma casa e outra, ou batem palmas, ou ainda chamam o morador. Extremamente parecidos. Alguém que já atendeu uma Testemunha de Jeová na sua porta, como eu já atendi antes de sê-lo, não tem como esperar uma conversa diferente, alguma frase nova, é sempre a mesma coisa, com pequenas variações.

Da mesma maneira, elas são treinadas extensivamente para serem uma espécie de soldados de Deus, mas não para combater os iníquos, e sim, para vigiarem-se mutuamente. Esta responsabilidade que lhes é delegada pelos seus líderes, que é a de “manter limpa a congregação de Jeová”, as leva à uma constante busca de imperfeições nos seus próprios irmãos. Uma busca, entre os iguais, daqueles que apresentam alguma diferença. Se uma Testemunha de Jeová, cair na besteira de comentar com outra alguma eventual dúvida ou questionamento a respeito do ensino do Corpo Governante, fatalmente será olhada com olhos duvidosos. Uma Testemunha, por mais “zelosa” e “forte na fé” que seja, está sempre sobre o fio da navalha, como que pisando em ovos, pois um pequeno deslize pode ser a sua ruína dentro da congregação.

Um dos resultados desta neurose, é que uma Testemunha sempre carrega consigo o medo de ser vista por algum de seus irmãos em alguma situação embaraçosa, porque sabe que, mesmo nada fazendo de errado, uma impressão distorcida pode lhe trazer sérios problemas e terá muito trabalho para se explicar. O outro resultado é ainda mais danoso: as Testemunhas procuram se associar mais fortemente com algumas outras que consideram de maior confiança. Isso para se proteger de outras que lhe pareçam hostis ou que considere potenciais fofoqueiros que podem causar estragos. No rastro dessa atitude, aparecem os grupelhos que, na ânsia de se proteger, acabam provocando ainda mais discórdia e ainda mais disse-que-disse, marginalizando aquelas que alguém, de dentro do grupo, não aprecia ou considera como alguém perigoso.

São verdadeiras mini-congregações dentro das congregações que, semelhantes a grupos guerrilheiros e com a justificativa de que tem a tarefa de excluir as “frutas podres” da “cesta de Jeová”, discriminam e isolam os que consideram opositores. Este também, infelizmente, é um comportamento padrão e uniforme em todas as congregações espalhadas pelo mundo. E não precisa muito para se tornar alguém indesejado aos grupelhos, basta uma palavra mal colocada, um comportamento minimamente diferente, ou mesmo falar algo de um deles inadvertidamente. Mesmo não havendo maldade, não há perdão, não há retorno, não funciona nenhuma retratação ou arrependimento. Depois de receber a “pecha” de fofoqueiro ou de “fraco na fé”, é praticamente impossível receber novamente uma avaliação favorável dos membros do grupelho, dos "guerrilheiros da fé".

Este comportamento é introduzido bem fundo na mente das Testemunhas, está enraizado nas congregações. Claro que nos artigos da revista A Sentinela e em discursos e partes da tribuna, o Corpo Governante procura aparentar que censura este tipo de atitude. Mas é apenas superficial, porque no dia-a-dia, os anciãos fazem vistas grossas para esta violação apesar de, pelo menos me parece, muitos deles agiriam diferente se tivessem orientação clara e apoio para combatê-la. No entanto, em muitos casos, os próprios anciãos temem estas forças obscuras e preferem nada fazer para não ser, eles mesmos, vítimas de discriminação e ataques.

O que eu disse até agora são coisas que eu já conhecia, desde os tempos de Testemunha de Jeová, mas, o que eu acabei descobrindo de forma dura e dolorosa, é que este é um comportamento que acompanha a pessoa, mesmo quando ela deixa de ser uma das Testemunhas de Jeová, seja por motivos voluntários ou não. É uma característica que se torna crônica e incurável. É a discriminação aos que são diferentes, aos que não se alinham com o seu próprio pensamento. É a intolerância para com as falhas e defeitos alheios. É a falta de sensibilidade para com as diferenças de personalidade. É como se a pessoa, mesmo tendo deixado de ser Testemunha, ainda sentisse aquela necessidade de se enturmar num grupinho, para se proteger daqueles que consideram ameaçadores. É nomear alguém como “fofoqueiro” e, ao mesmo tempo, ficar fofocando e falando pelas costas sobre ele, como se isso também não os colocasse na mesma condição daqueles a quem acusam.

Parece-me que é algo muito profundo, que é injetado nas Testemunhas de Jeová. Tão fundo que mesmo deixando de ser uma Testemunha de Jeová na teoria, a pessoa não consegue se libertar deste comportamento daninho o odioso na prática.

Parece-me que é como se a programação mental efetuada nas Testemunhas de Jeová, não atingisse apenas a mente, a estrutura neurológica. Parece mais algo ligado ao próprio DNA. É como se algum gene novo fosse adicionado na estrutura genética de alguém que se torna Testemunha e isso nunca mais poderá ser mudado.

Parece-me que as pessoas, mesmo deixando de ser Testemunhas de Jeová, mesmo podendo usufruir a liberdade de não estar mais sob as regras e normas restritivas implantadas pelos líderes delas, não conseguem se livrar desta carga genética que as move a se juntar em grupelhos, a discriminar os desiguais, a condenar aqueles que consideram potenciais perigos às suas vidas ou ao seu “modus vivendi”, a proteger os “amigos” contra as ameaças que sempre, em todos os casos, é apenas uma pessoa que falou algo que não devia, ou que se indispôs com alguém do grupo, enfim, normalmente alguém que não vai ter direito de defesa e será solenemente ignorada e tratada como um reles marginal. Nada diferente dos "dissociados" e "desassociados" da organização.

É extremamente doloroso descobrir isso. É decepcionante saber que um comportamento assim acontece entre pessoas que deveriam estar libertadas destes grilhões.

É uma pena. Muito triste.

 

 

 

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