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Os mártires do século XX
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Sobre os mátires do século XX

O Papa João Paulo II escreveu que os mártires do século XX "não deveriam ser esquecidos". Com efeito, em números absolutos, os mártires deste século superam os de qualquer século anterior. Negritamos ou sublinhamos as partes do artigo que consideramos mais significativas.

PS - Reparem que o livro de Robert Royal ainda não foi publicado em língua portuguesa. O "Código Da Vinci", recheado de calúnias contra a Igreja de Cristo, eles publicaram rapidinho...


 

Um século de sangue:

 

Em síntese: Robert Royal publicou importante livro sobre os mártires do século XX, mais numerosos do que em qualquer outro século. Explicita o heroísmo de tais cristãos, cuja memória não pode ser esquecida (como disse o Papa João Paulo II). Na verdade, os cristãos não representam um perigo para a sociedade; o perigo está, sim, do lado dos regimes totalitários, que os condenaram à morte. O livro de Robert Royal ainda não foi publicado em tradução portuguesa. Apresentamos, porém, um artigo de autor norte-americano que comenta o conteúdo do interessante livro.

* * *

Foi publicado há poucos meses, nos Estados Unidos, o livro de Robert Royal sobre os Mártires do século XX[1]. Tal obra, ainda não editada em português, inspirou um artigo de Llewellyn Rockwell Jr., Presidente do Von Mises Institut e colunista do WorldNetDaily, jornal que publicou os comentários do jornalista ao livro.

Visto que se trata de considerações valiosas, as páginas seguintes apresentarão o artigo de Rockwell Jr., em tradução portuguesa devida a Pedro Sette Câmara.

 

 

I. Introdução

 

Joe Lieberman disse algumas palavras sobre Deus em um discurso recente. Disse que a Constituição garante que estamos livres para praticar a religião, e não que estamos livres da religião. Parece bastante razoável; mas, pela reação da imprensa, alguém poderia achar que ele pediu a instauração de uma nova Inquisição. Sim, após mais de 100 milhões de mortes causadas pelo Estado em nosso próprio século, depois de Hitler, Stálin e Mao, ainda deveríamos estar constantemente preocupados com acontecimentos autorizados pelo Papa há muitos séculos.

Este é um dos milhares de exemplos da inteiramente injustificada inclinação anti-religiosa do nosso tempo. A maioria dos intelectuais, e sua câmara de eco midiática, pressupõe que os fiéis, sobretudo os cristãos, são um perigo para a sociedade e para a liberdade. Sim, as pessoas devem ter liberdade de religião, desde que sua religião seja particular, invisível, politicamente inócua e culturalmente irrelevante. A Igreja deve ser acossada como uma ameaça, e o Estado celebrado como o libertador da humanidade.

Os fiéis representam um perigo para a sociedade? Serão eles os supostos opressores do nosso tempo, devendo ser constantemente observados, temidos e censurados? Dê uma olhada na curva do século e você verá que os cristãos, sobretudo os católicos, foram na verdade as principais vítimas da violência estatal neste século. Para uma fundamentação documental completa destas afirmações, recomendo o notável livro novo de Robert Royal, The Catholic Martyrs of the Twentieth Century: A Comprehensive World History (New York: Crossroad Publishing, 2000).

"Em números absolutos, os mártires deste século superam em muito os de qualquer século anterior", escreve. E por quê? Royal culpa "o surgimento de ideologias anticristãs virulentas e regimes brutalmente repressivos que desejam impô-las, o que levou diretamente ao massivo sofrimento e assassinato de fiéis religiosos".

"Em um século que com razão se orgulhou de seus avanços tecnológicos e científicos por um lado e de seus compromissos com os direitos humanos de outro, refinados métodos de tortura e controle, tanto físico como mental, também emergiram vingativamente por todo o planeta. Sendo um dos mais fortes focos de oposição às tendências repressivas, a religião era logicamente um alvo para os tiranos. O século XX, em qualquer escala, apresenta um espetáculo brutal que será lembrado historicamente como um dos mais negros períodos de martírio".

Quando Royal se refere a mártires, fala não somente das pessoas que foram mortas, mas das pessoas que foram mortas especificamente por causa de sua fé. As principais vítimas são do comunismo, que era chamado "comunismo ateu" no Ocidente com boas razões. Foi a ideologia mais virulentamente anticristã já inventada. Royal nos lembra a observação de Vladimir Bukovsky de que o comunismo normalmente matava em um só dia tantas pessoas quanto as que a Inquisição matou em todos os séculos de sua existência. A maior parte de suas vitimas era de crentes.

 

 

II. O Conteúdo do Livro

 

O livro de Royal começa com um estudo detalhado da Revolução socialista mexicana de 1917 - a primeira na história do mundo, anterior à Revolução bolchevique, mas esquecida hoje. "Igrejas foram destruídas, profanadas, confiscadas, e transformadas em casernas de soldados; objetos religiosos foram profanados por soldados que bebiam de cálices, cortavam estátuas para fazer lenha, e usavam objetos de arte sacra para treinar a pontaria; Ordens de padres e freiras foram postas na ilegalidade, e o ensino religioso proibido; construções de uso religioso ou casas particulares onde atividades religiosas ocorriam, estavam sujeitas a desapropriações". Sacerdotes precisavam de licenças estatais e as cotas eram limitadas.

Tomás Garrido Canabal, governante do território mexicano de Tabasco, pôs em seus filhos os nomes de Lênin, Lúcifer e Satanás, expulsou todos os padres que não se casassem, e pôs-se a destruir todas as igrejas. E, hoje, há alguma preocupação no México a respeito de ataques aos cristãos? Algum aviso de que o anticatolicismo pode reabrir velhas feridas? Na verdade, é o contrário: a imprensa ocidental deu o alarme de uma nova onda de intolerância quando o Presidente eleito foi filmado recebendo a comunhão.

E a União Soviética? O que se pode dizer? Eis um regime que tentou varrer toda a religião em uma incrível onda de violência contra esta sociedade religiosa. Escolas foram fechadas, sacerdotes assassinados, e Bispos presos e torturados. Igrejas foram cercadas por tropas e os padres levados a Moscou para ser assassinados. A instituição da família foi atacada, sobretudo porque era nela, conforme pensavam as autoridades soviéticas, que a fé era ensinada.

Quantos mártires? Royal diz que não podemos saber ao certo. Mas milhões foram mortos. O capítulo sobre a liquidação dos fiéis ucranianos chega a ser uma leitura difícil. Imagine isto: a Igreja Católica ucraniana tinha 2.772 paróquias, 8 Bispos, 4.119 igrejas e capelas, 142 mosteiros e conventos, 2.628 sacerdotes, 164 monges, 773 freiras e 4 milhões de fiéis leigos. Ao fim da mais ampla supressão de fiéis religiosos da história mundial, o conjunto inteiro tinha sido reduzido a ZERO.

A lista continua: as montanhas de carnificina na França, Albânia, Lituânia, Polônia, Alemanha, América Latina, Romênia, Coréia, Africa e Espanha (ao fim da Guerra Civil Espanhola, que durou três anos, sete mil nomes de mártires foram enviados à Santa Sé). E, apenas no passado mais recente, o regime assassino da Indonésia matou dúzias de padres e freiras no Timor Leste. Todas estas mortes foram causadas pelo Estado, e os governos responsáveis pelos assassinatos eram majoritariamente governos que professavam ódio ao cristianismo.

Boa parte da pesquisa de Royal é nova. O projeto começou com uma frase de uma encíclica de João Paulo II. Ele disse que os mártires de nosso século "não deveriam ser esquecidos". Um grupo de fiéis da paróquia de Santo Aloísio em New Canaan, de Connecticut, levou estas palavras a sério, e começou a acumular materiais. A notícia se espalhou e materiais começaram a vir do mundo inteiro. O que começou como uma simples lista se tornou um arquivo impressionante. Com a ajuda de seu irmão, que é padre, Royal começou o trabalho de transformar os resultados em livro.

O trabalho feito por Royal é magistral, não somente por documentar centenas de exemplos com histórias de alguns dos mais heróicos; ele também nos recorda o que o martírio deve significar para nós. Royal lembra que o cristianismo é uma fé na qual o martírio, e não a conquista, é o motivo principal. Todos os apóstolos, possivelmente à exceção de um (São João Evangelista), tiveram morte violenta.

São Paulo foi degolado, mas certamente esperava isto: assim como na antiga Israel, ele escreve em sua Epístola aos Gálatas, "aquele que nasceu da carne perseguiu aquele que nasceu do Espírito, assim é agora". São Pedro foi crucificado de cabeça para baixo e incendiado, e anteviu seu sofrimento escrevendo em sua Epístola: "Caríssimos, não vos assusteis com o julgamento pelo fogo que agora acontece entre vós... mas alegrai-vos, pois sois participantes dos sofrimentos do Cristo" (1Pd 4,12s).

Nosso Senhor mesmo avisou seus seguidores: "Eis que vos mando como ovelhas entre os lobos". Santo Inácio, o segundo bispo de Antioquia, foi feito em pedaços por bestas selvagens. Sob o reinado de Diocleciano no terceiro século, velhos, mulheres e crianças foram assassinados por sua fé. Tertuliano observou que o Estado romano culpava os cristãos por todos os problemas, incluindo as catástrofes da natureza: não interessando o que acontecesse, surgia sempre um brado -- "Mandem os cristãos aos leões! Morte aos cristãos!"

Também parece assim em nosso próprio tempo. O cristianismo, pregando a dignidade da vida humana, e seu reconhecimento de que todo indivíduo tem uma alma de valor infinito, gerou a idéia moderna de liberdade. De várias maneiras, o cristianismo tem sido o sustentáculo da liberdade por recusar-se a reconhecer a autoridade final do Estado. A lealdade do cristão sempre tenderá a transcender a autoridade, e assim será capaz de resistir. É por isto que os cristãos foram mortos neste século, e é por isso que eles continuam sendo perseguidos ainda hoje.

O milagre (e esta palavra foi cuidadosamente escolhida aqui) é que o cristianismo sobreviveu apesar de tudo. Até agora, ele durou mais do que qualquer governo que tenha tentado exterminá-lo. De fato, a promessa do Nazareno era de que as Portas do Inferno jamais prevaleceriam.

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Nota:
[1] The Catholic Martyrs of the Twentieth Century. A Comprehensive WorldHistory. New York, Crossroad Publishing, 2000.
Autor: d. Estêvão Bettencourt
Fonte: PR 465 - pp. 61-64

 
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