Fernanda: "É um disco de contrastes. Tem um lado extremamente
pop, ao mesmo tempo busca novas estéticas musicais. Essa mistura é
nossa essência”.
Rescisão de Contrato e Produção Independente - Fernanda:
Rescindimos o contrato em janeiro de 2004, por causa de uma outra
proposta que acabou não se realizando, e gravamos o disco enquanto
definíamos essa situação. Depois, só precisamos correr atrás da
distribuição, que será feita pela Sony-BMG. A parte mais crítica,
que era ter os meios para gravar, nós já tínhamos resolvido quando
investimos no nosso estúdio.
John: "Saímos da BMG e recebemos o convite do Jorge Davidson
para irmos para a EMI (Davidson atuou como diretor artístico da BMG
durante quase todo o tempo em que o Pato Fu esteve na casa).
"Negociamos o novo contrato com a EMI e, com a caneta na mão para
assiná-lo, Jorge foi substituído. Até conversamos com a nova
direção, mas tudo tinha mudado, era uma outra linha de trabalho.” (O
grupo procurou então o diretor artístico da Warner). "Começamos a
conversar com o Tom Capone, que era um cara com quem já pensávamos
em trabalhar. Mas, outra vez, quando estávamos às vésperas de
assinar, aconteceu aquela fatalidade." (John acrescenta que, após a
morte de Capone no ano passado, o grupo ainda ouviu propostas de
outras gravadoras até optar pela produção independente).
John: Construímos uma carreira sólida, e isso nos deixou mais
confiantes em fazer o disco independente. Percebemos que não
seríamos descartados tão facilmente, porque não precisamos de um hit
para viver.
Fernanda: Não importa como o disco vai chegar até o público.
Queremos que todos saibam que fazemos tudo com total liberdade, sem
qualquer interferência no nosso processo de criação”.
Jabá? Ricardo: Tem algumas coisas que são do mercado e a gente
costuma brincar que são um mal necessário. Essa questão do jabá
existe e é assim que as coisas infelizmente funcionam. A gente não
sabe muito bem como ocorre, mas sabe que a máquina funciona.
Fernanda: As bandas independentes se questionam se vale a pena ser
independente enquanto quem está dentro de uma gravadora questiona
quais são os prós e os contras. Do jeito que aconteceram as coisas
durante a feitura desse disco, a gente conseguiu ficar com o melhor
dos dois mundos, a autonomia, o cronograma, a cumplicidade entre a
gente que acontece muito no mundo independente e, no final das
contas, ter uma gravadora grande interessada em lançá-lo do jeito
que a gente propõe, sem nenhum tipo de intervenção
John, o produtor: "Sempre gostei muito de mexer com a coisa da
tecnologia. Aprendi muito com os produtores com quem trabalhamos e,
principalmente, com os engenheiros de som. Fiz este disco sozinho,
eu mesmo mexendo nos botões. E fiquei muito feliz quando o pessoal
da gravadora aceitou o disco como estava, sem mexer em nada. E ainda
elogiaram a qualidade."
John: A gente teve um tempo de acabamento como nunca aconteceu
antes. Estávamos sozinhos, mas com todo tempo do mundo. Em casa é
uma beleza porque a gente mixa uma música, mixa de novo e, depois,
mais uma vez. Na verdade, dizem que a mixagem não acaba, a gente é
que desiste dela.
Sobre o processo de criação - Ricardo: "Acho que foi o disco que
tivemos mais tempo para produzir e isso foi fundamental para que as
canções fossem trabalhadas o melhor possível. Ruído Rosa (2001), que
muita gente acha o nosso melhor álbum, tem coisas na mixagem que me
desagradam hoje em dia".
Ricardo: "John sempre co-produziu os nossos discos. Desta vez,
fez tudo sozinho. Além disso, todos participamos da feitura do CD.
Eu, por exemplo, também fiz as fotos e a arte gráfica".
Fernanda: "Eu fui a cozinheira, o Ricardo, o fotógrafo... Até
como roadies trabalhamos"
Fernanda: É o disco de que mais participei, no molde das canções,
ou nos arranjos. Às vezes você grava com produtores tão bons que
chega a pensar: "Não é possível, eu devo estar errada e ele certo".
Dessa vez tivemos mais liberdade. Agridoce, por exemplo, mudou
várias vezes. Alguém sugeria algo e a gente refazia sem pressa.
A idéia dos videoclipes - Fernanda: "Música de trabalho nunca
funcionou para a gente". "Decidimos rodar um clipe para cada faixa
do disco. Todo mês, um clipe novo, dirigido por um diretor
diferente, estreará em nosso site (www.patofu.com.br). Oito já estão
prontos."
Fernanda: A nossa intenção era lançar todo os vídeos junto com o
CD, mas alguns diretores se atrasaram. Agora a idéia é colocar um
por mês no nosso site e talvez lançar uma edição que tenha o CD com
o DVD”.
Fernanda:
“Nossa única exigência foi que
eles gostassem do Pato Fu”, ri Fernanda.
Fernanda: "Ao fazer os convites, deixamos bem claro que não
havia exigência nenhuma e eles estavam livres para fazer o que
quisessem. Afinal, o grande barato dessa história era mostrar o
vídeo como uma expressão do diretor, sem a necessidade de mostrar a
banda. Somente dois diretores pediram para colocar a minha imagem no
clipe”, conta Fernanda, reforçando que o pato Fu se preocupou em
promover clipes que “agreguem valor e não sejam apenas peças de
promoção”.
John: "Agora é
possível fazer bons vídeos, mesmo com pouco dinheiro. Uma pessoa
talentosa, com um computador bom e uma baita criatividade, faz
sozinha em casa um clipe bem legal”, diz.
Sobre Lulu Camargo - Ricardo: A gente queria um pianista de
verdade porque isso ao vivo faz uma boa diferença. Procuramos
explorar ao máximo essa coisa do eletrônico porque começamos assim,
mas chega um momento em que existe um certo limite. Lulu é um ótimo
pianista, tecladista, maestro e compositor. Agora, a gente traz a
coisa da eletrônica e tem um setor criativo em plena atividade.
Pós-12 anos de convívio: "Chegamos aos doze anos com um convívio
muito bom entre nós. Ter uma banda não é fácil. O dia-a-dia no
estúdio e na estrada é complicado. Os integrantes são diferentes,
têm suas particularidades e uma agenda comum que os obriga a fazer a
mesma coisa.” Com o passar dos anos, o Pato Fu conseguiu superar as
dificuldades e transformar as diversidades dos integrantes em um
trunfo para a sonoridade que persegue: “Cada um é bom em um lado. No
Pato Fu, à exceção do Xande, que é um exímio baterista e poderia
tocar em qualquer banda, um complementa o outro”, fala Fernanda,
dizendo ainda que só chegaram aonde estão devido à soma de forças
distintas.
Sobre o recesso - Fernanda: Tivemos uma parada totalmente pessoa
e planejada. Com 12 anos de banda, era hora de respirar para outros
projetos. O meu foi o nascimento de nossa primeira filha. Dei uma de
Celly Campello, virei mãe e dona de casa por um tempo. Fernanda:
Parece que eu vinha me preparando faz tempo para ser mãe. A
experiência tem sido muito boa. Tanto que quero repeti-la num futuro
próximo.
Fernanda: Parada mais programada do que esta, aos 12 anos de
banda, seria impossível. Enquanto estávamos afastados da estrada e
de aparições públicas, fomos construindo nosso oitavo álbum em nosso
próprio estúdio. outra gestação longa e feliz. Ao mesmo tempo, foram
aparecendo notícias de que a banda tinha acabado, que eu tinha
ficado louca, que resolvi me aposentar... Outro dia mesmo, durante
um vôo, um moço me abordou, triste pelo meu retiro precoce da
carreira. Nada disso! É possível ser mãe e jornalista, ser mãe e
dentista, ser mãe e professora, hoje sou mãe e toco numa banda junto
com o pai - o que é um tópico singular em se tratando de
ausência/presença dupla.Claro que ainda não senti de novo o peso de
entrar numa turnê puxada, passar semanas fora de casa, agora com
filhinha a nos esperar. Mas a disposição para retomar todas as
atividades com a banda é ainda maior neste momento. Não quero levar
a criança para todo lado porque estar na estrada implica horários
incertos, alimentação nem sempre confiável, acomodação variada e
transportes nem sempre confortáveis. Não é o que eu chamaria de
rotina saudável para alguém com pouco mais de 1 ano. Deixo aqui meu
protesto para os que acham que ter uma carreira consistente é estar
sob os holofotes o tempo todo. Mais do que alta visibilidade, é
importante manter a qualidade de vida, fazer o nosso tempo e não
seguir cronogramas de mercado. É o que estamos fazendo e acreditamos
que essa seja uma boa fórmula de realização pessoal: adaptar o lado
profissional ao cotidiano, e não o contrário. Assim continuamos a
ser carne e osso, suor e lágrimas, seguros nas horas incertas!
Recomeçar - Fernanda: "Sempre dá um friozinho na barriga. Por
mais que façamos shows, que conheçamos os locais, toda vez que
entramos no ônibus para pegar a estrada lidamos com inúmeras
variáveis. Estava com um certo receio de voltar por causa das
viagens. Cheguei à conclusão que somos uma banda de estrada. Faz
falta para nós. Nossos shows são sempre muito bons”.
Sobre Nina nas gravações - Fernanda: "Nina é uma fofa. Ela
muitas vezes ficava no estúdio com a gente, no colo dos tios do Pato
Fu. Se pudesse, eu queria ter outro filho já, mas como vivo da
música, não dá, né?".
John: Ela aparecia lá e já entrava rebolando. Um dia, desligou
os botões no meio de uma gravação (risos)! Quando terminamos as
mixagens, a levamos para o estúdio, para ver a reação dela. Em
algumas músicas, ela começava a dançar feito uma louca, aí a gente
falava: Essa música é boa, a Nina gostou . Ela era nossa testadora
de músicas.
Fernanda: "O John se revelou um paizão".
Fernanda: "Toma um tempo enorme ser mãe. Mas, no geral. Nosso
cotidiano não mudou muito. Sou eu quem respondo pessoalmente os fãs.
É um trabalho que me dá um prazer enorme e que quero continuar por
muito tempo. Em casa o John domina mais a técnica, enquanto eu cuido
mais da área humana.”
Fernanda: Como temos estúdio em casa, foi bem tranqüilo. Fiquei
gravando as vozes, dando palpite na produção e cuidando dela. O
Xande, o Ricardo e o Lulu foram para Belo Horizonte, e eu não tive
que sair para nada. Foi um esquema confortável para uma mãe de
primeira viagem.
Sobre turnês - Fernanda: "Antes passávamos semanas sem vir em
casa, tipo quando a gente ia aí pro Nordeste ou pro Sul. Mas agora
tenho que ir e voltar. Deixo a Nina com a minha mãe e uma babá, mas
tenho que estar sempre presente".
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