|
|
Pedra
Branca - Itatinga |
Pedrão
- Itaaçu |
Itaaçu (pedra grande)
chegou, não como prisioneiro, mas como visitante. Forte e guapo.
Trazia o corpo pintado e cheio de enfeites. Era bonito como o arco-íris.
Dos pássaros tirara aquela profusão de cores. Chegou e ficou.
A tribo não lhe perguntaria nunca quando iria embora, ele sabia
disso. Passara por aquela aldeia por passar, vinha de outras plagas longínquas.
Fora recebido e, ao beber manicuera (bebida de mandioca) na cuia que lhe
oferecia Itatinga (pedra branca), encantou-se dela. E a cunhantã
(menina-moça) dele. Por isso ficara. Não se atreve a declarar
ao Pajé estar enamorado da filha, já que ela era comprometida
de Botutu, o maior dos guerreiros da região, o mais intrépido
caçador.
Uma noite Jaci (a Lua)
enfeitiçou o coração de Itatinga. Deu-lhe ânsias
de amor, ofuscando-lhe a razão, e ela, iluminada pela deusa pagã,
e arrulhando qual rola terna, foi ao encontro de Itaaçu.
- Oh Jaci, por que me
feres? Diz o jovem índio e atende ao apelo da amada. Sabe que seu
amor é condenado, mas ama perdidamente.
O sol enfiava seus raios
pela ramaria das árvores, quando ambos acordaram. Depois do pecado,
a vergonha e o medo. O índio nunca temeu a onça acuada e
prestes ao bote, mas sim aos castigos de Tupã (Deus) que se faria
representar na ira incontida de toda a tribo. A vergonha vergastava-lhe
a alma, crescia no seu largo peito angústia do arrependimento. E
por isso fugiram. Não iriam longe, sabiam disso, pois, logo que
fosse notada a falta de ambos, seriam caçados incontinenti.
Assim aconteceu. Botutu, com um punhado de guerreiros, já se apresentava à
perseguição. Partiu célere o mancebo pela mata a dentro,
como se fora o próprio Curupira (gênio tutelar da floresta).
O ódio deu-lhe maiores forças. A floresta não lhe
proporcionava segredos. Os rastros frescos e ainda orvalhados, não
permitindo que o caçador errasse.
Dardejava o sol
a meio de um céu límpido. O mormaço, bafo úmido
do chão, subia e, sem brisa, cintilava, vaporizando-se no ar. A
natureza se fizera em silêncio que, de quando em quando, era pontilhado
pelo canto monótono dos pássaros. Mestre de caçada
de veados ligeiros, Botutu negaceava qual jaguar, deslizando pela mata
espessa e sombria.
Enxergaram-se a
um só tempo. Rápido se projetaram no intrincado da ramaria
multiforme. Flechas, quais cascáveis aladas, Botutu não as
usava. Despojou-se delas e do seu arco, para maior facilidade de movimentos.
Queria o inimigo vivo. Prelibava o festim da ocara (praça da aldeia)
com o prisioneiro atado à mussurana (corda).
Itaaçu também
não queria matar. Seu coração era todo arrependimento
e ternura. Olhava para Itatinga encolhida qual juriti perrengue, aos pés
de um majestoso jequitibá.
Chegavam nesse momento
os demais perseguidores; lépidos e silenciosos faziam o cerco. A
mata era toda ouvidos, quando um silvo agudo denunciou o arremesso de uma
seta. Nas costas largas do amante enterrou-se profundamente a flecha, ficando
de fora só as penas. Itaaçu tombou morto, sem um gemido. Itatinga, desesperada, atirou-se sobre o amante num derradeiro amplexo,
cravando em seu próprio seio a ponta da vareta. Agonizou, cobrindo
de beijos o índio querido. Nada restava fazer. Os índios
juntaram pedras e com elas cobriram o corpo de Itaaçu, levando o
de Itatinga para a aldeia. Era noite quando lá chegaram. Tristonho
e combalido, o Pajé mandou consumar-se o funeral antes do nascer
do sol. Lugubremente, em local afastado, cobriram também de pedras
o corpo de Itatinga.
A estória
teria terminado aí, se Tupã não tivesse se condoído
da sorte dos dois amantes. Repreendendo Jaci, cobriu a terra de negras
nuvens, transformando aquela noite em terrível tormenta. Riscou
o céu com raios flamejantes, ribombou trovões, fez chover
abundantemente e tremeram as terras com violência.
Ao raiar do novo
dia a tribo viu, surpresa, que de cada sepultura brotara, como por encanto,
enorme e majestoso bloco de granito que se contemplavam de longe, perneando
dois eternos enamorados.
A Pedra Branca
- suave e feminina - ITATINGA.
O Pedrão
- guapo e forte - ITAAÇU.
Pedralva se localiza precisamente entre dois blocos enormes de pedra lisa
e compacta: a Pedra Branca e o Pedrão.