A Agitação dos Vigilantes


Era tarde da noite e os "Vigilantes" estavam em reunião secreta. Methos, que usava o nome de Adam Pierson, estava entre eles, sentado ao lado de Joe Dawson, Vigilante de Duncan. Estavam sentados em uma sala, ao redor de uma mesa, aflitos. Ele observava a agitação que se fazia na reunião quando o Vigilante de Harold Parker apareceu para trazer notícias.

- Quer dizer que ele está atrás de vingança? - perguntou uma Vigilante.

- Sim. Ele trouxe seu pupilo junto e está caçando. Desde Veneza para cá, já matou quinze Imortais no espaço de duas semanas. Pelo o que eu pude saber, está realmente atrás de vingança. Uma antiga vingança.

- Todos nós conhecemos a história de Harold Parker, - disse Joe, cruzando os braços e olhando para os companheiros à frente - e se ela for mesmo verdade, haverá uma grande agitação entre os Imortais.

- Já há. O pupilo dele se adiantou em trazer a notícia dos duelos.

- Devemos registrar tudo, - disse o líder dos Vigilantes da cidade de Seacouver, Stuart Snipes - registrar cada passo de todos os Imortais. Isso é algo histórico.

Methos cruzou os dedos com os braços apoiados na mesa de nogueira polida. Prestava atenção no que todos diziam e se elucidava a respeito. Sua surpresa maior foi quando duas mulheres entraram, e ele as reconheceu. Eram inglesas e vigiavam velhos amigos de Methos. Se elas estavam ali, significava que eles dois também.

Todos na sala olharam para as duas mulheres, que pareciam estar atrasadas. Vinham rapidamente e se juntaram ao restante dos Vigilantes, sentando-se na mesa. Stuart as olhou em silêncio, enquanto elas se ajeitavam com pastas que traziam.

- Senhores e senhoras, - começou uma delas, com fortíssimo sotaque inglês. Possuía brilhantes cabelos negros, que naquela ocasião estavam presos em um coque junto à nuca, combinando com o terninho vermelho que usava. Os olhos castanhos percorreram a todos na mesa e então ela sorriu - Sou Elise Sinclair, dos Vigilantes Ingleses. E essa - ela apontou educadamente para a mulher a seu lado, uma japonesa que também tinha cabelos pretos, em um corte na altura dos ombros, com cabelos lisos e de fios finos. Vestia uma camisa branca, calça preta e usava botas com franjas. - é Arimi Shizuka.

- Que bom que vieram. A situação é importante. - disse Stuart.

- Sim. Sabemos disso - ela abriu uma das pastas e então tirou fotos. As espalhou pela mesa e todos pegaram uma, inclusive Methos e Joe. Os comentários sobre elas começaram entre os Vigilantes, enquanto Elise e Arimi esperavam silenciosas a decisão daquele conselho.

Joe olhou para as fotos e então olhou para Methos.

- É... Parece que é realmente Harold Parker. - comentou, baseando-se na imagem que formaram do cavaleiro a partir dos relatos que tiveram dele.

- Sim. - respondeu Methos, examinando os corpos dos Imortais decapitados que foram fotografados. Então ergueu os olhos e fitou o Vigilante de Harold, que parecia apavorado. Voltou a olhar as fotos que eram trocadas entre eles, seguidas de comentários.

No final de tudo, todos tinham suas próprias conclusões sobre as ações de Harold, e nenhuma delas era favorável a ele. Se acontecesse de todos os Imortais de Seacouver terem algum problema, aquele era o problema.

- As fotos mostram por si. - reiniciou Elise - Harold Parker está atrás de vingança. Sabemos que o Sr. Kemp - disse, referindo-se ao Vigilante que cuidava de Harold - teve todos os motivos para alertar os Vigilantes. É importante que todos nós saibamos o nível em que a situação chegou.

- Estamos cientes disso, srta. Sinclair. - disse Kemp, tomando a palavra - Segundo registros dos Vigilantes de Harold Parker, por mais de trezentos anos ele havia sumido e reapareceu há cinqüenta anos. Nenhum de nós estava prevendo que ele surgiria, mas voltou. Não sabemos ainda onde ele estava, mas sabemos que sua volta não é um bom sinal. Nesses últimos anos, ele matou quase setenta Imortais. Um número alto se formos pensar na quantidade de Imortais que temos conhecimento de sua existência. - fez uma pausa - Agora que ele está aqui, muitas cabeças hão de cair de seus corpos até que ele complete sua vingança.

- Ele está atrás de quem? - perguntou Methos.

- Isso é outro mistério. Segundo o que sabemos dele, fora cavaleiro na época das guerras inglesa na Escócia, - ao ouvir isso, Joe fitou Kemp preocupado - e por esse tempo, virou Imortal. Não contente, fora morto decapitado.

- Como? Se ele foi decapitado, como pode virar Imortal? - perguntaram.

- Senhores, a história de Harold Parker é obscura. Não há como sabermos disso. Vejam. - ele abriu a pasta que trazia consigo e mostrou algumas fotos. Eram de um homem, usando um longo sobretudo com a espada em riste. Aquela foto era comum para os Vigilantes, mas as outras que ele mostrava não eram. Examinadas de perto, podia-se ver os grampos que seguravam o pescoço do homem. Aquilo era incrível.

Houve outros comentários entre os participantes daquela reunião e murmúrios sobre como aquilo era possível. Bem que os Vigilantes sabiam, que se um Imortal perdesse a cabeça, ele morria. Era a única forma de matá-los. E ao que tudo indicava, houve algo novo mas que estava dentro das Leis dos Imortais, e isso explicaria porque Harold estava vivo, se fora decapitado, e os grampos em seu pescoço.

Havia algo na história contada que não se encaixava.

Methos examinou bem uma das fotos e depois voltou a suas reflexões. Ele sabia como Harold estava vivo, só não sabia quem havia se dado ao trabalho de fazer alguém como ele viver. Fora um trabalho duro, pois, segundo o que entendera, levará anos para arrumar o pescoço de Harold. O Imortal que havia transformado Harold em seu pupilo deveria ser bem velho, pois ninguém com menos de 3000 anos poderia saber daquele lugar.

- Essas marcas indicam que Harold Parker fora ferido no pescoço. - disse Stuart, mostrando uma foto nas quais os grampos pareciam danificados.

- O Imortal não teve tanto êxito em sua tentativa, seja ele quem fôr. - murmurou Joe, balançando a cabeça e olhando pra Methos. O Imortal estava concentrado, olhando para as fotos.

- Senhores, - começou Arimi, manifestando-se pela primeira vez - vamos manter a calma. Isso está fora de nossa compreensão, mas há fatos que desconhecemos. Na possível morte de Harold Parker, podem haver fatos falsos. Todos nós sabemos da impossibilidade da questão apresentada. O que viemos pedir a esse conselho é ajuda para a resolução dos fatos e para que mais uma história de um Imortal seja descrita em nossos livros.

Methos cruzou os braços e encarou a mulher, levando-a a sério desde que ela entrou naquela sala.

- Vamos manter a calma e o sangue frio. Imortais duelam antes do mundo ser como nós conhecemos, através a visão poética dos livros de História. Harold Parker quer vingança, e temos que saber o porque de sua vingança. Isso fará a verdadeira História - Kemp completou o raciocínio, sentou-se e manteve a calma - O próprio Sr. Pierson aqui pode nos contar um pouco sobre isso, afinal ele é Vigilante de Methos, uma verdadeira lenda entre os Imortais.

Houve mais murmúrios entre os Vigilantes, dessa vez um pouco controlados dadas as circunstâncias. Era uma verdadeira revolução as mudanças que estavam por vir, e alguns deles se sentiam agitados e preocupados quanto a isso. Joe era um deles. Duncan era seu melhor amigo, e agora podia estar na mira de Harold. Sabia que Duncan poderia facilmente resolver a situação, pois era um exímio espadachim, mas a fama de Harold Parker abalava a confiança que Joe tinha na espada de MacLeod.

- Creio que seja melhor observarmos apenas. É isso que fazemos há séculos. - disse Methos - É a Lei dos Imortais o combate, e será nele que saberemos quem é o melhor dos dois. Nada podemos fazer a respeito disso.

Joe balançou a cabeça, concordando com Methos. Sim, essa era a Lei, e Imortais jogavam pelas Leis.

Era de manhã quando o conselho dos Vigilantes encerrou a reunião. Todos haviam entrado em acordo e iriam apenas observar, reforçando sua vigilância em cada Imortal, para saber quem seriam as próximas vitimas e como se comportariam diante daquela ameaça. Recolhendo essas informações, poderiam saber do que se tratava a vingança de Harold Parker e, o mais importante, como ele estava vivo.

Joe estava cansado, e mesmo assim não sentia sono. Não poderia dormir enquanto soubesse que Duncan e Richie corriam riscos. Andando mancando pelas ruas iluminadas pelos primeiros raios do sol, era acompanhado por Methos, que seguia a seu lado em silêncio.

Ainda tinha em mente que Methos podia saber de alguma coisa, mas não iria insistir no assunto. Conhecia Methos e sabia perfeitamente que ele não falaria nada sobre isso. Haveria de pensar em outra maneira de saber mais sobre a questão.

- Há algo errado nisso. - disse Methos subitamente.

- O que quer dizer?

- Que é impossível que Harold Parker esteja vivo. Se ele morreu decapitado antes de se tornar Imortal, como pode ter virado depois? - Methos não queria acreditar no que ele pensava que fosse. Ninguém iria usar aquela água para isso, não para um assassino como Harold. Pensava em chegar em casa e olhar seus diário, pois certamente haveria uma anotação sobre aquilo e uma pista importante para a resolução do caso. Ele queria muito saber sobre isso, pois em tantos anos de vida jamais vira algo tão absurdo.

- Eu sei disso, - respondeu Joe - e isso me preocupa muito.

- Alguma parte da história não foi bem contada.

- Há relatos sobre isso. Impossível que não houvesse erros em algum ponto.

Methos voltou a calar-se e continuou andando na velocidade em que Joe andava. Havia coisas a pensar e questões a resolver. Harold Parker representava perigo. Para todos os Imortais, inclusive ele. Teria que pará-lo antes que a questão saísse fora de controle, o que poderia ocorrer em breve, se já não havia acontecido. Ele lera a ficha dos Imortais mortos por ele nas duas últimas semanas, e se espantava com a facilidade com que haviam ocorrido as mortes. Chegara a conhecer alguns dos mortos, e dois ou três eram excelentes espadachins. Agora, estavam sem suas cabeças e suas habilidades reunidas em um Imortal, que todos afirmavam ser um verdadeiro assassino e caçador de Imortais antes mesmo de ser um deles.

Ele sentia uma maldade no ar, com Harold Parker. Methos já havia participado de muitas mortes, sua espada bebera de todos os tipos de sangue, de pessoas inocentes e de outras não tão inocentes. Ele havia feito parte da Maldade, mas agora... Não mais. Com o mesmo medo que seu nome fora pronunciado por milênios e seus feitos anunciados pelo mundo, ele sentia isso quando falavam de Harold Parker. Talvez não com a mesma intensidade, afinal ele era Methos, o Imortal Mais Velho do Mundo.

Assim que chegaram à casa de Joe, ele seguiu para a sua. Lá, mergulhou em seus diários, à procura de alguma pista, que ele sabia que havia escrito. Passado tantos anos, Methos não se lembrava mais de alguns fatos e, com eles anotados, era fácil ativar em sua mente as lembranças e vivê-las em seus mínimos detalhes. Precisaria delas para resolver a questão.

Folheando os imensos livros, ele via sua letra escrita nas mais diversas línguas. Quase no trigésimo diário, ele encontrou o que buscava. Fez uma leitura rápida, e então fechou os olhos, buscando viver os fatos novamente.

*************

Inglaterra, século V

- Veja, Methos, é aqui.

Methos se aproximou do Imortal e observou a caverna. Em tempos como aqueles, que reinos se formavam e as invasões começavam, os Imortais estavam agitados. Eram tempos de mudança, de guerras e de magia. Eram tempos em que Methos era o mais poderoso dos Imortais.

- Tem certeza?

O jovem Imortal balançou a cabeça de forma arrogante. Seu nome era Patrick, o Cruel. Ao menos era como Methos o havia conhecido. Esse "O Cruel" não o assustava em nada, porque Patrick não era bom com a espada e era desajeitado com o metal pesado em suas mãos. Patrick passou a mão nos cabelos castanhos que estavam emaranhados, jogando-os para trás dos ombros, e voltou seus olhos escuros para a caverna.

- Ali adormecem todos os nossos segredos.

- Claro. Espero que sim.

- Não está com medo, está?

Methos não respondeu e empurrou-o para longe, entrando na caverna com cuidado. Ele já havia vivido muito, já viajara muito e sabia muitas coisas. Explorar uma caverna era uma das coisas mais fáceis de se fazer e esperava que Patrick não o atrapalhasse em nada.

Mesmo com a escuridão da caverna, Methos podia sentir a trilha que tinha que seguir. Ao longe ouvia-se pingos que ecoavam por salões escuros e cheios de perigos. Ele avançou um pouco e então Patrick entrou na caverna com uma tocha em mãos. A luz pálida do fogo pôde iluminar um pouco o caminho enquanto os dois Imortais seguiam corredor adentro.

Havia fissuras nas paredes e grandes esculturas de calcário. Morcegos adormecidos cobriam algumas fendas das paredes, e outros animais e insetos habitavam o lugar. Methos andava com cuidado, prestando atenção a onde pisava, e marcava o que podia da caverna. Foram se aprofundando, descendo e saltando pequenos obstáculos.

Por fim, quando subiam, a tocha se apagou. Por sorte sua luz já não era necessária.

Haviam chegado a um grande salão. Luz entrava por buracos no teto, por onde vinham também raízes do bosque que havia na superfície. Ainda podia-se ouvir o som da água pingando em algum lugar, e o som de águas correndo. No centro da sala, iluminada por um facho de luz no teto, estava um poço natural, pequeno e claro, provavelmente alimentado pela água das chuvas.

- Veja... - sussurrou Patrick logo atrás de Methos - É ali.

- Encontramos alguma coisa.

Saindo do corredor onde estavam, eles entraram no salão natural. Foi então que em suas mentes soou o som dos Imortais. De uma escuridão do outro lado do salão saiu uma mulher, que apenas esperava que entrassem no salão para se mostrar a eles. Vestia apenas uma capa e carregava uma espada na qual a ponta tocava o chão. Methos e Patrick pegaram suas espadas e colocaram-nas em riste, olhando para a mulher.

Ela caminhou entre formações de calcário com sensualidade, enquanto mantinha seus olhos fixos em ambos. Tinha cabelos escuros, longos e enrolados. Havia uma beleza misteriosa nela, que parecia atraí-los. Estaria nua se não fosse a capa surrada que vestia, mas o fato não parecia incomodá-la. Por sua palidez, Methos soube que a mulher estava tempo demais ali, e por seu olhar perspicaz, teve certeza que ela era perigosa.

- Sou a Guardiã desse lugar. E pela regra de nossos pares, só pode haver um. - disse ela com uma voz melódica, carregada de tristeza misturada com raiva.

Dando a entender que iria lutar, Patrick se adiantou na frente de Methos e apontou a espada para ela.

- Muito corajosa, muito mesmo.

Algo dentro de Methos o avisava de alguma coisa. Sim, era apenas uma mulher... Imortal como eles, fraca e com a desvantagem da capa. Ele... Ele poderia... Não! Ele não poderia com ela.

A Guardiã ergueu a espada e então saltou com agilidade sobre o poço que havia encantado a eles, e preparou a primeira investida. Methos abaixou a espada e deu alguns passos para trás. Um Imortal não poderia interferir na luta de outro Imortal e tudo o que podia fazer agora seria olhar e tentar ficar calmo.

Quando a espada dela chocou-se com a de Patrick, houve um som grandioso e toda a caverna repercutiu o som e ecoou-o para longe. Houve uma enorme faísca, e Patrick quase perdera a espada de suas mãos devido à força do choque. Cambaleou para trás, e defendeu outro golpe. A mulher atacava com uma segurança que lhe dava medo, e sua agilidade superava a de muitos Imortais com os quais Methos já havia lutado. A espada não parecia pesada nas mãos pequenas, e a capa não atrapalhava em nada.

Ela se movia com graça e rapidez, atacava com força e habilidade e defendia rapidamente os poucos ataques de Patrick. Ela não falava, não gemia, não fazia som algum. O som das espadas continuava rondando toda a caverna. As faíscas duravam mais e eram claras, como raios, quando ela raspava sua espada na dele, desarmando seus golpes.

Antes mesmo de ela arrancar a espada de Patrick das mãos trêmulas, Methos sabia que ele não iria ganhar. A espada de Patrick voou e caiu no chão longe de seu alcance. A Guardiã se aproximou apontando a espada na altura de seu pescoço. Um brilho correu a lâmina da espada e sumiu na ponta dela.

- Só Pode Haver Um!

O olhar de pavor de Patrick não permitiu que ele fechasse os olhos quando ela movimentou a espada para trás e, com grande velocidade e habilidade, a trouxe de encontro ao pescoço dele. Sua cabeça rodopiou no ar e então caiu produzindo um som abafado. Seu corpo caiu no chão de bruços e ela deu dois passos para trás.

A energia de Patrick saiu de seu pescoço, pesada e lenta, e depois se espalhou pela sala, produzindo um som medonho. Toda as almas que ele havia capturado e a sua própria seguiram de encontro ao corpo da Guardiã. Ela abriu os braços e recebeu a energia com um grito de agonia. A capa balançou e o corpo nu foi envolvido por uma espécie de bruma, de um branco radiante e elétrico.

Ao final, ela abaixou os braços, respirando com dificuldade, e olhou para Methos. Um frio gelado se espalhou por seu corpo. Teve certeza que a energia de Patrick nada fora para ela e, pela primeira vez em séculos, Methos teve medo de uma Imortal. Seu olhar era gelado e sábio, estranhamente calmo.

- Sinto medo em você. - ela disse, endireitando-se e abaixando a espada.

Methos não respondeu.

- Não vou duelar com você, - ele agradeceu intimamente por isso - mas sei quem você é. Sua maldade ofende esse lugar, mas me agrada.

- Quem é você? - ele conseguiu perguntar.

- Me chamam de Ulrika, Filha do Deus Bom, Guardiã da Água Sagrada de Seu Caldeirão. - ela fez um pausa - Você é Methos, o Imortal mais velho do mundo. Uma grande verdade por assim dizer.

- Como sabe quem sou?

- Eu ouvi o Vento e ele me informou de sua presença e de quem era. Ele - ela apontou para o corpo de Patrick - não era ninguém para alguém como você. Amizade não pode nascer entre fracos e fortes. Por esse motivo eu não vou desafiá-lo. Porque somos Iguais em força.

Methos manteve sua espada abaixada quando ela começou a seguir em sua direção. Ainda andava languidamente, com a capa surrada cobrindo seu corpo nu. Ainda segurava a espada com apenas uma mão, deixando que a ponta tocasse o solo. Ele ainda sentia medo.

- Por sermos Iguais, meu segredo é seu segredo. - ela disse e ele pode sentir o hálito quente dela em seu pescoço.

- O que quer?

- Fique uma semana aqui e descobrirá.

Ele sabia que mesmo que tentasse fugir não conseguiria. Jamais Ulrika aceitaria um não como resposta. Mesmo com medo, ele balançou a cabeça, aceitando. Ele poderia ser o Imortal mais velho do mundo, mas não era o mais poderoso. Não depois de conhecer Ulrika.

*************

Era final da tarde quando Duncan e Richie foram ao bar de Joe. Ainda preocupado, ele não deixava transparecer tanto suas emoções e não queria preocupar o amigo, que além de amigo era seu Vigilante. Ao entrar no bar, o encontrou com algumas mesas ocupadas e um grande movimento no balcão.

Richie assoviou e sorriu para Duncan.

- Espero que ele tenha tempo para nós. - brincou.

- Tem que ter.

O pupilo, que ouvira toda a história de Duncan, estava igualmente preocupado com a questão, e fora ele que sugerira que deveriam procurar Joe e verificar se ele sabia da história. Se os Vigilantes sabiam da história. Quanto mais informações tivessem, melhor. E, naquele caso, informação era fundamental, pois a história era absurda. E o assustava, mais do que queria admitir.

As pessoas dentro do bar não se importaram com a chegada daqueles dois estranhos, que para um dia quente de verão usavam longos casacos. E, para sorte deles, Joe apareceu. Ainda não os vira e estava servindo uma mesa, onde havia duas mulheres e um homem. Quando reparou na presença de MacLeod, Joe pediu licença e afastou-se da mesa, indo em direção a mestre e pupilo.

- Olá, MacLeod!

- Oi. Preciso falar com você.

- Ia dizer isso agora. - Joe sorriu com uma sombra de preocupação enevoando seus olhos - Precisamos conversar, MacLeod, e é importante.

Como Duncan já desconfiava, os Vigilantes sabiam de alguma coisa. Joe olhou para os lados e então voltou a encarar Duncan.

- Harold Parker. - sussurrou - Esse nome lhe diz alguma coisa?

- Onde ele está?

- Não sei. Ninguém sabe. Se você sabe de alguma coisa é melhor falar, MacLeod. Quem é ele?

- Alguém que não deveria estar vivo. Eu volto depois pra conversarmos.

Duncan e Richie se viraram, rumando para a porta, e não pararam, mesmo ouvindo o pedido de cuidado de Joe. O escocês sorriu e então saiu com seu fiel pupilo.

Joe foi até o balcão e o barman o serviu. Ele suava frio, com medo.

- Ele é Duncan MacLeod?

Ele olhou para a voz feminina que fizera a pergunta e deu-se com o olhar de Arimi Shizuka. Ela não sorria e era difícil imaginá-la fazendo isso. Era famosa dentro da Sociedade dos Vigilantes. Vigiava um Imortal que chamavam de Shea, o Temível.

Balançou a cabeça com uma resposta afirmativa e ela voltou a olhar para a porta. O seu olhar parecia dizer mais coisas, em uma linguagem silenciosa e desconhecida para ele. Ela olhava com sabedoria para a porta e milhares de coisas poderiam estar passando por sua mente. Pelo que Joe tinha ouvido, Arimi fotografara quase cem duelos entre Imortais, incluindo os do próprio Shea. Diziam que ela fotografava e fugia sem deixar nenhum rastro. Poucos Imortais sabiam que foram observados ou fotografados por ela. Praticamente perfeita!

- É quem é aquele que estava com ele?

Joe pensou se deveria falar ou não sobre Richie. Arimi olhava fixamente para ele, como se soubesse da dúvida que ele sentia em contar o que sabia.

Arimi sorriu e então encostou-se ao balcão, olhando ainda para Joe. Estranhamente, ele sentiu-se confortável com aquele gesto ou com o calor do olhar da Vigilante. Mas pouco importava na verdade.

- Ele é seu amigo, não é? - ela perguntou, em seu inglês britânico, carregado de sotaque japonês, que transformava as palavras e deixava doce o modo como as pronunciava. Ela mexeu a cabeça, jogando o cabelo negro para trás, em um gesto casual, fazendo Joe sorrir. - Ele tem que ser vigiado e não consolado.

- Não consolo MacLeod! - respondeu Joe, indignado.

- Claro que não... - ela desviou os olhos castanhos por instantes, antes de voltar a fitar Joe com renovada intensidade - É apenas uma suposição. Vigilantes e Imortais não são amigos.

- Por que está me falando isso?

- É um lembrete. Estou apenas te lembrando de nossa regra, para que não acabe magoado com tudo isso. Amizades acontecem, mas essas são impossíveis de manter.

- Surpreendente eu ouvir isso de você. Eu sei o que devo fazer e quando fazer. Se sou ou não amigo de MacLeod, isso não é problema seu. - disse Joe, afetado com as palavras dela, afastando-se do balcão e indo para outra mesa. Arimi manteve-se parada no balcão, observando ele se afastar, e então voltou a fitar a porta, pensativa.

Joe foi até uma mesa e sentou-se, cansado. Mesmo não querendo, observou Arimi no balcão. Tinha o corpo curvado um pouco para frente e os longos cabelos negros caíam por seus ombros, brilhantes e sedosos. Usava uma roupa preta bem apertada, com uma blusa com um decote generoso dos seios altos e com aquela bota com franjas. Ao que parecia, era uma rebelde, e jovem. Bem jovem. Poderia lhe dar vinte e cinco naquele momento.

Mas por que estava pensando naquilo?

Irritado, Joe deixou sua bengala encostada a mesa, e foi servido por seu garçom. Tinha que pensar em MacLeod e quanto ele estava escondendo. Ficara claro que ele conhecia Harold Parker e que aquela disputa era mais antiga quanto ele supunha. Methos provavelmente escondia alguma coisa, o que dificultava o trabalho de Joe.

No presente momento, era uma jogada do destino o que estava acontecendo. Um novo capitulo na História dos Imortais estava sendo escrito e trazia desgraça a todos os envolvidos. Mesmo assim, era excitante pensar que estava vivo para ver tais fatos.

Iria conversar com MacLeod quando fosse possível e tirar toda a história a limpo. Era importante que ele ficasse a par de tudo, como todos os Vigilantes fariam. Não por ser um Vigilante, mas porque Duncan MacLeod era seu amigo e não se pode deixar um amigo em apuros.

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