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A LABRE, O RADIOAMADORISMO E OS SEUS PROBLEMAS



Armando C�zar Bezerra - PR7LBV

           Foi por demais proveitosa a reuni�o do Conselho Diretor da Confedera��o Brasileira de Radioamadorismo - LABRE, realizada em Bras�lia-DF, no per�odo de 22 a 25 de novembro de 2001, conforme relatos dos nossos colegas Murilo Martins Ferreira - PR7AYE e Ivo Severiano Alves - PR7IVO, que representaram a Federa��o Paraibana de Radioamadorismo - LABRE/PB no referido conclave.

           Na parte relacionada com "Assuntos Gerais", constante da ordem dos trabalhos, mereceram elogios dos representantes de quase todos os estados brasileiros, al� reunidos, as exposi��es, feitas pelos citados companheiros, sobre as atividades que v�m sendo desenvolvidas na LABRE/PB, destacando-se as demonstra��es p�blicas de radioamadorismo, realizadas em 05 de maio e nos dias 03 e 04 de novembro deste ano, as primeiras, nas imedia��es do busto de Tamandar�, na Praia de Tamba�, no Dia das Comunica��es e, as �ltimas, na Praia da Penha, dentro das comemora��es da Semana do Radioamador

           Tudo isso foi mostrado atrav�s de fotografias, inclusive sobre outras promo��es feitas pelos colegas de Guarabira, como o Conteste WW que tanto sucesso alcan�ou.

           Ainda sobre a reuni�o em tela, o colega Rodrigo Oct�vio - PT2NJ, fez um relat�rio no qual destacou a presen�a al� do Cel. Paulo Roberto Cavalcanti Mour�o Crespo, assessor da Secretaria Nacional de Defesa Civil e o an�ncio feito por este da publica��o, no Di�rio Oficial da Uni�o, da Portaria n�. 302, de 24 de outubro de 2001, sobre a cria��o da Rede Nacional de Emerg�ncia de Radioamadores - RENER.

           Sobre o pronunciamento do Cel. Paulo Roberto, o companheiro Rodrigo Oct�vio reportou que "ele foi suficientemente capaz de ressaltar, para todos os que compareceram a este encontro, de forma inequ�voca e transparente, o n�vel qualificativo da nova realidade social defrontada pela figura do radioamador, face � cria��o da RENER e que despertou no seu �mago, para a viv�ncia do presente, as sutilezas dos sonhos de h� muito acalentados por todos aqueles que se encontravam e se encontram engajados na miss�o gloriosa de servir, onde o sentido maior � o reconhecimento do m�rito dos seus pr�prios valores, das suas convic��es, das suas virtudes e das suas supremas aspira��es, que se perfilam, de forma arraigada, nos princ�pios e na cren�a real�stica ditada pela m�xima de que QUEM N�O VIVE PARA SERVIR, N�O SERVE PARA VIVER.

           A Portaria citada, de certo modo, veio resgatar o reconhecimento das autoridades governamentais sobre a import�ncia do radioamadorismo que, para muitos, j� parecia fanada. Indiscutivelmente, esse servi�o, a despeito do desenvolvimento extraordin�rio que tem se operado no setor das telecomunica��es, ainda constitui uma necessidade, mormente num pa�s de dimens�es continentais como o nosso, quando s�o imensas as �reas sem quaisquer meios de comunica��o.

           Ao nos referirmos ao termo "resgatar", o fazemos porque, de certa �poca � esta parte, o radioamadorismo brasileiro vem sendo relegado por essas autoridades pois, ao inv�s de prestigiarem esse servi�o e a entidade que congrega os seus participantes, v�m agindo de forma diferente, sem qualquer respeito ao seu passado, como pioneiros dos meios de comunica��o e verdadeiros art�fices de tudo o que existe nesse campo.

           Apesar do tempo decorrido, ainda n�o nos esquecemos do golpe arrasador, perpetrado contra a LABRE, pela Portaria n�. 913, de 12 de junho de 1985, do Minist�rio das Comunica��es, que trata da desvincula��o do radioamador da referida Institui��o. Antes, o associado radioamador, eliminado dos seus quadros, por falta de pagamento ou por um motivo qualquer, implicitamente tinha a sua licen�a cassada. Agora, o permission�rio n�o tem qualquer obrigatoriedade de se filiar � LABRE ou a qualquer outro �rg�o.

           A surpresa maior que essa medida causou, foi porque, 28 dias antes (15.05.1985), ao receber em seu Gabinete uma Comiss�o de dirigentes da LABRE, o Sr. Ant�nio Carlos Magalh�es, ent�o Ministro das Comunica��es, fez uma verdadeira apologia, com rela��o � LABRE e o radioamadorismo, quando, a certa altura do seu discurso, assim se expressou: "� com enorme prazer e com muita honra que, como Ministro das Comunica��es, recebo a visita dos dirigentes da LABRE. Quero dizer, nesta oportunidade, aos radioamadores de todo o Brasil, o quanto o nosso Pa�s lhes deve, pelo significativo trabalho que realizam em favor das comunidades quando, nas horas dif�ceis, o radioamador al� sempre se faz presente. Logo, a Na��o, o seu Governo, todos, enfim, t�m as suas liga��es com os radioamadores.

           Conseq�entemente, n�s do Governo, s� podemos ter palavras de incentivo para que eles se sintam encorajados em continuarem o seu trabalho em favor do povo brasileiro. Eu quero dizer � essa Comiss�o t�o significativa que nos visita, que o Minist�rio, enquanto aqu� estivermos, ser� um prolongamento da LABRE. Portanto, a LABRE ter� as portas abertas para a sua a��o nesta Casa e, neste sentido, darei recomenda��es, que j� existem por certo, mas refor�arei, junto ao DENTEL, para lhe criar facilidades e n�o dificuldades." E, concluindo: - "Quero dizer aos senhores que estarei aqu� sempre ao seu inteiro dispor, pronto para atende-los, porque atendendo os senhores eu n�o s� estou atendendo os sessenta mil radioamadores, mas, tenho a certeza, de que estou atendendo a quase cento e vinte e cinco milh�es de brasileiros, que os escutam e aos quais os senhores servem com tanta dedica��o e que aplaudem a atua��o da LABRE. Muito obrigado!"

           O Sr. Ministro, certamente, ao assinar a Portaria em causa, n�o mediu as conseq��ncias danosas que ela iria causar � LABRE, constituindo o fato uma antinomia, com rela��o ao seu pronunciamento. At� hoje, ningu�m entendeu o porqu� da edi��o do citado documento. Uns afirmam que foi em decorr�ncia da a��o impetrada, em fins de 1984, por alguns colegas ga�chos que, ao serem eliminados da LABRE, tiveram os seus prefixos cassados.

           O processo referido foi acatado pelo Tribunal Federal de Recursos, que considerou como "inconstitucional" o artigo 26� , do Regulamento do Servi�o de Radioamador (Decreto-Lei n�. 74.810/74, de 05.ll.1974), por colidente com os artigos 8� e 153�, da Constitui��o de 1967. Mas, no Cap. IV - Dos Direitos e Garantias Individuais, do documento citado, n�o consta coisa alguma sobre o assunto. Em 12 de junho de 1985 (data da Portaria n� . 913) que fizemos refer�ncia em linhas atr�s, a Constitui��o ainda era a mesma. Somente na Carta Magna de 1988, no Cap�tulo I, dos Direitos e Deveres Individuais, Inciso XX � que reza o seguinte: "Ningu�m poder� ser compelido a associar-se ou a permanecer associado". Mesmo assim, os profissionais liberais, n�o poder�o atuar. Outra vers�o que circulou na �poca era que a atitude do Sr. Ant�nio Carlos Magalh�es foi de natureza pol�tica. Acontecia que o nosso colega M�rcio - PY6AZ era Diretor Seccional da LABRE da Bahia e Oficial de Gabinete do Governador do Estado, de quem ACM era inimigo pol�tico. Da� a cisma que se levantou.

           Em 28 de junho de 1985, como Diretor Seccional que �ramos, endere�amos uma correspond�ncia ao Presidente da LABRE CENTRAL, nosso companheiro Francisco Jos� de Queir�z - PT2FR, dando conta "da nossa preocupa��o, diante da perspectiva da ocorr�ncia de um esvaziamento no quadro social da LABRE, visto que, antes, mesmo diante da possibilidade da cassa��o da licen�a do radioamador, por conta de sua elimina��o, muitos companheiros eram por demais negligentes, no que diz respeito ao pagamento das mensalidades. Imaginamos o que poder� acontecer quando n�o mais existe a exig�ncia de filia��o".

           Infelizmente, aconteceu o que previmos e, o resultado, � que a nossa LABRE e, por extens�o, o radioamadorismo brasileiro n�o t�m mais a pujan�a de antanho. A esperan�a, agora, � que a RENER venha recuperar o prest�gio de ambos isso, l�gico, se houver uma completa integra��o dos seus participantes, com o emprenho de todos para que o �rg�o rec�m-criado cumpra a tarefa preconizada pelos seus idealizadores.

           � verdade que n�s estamos a experimentar um outro sistema de vida, diferentemente do que acontecia nos idos de 1970, per�odo que, no nosso entender, o radioamadorismo brasileiro atingiu a sua plenitude. Acontecia que os servi�os de telefonia e os prestados pelos Correios e Tel�grafos eram por demais prec�rios e, por isso, quem supriam essas defici�ncias eram os radioamadores, mesmo com os "caxivaques" (nome que era dado aos "equipamentos caseiros, em Amplitude Modulada). N�o foram poucas as vezes em que os jornais abriam largas manchetes exaltando o trabalho dos "bandeirantes do �ter".

           E n�o era somente em nosso Pa�s, como no mundo inteiro a febril atividade desses abnegados. Naquele ano foi exibido nos nossos cinemas e na rede de televis�o, um filme franc�s com o t�tulo "Se todos os homens do mundo..." (A retic�ncia, certamente, � a omiss�o da express�o "fossem como os radioamadores"). A pel�cula referida deve se encontrar nalguma cinemateca e retratava ficticiosamente o extraordin�rio trabalho de um grupo de radioamadores africanos, americanos e franceses, no af� de salvar a vida dos tripulantes de um navio noruegu�s, acometidos de botulismo, quando o referido barco se encontrava nas geladas �guas do Mar do Norte. Os marujos referidos chegaram s�o e salvos ao porto de destino, gra�as ao empenho e a solidariedade dos radioamadores que tomaram parte nessa epop�ia.

           Portanto, a Rede Nacional de Emerg�ncia de Radioamadores vir�, com certeza, alavancar o entusiasmo dos nossos companheiros, quando a efici�ncia desse servi�o demonstrar� que o radioamadorismo ainda se encontra vivo e que muito poder� fazer pelas comunidades.

          N�o � necess�rio, por�m, que haja uma convoca��o. Diante do pren�ncio de uma cat�strofe, ou do estabelecimento desta, os colegas devem espontaneamente, se apressar na solicita��o dos socorros que se fizerem necess�rios.

           O desafio est� lan�ado. Esperamos que os companheiros entendam o quanto � preciso o seu engajamento nessa tarefa, considerando que a LABRE � um "clube de servi�os", como o Lyons, o Rotary e a Ma�onaria, sendo que, no nosso caso, ela tem uma abrang�ncia mais ampla, por conta do apoio do radioamadorismo que � considerado "o maior clube do mundo".

           O que nos preocupa, � a situa��o de uma maioria consider�vel de permission�rios, que n�o pertence aos quadros da LABRE. �, por assim dizer, um grupo que vive completamente � margem, muito embora desfrutando de determinados benef�cios que a citada Entidade reserva para os seus associados, inclusive das suas repetidoras de VHF e o �nus que ela assume, com rela��o � contribui��o, em favor da IARU, representada por dois centavos de d�lar, por cada radioamador, filiado ou n�o da referida Institui��o, coisa que, particularmente, somos contra, por entendermos que tal anuidade devia ser paga pelos n�o associados da LABRE, diretamente ao citado �rg�o internacional.

           A prop�sito do assunto, certa feita, tivemos a oportunidade de "corujar" um QSO, estabelecido entre o nosso colega Nestor - PR7MV e um companheiro, se n�o nos enganamos, de Ruy Barbosa-BA. Ao t�rmino desse contato, este �ltimo reportou que "�a mandar o seu QSL via Correios, porque n�o era associado da LABRE". Na volta do c�mbio o Nestor disse-lhe para n�o enviar a "cartolina", visto que n�o aceitava um radioamador sem ser filiado � LABRE. No �ntimo, aplaudimos a rea��o do colega da Para�ba porque, de qualquer modo, a LABRE � a �nica entidade representativa do radioamador brasileiro, reconhecida pelo Minist�rio das Comunica��es.

           � ela, ainda, que, como filiada � IARU e, juntamente, com centenas de associa��es cong�neres internacionais, se faz presente nas reuni�es da WARC (Confer�ncia Radioadministrativa Mundial), promovida pela UIT, esta ligada � ONU. S�o nesses conclaves em que se discutem os problemas das comunica��es internacionais, inclusive, os ligados ao radioamadorismo, isso no que dizem respeito � distribui��o das freq��ncias, medidas essas tomadas, quase sempre, em meio de acirradas discuss�es, exatamente por conta das press�es exercidas pelos grandes pa�ses, que lutam por mais espa�os para os seus mais diversos servi�os. Numa dessas reuni�es, que se realizou em Genebra, na tentativa de "abiscoitarem" algumas faixas reservadas aos radioamadores, foi alegada a "ociosidade" dos segmentos de 6, 10 e grande parte dos 80 metros.

           Por isso, entendemos que, se n�o houver uma aglutina��o em torno das entidades que regem o radioamadorismo, indiscutivelmente, dentro de mais algum tempo, as freq��ncias a n�s destinadas v�o ficar por demais limitadas e, n�o se duvide, de que passaremos a atuar como "clandestinos", a exemplo do que aconteceu antes da regulamenta��o desse servi�o. � preciso convir que s�o muitas as vozes que proclamam "um excesso de faixas para poucos radioamadores".

           Fazemos esse press�gio, ao compararmos o que era a LABRE e o radioamadorismo, num tempo n�o muito remoto, e o que hoje representam.

           Evidentemente, esse fen�meno, como dissemos em linhas atr�s, � reflexo do extraordin�rio desenvolvimento que se operou no seio das telecomunica��es, sobretudo com o surgimento da Internet e da telefonia celular, considerados como grandes feitos nesse campo.

           Enquanto isso, o radioamadorismo vai caminhando devagar, devido, principalmente, � car�ncia de equipamentos e, como resultado, o seu alto custo. Existiam em nosso Pa�s algumas ind�strias eletr�nicas, que incluiam na sua linha de produ��o tais equipamentos, como a DELTA, a BRAZAN, a EUDGERT, a CENTAURO e a INTRACO.

           Havia algumas outras mais que cuidavam da linha destinada � opera��o em VHF. De todas, s� restou a primeira, a mais tradicional que, alegando "falta de demanda", p�s de lado a fabrica��o desses aparelhos em s�rie, passando a faze-los somente sob encomendas, mesmo assim com os seus pre�os muito acima da capacidade aquisitiva da maioria dos permission�rios.

           O que tem salvo o radioamadorismo brasileiro, s�o os equipamentos antigos, que ainda est�o a resistir � a��o do tempo e aos ferros de solda, uns poucos importados, adquiridos pelos colegas mais abonados e, por fim, o "milagre" da criatividade dos radioamadores, que transformam os transceptores COBRA-SL 2000, pr�prios para a Faixa do Cidad�o (27 MlHz) e que, com a modifica��o introduzida, passam a operar nos 7 com grande sucesso. S�o os conhecidos TRANSVERT que v�m, em parte, suprindo essa escass�s.

           Em 1976, quando da reuni�o do Conselho Federal da LABRE, como representante da DS da Para�ba, apresentamos � mesa dos trabalhos, uma proposi��o "solicitando que, ouvido o Plen�rio, fosse encaminhado, ao Exmo. Sr. Ministro da Fazenda e ao Egr�gio Conselho de Pol�tica Aduaneira, um pedido visando � dispensa das elevadas taxas, incidentes sobre a importa��o de v�lvulas, transistores, filtros, cristais e componentes, destinados � montagem de equipamentos em SSB".

           Dias depois, coincidentemente, numa incurs�o nos 20 metros escutamos quando o colega Morato - Ex-PY2GO, de Goi�nia-Go, em r�dio com um outro de Juiz de Fora-MG, tecia coment�rios sobre a referida reuni�o do Conselho Federal e censurava a nossa propositura, com rela��o � importa��o de equipamentos, "como contr�ria � natureza do radioamadorismo". Entramos na freq��ncia em que eles estavam e, depois de cumprimenta-los, informamos que �ramos o autor do documento e que nele n�o constava coisa alguma sobre a "importa��o de equipamentos" e, sim de "componentes para a sua montagem".

           O colega se desculpou e confessou que desconhecia o teor da propositura e que se escudava numa informa��o de um outro companheiro. Enviamos para ele c�pias do documento da ATA da sess�o, de 23 de setembro de 1976, que tratou do assunto.

           Em 1978, numa outra reuni�o do citado �rg�o, solicitamos da mesa diretora dos trabalhos, informa��es sobre o destino do nosso pedido e a not�cia dada era de que o mesmo tinha sido indeferido pelo Minist�rio da Fazenda. Soubemos depois que a DELTA atuou no caso, dando conta da impropriedade da medida, visto que o nosso Pa�s os fabricava, o que n�o era verdade, visto que depend�amos de quase tudo, com exce��o de alguns tipos de filtros.

           Talvez, agora, com a cria��o da RENER a quest�o volte � baila, porque, como � sabido, n�o � poss�vel se formar uma Rede Nacional de Emerg�ncia de Radioamadores, sem se contar com o apoio, n�o dizemos de todos, mas da parte maior do contigente de radioamadores, visto que, segundo se calcula, 70% dos permission�rios se encontram em permanente QRT, por falta de equipamentos, problema esse que j� vem de longe, isso porque nunca se conseguiu uma f�rmula capaz de soluciona-lo.

           Preocupados com essa situa��o, em 28 de abril de 1987, dirigimos uma correspond�ncia � Administra��o Nacional da LABRE, na �poca em que o nosso colega Remy Flores Toscano - PT2VE era o seu Presidente, sugerindo que se fizesse uma pesquisa, junto �s nossas ind�strias eletr�nicas, no sentido de verificar quais as que se interessavam em incluir na sua linha de produ��o kit's destinados � montagem de equipamentos, sejam em SSB, AM ou CW.

           Era uma maneira de se dinamizar o radioamadorismo, induzindo os seus participantes � pr�tica da t�cnica eletr�nica e oferecendo a oportunidade deles pr�prios constru�rem os seus aparelhos, dentro dessas duas �ltimas modalidades de transmiss�o, sobretudo pela facilidade de se adquirir o material necess�rio, quase todo j� fabricado em nosso Pa�s.

           Como muitos se lembram, esses eram os �nicos sistemas de transmiss�o utilizados pelos radioamadores h� pouco mais de 40 anos, per�odo em que esse servi�o mais cresceu pois, com o uso do AM , se favoreceu a forma��o da "Rede de Corujas" que, paralelamente, com os radioamadores, prestava tamb�m inestim�veis servi�os � popula��o.

           Acontecia que em todas as cidades existiam pessoas que viviam permanentementes "grudadas" aos receptores de r�dio comerciais, escutando os QSO's dos radioamadores. Muitas, quase sempre, ingressavam na RBR e se transformavam em excelentes operadoras.

           Nessa �poca, houve fatos marcantes. Dos muitos, que contaram com a participa��o desses "corujas", vamos fazer refer�ncia somente a dois: - o primeiro, se deu com o colega Justino ex-PR7JJ. Como ele fazia habitualmente, antes de sair para o "batente", ligava o r�dio e dava uma "varrida" nas faixas. Num desses dias, ao sintonizar os 20 metros, escutou um companheiro de Bras�lia-DF chamando a cidade de Jo�o Pessoa. Tratava-se de um QTC de doen�a grave, sendo a enferma genitora de um jovem que se encontrava em Cuit�-PB, integrando uma equipe do Projeto Rondon.

           O Justino deu o QSL e se deslocou para os 40 metros. Jogou a mensagem no �ter, chamando a aten��o do "coruja" Jo�o Moreno, al� residente. Eram 07:00 horas. �s 11:30 horas, o Justino, quando se preparava para ir almo�ar, chega um mensageiro dos Correios, com um telegrama de Cuit�, que dizia: - "Miss�o cumprida - Jo�o Moreno". Esse cidad�o se tornou radioamador, com o prefixo PR7CKN, e prestou inestim�veis servi�os, n�o s� � comunidade cuiteense, como �s demais das cidades vizinhas.

          O Justino e o Jo�o Moreno j� se encontram no "Oriente Eterno" e, naturalmente, est�o a escutar os nossos QSO's, sem poderem, entretanto, emitir o cl�ssico QAP/ QRV.

           O outro caso, se deu com o companheiro Santos - PR7NK. Certa feita, ele chamava, insistentemente, por colegas do Recife, na esperan�a de que algum deles tivesse condi��o de adquirir uma determinada medica��o, anti-hemorr�gica, n�o existente nas farm�cias de Jo�o Pessoa e destinada � uma senhora que se encontrava internada no Hospital do 1� Grupamento de Engenharia, em estado desesperador.

           Um desses "corujas", da capital pernambucana, escutou a solicita��o do Santos, anotou o nome do rem�dio, correu a uma das farm�cias, comprou-o e, depois que o entregou a um dos motoristas, de um dos �nibus que fazem a linha Recife-Jo�o Pessoa, telefonou para um radioamador daquela cidade, pedindo para avisar ao Santos, que ainda se encontrava na freq��ncia, que a medica��o j� estava a caminho de Jo�o Pessoa e que o mesmo fosse apanha-la na Rodovi�ria.

           Tais hist�rias, dentre as muitas que aconteceram, v�m nos mostrar a necessidade do retorno do AM quando, certamente, ir�amos contar com os servi�os dessas abnegadas criaturas, dando, desse modo, vaz�o ao seu desejo de serem �teis e, ao mesmo tempo, desfrutarem desse gostoso passatempo.

           H� colegas, por�m, que julgam o citado sistema de transmiss�o superado e que a sua volta iria causar tumulto nas faixas. Acreditamos que isso n�o ocorreria se fosse estabelecido um acordo no sentido de se utilizar os segmentos de freq��ncias de 7.200 a 7.300 KHz, muito embora sejam muitos os vazios em todas as faixas, sobretudo nos 40 metros.

           Aconteceu que, com o advento do SSB, houve uma queda substancia na pr�tica de opera��o em Amplitude Modulada, coisa que se atribuiu a complexos ou mesmo inibi��es, muito embora fossem poucos os companheiros possuidores dos equipamentos concebidos dentro das modernas t�cnicas.

           A prop�sito do assunto, recentemente, lemos numa revista especializada, que muitos radioamadores dos EUA estavam "ressuscitando" antigos aparelhos em AM. Por que n�o imitamos os nossos colegas americanos? Precisamos, isto sim, povoar as nossas faixas, eliminando, assim, o risco de perde-las.

           � v�lida, portanto, qualquer iniciativa, mesmo que, para isso, se utilize um modesto equipamento, constru�do para os contatos "de esquina". �s vezes, tais "cachivaques" fazem verdadeiros milagres de transmiss�es, cujos sinais chegam a ultrapassar as nossas fronteiras, atingindo remotas regi�es do planeta, sendo incontida a alegria por tais feitos. Foi o que fizeram os nossos precursores, a come�ar pelo grande s�bio brasileiro que foi o Padre Roberto Landell de Moura, que lutou, tenazmente, para concretizar o seu sonho, como inventor da telefonia sem fio, do tel�grafo sem fio e das transmiss�es de ondas, isso nos anos de 1893 e 1894. Se n�o tivesse havido a incompreens�o das autoridades civis e eclesi�sticas brasileiras, ele teria sido o pioneiro, no mundo, na transmiss�o de sinais, atrav�s do �ter, abrindo desse modo, os caminhos para as telecomunica��es e o extraordin�rio desenvolvimento em que elas se encontram no momento.

           Foi considerado, entretanto, como um impostor, mistificador, louco, bruxo, padre renegado e herege. O que se dizia, na �poca, era que o mesmo tinha parte com o diabo, visto que fazia com que a sua voz chegasse a quil�metros de dist�ncia.

           Como n�o tivesse encontrado apoio das autoridades brasileiras viajou para os Estados Unidos, onde permaneceu por tr�s anos, enfrentando grandes dissabores, decorrentes das dificuldades financeiras. Somente em 1904, conseguiu, finalmente, o registro das patentes do transmissor de ondas (n�. 771.917) , do telefone sem fio e do tel�grafo sem fio (n�s. 775.337 e 775.848). Nessa altura, Marconi que havia emigrado para a Inglaterra, em 02 de junho de 1896, obteve a patente do seu invento.

           Em 1909, o radioamador L�vio Gomes Moreira, natural de S�o Jo�o da Barra, Estado do Rio de Janeiro, come�ou tamb�m a estabelecer contatos atrav�s do r�dio, com uma esta��o de 2,5 watts, constru�da por ele pr�prio, dentro de um sistema rudimentar, inclusive, utilizando garrafas para a confec��o de bobinas e fabricando condensadores com papel de chocolate e chapas fotogr�ficas de vidro, visto que pouco, ou quase nada, se podia adquirir em casas comerciais.

           Com o mesmo ideal, um pouco mais tarde, se empenharam nessa tarefa Jos� Jonotskoff Almeida Gomes, �lvaro S. Freire, Carlos G. Lacombe, Pedro S. Chermont, Henrique Morize e Edgard Roquette Pinto, no Rio de Janeiro; C�sar Yazbek, Jo�o Ramos Baccarat, Elias Amaral, Leonardo Y. Jones J�nior e Jo�o Tonglet, em S�o Paulo; Rubem Simas e Levy de Souza, no Paran�; Tyrteu Rocha Vianna e Pedro Carlos Schuck, no Rio Grande do Sul; Tito de Ara�jo Firmo Xavier, Jo�o Cardoso Ayres, M�rio Penna e Jos� Victor, em Pernambuco; Jayme Seixas, Lup�rcio de Souza Branco, Jo�o Pinto, Pedro Matos e Jo�o Miguel de Morais, na Para�ba. Esses e tantos outros abnegados, que viveram um passado que j� vai longe, constitu�ram a gl�ria do radioamadorismo brasileiro, porque muito lutaram procurando desvendar os mist�rios e as m�ltiplas utilidades que do empreendimento poderiam surgir.

           A� est�o, portanto, alguns fragmentos da hist�ria da LABRE e, por extens�o, do radioamadorismo, colhidos por n�s em mais de quatro d�cadas de viv�ncia, como labreano e como radioamador. Nesse per�odo, com profunda tristeza, quando vimos essa caminhada come�ar a claudicar, exatamente, como j� dissemos, devido aos mais diversos problemas e, dentre esses, um que julgamos de maior import�ncia: - a falta de apoio da parte de um consider�vel n�mero de permission�rios, visto que, como sabemos, a LABRE tem a sua estrutura alicer�ada no radioamadorismo, raz�o prec�pua de sua exist�ncia, como este depende, para o seu desenvolvimento, de uma atua��o ativa da referida Entidade.

           Atrav�s desses relatos, conclui-se que ainda h� muito o que fazer para que a LABRE e o radioamadorismo voltem a ser o que eram, h� pouco mais de tr�s d�cadas. Existe, portanto, um longo caminho a ser percorrido, cheio de muitos obst�culos, mas n�o intranspon�veis, desde que haja uma intensa a��o participativa, principalmente dos n�o associados que, usando o pouco do seu racioc�nio, poderiam sentir qu�o necess�ria � a sua filia��o � referida Entidade.

           Esta, com a sua estrutura fortalecida, teria mais condi��o de partir para os grandes pleitos, sobretudo agora, com a cria��o da RENER, quando haver� raz�es sobradas para essas reivindica��es porque, como � �bvio, tal �rg�o n�o poder� funcionar plenamente, sem contar com a totalidade dos radioamadores, devidamente equipada, o que representa, na verdade, o cerne da quest�o.

           Isso implicar�, al�m de muita habilidade, for�a de convencimento e muita press�o pois, s� assim, se conseguir� sensibilizar, no caso, os componentes dos �rg�os fazend�rios, visando, pelo menos, a redu��o nas al�quotas de importa��o, com refer�ncia aos componentes destinados � montagem de equipamentos, visto que a entrada no Pa�s de aparelhos prontos, de fabrica��o estrangeira, enfrenta s�rias restri��es, por constarem da rela��o da Comiss�o de Pol�tica Aduaneira como "artigos sup�rfluos".

           Por isso, � que defendemos o fortalecimento da LABRE pois, do contr�rio, n�o chegaremos a lugar algum. Essa coes�o �, portanto, de significativa import�ncia para a concretiza��o dos projetos estabelecidos pelos seus dirigentes. Isso ocorrendo, certamente, teremos uma LABRE engrandecida e um radioamadorismo participativo e fraterno, oportunidade em que se nos oferece para tornarmos a ouvir palavras enternecedoras, como as proferidas pelo jornalista Ivon Pinto e inseridas na edi��o de 20 de agosto de 1980, do Jornal Correio do Sul, de Santa Rita do Sapuca�-MG, cujos par�grafos finais assim diziam: - "Na vida atual, seria dif�cil ignorar as presen�as da RNR e da LABRE, que congregam todos os radioamadores brasileiros, sob uma bandeira comum.

           Por toda parte, encontramos esses abnegados, presos a um dever �tico intransigente. Eles tamb�m se espalham pelo mundo inteiro, sob as mais diferentes bandeiras, esperando, apenas, o sinal para se arregimentarem em torno do bem comum".

           "� bem verdade que, de todos os indiv�duos que, num esfor�o cont�nuo querem propiciar ao seu semelhante uma grande solidariedade que os imantize com todos os povos, ningu�m obteve t�o grandes resultados como os radioamadores. S�o eles, enfim, os an�nimos dos confrontos mundiais".

           E conclui: - "Onde quer que haja uma dor para minorar; onde houver uma afli��o para suavizar; uma ansiedade para confortar; onde um homem selvagem necessitar conhecer o conforto civilizado dos seus irm�os, a� estar� presente a voz enternecida desses her�is an�nimos, sofrendo as dores que n�o s�o suas, suavisando as chagas que jamais viram e consolando almas que, nem sequer, conhecem".

           Antes de encerrarmos estas considera��es, queremos prestar a nossa sincera homenagem aos componentes da "velha guarda" que fizeram a implanta��o da LABRE e do radioamadorismo em nosso Estado. Muitos j� nos deixaram a caminho da eternidade, como Jo�o Miguel de Morais, ex-PY7LN e Pedro Matos - PY7LA, entre outros. Alguns deles, entretanto, est�o ainda conosco neste mundo de Deus, como Di�genes Setti - ex-PY7NC, residindo, atualmente, no Rio de Janeiro, Hermano Ara�jo - PR7MP, que se constituiu numa grande bandeira e ao qual a LABRE muito lhe deve; Euclides - PR7MN e Nestor - PR7MV que, como detentores de conhecimentos da t�cnica eletr�nica, orientavam os candidatos a ingresso no radioamadorismo; Santos - PR7NK, o eterno Tesoureiro, que cumpria a dif�cil tarefa de, todas as semanas, procurar os colegas, nos seus QTH's ou nos seus "batentes", a fim de conseguir deles os preciosos QSJ's, destinados ao pagamento do pessoal respons�vel pela constru��o do pr�dio de nossa Sede.

           Al�m desses, formando o "grupo de apoio", emprestaram tamb�m a sua colabora��o os colegas Amaury - PR7NX, Vitoriano - PR7PN, Fernando - PR7NI, Abnilson - PR7PJ, Magdala - PR7LAB, Machado - PR7LAV e tantos outros, cujos nomes fogem de nossa mem�ria. Mas, h� um que n�o pode ser esquecido: - o do ex-Governador Pedro Gondim - ex-PY7PG, isso pelo muito que ele fez em favor da LABRE/PB, visto que foi na sua gest�o, � frente do Governo do Estado da Para�ba, que ocorreu a doa��o do terreno onde foi constru�da a sua Sede.

           Com refer�ncia � citada Entidade, no momento, ela vai muito bem, gra�as � sua equipe administrativa, que tem, como seus timoneiros, os colegas Ivo Severiano Alves - PR7IVO, na Presid�ncia da Federa��o e Murilo Martins Ferreira - PR7AYE, na Presid�ncia do Conselho Federativo e que, por isso, merece o apoio, irrestrito, de todos os associados.

Jo�o Pessoa-PB, 27 de dezembro de 2001


Colabora��o de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail:[email protected]




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Publicado em 10 de maio de 2006
Atualizado em 10 de maio de 2006

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