A Explicação
Luis Fernando Verissimo
Texto publicado
no jornal O Estado de São Paulo em 10 de agosto de 2000
- Uma vez
escrevi sobre a informatização no espiritismo -
tinha lido em algum lugar que os computadores substituiriam os
médiuns - e, como esperava, recebi algumas cartas de
protesto contra o comentário, considerado
desrespeitoso.
- Está
certo, deve-se respeitar a crença dos outros. Talvez a
descrença seja apenas uma falta de imaginação.
São tantas, tão variadas e tão
literariamente atraentes as explicações metafísicas
sobre o que, afinal, nós estamos fazendo neste mundo e
o que nos espera no outro que não crer em nada, longe
de ser uma atitude racional e superior, é uma forma de
burrice.
- De não
saber o que se está perdendo. O negócio é
ser pós-moderno e desistir conscientemente do
racionalismo, pois, se as explicações finais são
tão impossíveis quanto as utopias - e a própria
física, quanto mais descobre sobre o mundo, mais
perplexa fica -, então o negócio é voltar
à mágica e ao deslumbramento primitivo, que são
muito mais divertidos.
- É
verdade que eu sempre achei a explicação de que
não há explicação nenhuma, ou pelo
menos nenhuma que o cérebro humano entenderia, a mais
fantástica de todas, mas reconheço que é
um sumidouro. Não a recomendo. Toda a força,
portanto, à imaginação, a todas as
escatologias, a todas as seitas e a todos os santos. Tudo se
resume naquela música - ou é apenas uma frase? -
do John Lennon, Whatever Gets You Through The Night. O que
ajudar você a atravessar a noite, está certo. É
difícil lidar com toda essa herança que a gente
recebe junto com um corpo e uma mente, uma vida finita num
universo infinito, sem nem um manual de instrução.
No escuro, todas as respostas são válidas, todas
as crenças são respeitáveis.
- Eu, por
exemplo, estou desenvolvendo a tese de que a explicação
de tudo está na alcachofra. Ainda não sei bem
onde isto vai me levar, mas sinto que estou perto de uma
revelação. Deus é uma alcachofra. Quando
desenvolver melhor a idéia, volto ao assunto.
-
Só
a razão resolve
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