A Religião teve o seu tempo de
utilidade e de glória, quando a Ciência ainda não
tinha um desenvolvimento suficiente para poder esclarecer e
orientar as atividades das pessoas na Terra. As tempestades, os
raios, as enchentes, a morte, a origem da Terra, o aparecimento
do homem e dos animais, etc. precisavam ter alguma explicação.
A maioria das religiões pode-se
dividir em duas partes: a parte moral e a parte ideológica.
Alguns tipos de Budismo e de Taoísmo só possuem
regras morais, não acreditam em deuses.
Falemos inicialmente da parte mais aceitável
das religiões, a de controladora da atividade: as
energias naturais, desordenadas e incontroladas de alguns são
despendidas em atividades religiosas, dando-lhe um rumo, um
escape, uma direção, equivocados sem dúvida
mas por vezes inofensivos. Por isso Marx à religião
chamou o "ópio do povo". A religião e a
moral dos povos são de suma importância porque, no
fundo, canalizam e limitam todas as suas atividades. Por
exemplo, numa sociedade onde se permita a desonestidade e a
corrupção, o progresso e o bem-estar será
impossível de atingir. Veja-se nos trabalhos de Max
Weber, de David Landes e doutros, a importância que teve a
rígida ética protestante no desenvolvimento dos países
ricos e como a hipócrita e dupla moral católica
foi responsável pelo atraso cultural e econômico
dos povos latinos. Muitos dos preceitos religiosos estão
baseados nas regras da moral secular dos homens, resultado da
experiência dos povos desde os tempos imemoriais. Temos
como exemplo o caso da útil circuncisão dos judeus
(relegada pelos cristãos), a regra bíblico-judaica
de se lavar as mãos antes de comer (Cristo também
inexplicavelmente, contrariou esta sã regra de higiene,
em Marcos 7,5). São usos de boa convivência, de
entre-ajuda e de cooperação entre os homens, para
que pudessem sobreviver e desenvolver-se naquela Terra cheia de
inimigos, doenças, catástrofes. Uma das mais
conhecidas é "Não assassinarás"
(não matarás é um erro de tradução
do hebreu), desde que os homens começaram a viver em
comunidades. Temos também o Código de Hamurabi, as
regras Budistas, os Dez Mandamentos e outros conjuntos de leis
que têm passado dumas religiões para as outras e
difundidos e impostos como regras gerais de convívio
humano.
Mas para se ter moral não é
necessário haver religião. As religiões não
têm o monopólio da moral. Há muitos filósofos
agnósticos ou ateus que desenvolveram os temas morais,
como J. Bentham, Stuart Mill, Espinosa, Bertrand Russell, etc.
Como exemplo lembro as duas regras de ouro da moral universal
que são: "faz o bem aos outros" (Buda); e "tudo
que pode ser válido para todos, é válido
também para ti" (Kant).
Agora temos a parte mística,
obscura, dogmática e milagreira da religião que é
muito perniciosa, porque consome tempo, dinheiro e desvia as
mentes das massas para caminhos não-científicos e
irracionais, provocando a pobreza, a apatia e a ignorância
dos povos. Muitas guerras e perseguições
sangrentas tiveram como base as rivalidades e as desavenças
religiosas dos povos. Por outro lado, enorme tempo de trabalho e
muita da energia de vida de multidões imensas se perdem
em preces e cultos religiosos, milhões de horas de mão-de-obra
e de toneladas de materiais de construção gastos
nos milhares de igrejas e de templos, que podiam melhor ser
aplicados em indispensáveis e belas escolas, em góticas
e cultas universidades, em úteis e produtivos institutos
de pesquisa, em necessários e barrocos hospitais... Mas o
pior da mentalidade religiosa é a crença nos
milagres divinos, nos santos, atitude que desperdiça as
energias do povo em busca de "curas milagrosas", em
soluções resultantes de pedidos aos santos de
interferência junto do Pai, para que lhe resolvam os
problemas pessoais. Como se Deus pudesse se ocupar com os
problemas pessoais dos seis bilhões de habitantes desta
Terra... O foco da atividade humana é assim totalmente
desviado do caminho certo, do caminho científico, da
medicina, da engenharia, da química, da física...
Quantos cérebros inteligentes se perderam buscando soluções
mágicas, solicitadas aos deuses a troco de oferendas e de
dízimos? O homem religioso é um ser fraco, vulnerável,
manobrável, pois se encontra totalmente dependente de uma
ordem exterior a ele, fora do seu controle, quando se sabe que,
tirando os efeitos do acaso, tudo depende do modo como ele atua.
Por exemplo, se o estudante não estudar para o exame, não
adianta pedir auxílio aos santos que lhe dêem
conhecimentos suficientes para passar, pois será
reprovado. Ou então ele buscará outros modos
ilegais para conseguir passar, sem esforço. Este é
outro mal indireto causado pela religião, quando o esforço
normal das pessoas é desviado para métodos
anormais de obter as coisas, como a corrupção, a
magia etc.
Também não podemos deixar de
lembrar aqui os tempos terríveis da Santa Inquisição,
que se passavam até há bem pouco, uns duzentos
anos atrás... A licenciosidade e riqueza da Igreja
contrastavam com as dificuldades da vida na Terra. O Vaticano não
se distinguia dum bordel comum... Mortes na fogueira, torturas,
noites de S. Bartolomeu, expulsões, perseguições,
proibição de ler livros... Temos de lembrar com
horror esses tempos da Contra-Reforma que não queremos
ver de volta, embora haja muita gente que os queira aqui de
novo... Além dos sofrimentos de milhões de pessoas
inocentes, o pior e o mais importante dos efeitos dessas matanças
e perseguições foi a destruição da
ciência, o atraso no avanço da democracia, do
desenvolvimento cultural e econômico dos povos que se
sujeitaram a tais violências. Os principais alvos do Santo
Ofício foram os sábios, os cientistas, os filósofos,
os artistas, os livre-pensadores como Giordano Bruno, Copérnico,
Galileu e outros. Nesses tempos até ler a Bíblia
era crime e as missas eram todas em latim para ninguém
entender nada... Por isso os países católicos
ficaram entre os mais incultos, atrasados e analfabetos da
Europa... Por exemplo, Portugal era nessa época um país
relativamente rico e desenvolvido, cultural e cientificamente.
Mas a partir da implantação da Contra-Reforma, o
país parou no tempo, o espírito da pátria
apagou-se... Ou ir para a fogueira ou ficar calado e obediente,
era a escolha que se apresentava aos intelectuais e cientistas
da época.
Enquanto isso, os países que se
separaram do Vaticano, mais irreverentes, mais democráticos,
mais científicos e mais cultos (desde o sec. XVII que os
protestantes tinham de ser alfabetizadas para lerem a Bíblia...),
progrediram velozmente, econômica, técnica e
socialmente, deixando os povos católicos bem para trás...
Ainda nos dias de hoje, um exemplo terrível
dessas atitudes obscurantistas é a proibição,
pelo Vaticano e pelo papa, do uso de preservativos. Milhões
de pessoas morrem e vão morrer no mundo católico
devido a não se terem precavido contra a AIDS-CIDA,
usando preservativos...
A mentalidade religiosa é
totalmente oposta à científica, racional. É
uma atitude que espera a resolução milagrosa dos
problemas, não indo às causas para se acabar com
eles. Leva à apatia, à fraqueza dos povos, já
que tudo é resolvido fora da pessoa, pelos deuses.
Não contando também com os
milhares de fanáticos e dogmáticos cristãos
que morrem e deixam morrer os seus filhos inocentes porque não
aceitam tratamento médico. Aliás eles estão
totalmente dentro da lógica da religião, pois se
tudo, incluso as doenças, foi criado por Deus, porquê
tratar-se no hospital, contrariando a vontade e os desígnios
do Senhor?
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Terapia
de regressão: regredindo à idade das supersticões. |