Primeira Guerra Mundial
A
Primeira Guerra Mundial decorreu, antes de tudo, das tensões advindas das
disputas por áreas coloniais. Dos vários fatores que desencadearam o conflito
destacaram-se o revanchismo francês, a Questão Alsácia-Lorena e a Questão
Balcânica. A Alemanha, após a unificação política, passou a reivindicar áreas
coloniais e a contestar a hegemonia internacional inglesa, favorecendo a formação
de blocos antagônicos.
Constituíram-se, assim, a Tríplice
Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) e a Tríplice Entente
(Inglaterra, Rússia e França).Os blocos rivalizavam-se política e
militarmente, até que em 1914, surgiu o motivo da eclosão da Guerra: o
assassinato do herdeiro do trono Áustro-Húngaro (Francisco Ferdinando), em
Sarajevo (Bósnia). À declaração de guerra da Áustria à Sérvia seguiram-se
outras, formando-se as Tríplices Aliança e Entente.O conflito iniciou-se
como uma guerra de movimento para depois transformar-se em uma guerra de
trincheiras. Em 1917, os EUA entraram na guerra ao lado da Tríplice Entente, no
mesmo ano em que a Rússia, por causa da Revolução Bolchevique, retirava-se.
Os reforços dos EUA foram suficientes para acelerar o esgotamento do bloco Alemão,
sendo que em 1918, a Alemanha assinou sua rendição. No ano seguinte foi
assinado o Tratado de Versalhes, que estabeleceu sanções aos alemães e a criação
de um organismo que deveria zelar pela paz mundial. Esse tratado, conforme os 14
pontos propostos pelo presidente Wilson (EUA), determinou punições humilhantes
aos alemães, semeando o revanchismo que desencadearia, depois, a Segunda Guerra
Mundial. A Primeira Guerra, provocou uma alteração profunda na ordem mundial:
os EUA surgiram como principal potência econômica mundial, houve o surgimento
de novas nações, devido ao desmembramento do Império Áustro-Húngaro e Turco
e surgiu um regime de inspiração marxista na Rússia.
As ambições imperialistas das grandes potências européias podem ser mencionadas entre os principais fatoras responsáveis pelo clima internacional de tensão e de rivalidade que marcou o início do século XX.
Essas ambições imperialistas manifestaram-se através dos seguintes fatores:
Concorrência econômica: As grandes potências industrializadas buscavam por todos os meios dificultar a expansão econômica do país concorrente. Essa concorrência econômica tornou-se particularmente intensa entre Inglaterra e Alemanha, que depois da unificação política entrou num período de rápido desenvolvimento industrial.
Disputa colonial: A concorrência econômica entre as nações industrializadas teve como importante conseqüência a disputa por colônias na África e na Ásia. O domínio de colônias era a solução do capitalismo monopolista para os problemas de excedentes de produção e de controle das fontes fornecedoras de matérias-primas.
Além desses problemas meramente econômicos, a Europa possuía focos de conflito que transpareciam no plano político. Em diversas regiões, surgiam movimentos nacionalistas que apresentavam o objetivo de agrupar sob um mesmo Estado povos considerados de mesmas raízes culturais. Todos esses movimentos políticos também estavam vinculados a interesses econômicos.
Entre os principais movimentos nacionalistas que se desenvolveram na Europa, podemos destacar:
O Pan-eslavismo: Liderado pela Rússia, pregava a união de todos os povos eslavos da Europa Oriental, principalmente aqueles que se encontravam dentro do Império Austro-Húngaro.
O Pan-germanismo: Liderado pela Alemanha, pregava a completa anexação de todos os povos germânicos da Europa Central.
Revanchismo francês: Com a derrota da França na guerra contra a Alemanha, em 1870, os franceses foram obrigados a ceder aos alemães os territórios da Alsácia-Lorena, cuja região era rica em minérios de ferro e em carvão. A partir dessa guerra, desenvolveu-se na França um movimento de cunho nacionalista-revanchista, que visava desforrar a derrota sofrida contra a Alemanha e recuperar os territórios perdidos.
Nesse contexto de disputas entre as potências européias, podemos destacar duas grandes crises, que provocariam a guerra mundial:
A crise do Marrocos: Entre 1905 e 1911, França e Alemanha quase chegaram à guerra, por causa da disputa da região do Marrocos, no norte da África. Em 1906, foi convocada uma conferência internacional, na cidade espanhola de Algeciras, com o objetivo resolver as disputas entre franceses e alemães. Essa conferência deliberou que a França teria supremacia sobre o Marrocos, enquanto à Alemanha caberia uma pequena faixa de terras no sudoeste africano. A Alemanha não se conformou com a decisão desfavorável, e em 1911surgira novos conflitos com a França pela disputa da África. Para evitar a guerra, a França concedeu à Alemanha uma considerável parte do Congo francês.
A crise balcânica: No continente europeu, um dos principais focos de atrito entre as potências era a Península Balcânica , onde se chocavam o nacionalismo da Sérvia e o expansionismo da Áustria. Em 1908, a Áustria anexou a região da Bósnia-Herzegovina, ferindo os interesses da Sérvia, que pretendia incorporar aquelas regiões habitadas por eslavos e criar a Grande Sérvia.
Os movimentos nacionalistas da Sérvia passaram a reagir violentamente contra a anexação austríaca da Bósnia-Herzegovina. Foi um incidente ligado ao movimento nacionalista da Sérvia que serviu de estopim para a guerra mundial.
A Política de Alianças e o Estopim da Guerra
As ambições imperialistas associadas ao nacionalismo exaltado fomentavam todo um clima internacional de tensões e agressividade. Sabia-se que a guerra entre as grandes potências poderia explodir a qualquer momento. Diante desse risco quase certo, as principais potências trataram de estimular a produção de armas e de fortalecer seus exércitos. Foi o período da Paz Armada. Característica desse período foi a elaboração de diversos tratados de aliança entre países, cada qual procurava adquirir mais força para enfrentar o país rival.
Ao final de muitas e complexas negociações bilaterais entre governos, podemos distinguir na Europa, por volta de 1907, dois grandes blocos distintos:
A Tríplice Aliança: formada por Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália;
A Tríplice Entente: formada por Inglaterra, França e Rússia.
Essa aliança original entre países europeus modificou-se nos anos da guerra,
tanto pela adesão de alguns países como pela saída de outros. Conforme seus
interesses imediatos, alguns países mudavam de posição, como a Itália, que
em 1915 recebeu dos países da Entente a promessa de compensações
territoriais, caso mudasse de lado.
Mergulhada num clima de tensões cada
vez mais insuportáveis, a Europa vivia momentos em que qualquer atrito, mesmo
incidental, seria suficiente para incendiar o estopim da guerra. De fato, esse
atrito surgiu em função do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando,
herdeiro do trono austríaco. O crime foi praticado pelo estudante Gavrilo
Princip, ligado ao grupo nacionalista sérvio "Unidade ou Morte", que
era apoiado pelo governo da Sérvia. O assassinato provocou a reação militar
da Áustria, e a partir daí diversos outros países envolveram-se no conflito,
uma verdadeira reação em cadeia (devido à política de alianças).
Os passos iniciais do conflito europeu (1914) foram os seguintes:
28 de julho: O Império Austro-Húngaro declara guerra à Sérvia;
29 de julho: E apoio à Sérvia, a Rússia mobiliza seus exércitos contra o Império Austro-Húngaro e contra a Alemanha;
1º de agosto: A Alemanha declara guerra à Rússia;
3 de agosto: A Alemanha declara guerra à França. Para atingí-la, mobiliza seus exércitos e invade a Bélgica, que era um país neutro;
4 de Agosto: A Inglaterra exige que a Alemanha respeite a neutralidade da Bélgica. Como isso não ocorre, declara guerra à Alemanha.
O nome Primeira Guerra Mundial foi atribuído ao conflito de 1914 a 1918, pois essa foi a primeira guerra da qual participaram as principais potências das diversas regiões da Terra, embora o principal "cenário da guerra" tenha sido o continente europeu.
Vejamos, a seguir, algumas nações que se envolveram no conflito:
Do lado da Alemanha e do Império Austro-Húngaro: Turquia (1914) e Bulgária (1915);
Do lado da França, da Inglaterra e da Rússia: Bélgica(1914), Sérvia (1914), Japão (1914), Itália (1915), Portugal (1915), Romênia (1916), Estados Unidos (1917), Brasil (1917) e Grécia (1917).
Os conflitos internacionais anteriores tinham um caráter localizado, sempre restrito a países de um mesmo continente. Já o conflito de 1914 a 1918, envolveu potências que tinham alcançado a industrialização. Potências que "dedicam sua capacidade de produção ao desenvolvimento de uma poderosa indústria bélica e todos alinham efetivos consideráveis, extraídos principalmente da população rural, cuja diminuição acarreta uma inquietadora redução dos aprovisionamentos. Assim, o conflito desorganiza as trocas e abala seriamente a estrutura econômica do mundo".
Primeira fase (1914-1915)
Essa fase foi marcada pela imensa movimentação dos exércitos beligerantes. Ocorreu uma rápida ofensiva das forças alemãs, e várias batalhas foram travadas, principalmente em território francês, para deter esse avanço. Em setembro de 1914, uma contra-ofensiva francesa deteve o avanço alemão sobre Paris (Batalha do Marne). A partir desse momento, a luta na frente ocidental entrou num período de equilíbrio entre as forças em combate.
Segunda fase (1915-1917)
A imensa movimentação de tropas da primeira fase foi substituída por uma
guerra de posições, travada nas trincheiras. Cada um dos lados procurava
garantir seus domínios, evitando a penetração das forças inimigas. Os
combates terrestres tornaram-se extremamente mortíferos, com a utilização de
novas armas: metralhadoras, lança-chamas e projéteis explosivos. Mas a grande
novidade em termos de recursos militares foi a utilização do avião e do
submarino.
Como salientou John Kenneth Galbraith,
o desenvolvimento das técnicas militares de matar não foi acompanhado pelo
desenvolvimento da "capacidade de pensar" dos generais tradicionais.
"A adaptação de táticas estava muito além da capacidade da mentalidade
militar contemporânea. Os generais hereditários e seus quadros de oficiais não
pensavam em outra coisa senão em enviar contingentes cada vez maiores de
homens, eretos, sob pesada carga, avançado a passo lento, em plena luz
meridiana, contra o fogo de metralhadora inimigo, após pesado bombardeio de
artilharia. A esse bombardeio, as metralhadoras, pelo menos um número
suficiente delas, invariavelmente sobreviviam. Por isso, os homens que eram
mandados avançar eram sistematicamente dizimados, e essa aniquilação, é
preciso que se frise, não é figura de retórica, ou força de expressão. Quem
fosse lutar na Primeira Guerra Mundial não tinha esperança de retornar".
Terceira fase (1917-1918)
Desde o início da guerra, os Estados Unidos mantinham uma posição de
"neutralidade" em face do conflito. Ou não intervinham diretamente
com suas tropas na guerra.
Em janeiro de 1917, os alemães
declararam uma guerra submarina total, avisando que tropedariam todos os navios
mercantes que transportassem mercadorias para seus inimigos na Europa.
Pressionado pelos poderosos
banqueiros estadunidenses, cujo capital investido na França e na Inglaterra
achava-se ameaçado o Governo dos Estados Unidos declarou guerra à Alemanha e
ao Império Austro-Húngaro em 6 de abril de 1917.
A Rússia retirou-se da guerra,
favorecendo a Alemanha na frente oriental. E pelo Tratado de Brest-Litovsk,
estabeleceu a paz com a Alemanha. Esta procurou concentrar suas melhores tropas
no ocidente, na esperança de compensar a entrada dos Estados Unidos. A Alemanha
já não tinha condições para continuar a guerra. Surgiram as primeiras
propostas de paz do presidente dos Estados Unidos, propondo, por exemplo, a redução
dos armamentos, a liberdade de comércio mundial etc.
Com a ajuda material dos Estados
Unidos, ingleses e franceses passaram a deter um superioridade numérica brutal
em armas e equipamentos sobre as forças inimigas. A partir de julho de 1918,
ingleses franceses e americanos organizaram uma grande ofensiva contra seus
oponentes. Sucessivamente, a Bulgária, a Turquia e o Império Austro-Húngaro
depuseram armas e abandonaram a luta. A Alemanha ficou sozinha e sem condições
de resistir ao bloqueio, liderado pelos Estados Unidos, que "privaram o exército
alemão, não de armamentos, mas de lubrificantes, borracha, gasolina e
sobretudo víveres".
Dentro da Alemanha, agravava-se a
situação política. Sentindo a iminência da derrota militar, as forças políticas
de oposição provocaram a abdicação do imperador Guilherme II. Imediatamente,
foi proclamada a República alemã, com sede a cidade de Weimar, liderada pelo
partido social democrata.
Em 11 de novembro de 1918, a Alemanha
assinou uma convenção de paz em condições bastante desvantajosas, mas o exército
alemão não se sentia militarmente derrotado. Terminada a guerra, os exércitos
alemães ainda ocupavam os territórios inimigos, sem que nenhum inimigo tivesse
penetrado em territórios alemães.
Entregar a região da Alsácia-Lorena à França;
Ceder outras regiões à Bélgica, á Dinamarca e a Polônia;
Entregar quase todos os seus navios mercantes à França, Inglaterra e Bélgica;
Pagar uma enorme indenização em dinheiro aos países vencedores;
Reduzir o poderio militar dos seus exércitos sendo proibida de possuir aviação militar.
Não demorou muito tempo para que todo esse conjunto de decisões humilhantes,
impostas à Alemanha, provocasse a reação das forças políticas que no pós-guerra,
se organizaram no país. Formou-se, assim, uma vontade nacional alemã, que
reivindicava a revogação das duras imposições do Tratado de Versalhes. O
nazismo soube explorar muito bem essa "vontade nacional alemã",
gerando um clima ideológico para fomentar a Segunda Guerra Mundial (1939 –
1945).
Além do Tratado de Versalhes, foram
assinados outros tratados entre os países participantes da Primeira Guerra
Mundial. Através desses tratados, desmembrou-se o Império Austro-Húngaro,
possibilitando o surgimento de novos países.
Em 28 de abril de 1919, a Conferência
de Paz de Versalhes aprovou a criação da Liga das Nações (ou Sociedade das
Nações), atendendo proposta do presidente dos Estados Unidos. Sediada em
Genebra, na Suíça, a Liga das Nações deu início às suas atividades em
janeiro de 1920, tendo como missão agir como mediadora no caso de conflitos
internacionais, procurando, assim, preservar a paz mundial.
A Liga das Nações logo revelou-se
uma entidade sem força política, devido à ausência das grandes potências. O
Senado americano vetou a participação dos Estados Unidos na Liga, pois
discordava da posição fiscalizadora dessa entidade em relação ao cumprimento
dos tratados internacionais firmados no pós-guerra. A Alemanha não pertencia
à Liga e a União Soviética foi excluída. A Liga das Nações foi impotente
para impedir, por exemplo, a invasão japonesa na Machúria, em 1931, e o ataque
italiano à Etiópia, em 1935.
Fotos da Guerra:
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