Curso de Biologia Marinha no ISECMAR, São Vicente

Causas Biológicas do Cheiro Nauseabundo na Praia D'Catchorr & Baia do Porto Grande - Mindelo - São Vicente, e o Crescimento das Algas & Eutrofização


INTRODUÇÃO CRESCIMENTO DE ALGAS FAC. LIMITANTES A DECOM. DAS ALGAS E O CHEIRO CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA

(Segunda Versão em 28/05/2000 deste Artigo, publicado no Boletim PÊDRÁDA , em 28 de Março de 2000)

Trabalho Elaborado por: Rui Motta Freitas ( [email protected] ) - Estudante do 3.º Ano do Curso de Bacharelato em Biologia Marinha e Pescas no ISECMAR - (Instituto Superior de Engenharia e Ciências do Mar). São Vicente - Cabo Verde

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Evidencia clara de Poluição (neste caso denominado por Eutrofização) nesta zona da Baia & Avenida Marginal e Principal da cidade do Mindelo.

Visto dum ângulo de baixo, e mesmo na areia lodo-arenoso, tem muitos outros lixos presentes.

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INTRODUÇÃO

Como é do conhecimento dos Mindelenses, é frequente sentir-se um cheiro forte e nauseabundo quando se passa na zona do antigo cais da alfândega ou praia d'catchorr. Uma das causas desse cheiro produzido neste lindo local da nossa orla marítima, é a não renovação da água do mar, ficando "estagnada" por um tempo indeterminado e cada vez mais concentrada e poluída, provocando assim morte em massa de algas marinhas. Esta primeira causa, está também relacionada com os factores limitantes (descrito mas abaixo) e não só. Esta água por sua vez esta carregada de nutrientes e actua como energia de activação, provocando assim todo este fenómeno biológico, que por acréscimo do primeiro a segunda causa do cheiro é devido a decomposição natural mas fora do normal de algas, promovida pela presença de bactérias marinhas anaeróbias. A matéria orgânica de algas encontra-se ali em grande biomassa (a massa total de algas expressa por unidade de peso por unidade de volume ou de área). Essa decomposição bacteriana das algas, por sua vez liberta gases voláteis, traduzidos nos cheiros em que pressentimos. Essa situação, só mudará, se as capacidades de renovação da água, naquela zona, aumentarem, o que é será bem difícil, após a construção do cais de cabotagem da Enapor. Neste exacto momento, dia 8 de Junho, esta zona ou área está completamente limpa. Basta a produtividade primária marinha aumentar-se, que é geralmente com o aumentar da temperatura do mar na primavera - e o verão a dentro, para tudo começar de novo (uma zona altamente eutrofizada). Não obstante disso, neste caso uma explicação biológica é de uma grande importançia para o conhecimento geral da população do Mindelo.


CRESCIMENTO EXCESSIVO DE ALGAS

A espécie de alga encontrada ali nesta zona pertence taxonomicamente à Divisão Chlorophyta (algas verdes), Classe Ulvophyceae, Ordem Ulvales e do gênero Ulva sp. A espécie neste caso não foi identificada, mas são geralmente espécies opurtunistas de alto crescimento usando todos os nutrientes possiveis e desponiveis. São espécies de algas verdes que sobretudo têm grandes níveis de tolerânçia aos variados factores bioceanográficos. Biológicamente, este crescimento desenfreado de algas pode ser explicado da seguinte forma: Regra geral, a estagnação da água do mar, provoca a EUTROFIZAÇÃO da mesma, que é o aumento da concentração de nutrientes em águas naturais acelerando o crescimento de algas e formas mais desenvolvidas de vegetais, causando a deterioração da qualidade das águas. É um dos principais problemas no gerenciamento da qualidade de recursos hídricos. Excessos de nutrientes (CO2, nitratos e fosfatos...) no meio aquoso, serão altamente utilizados no metabolismo de organismos marinhos foto-autotróficos (organismos fotossintécticos, como as algas, capazes de sintetizar compostos orgânicos ou energia para viverem e reproduzirem, a partir de nutrientes inorgânicos e energia solar), consequentemente, reprodução em biomassa fora do padrão normal, de algas marinhas, ou seja "bloom de algas marinhas", que é um crescimento súbito e intenso, que ocorre normalmente na primavera nas latitudes temperadas ou é causado pela eutrofização (acima mencionada). Importante salientar que a fotossíntese marinha, realizada parcialmente pelas algas, é um processo através do qual os organismos que contem clorofila -plantas verdes, algas e algumas bactérias- utilizam a energia solar em determinadas reacções químicas, nomeadamente na redução do CO2 (dioxido de carbono) a carbohidratos (açucares, amido...), com a libertação de O2 (oxigénio). Como outra hipótese ao crescimento anormal de algas, pode-se admitir a existência no meio duma disfunção ou desregulação na concentração ideal de iões nitratos e fosfatos dissolvidos na água litoral, que serão usadas na fotosíntese de algas neste caso. Este facto pode ser explicado segundo o anunciado dos factores limitantes (ver em baixo). Uma vez usados esses iões, fora da concentração ideal para a realização da fotosíntese, no geral, poderão provocar um crescimento anormal dessas populações de algas. Este crescimento desenfreado de algas é um indicio do fenómeno de eutrofização, que neste caso, é acentuado com uma saída de esgotos existente nesta zona, ficando esta água cada vez mais "nutrida" e carregada de matéria orgânica, o que provoca uma maior produção de algas e de oxigénio (O2) no processo catabólico da fotosíntese nas algas (catabolismo é um termo adjacente ao metabolismo nos organismos, relacionado com os resultados das reacções de construção das moléculas necessárias e que asseguram a vida, através dos alimentos ou nutrientes, ingeridos ou absorvidos).


FACTORES LIMITANTES

O elemento nutriente particular que determina que o organismo cresça ou não em dado ambiente é chamado factor limitante. Dos 92 elementos de ocorrência natural na terra os organismos no geral requerem 6 em quantidades relativamente grandes (CHNOPS) e diversos outros em pequenas quantidades. O organismo só pode crescer e multiplicar-se se todos esses requisitos forem atendidos. Mas há casos, em que o termo "factor limitante" apresenta uma certa plasticidade ecológica, por exemplo: quando uma população especifica de moluscos bivalves precisam do microelemento cálcio para o desenvolvimento, e este ser insuficiente de momento, e o estrôncio for abundante, podem e tendem na realidade por substituir aquele por este. Assim no geral crescimento pode ser limitado não somente pela deficiência, mas também pelo excesso de substâncias necessárias. Em outras palavras ou regra geral, é que diferentes organismos têm diferentes âmbitos de tolerância para um dado factor (ex.: salinidade, temperatura, luz, água disponível, espaço...) e só podem sobreviver dentro dos limites deste âmbito. Como exemplo: uma dada espécie pode ser capaz de tolerar grande flutuação na disponibilidade de cálcio (Ca), mas pode ter um âmbito estreito de tolerância para cloreto de sódio (NaCl). Cada espécie isolada têm os seus limites máximos e mínimos de tolerância para os variados factores biogeoquímicos e bioceanográficos. Mas qual é a relação entre os factores limitantes e este fenómeno biológico? Quando os factores limitantes no crescimento dessas algas na baia, forem os nitratos ou os fosfatos, e quando chegarem á zona abrigada pelos esgotos ou por outra via (ver recomendações), esses detergentes produzem um espectacular desenvolvimento de algas, por se encontrarem em concentrações elevadas ou fora do equilíbrio desejado para o crescimento de algas. Esse período de rápido crescimento de algas continua, até que a previsão ou a concentração dum outro elemento essencial, talvez o cálcio, fique esgotado ou prejudicado. As algas passarão e passaram então a morrer por falta de um elemento importante ao seu crescimento. O cálcio talvez encontrava-se em equilíbrio, mas foi afectado pelo seu alto consumo no crescimento de algas, acabando assim uma boa parte dessas algas por morrer, por esta possível causa. "É um tipo de suicídio colectivo, mas inocente e consciente, porque as algas precisam de viver".


A DECOMPOSIÇÃO DAS ALGAS PELAS BACTÉRIAS E O CHEIRO PRODUZIDO

Voltando ao cheiro nauseabundo, a explicação anterior é muito importante porque todos esses fenómenos biológicos estão intimamente relacionados. O cheiro é devido a uma decomposição gradual de algas pelas bactérias. Inicialmente essa degradação ou decomposição de algas será efectuada por bactérias decompositoras aeróbias existentes no meio, que ocorrem geralmente na presença de O2 e com o uso do O2 no seu intenso e rápido metabolismo e concretamente usa-o para viver e decompor as algas. Essas bactérias predominam no meio, e com a respiração microbiana, começam a consumir todo o oxigénio disponível de momento na água. Como no geral essas bactérias produzem como o produto da respiração o dióxido de carbono (CO2), o que equivale dizer, deixar transparecer pouco, ou não susceptível os "cheiros" da decomposição da matéria orgânica morta das algas. Mas sendo os microorganismos, seres microscópicos de alta reprodução, por divisão celular binaria ( geralmente um único indivíduo divide-se em dois por cada 20 minutos), há um crescimento exponencial e rápido. Assim bactérias aeróbias marinhas acabam num curto espaço de tempo por consumir todo o O2 disponível no meio, mesmo o que é produzido gradualmente pelas algas, acabando assim, por extinguirem-se do meio por falta de O2 ( pode-se dizer que a água nesta área da baia, quase não tem O2). A quantidade de oxigénio acaba por baixar alem da tolerância dos peixes e outros organismos marinhos, os quais começam também a morrer, visto que este alto consumo chega até nas camadas superficiais dos sedimentos marinhos. Se este processo não for interrompido ou alterado, esta zona transforma-se rapidamente num autentico "charco", e se estagna completamente, tornando-se capaz de sustentar apenas bactérias e outros microorganismos. No geral um rápido consumo de oxigénio, prevê alterações no metabolismo e ocorrência dos organismos duma determinada área afectada, passando assim a predominar somente microorganismos anaeróbios (vivem, reproduzem, obtêm energia e decompõem a matéria orgânica sem a presença de O2 ), que tendem a metabolizar o enxofre dissolvido na água. Como a decomposição da matéria no geral, e de algas, em particular, não pode cessar acaba-se por surgir no meio essas novas bactérias anaeróbias, que são as responsáveis pelo cheiro desagradável visto que, nos seus metabolismos naturais, além de decomporem as algas, acabam por produzir em vez de CO2, um gás volátil, que é o acido sulfídrico, que têm como base molecular o Enxofre. Convertem os sulfatos em hidrogénio-sulfito que é um ácido (SO4 ® H2S). Como foi dito anteriormente estes fenómenos estão interligados e directamente relacionados. Assim quanto maior for a poluição, maior será a biomassa de algas, maior a decomposição de algas pelas bactérias anaeróbias, e logo, maior o cheiro produzido pelo catabolismo microbiano. Isto é o que actualmente ou tempo em tempo se evidencia neste área da baia do Porto Grande.


CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Ecologicamente, o cais de cabotagem da Enapor, é um fracasso, porque acentuou o fenómeno aqui descrito. Uma outra causa importante na possível presença de fosfatos é a existência a escassos metros da zona afectada um navio turistico "Cabo Verde Sailing" que está constantemente e em regime de "full-time" a lavar roupa e a deitar consequentemente fosfatos ao mar (perto da zona afectada). Devia-se ter feito um estudo prévio de impacto ambiental. Assim, ecologicamente esse fenómeno seria previsto e teriam que gastar mais uns "trocados", na adaptação do cais. Exemplo: deixariam uma passagem de água na parte inicial do cais e construiriam uma ponte por cima, e mais para frente construiriam o cais normalmente. Com isso, haveria uma certa circulação de água nesta zona afectada (não a suficiente, visto ser a zona muito abrigada), o que poderia retardar por algum tempo todo este processo natural aqui descrito (neste caso foi em parte acelerado pela engenharia). Travar agora, esse fenómeno, será muito difícil, ao menos que gastem muito mais dinheiro na reparação do erro. Técnicos de várias áreas teriam que trabalhar nesse projecto. O risco que há de momento é a câmara municipal entrar num ciclo viciado. Tiram as algas do local com as maquinas, aparecem lá de novo, e o ciclo continua incessantemente, passando, é claro, pelo cheirinho nauseabundo, ficando esta avenida tão aprezivel assim perfumada. As algas e as bactérias não têm culpa. Eles simplesmente cumprem um ciclo vital e os seus deveres na luta pela sobrevivência e na continuidade natural das espécies. Segundo a Ecologia eles tendem a adaptar com sucesso a um ecossistema, e aproveitar as condições que o meio, neste caso marinho, lhes disponibiliza em cada momento.¨


Bibliografia

CURTIS, Helena. 1977. Biologia. Capitulo de Ecologia. Segunda Edição. Pagina-719.




Fotos da Baia do Porto Grande - Mindelo

Vista Importante do Monte de Cara - Na Baia

Construção do Cais de Pesca à esquerda e o lindo mar da Baia projectando o Monte de Cara


Vista para os Yates na Baia & Cais de Cabotagem

Zona afectada mais à direita da foto e o cais de cabotagem mesmo à frente


Turma de Biologia do ISECMAR de Visita de Estudo ao Centro de Meteorologia do Mindelo

No fundo pode-se ver o cais de cabotagem e a zona afectada pouco defenida e o porto grande mais à esquerda



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