ISECMAR
(Instituto Superior de Engenharia e Ciências do Mar)
Relatório N.º 1 / Aula Prática
Amostragem
Biológica de Moluscos Bivalves
( Medição do comprimento da Crassostrea gigas )
Cadeira de Métodos em Biologia Marinha
Mindelo, Quarta-feira, 24 de Maio de 2000
Elaborado por:
Albertino Martins
Rui Motta Freitas
Descrição do Ecossistema (local), Data e Hora
A aula pratica faz parte do
programa da cadeira de Métodos em Biologia Marinha, sobre a docência da bióloga
Oksana Tariche. A aula realizou-se na ilha de São Vicente, no dia 28 de Abril, sexta-feira, do ano 2000. Foi na zona
do cultivo de moluscos do INPD, mais concretamente na zona nerítica da Baia do
Porto Grande, a algumas centenas de metros da costa. O tempo estava aberto (com
poucas nuvens), e com muito vento na superfície da água. Em relação ao estado
do mar, estava-se na fase de maré-alta e muito cavado, com ondas de pequena
amplitude. Foi entre as 10–12 horas de manhã, sobre a orientação da bióloga do
INDP, a Dr. Sonia Merino. Chegamos à zona de cultivo de bote (INDP).
O objectivo principal era
aprender e familiarizar-se com o método de medição de parâmetros biométricos de
moluscos bivalves. Centralizamos o estudo no comprimento desses moluscos (Filo Mollusca),
mais concretamente indivíduos da classe Bivalva (moluscos bivalves). A
espécie em estudo foi o Crassostrea gigas, sendo o comprimento (L), a
maior dimensão do sentido antero-posterior.
Caracterizam-se essencialmente
por possuírem corpos moles protegidos por conchas duras e calcíferas, sendo
algumas sem concha que foi perdida no curso da evolução (lesmas, polvos...),
sendo estes semi-pelágicas. Os Bivalves, como as ostras (neste caso, ver
biologia FAO em anexo) e mexilhões, têm conchas que consistem geralmente em
duas peças, ou seja duas válvulas, unidas num ponto, para fazerem o movimento
do fechar e abrir das conchas, para a alimentação, usando a filtração do
fitoplâncton. São geralmente epibênticos, e habitantes da zona intertidal, com
substracto rochoso. Podem ser filtradores, alguns predadores e detritívoros em
relação ao regime alimentar. Esses são filtradores.
Em relação á metodologia usada,
admite-se que foi somente uma aula de medição do comprimento maior, da carapaça
bivalve. A turma de Biologia Marinha do ISECMAR, é composta por nove alunos, e
foi feito três grupos de três. Cada grupo foi duma vez para a zona de cultivo com
a bióloga Sonia Merino e os dois responsáveis para a manobra do bote, onde um
deles se responsabilizava para levantamento dos cestos que estão distribuídos
em long-lines. Cada grupo de alunos tirou para amostra um numero de
trinta indivíduos. Segundo o numero de indivíduos por cada cesto, houve casos
em que foram amostrados diferentes cestos. Sendo o comprimento a medida
alométrica mais utilizada para expressar o crescimento, foi o único parâmetro
utilizado visto que o balanço do mar interfere em outros parâmetros ( i.e peso
). A unidade utilizada foi o mm, e foram medidos com um paquímetro (craveira). Para
a nossa analise estatística, assumidos e nomeados três grupos, segundo os
alunos constituintes:
A. Rui Freitas e Albertino Martins
B. Nadyr Prado, Sonia Fortes, Mara Abu-Raya e
Silvestre Pires
C. João de Deus, Helena Sanches e Ernestina
Barros.
Com os dados dos três grupos
foram calculadas as variadas estatísticas, inclusive intervalos de confiança. Para
analisar e comparar as amostras usou-se um teste-t de student para
testar a significançia da diferença entre duas media ponderadas obtidas da
mesma população de moluscos, e na mesma zona.
|
|
A |
|
|
|
|
|
B |
|
|
|
|
|
C |
|
|
|
mm |
f |
|
|
|
|
mm |
f |
|
|
|
|
mm |
f |
|
|
|
|
18 |
1 |
40 |
|
62 |
|
28 |
1 |
50 |
2 |
72 |
|
15 |
1 |
37 |
|
59 |
|
19 |
|
41 |
1 |
63 |
|
29 |
|
51 |
|
73 |
|
16 |
|
38 |
3 |
60 |
|
20 |
|
42 |
3 |
64 |
|
30 |
1 |
52 |
|
74 |
|
17 |
|
39 |
2 |
61 |
|
21 |
|
43 |
|
65 |
|
31 |
|
53 |
|
75 |
|
18 |
1 |
40 |
|
62 |
|
22 |
|
44 |
|
66 |
|
32 |
|
54 |
2 |
76 |
|
19 |
1 |
41 |
1 |
63 |
1 |
23 |
|
45 |
|
67 |
1 |
33 |
1 |
55 |
|
77 |
2 |
20 |
|
42 |
1 |
64 |
|
24 |
|
46 |
1 |
|
|
34 |
|
56 |
|
|
|
21 |
1 |
43 |
|
65 |
|
25 |
1 |
47 |
1 |
|
|
35 |
1 |
57 |
|
|
|
22 |
|
44 |
|
66 |
1 |
26 |
|
48 |
2 |
|
|
36 |
1 |
58 |
|
|
|
23 |
|
45 |
|
67 |
1 |
27 |
|
49 |
1 |
|
|
37 |
1 |
59 |
1 |
|
|
24 |
|
46 |
2 |
|
|
28 |
|
50 |
|
|
|
38 |
2 |
60 |
1 |
|
|
25 |
|
47 |
|
|
|
29 |
1 |
51 |
3 |
|
|
39 |
1 |
61 |
1 |
|
|
26 |
3 |
48 |
1 |
|
|
30 |
|
52 |
1 |
|
|
40 |
2 |
62 |
|
|
|
27 |
|
49 |
|
|
|
31 |
|
53 |
|
|
|
41 |
1 |
63 |
|
|
|
28 |
|
50 |
1 |
|
|
32 |
|
54 |
1 |
|
|
42 |
1 |
64 |
|
|
|
29 |
1 |
51 |
1 |
|
|
33 |
1 |
55 |
1 |
|
|
43 |
2 |
65 |
|
|
|
30 |
|
52 |
1 |
|
|
34 |
|
56 |
1 |
|
|
44 |
|
66 |
|
|
|
31 |
2 |
53 |
|
|
|
35 |
2 |
57 |
|
|
|
45 |
1 |
67 |
|
|
|
32 |
|
54 |
|
|
|
36 |
1 |
58 |
|
|
|
46 |
1 |
68 |
|
|
|
33 |
1 |
55 |
|
|
|
37 |
3 |
59 |
|
|
|
47 |
|
69 |
1 |
|
|
34 |
|
56 |
|
|
|
38 |
|
60 |
1 |
|
|
48 |
2 |
70 |
|
|
|
35 |
1 |
57 |
1 |
|
|
39 |
2 |
61 |
|
|
|
49 |
1 |
71 |
|
|
|
36 |
1 |
58 |
|
|
|
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Estatísticas |
A |
|
B |
|
C |
|
Média |
43,4 |
|
47,0 |
|
38,9 |
|
Erro –
padrão |
1,932 |
|
2,29 |
|
2,53 |
|
Mediana |
42 |
|
44 |
|
38 |
|
Moda |
37 |
|
38 |
|
26 |
|
Desvio –
padrão (s ) |
10,58 |
|
12,52 |
|
13,87 |
|
Variância
da amostra ( S2 ) |
112 |
|
156,8 |
|
192,4 |
|
Curtose |
0,262 |
|
0,576 |
|
-0,4 |
|
Assimetria |
-0,14 |
|
0,947 |
|
0,33 |
|
Intervalo( D ) |
49 |
|
49 |
|
52 |
|
Mínimo |
18 |
|
28 |
|
15 |
|
Máximo |
67 |
|
77 |
|
67 |
|
Soma ( S ) |
1302 |
|
1410 |
|
1167 |
|
Contagem ( h ) |
30 |
|
30 |
|
30 |
|
Inter. de
confiança(95,0%) |
3,951 |
|
4,676 |
|
5,179 |
|
|
|
|
|
|
|
|
teste-t (95,0%) |
1,07 |
AB |
1,07 |
AB |
1,41 |
AC |
teste-t (95,0%) |
1,41 |
AC |
2,30 |
BC |
2,30 |
BC |
Valor teste-t max. Pedido |
2,002 |
|
2,002 |
|
2,002 |
|
Segundo as estatísticas obtidas,
podemos dizer à priori que das três amostras, a melhor é a primeira(A). Senão
vejamos:
·
Fazendo uma
análise da média aritmética dos quadrados dos desvios em relação à média, ou
seja variance, chegamos à conclusão que esta é a menor. Se levarmos em conta
que uma amostra é boa quando menor é o desvio padrão podemos inferir que a
amostra A possui os mesmos parâmetros da população, ou seja é a mais
representativa de todas.
·
O
erro-padrão é menor
·
Aproxima-se
mais da distribuição de GAUSS (ver gráfico A em anexo) e por conseguinte
a mais simétrica, ou melhor a menos assimétrica.
·
A análise da
curtose ou grau de achatamento de uma distribuição nos diz que a curva da
distribuição de frequência da amostra A é semelhante a uma curva Leptocúrtica
ou seja está mais próxima de uma curva em forma de sino.
A análise feita atrás foi uma
análise que podemos considerar superficial, uma vez que existem métodos outros
para comparar e mesmo rejeitar amostras. Para reforçar a nossa ideia e no
intuito de dar uma maior consistência à representatividade da amostra A,
fizemos alguns testes-t de "student" e cujos os resultados estão
discriminados nas tabelas seguintes.
Usamos sempre um nível de
significância de (95,0%), nos testes. Primeiro foi feito um teste-t de significânçia
da diferença entre duas medias ponderadas, usada para comparar duas médias
obtidas de diferentes amostras da mesma população.
Aqui H0 seria que, as
duas medias AB, AC e assim sucessivamente são iguais ou traduzem a mesma
realidade, ou ainda se a diferença entre as medias pode ser negligenciado. Segundo
os resultados estatísticos na tabela em baixo, permite-nos analisar que a
amostra A é mais parecida com o B e o C, ou vice-versa, e que a semelhança
entre B e C são rejeitadas segundo o teste e não representa a mesma realidade. Ficou-se
mais uma vez provada a representatividade da amostra A, que faz com que esse
teste seja aprovado, mesmo que a outra ( B ou C ) não seja representativa.
Importante salientar que alem
duma boa distribuição da amostra A, a sua média ponderada situa-se entre as
duas outras. No estudo separado das amostras, e feito uma media da população
dos 90 indivíduos total medidos, esta media situa mais próximo da media da
amostra A.
Segundo esta situação quando se
faz um outro teste-t de student (o mais clássico), para rejeitar amostras duma
população que assumidos neste caso, usamos as estatísticas dos 90 indivíduos,
mais concretamente a sua media e o seu erro. Assim temos as estatísticas
gerais, assumido como a população:
Estatísticas das três amostras juntas Assumimos que seja a População |
|
|
|
Média |
43,1 |
Erro padrão |
1,339037 |
Mediana |
42 |
Modo |
39 |
Desvio padrão |
12,70322 |
Variância da amostra |
161,3719 |
Curtose |
0,265928 |
Assimetria |
0,309143 |
Intervalo |
62 |
Mínimo |
15 |
Máximo |
77 |
Soma |
3879 |
Contagem |
90 |
Nível de confiança(95,0%) |
2,660637 |
Assim, neste caso t = (media da
amostra - media da pop.)/erro da pop. , e segundo este valor, para que aprove
têm que estar dentro da área coberta (ou que seja menor) por 95 % de
significânçia para 29 graus de liberdade. Consequentemente na tabela T o valor
máximo pedido é o 2,045.
|
A |
|
B |
|
C |
t-teste |
0,224042 |
|
2,91254 |
|
3,136581 |
Assim temos A aprovado, B e C
reprovados ou rejeitados, segundo os resultados neste testes.
Segundo a nossa análise a 2ª
melhor amostra é a B e a pior é a C.
Em complemento dos testes acima
realizados fizemos um somatório das amostras determinando de seguida suas
estatísticas . A estatística nos diz que a média das médias das amostras deverá
ser a média da população.
Conclusão: A média das médias ou da pop.
assumida(43.1) aproximou-se da média da amostra A (43.4). Tendo em conta que
uma amostra representa uma população quando a esta se ajusta como se fosse um
modelo fotográfico em escala menor, ou seja é a população em escala diminuta,
podemos dizer que que dentro das quatros amostras a única que reúne essas
condições é a primeira. Não estamos a pôr em causa a exclusividade das outras
duas amostras, mas sim tentar aproximar as melhores ou a melhor do "real
tamanho" da população. Sabemos que vários poderão ter sidos os factores
que influenciaram na medição dos moluscos uma vez que uma boa parte dos alunos
mostraram um pouco abatidos durante a estonteante viagem ao local de
amostragem. Podemos ainda sem excluir o nosso caso, pôr em dúvida o sistema
utilizado para escolha do n.º medido, uma vez que o comprimento é uma variável
contínua e que por conseguinte poderá facilmente ser viciado mediante a
violação das regras biométricas. No entanto ficou claro o essencial da prática
e assim como as técnicas de amostragem, que no caso foi com reposição. Gostaríamos
que práticas do tipo fossem frequentes em prol do nosso conhecimento bem como
ver in situ a realidade do ecossistema em estudo e acompanhar o
crescimento desses bivalves. Para um estudo mais completo recomendaríamos uma
diversificação dos métodos para que de uma forma minuciosa possamos acompanhar
a evolução desses organismos marinhos, seja através do cálculo da mortalidade e
da sua respectiva taxa, assim como seu índice de condição. Ficou a vontade de
lá regressar e continuar a acompanhar o evoluir biológico dessas espécies exóticas.
·
FONSECA, J.
S. da, e MARTINS G. de A. 1982. Curso de Estatística, 3º ed., Atlas S.A. 87,
96-115, 119-130, 195-198.
·
CENTENO, A.
1982. Curso de Estatística Aplicada à Biologia. Colecção didáctica, n.º 3, ed.,
UFG (Uni. Fed. De Goiás). 82-92.
·
Apontamentos
da docente, na referida disciplina de Métodos em Biologia Marinha.