Curso de Biologia Marinha e Pescas
Cadeira de Métodos em Biologia Marinha
Relatório N.º 2 / Aula Prática
Amostragem Biológica do Olho Largo
Selar crumenophthalmus
( Bloch, 1793 )
Mindelo, Quinta-feira, 18 de Maio de 2000
Elaborado por:
Rui Motta Freitas
INTRODUÇÃO
A aula pratica faz parte do programa da cadeira de Métodos em Biologia Marinha, sobre a docência e orientação da bióloga Oksana Tariche. A aula realizou-se na ilha de São Vicente, no dia
3 de Maio, quarta-feira, do ano 2000. Os exemplares do olho largo foram obtidos de manhã, no mercado municipal de peixe da cidade. A pratica foi realizada na Matiota, no laboratório do INPD. Foi entre as 10–11 horas de manhã.O objectivo principal era aprender a metodologia para a medição de parâmetros biométricos de peixes, onde determina-se e verifica-se ou ainda definir-se, através de medição do comprimento (standard, total, furcal, da cabeça), diâmetro ocular e pesagem, que tipo de relação ou distribuição existe entre duas grandezas ou variáveis alométricas e/ou biométricas, sucessivas, previamente obtidas na parte pratica. Como Hipótese às possíveis relações; podem ser: lineares, exponenciais ou ainda logarítmicas. Com isso inicialmente, e após a colecta de dados, determinar as estatísticas clássicas das diferentes grandezas obtidas, apresentar os gráficos, as relações peso & comprimento e ainda, os coeficientes de correlação (R2). A espécie amostrada foi o Olho Largo(Selar crumenophthalmus).
O olho largo é um pequeno pelágico costeiro. Pertence à família Carangidae, que engloba também as cavalas, esmoregal, bonito, etc. A família detém 33 géneros e 140 espécies (FishBase98). Os carangideos, são os peixes marinhos mais importantes na pesca da zona tropical. Principalmente marinho; raramente ocorre em águas salobras. Está distribuído no oceano Atlântico, Índico e Pacífico( cosmopolita; circumtropical e Indo-Pacífico). Ocorre entre as latitudes 30N a 30S, na zona subtropical. Já foi encontrado indivíduos com 60 cm (FishBase98), mas pode atingir 50 cm de comprimento total (Reiner, 1996), mas normalmente o tamanho máximo é de 25 cm, ou não ultrapassa os 30 cm, sendo frequentemente capturados até 27 cm. Prefere águas oceânicas claras ao redor de ilhas na zona nerítica, entre os 0-100 metros de profundidade (pode chegar aos 170 metros). Ocasionalmente, pode ocorrer em águas turvas. Espécie principalmente nocturno, alimenta-se de camarões pequenos, invertebrado do bêntico (zoobentos subtropicais), zooplâncton, larvas de peixe e peixes quando está perto da zona costeira litoral (zona intertidal). É um predador, sendo principalmente carnívoro, alimentam-se também da macro-fauna marinha. Esta espécie apresenta um tipo de "fototropismo" à noite, tendo como a fonte luminosa artificial ou lunar. Ocorrem geralmente em cardumes que pode chegar a centenas de milhares de peixe. É altamente comercial, pescada com rede de cerco ou de arrasto, em bancos pequenos ou grandes, sobretudo costeiro ou em águas pouco profundas. A sua carne é muito apreciada, sendo normalmente comercializado fresco. Não inclui a lista vermelha(IUCN), espécie não protegida. Desenho FishBase 99 do Selar crumenophthalmus em baixo.
Caracteres Específicos e Diagnose
O corpo é geralmente alongado, moderadamente comprimido e fusiforme, embora varie com a idade. Olhos grandes (o diâmetro cabe 2,7 a 3,2 vezes dentro do comprimento da cabeça) com pálpebra adiposa bem desenvolvida; maxila superior moderadamente larga, com a extremidade estendendo-se até abaixo do bordo anterior da pulpila. Bordo da cintura escapular com um profundo sulco, uma grande papila imediatamente por cima dele e uma papila mais pequena perto do bordo superior. Têm varias barbatanas. Barbatana peitorais mais curtas que a cabeça; escutelas relativamente pequenas. Barbatana dorsal-anterior com 3-9 (FishBase98) ou 8 (Reiner, 1996) raios duros, seguidos de um espinho e 24-27 (Reiner, 1996) ou 18-37 (FishBase98) raios moles na dorsal-posterior (Juvenis grandes e adultos sempre com 2 barbatanas dorsais. Barbatana dorsal anterior com 3-9 espinhas; e o segundo com 1 espinha e normalmente com 18-37 raios moles. Barbatana anal com dois espinhos separados seguidos de um outro. Geralmente anal com 3 espinhos duros e 21-23 (Reiner, 1996) ou 15-31(FishBase98). Barbatana caudal relativamente bifurcada, e dificerca. Braquispinhas em numero de 9 a 12 no ramo superior (incluindo rudimentares) e 27 a 31 no ramo inferior do primeiro arco branquial. Têm escamas cicloides, e os da linha lateral modificam profundamente com o aproximar do pedúnculo caudal, mas geralmente tem 28 escudos (escamas). Espécie com 24-27 vértebras (normalmente 24).
No estado fresco, terço superior do corpo e sobre a cabeça azul metálico ou verde azulado; extremidade do focinho escura; os dois terços inferiores do corpo e da cabeça prateados ou esbranquiçados; uma banda amarela estreita, pode estar presente, desde do bordo do opérculo a parte superior do pedúnculo caudal.
MÉTODO E MATERIAIS
Em relação á metodologia usada, admite-se que foi somente uma aula de medição dos diferentes comprimentos, como também da cabeça e o diâmetro ocular, incluindo a pesagem e analise de dados. O peixe escolhido no mercado municipal foi o olho largo (Selar crumenophthalmus).
Foram obtidos e medidos 22 indivíduos. Para as medições usou-se um ictiómetro metálico em forma de um (L), graduado em cm e toma-se o valor sempre atras de o que aparenta ser segundo a precisão usada.
Usamos uma precisão de 1 cm. Para medir a cabeça e o diâmetro ocular usou-se uma pequena régua, em vez de um paquímetro.
Sempre a unidade em cm. Para a pesagem usou-se uma balança analítica e digital de precisão de 0,1 e como unidade (gramas). Enquanto um aluno media, outro registava os dados, que posteriormente foram analisadas no software; Microsoft Excel 97. Com base nas formulas clássicas calculou-se as estatísticas das diferentes grandezas registadas.
Fez-se regressões sucessivas entre as variáveis, calculou-se o a e o b das relações peso & comprimento, calculando também o coeficiente de correlação (R2), que é uma medida da associação linear entre duas quantidades ou variáveis, ambas sujeitas à variação aleatória, assim este mede a afinidade entre o obtido (comportamento que os dados obtidos descrevem, situando o coeficiente entre -1 ≤ R2 = 1 ) e um padrão.
Assumiu-se à priori que todas as relações são lineares, condicionando assim o valor do R2. Para o mesmo dado fosse testado outras relações (ex. exponencial), talvez o R2 aumente e tende a assim esta distribuição, mais para exponencial, do que linear. Uma boa regressão é aquele que o coeficiente de correlação entre as duas variáveis dependentes, tende para um padrão que é mais próximo de ± 1, o que equivale dizer que dados mais perto duma realidade pré - definida. Descriminando as diferentes grandezas usadas e obtidas:
Fez-se também a diferença entre o comprimentos cefálicos e o diâmetro ocular, e entre o comprimento total e cefálico, para os diferentes 22 indivíduos. Feito a media conhece-se quantas vezes o diâmetro ocular cabe dentro do comprimento da cabeça, e este no comprimento total.
N.º |
L- standard |
L - furcal |
L - total |
D. ocular |
L- cefálico |
Peso |
1 |
19 |
21 |
22 |
2 |
5,7 |
141,7 |
2 |
18 |
20 |
22 |
2 |
5,7 |
139,2 |
3 |
19 |
21 |
23 |
2 |
6,2 |
168 |
4 |
18 |
20 |
22 |
1,9 |
5,5 |
145,4 |
5 |
18 |
20 |
22 |
1,9 |
5,8 |
142,2 |
6 |
18 |
20 |
22 |
2 |
5,9 |
150 |
7 |
19 |
20 |
23 |
2 |
6,1 |
159,3 |
8 |
18 |
20 |
25 |
2 |
5,9 |
150,3 |
9 |
18 |
19 |
21 |
1,8 |
5,8 |
136,4 |
10 |
18 |
20 |
22 |
1,9 |
6 |
151,4 |
11 |
19 |
21 |
23 |
2 |
6 |
169,4 |
12 |
17 |
19 |
21 |
1,9 |
5,7 |
114 |
13 |
17 |
19 |
21 |
1,8 |
5,5 |
136 |
14 |
18 |
20 |
22 |
1,8 |
5,5 |
149,8 |
15 |
18 |
20 |
22 |
2 |
5,6 |
140 |
16 |
18 |
20 |
22 |
2 |
5,8 |
146,9 |
17 |
18 |
20 |
23 |
2,1 |
5,9 |
147,6 |
18 |
17 |
20 |
22 |
2 |
5,6 |
135 |
19 |
17 |
19 |
22 |
2 |
5,6 |
143,5 |
20 |
17 |
20 |
21 |
2 |
5,5 |
124,6 |
21 |
18 |
20 |
23 |
2 |
5,6 |
147,7 |
22 |
17 |
19 |
22 |
1,8 |
5,6 |
132,7 |
Os três tipos de comprimentos testados devem ser logicamente lineares, embora o L-total ser maior que o L-furcal e este maior que o L-standard. Apresentam em algumas medições do mesmo indivíduo (no mesmo ponto, no eixo dos X) alguma irregularidade como mostra a figura abaixo. Pode-se dizer neste caso que os dados estão inicialmente viciados, onde deviam estes descrever a uma mesma curva.
Um outro erro ou vícios nos dados, é a presença para o mesmo comprimento vários pesos diferentes. Isto acontece em varias correlações feitas (ver gráficos em anexo). Pode-se contudo admitir como hipótese a este erro, que vários exemplares da mesma coorte, tiveram diferente oportunidades de alimentação, sendo este erro incrementado à biologia da espécies que são da mesma coorte, podendo esta alimentação, consequentemente o peso, variar com a época do ano, contendo assim exemplares do mesmo tamanho, com pesos diferentes. Como obtivemos amostras pequenas (n=22), os R2 obtidos tendem mais para zero do que para 1, o que faz pensar que o que obtivemos não chega para definir nenhuma relação entre as variáveis estudadas para o Selar crumenophthalmus. A relação obtida mais fiável é a do comprimento standard & furcal, e a relação peso & comprimento standard. O facto de que a variação entre o valor máximo e mínimo obtido mas diferentes grandezas serem muito baixas, não permite um analise e consequentemente confiar nos resultados, que não abrangem uma maior fanga de tamanhos do Selar crumenophthalmus. Para a relação Peso & Comprimento ( W= a.Lb ) , o valor de b tem que tender máximo possível para 3 o que significa uma curva sigmoidal (em forma de S, e crescente). Mais uma vez os resultados estão longe deste padrão, e não são representativas de uma relação deste tipo.
Obtivemos para n=22 :
A relações mais fiáveis obtidas são:
A razão entre o comprimento da cabeça e o diâmetro do olho é de 2,95
± 0,06 ou seja o diâmetro ocular cabe 3 vezes dentro comprimento da cabeça, donde segundo a bibliografia, o diâmetro cabe 2,7 a 3,2 vezes dentro do comprimento da cabeça, estando o nosso resultado dentro deste intervalo, e com menor erro. A razão entre o comprimento total e o comprimento da cabeça é de 3,85± 0,06 ou seja o comprimento da cabeça cabe 4 vezes dentro comprimento total obtido. Essa proporção é uma media para toda a gama de tamanhos. Importante salientar, que o diâmetro cefálico e o comprimento da cabeça são os que oferecem menos erros por terem maior precisão dos colectados, por isso é normal este baixo erro. Todas as relações feitas estão em anexo, com nos gráficos, que também com a equação da recta que representa a regressão e o seu estado com os R2, com os declive trigonométricos(b da relação W & L), e o ponto de intercepção da recta do o eixo dos X. As analises estatísticas são:
ANALISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS |
||||||
Selar crumenophthalmus |
L- standard |
L - furcal |
L - total |
D. ocular |
L- cefálico |
Peso |
Média |
17,91 |
19,91 |
22,18 |
1,95 |
5,75 |
144,14 |
Erro padrão |
0,15 |
0,13 |
0,19 |
0,02 |
0,04 |
2,68 |
Mediana |
18,00 |
20,00 |
22,00 |
2,00 |
5,70 |
144,45 |
Moda |
18,00 |
20,00 |
22,00 |
2,00 |
5,60 |
- |
Desvio padrão |
0,68 |
0,61 |
0,91 |
0,09 |
0,21 |
12,56 |
Variância da amostra |
0,47 |
0,37 |
0,82 |
0,01 |
0,04 |
157,65 |
Curtose |
-0,65 |
0,02 |
3,37 |
-0,41 |
-0,57 |
1,10 |
Assimetria |
0,11 |
0,03 |
1,30 |
-0,74 |
0,57 |
-0,11 |
Intervalo |
2,00 |
2,00 |
4,00 |
0,30 |
0,70 |
55,40 |
Mínimo |
17,00 |
19,00 |
21,00 |
1,80 |
5,50 |
114,00 |
Máximo |
19,00 |
21,00 |
25,00 |
2,10 |
6,20 |
169,40 |
Soma |
394,00 |
438,00 |
488,00 |
42,90 |
126,50 |
3171,10 |
Contagem |
22,00 |
22,00 |
22,00 |
22,00 |
22,00 |
22,00 |
Nível de confiança(95,0%) |
0,30 |
0,27 |
0,40 |
0,04 |
0,09 |
5,57 |
Para concluir, é importante salientar um erro incrementado, que é o facto de termos recolhido amostras pequenas de somente 22 indivíduos, não chega para fazer uma analise fiável e pormenorizada e relacionar com firmeza os paramentos do Selar crumenophthalmus. Neste caso quando mais grande for as amostras melhor será qualquer das relações a determinar, consequentemente R2, que tendem para a realidade que é 1. Os resultados analisados foram ao contrario e não servem para deferir ao certo os objectivos pré - definidos. Devia estar também incluído nos objectivos a determinação do comprimento da altura do corpo que segundo (SPARRE, et al., 1994), relacionado com o comprimento é extremamente linear. Estudos pernenorizados dessas relações permite prever variações da mesma espécie, em função da época do ano, sexo e no espaço (espaço - temporal).
Importante salientar os resultados obtidos, em função da relação diâmetro ocular e o comprimento cefálico ou seja confirmações contundentes entre o obtido e os dados bibliográficos da espécie consultada. Estudos deste tipo deve ser duma forma continua no tempo e no espaço. ♦