Porque é que você gosta do SM?

A primeira coisa que surge na explicação deste ponto é uma possível influência genética, do tipo "SM vem no sangue". Apesar de ter uma evidência delicada, pelo menos arranca com o instinto.

Para responder a esta pergunta foi feita uma pesquisa perguntanto a pares de gémeos idênticos (que têm os mesmos genes e normalmente semelhante educação) e a pares de gémeos não idênticos (com a mesma educação, mas genes diferentes) se tinham os mesmos gostos - mesmo em termos de fantasias - no mundo do SM. Descobriu-se que gémeos idênticos têm os mesmo gostos com mais frequência que os gémeos não idênticos, e este facto é associado ao facto de terem os mesmos genes, e daí a sua influência no desenvolvimento do comportamento em termos de SM.

É claro que isto pode parecer uma ideia pateta, pois é difícil imaginar-se num gene entrando numa de bondage, ou qualquer outra coisa do género.

No entanto vendo o que é que os gostos do SM são (porque são normalmente no homem são gostos de submissão), isso pode simplesmente significar que o que é transmitido é apenas um doseamento incorrecto de hormonas que conduzem a que o homem seja menos agressivo que o normal, e consequentemente se entrega a uma forma de vida sexual inerente ao SM.

Um estranho nível hormonal à nascença pode potenciar altamente o comportamento de SM. O ofício de se tornar homem involve testosterona e outras hormonas a irrigarem o sistema de tempo a tempo. Quando isto acontece, inevitavelmente interage com o cérebro. O cérebro tem duas metades que funcionam de forma diferente. Em particular, no ponto de vista deste texto, existem sistemas nervosos no lado direito do cérebro que determinam a nossa emoção, agressividade e apetite sexual, sobre uma inibição do lado esquerdo do cérebro. Quando a testosterona interage com a parte esquerda do cérebro, atrasa o habitual desenvolvimento do que se passa nesse lado e obviamente interfere com a inibição do sistema que governa a emoção, agressão e apetite sexual.

Isto pode ajudar a explicar o facto de que vários tipos de comportamento em geral, e o SM em particular, estão muito mais associados ao homem que à mulher, porque é conhecido que os homens têm normalmente mais activo o lado direito, ao passo que as mulheres têm organizado o funcionamento de forma bilateral, com ambos os lados a funcionarem em paralelo. Aqueles que afirmam que as mulheres são as guardiãs da moral dos homens podem dar a isto uma interessante reflexão.

Voltemos atrás, ao momento em que foi dito que a emoção, agressividade e apetite sexual eram controlados pelo lado esquerdo do cérebro, controle esse que pode ser retardado pelo desenvolvimento masculino da testosterona. Isto é duplamente interessante, porque a pesquisa mostra que os homens que estão no SM são, em média, mais sensíveis e vulneráveis em termos emocionais que o resto das pessoas com gostos sexuais mais convencionais. Tem de ser "em média" claro, e de certo que existem as excepções que confirmam a regra, resultantes possivelmente de influências apreendidas do exterior, no entanto em média verifica-se o que atrás se disse.

Outro aspecto plausível de que algo é fundamentalmente diferente no pessoal do SM é derivado da sua orientação sexual.

Existem uma série de investigadores que têm a convicção de que existe algo de inato ou genético na predisposição que conduz à homosexualidade, e isto não é derivado tudo do contacto nos chuveiros nas escolas públicas. Daí pode surgir a supresa de se verificar que a proporção de gays que estão noutras variantes sexuais é practicamente a mesma que a proporção de gays na sociedade no seu todo, e que a proporção de gays no SM é practicamente um terço dos sadomasoquistas no seu conjunto, sendo os outros dois terços divididos de forma igual por heterosexuais e bisexuais !

Apenas mais uma evidência: a maior parte do pessoal do SM toma uma posição de troca (switchable), que é o mesmo que dizer, gostam de tomar ambas as posições, quer seja serem dominadores ou submissos. Apenas 15% é apenas masoquista ou sádico, e desse valor aproximadamente metade desse pessoal é sádico. Esses têm normalmente um valor maior na escala de personalidade denominada por "psycoticism scale", o que se acredita estar relacionado com o nível de testosterona no corpo: daí mais uma vez a ideia de que algo hormonal e provavelmente inato, estar associado aos gostos pelos rituais de SM.

Tudo isto não deve ser tomado como uma definição de que os sadomasoquistas o são todos por assim nascerem e não ser possível "construir-se" um, tanto mais que existe a evidência de que o padrão de SM que cada um adquire tem mais a ver com a aprendizagem do que com qualquer factor inato. De facto, para antecipar uma conclusão geral, parece que é plausível considerar-se que os sadomasoquistas têm um número de predisposições inatas (referidas anteriormente) além de algum tipo de comportamento SM, mas a aprendizagem resultante de certas experiências que caem num solo biologicamente muito fértil determinam precisamente qual a forma de SM que se adopta.

Deva-se referir que hoje em dia existe uma controvérsia sobre o que é realmente o SM, esse desacordo tem-se ouvido por parte de pessoal do SM à pelo menos 30 anos.

Certas pessoas limitam-se a agrupar todas as actividades descritas pelos escritores de histórias de SM e dão o trabalho por finalizado. Outros no entanto, talvez conduzidos pelo doutor Alex Comfort ("The Joy of Sex Manual"), distinguem três tipos de comportamento SM, nomeadamente, bondage, servitude sexual e dor envolvendo estimulações. Poderá o leitor perguntar, o que isso interessa para esta discussão ? Bem, no fundo tem um certo interesse, por aquilo que se possa referir em termos de comportamento SM pode não se aplicar a todos os amantes do SM, mas apenas a um grupo.

Certamente, as três actividades atrás citadas podem bem envolver diferentes grupos, a bondage parece ser uma fantasia extremamente popular por ambos os sexos e em pessoas com comportamentos sexuais convencionais, enquanto que a servidão é para outros casais, uma quase poética expressão de amor, mais do que uma desculpa para se vestirem cabedais. É claro que existem aqueles que gostam de dois dos três tipos de actividade, e alguns que gostam mesmo das três formas de divertimento, mas isso não é dizer que as especialidades em particular podem ser de diversos tipos, e alguns resultados de investigação apenas podem ser aplicados a um grupo.

Delicadamente, no meio da predisposição inata e da resposta condicionada a uma aprendizagem, descansa o fenómeno impressão. Os defensores da teoria da educação sexual sempre acharam difícil de ter em conta que os rituais preferidos pelo amante do SM estão poderosamente fixados e de forma irremovível na mente da pessoa, mesmo que derivem de somente uma ou duas experiências de infância, repisadas mais tarde em frequentes masturbações.

Note-se, no entanto, a velocidade e a performance com que jovens animais se fixam em algo ou alguém (normalmente a mãe, é claro, mas outras vezes em coisas tolas tais como uma mesa ou a bota do domador se colocada no instante certo na altura certa) como foco de segurança e contentamento sexual, chama-se a este instante 'impressão'.

Alguns sexologistas calculam que grande parte das variedades de preferências sexuais são originadas numa idade muito pequena, através de um processo semelhante ao da impressão. As pesquisas verificam que a impressão parece muito mais associada ao lóbulo temporal do cérebro, pois demonstram supreendentemente que várias variações sexuais têm tons de SM, uma vez que o caminho do nervos associados ao processo da impressão é adjacente ao caminho dos nervos que envolvem o comportamento sexual e agressivo. A implicação com os lóbulos temporais em tudo isto, é reforçada pelas descobertas que associam normalmente o comportamento fetichista com uma possível epilepsia do lóbulo temporal (e daí um pequeno estrago no lóbulo) no primeiro ano de vida da criança.

De qualquer forma já chega de tecnicismos. O padrão de aprendizagem deriva de uma experiência de infância através do processo de impressão descrito em cima. Ocasionalmente a experiência é directa, como no clássico caso pessoal de Leopold von Sacher-Masoch, que um dia supreendeu a sua tia em pleno acto sexual com outra pessoa e, quando descoberto por ela, foi perseguido furiosamente no quarto pela dita tia que segurava no chicote apenas vestida com uma jaqueta. Sacher-Masoch subsequentemente adquiriu em adulto uma paixão sexual de ser chicoteado por uma mulher vestida da mesma forma. De certa forma, no entanto, esta história tem um sabor a uma conversa íntima (inventando, e acreditando na fantasia que explica o comportamento em adulto).

Aquilo em que os sexologistas acreditam é que quando a criança é muito nova, é frequentemente confrontada com experiências que despertam sentimentos derivados de raiva, dor, restrições (ficar preso no carrinho, ou o pobre miúdo que com aquela idade ainda não se consegue sentar sozinho), que ficam encadeados com sentimentos de amor (extrema atenção, mimar-se a criança) por parte de uma mulher dominante, isto é , mãe ou madrasta. Origina nos homens normalmente uma erecção infantil altamente localizada, reconhecível, notificada e daí facilmente relembrada.

Nas mulheres, a situação associativa ocorre da mesma forma, mas a resposta que é desenvolvida é difusa e quase de certeza esquecida; uma razão mais para explicar o porquê de os homens estarem muito mais no SM que as mulheres. Isto explica-se porque a puberdade nos homens fortalece de uma forma muito mais fácil uma fantasia (e consequentemente o eventual padrão sexual) através da masturbação

O último elo nesta cadeia é o que acontece ao potencial amante do SM na adolescência. Investigações mostraram que se ele é aceite sexualmente de forma rápida e encorajado pela maior parte das raparigas que tenta conquistar, as suas fantasias de SM deixam-se ficar num nível muito pequeno. Mas, se no entanto, ele sofre de uma grande rejeição, real ou imaginária, dessas raparigas, então as suas fantasias crescem e o SM torna-se uma componente essencial na sua vida sexual. Isto pode ser ou não ser uma coisa boa para ele, mas terá de viver sempre com isso.

(By Dr. Chris Gosselin, M.Sc., PhD, research psychologist and

writer. Published in Forum Magazine in Britain August 1987.,

traduzido e adaptado por slave a,)