Ação missionária na Amazônia
Brasil Indígena - 500 anos de Resistência

Fontes: Leite, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, 1943;
Prat, A. Notas históricas sobre as Missões Carmelitas, 1941;
Fragoso, H. Os aldeamentos franciscanos do Grão-Pará, 1982.
A Amazônia no século XVII foi percorrida por vários grupos: pelos sertanistas em busca das chamadas “drogas do sertão” – especiarias cobiçadas pelos colonos e comercializados pela Metrópole - ; pelas expedições oficiiais comandadas por militares e sertanistas que visavam assegurar os domínios portugueses contra ingleses, holandeses e espanhóis; pelas tropas de apresamento, também chamadas de “resgate”, em busca do índio cativo; e também pelos missionários que, com os “descimentos”, arrebatavam indígenas com o propósito de aldeá-los e catequizá-los.

Essa forte presença portuguesa resultou na ampliação do território, na fundação de núcleos, fortificações e missões ao longo dos rios Amazonas, Branco, Negro, Madeira, Tapajós e Xingu. Mais tarde, para evitar conflitos, o rei dividiu, entre as ordens religiosas a região amazônica, ficando os jesuítas com a calha sul do Amazonas e as outras congregações religiosas com a calha norte.

Muitas vezes houve interesses conflitantes entre os religiosos e os colonos, apesar de todos servirem direta ou indiretamente ao rei. Os missionários, sobretudo os jesuítas, opunham-se à escravização dos indígenas. Nessa luta, a figura que mais se destacou foi a do padre Antônio Vieira, conselheiro do rei de Portugal, D. João IV. Graças à sua posição, pôde fazer valer suas denúncias e conseguir importantes vantagens para os aldeamentos jesuíticos na Amazônia, em detrimento das outras ordens missionárias.

Os colonos de Belém e de São Luís, assim como as demais ordens religiosas, revoltaram-se e expulsaram os jesuítas em 1661. Contudo, os missionários conseguiram convencer o rei da dramática situação da colônia e fizeram com que uma nova lei fosse promulgada, numa linha de conciliação: os indígenas poderiam trabalhar para os colonos desde que recebessem um pagamento, geralmente em tecidos. Esse pagamento simbólico foi burlado e os indígenas continuaram sendo escravizados.

Em 1680, o padre Vieira recuperou sua influência política e seu prestígio junto ao rei, que tinham sido abalados com sua prisão, ordenada pela Inquisição. Dom Pedro II, o novo rei de Portugal, restabeleceu a autoridade dos jesuítas na Amazônia e decretou a liberdade dos indígenas, determinando severas punições para os que não cumprissem a lei.

Naturalmente essas medidas sofreram forte oposição na Colônia. O rei determinou então a criação da Companhia de Comércio para o Estado do Maranhão, que obteve o controle de todo o comércio da região, inclusive das mercadorias produzidas nas missões. Além disso, para resolver o problema da mão-de-obra, a companhia foi obrigada a fornecer quinhentos escravos africanos por ano, durante vinte anos.

Contudo, essa companhia monopolista realizou uma política contrária aos interesses dos colonos. Não cumpriu o contrato referente à mão-de-obra, estabeleceu preços abusivos para todos os produtos essenciais, falsificou pesos e medidas e vendeu produtos de má qualidade e em quantidade insuficientes. Em 1684, os habitantes de São Luís, liderados pelos irmãos Beckman, revoltaram-se, exigindo a revogação do monopólio e a expulsão dos jesuítas.
O novo governador mandou executar os líderes da revolta, a companhia monopolista foi extinta e os jesuítas mantiveram suas missões na Amazônia.

Apesar de terem sido várias vezes expulsos da Colônia, os jesuítas foram os únicos que conseguiram criar uma certa estrutura independente em relação à Metrópole. Com seus próprios recursos adquiriram fazendas de gado, de cana-de-açúcar, algodão, cacau e tinham parte do controle das drogas do sertão. Essa independência econômica permitiu que tivessem uma postura mais crítica em relação ao Estado português. Desafiando o poder metropolitano, acabaram sendo expulsos pelo marquês de Pombal em 1759.
 



Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000.
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