Um
amigo em cada rua
Terceira emissora de TV no Rio
de Janeiro, depois da TV Tupi, canal 6 e TV Rio, canal 13. Fruto da
perseveran�a de tr�s nordestinos: o deputado Rubens
Berardo e seus irm�os Carlos e Murilo. Com a fus�o da
ORB (Organiza��o Rubens Berardo S.A., dona das r�dios
Continental e Metropolitana) com a Companhia Cinematogrifica Flama, estava
dado o passo para a funda��o da TV Continental. A emissora se situava na
Rua das Laranjeiras, 291, onde antes funcionava a Flama.
O est�dio A era ent�o o maior do Brasil, medindo 15m x
28m e com uma piscina que lhe serviria para in�meras
situa��es c�nicas. O veterano Demerval Costalima vinha da
TV Paulista para organizar a esta��o. A Continental chegou a ser apelidada
de "Recreio dos Bandeirantes", por ter trazido para sua
equipe dezenas de profissionais de S�o Paulo. A pr�-estr�ia foi no
Maracan�, com a transmiss�o do jogo Brasil 2 x 0 Inglaterra, em 13/5/59. 0
locutor Waldir Amaral, habituado ao r�dio, foi criticado
por sua narra��o atrasada em rela��o aos lances. Tr�s das quatro c�meras
pifaram durante 20 minutos, dificultando o trabalho do diretor de corte
Ibanez Filho, que ainda assim obteve bons resultados.
O canal 9 do Rio de Janeiro entrou
no ar oficialmente as 19h do dia 30 de junho de 1959, com
a ben��o das instala��es e a presen�a de Juscelino Kubitschek na
solenidade. A partir do dia 1� de julho, teve in�cio a programa��o da
semana inaugural. "Um Amigo Em Cada Rua", slogan de
campanha do deputado Rubens Berardo, tamb�m foi o t�tulo do show de
abertura. Com texto de Telmo de Avelar, o espet�culo, que
reunia m�sicas sobre os bairros cariocas, contou com a dire��o de
Haroldo Costa - hoje famoso comentarista carnavalesco,
que por anos foi marca registrada da Manchete e hoje est� na Globo. Entre
as atra��es, a cantora Marion e o bal� aqu�tico
do Fluminense, de Elo� Dias, que se apresentou
na piscina do est�dio. No dia 2 foi encenado o teleteatro musical
"Orfeu do Carnaval", de Vin�cius de Moraes, com
Haroldo Costa e Terezinha Amayo. No dia
3, uma festa de gala e humor � "Da Pelada ao Pel�",
realiza��o de Oswaldo Waddington, com a vedete
Nancy Montez (Miss Campeonato) e craques do futebol
carioca. O cronista esportivo M�rio Filho fez uma
apari��o especial, enquanto o compositor Lamartine Babo e
Manezinho Ara�jo batiam um papo num cen�rio que
reproduzia o antigo Caf� Rio Branco, reduto de torcedores de futebol. No
s�bado, dia 4, foi apresentado o show "OVC na ORB",
produ��o da R�dio e Televis�o Paulista (Organiza��o Victor
Costa) . A revista TV Programas promoveu a
atra��o de domingo, dia 5, intitulada "Melhores Pela
Nova" � uma premia��o aos nomes de destaque da TV carioca.
Na segunda-feira, dia 6, houve o encerramento da semana inaugural:
"Esta Noite de Vit�ria" transmitiu luta livre, jud� e
boxe, direto do Maracan�zinho. Nos primeiros tempos, destacaram-se na
programa��o "Viol�o do Bonf�", com o renomado violonista,
"Festa da Mocidade", com o produtor Carlos
Peon, "Dona Jandira Para a Felicidade", um
seriado dom�stico com Nicete Bruno e "Estamos em
Casa", programa feminino com Edna Savaget e
Heleida Cas�. J� Soares teve seu
programa de entrevistas, so que com personagens fict�cios. Ainda em 1959,
a Continental seria a primeira televis�o brasileira a demonstrar o
videoteipe. No jornalismo, destacaram-se M�rio Del
Rio, o rep�rter Carlos Pallut e o locutor
Heron Domingues.
Antonino Seabra produziu alguns
dos mais importantes shows. Especializada em musicais, a emissora
lan�ou os programas "Elizeth, a Magn�fica" (com Elizeth
Cardoso), "Agostinho Espetacular" (com Agostinho dos
Santos), "Agnaldo e as Garotas" (com Agnaldo Rayol),
"M�sica de Saudade" (com Vicente Celestino),
"Cantinho da Saudade" (com Carlos
Galhardo), "Ivon Curi �
Assim" (com o pr�prio) e "Cauby Peixoto". Foi
tamb�m atrav�s da Continental que a paulista Hebe Camargo estreou na TV
carioca, com os programas "Hebe Comanda o Espet�culo" e
"O Mundo � das Mulheres". A teledramaturgia foi outro
ponto positivo do canal, que apresentava o "Teatro de
Ontem", "Teledrama Continental",
"Teleteatro das Quartas" e "Isto �
Est�ria". Integrando o elenco, Jos� Miziara, Nicete Bruno, Leonor
Bruno, Paulo Goulart, Dirceu de Matos, Walter Alves, Nestor de Montemar,
Jardel Melo, Eug�nia Levi, Francisco Milani, Joana Fomm, Terezinha Amayo,
�nio Santos, Telmo de Avelar, Riva Blanche, Miele, Paulo C�lio, Airton
Cardoso e Roberto Maya, entre outros. O locutor Waldir
Amaral narrava os jogos de futebol simultaneamente pelo r�dio e
pela TV. A menina Mari�ngela alcan�ou popularidade apresentando
"TV de Brinquedo", e a crian�ada tamb�m acompanhava as
sinistras aventuras de "O Escorpi�o", um seriado de
sucesso. Em 1960, a Continental viveu o auge de sua popularidade atrav�s
do programa "Figura de Francisco Jos�", com o cantor
portugu�s, que tornou-se l�der absoluto de audi�ncia, indo ao ar aos
s�bados a noite. O sucesso alcan�ado no primeiro ano acirrou a
concorr�ncia, mas a sa�da de Demerval Costalima para a Tupi carioca
assinalou o in�cio do declinio vertiginoso da emissora. Ligado ao antigo
PTB, Rubens Berardo n�o era visto com simpatia pelo governo militar. Ap�s
o golpe de 64, a emissora j� n�o tinha o f�lego criativo de sua estr�ia.
Nem o slogan "Fique de olho no canal 9" animou os
telespectadores. O educador Gilson Amado ainda conseguiu
conduzir por muitos anos, a partir de 1962, suas
"Mesas-Redondas" de car�ter instrutivo. Apesar da boa
cobertura esportiva, os enlatados estrangeiros passaram a predominar na
programa��o. A falta de anunciantes e investimentos culminou com um final
melanc�lico: despejada do pr�dio em maio de 1970, a TV Continental seguiu
operando de um caminh�o de externas. Em 1971, mudou-se para a Rua
Boulevard 28 de Setembro, 258, em Vila Isabel, tentando
reerguer-se com o nome de TV Guanabara. Aos trancos e
barrancos, resistiu com duas horas di�rias de programa��o, realizada pela
equipe do Instituto de Educa��o de Alfredina de Paiva e
Sousa. Teve a concess�o cassada em fevereiro de 1972. Mais tarde,
o pr�dio da esta��o daria lugar a uma concession�ria de automoveis.
|
|
Francisco Jos�, o auge da TV
Continental
"Francisco Jos� Galopim de
Carvalho nasceu em �vora, na Rua da Cal Branca, a 16 de Agosto de
1924 e at� o in�cio da d�cada de 50 j� havia conquistado todo o
Portugal com a sua arte e o seu modo apaixonado de cantar as coisas
portuguesas.
Em 1954 determinada firma resolveu trazer
para o Brasil o mais popular cantor portugu�s. N�o precisou
aprofundar muito a pesquisa: o grande nome do momento no pa�s era um
rapaz simp�tico que cantava, de forma muito pessoal tanto m�sicas
portuguesas quanto internacionais. Ele surgira artisticamente quando
participara de um programa da Emissora Nacional de Lisboa em
Homenagem ao Brasil. Cantou, ent�o, "Marina", de Caymmi, e foi
chamado umas vinte vezes ao palco. |
T�o grande fora o sucesso, tantos os contratos que
lhe foram oferecidos para cantar em r�dios, boates e casa noturnas, que
ele, ent�o aluno do �ltimo ano da Universidade de Engenharia de Lisboa,
foi obrigado a interromper seu curso. Dedicou-se de alma e corpo � sua
arte e a seu p�blico, cada vez maior. Iniciou turn�s art�sticas pela
Europa, demorando-se na It�lia, Alemanha, Fran�a, Hungria, Estados Unidos
e Espanha, sendo que neste �ltimo pa�s gravou in�meros discos. Era um
cantor moderno. Pretendia dar uma interpreta��o moderna � can��o
portuguesa - procurava ser um cantor rom�ntico atualizado, fugindo �
pieguice lacrimal ent�o vigente. "Nasceu o Frank Sinatra"- diziam juntos
cr�ticos e p�blico.
Francisco Jos� chegou ao Brasil com a flama de um
vencedor. Mas, embora agradasse aqui desde sua primeira apresenta��o,
sentiu logo que n�o lhe seria f�cil o triunfo, que teima de come�ar tudo
do princ�pio. Por mais que trilhasse resoluto o caminho do �xito, tinha a
impress�o de que seu objetivo sempre se distanciava. Apresentava-se em
r�dio, televis�o, shows, excurs�es, discos, obtinha vit�rias espor�dicas,
mas n�o conseguia vencer a batalha definitiva. Como explicar isso? S� quem
conhece por dentro o ambiente art�stico sabe que esse � um fen�meno
natural. H� mil e um obst�culos para cada carreira art�stica e, muitas
vezes, o pr�prio valor parece constituir mais um obst�culo extra para o
pr�prio sucesso do que uma alavanca decisiva para a vit�ria. Pois o m�rito
exacerba a inveja, sempre pronta a se erguer em vagas raivosas contra o
talento aut�ntico.
Cinco foram os anos de pastor vividos por Francisco
Jos�. Cinco anos de luta tit�nica - luta de vida ou morte. Poderia ter
desistido como tantos outros mas, al�m de seu valor intr�nseco, ele tinha
outro grande m�rito: a fibra. Depois que venceu, tudo ficou parecendo
f�cil. Dif�cil � imaginar como a vit�ria se fez tanto de rogada a um jovem
de sua voz e sua personalidade.
Foi, afinal, cantando na TV Continental, se
apresentando depois na TV Tupi e na TV Rio, e gravando na Phillips, que
Francisco Jos� encontrou seu p�blico. Seu programa no antigo canal 9, bem
lan�ado, abriu-lhe o caminho definitivo da popularidade. E quando a
Phillips lan�ou o LP "A Figura de Francisco Jos�" parece que o p�blico do
Brasil inteiro se levantou para aplaudi-lo. Em poucos dias, no Rio de
Janeiro, liderava absoluto as paradas de sucesso.
"Chico Z�", como era conhecido entre os mais
�ntimos, seguiu a partir de ent�o trilhando a sua longa e bem sucedida
carreira, casou-se tarde, aos 41 anos, e teve duas filhas, Ad�lia e
Alexandra. Aos poucos, ia deixando de ser apenas um cantor de sucesso para
transformar-se em mito. E foi esse mito que ficou para a posteridade desde
sua morte em 31 de Julho de 1988, aos 63 anos."
(Instituto Cam�es, Lisboa -
Portugal - artigo "Cora��o Que Canta", 22 de agosto de
1998)
O
Futuro
Em 7/7/1977 a Rede Bandeirantes funda
seu canal 7 do Rio de Janeiro e reaproveita o �ltimo nome
da TV Continental, sendo at� hoje TV Guanabara. Muitos
acharam ser a volta da TV Continental, mas na verdade era apenas a
utiliza��o do nome, sem outras raz�es pela escolha. O que pertencia a
Continental, o canal 9, hoje � ocupado pela rede CNT
(Central Nacional de Televis�o), sob o nome de TV
Corcovado.
|