Capítulo 1

Você vai conhecer agora, uma ilha urbana próximo do estado de São Paulo, onde vivem muitos pescadores, mas também muita gente rica que se refugia do grande movimento da cidade grande. Nesta ilha chamada de "Katrina", há todo o tipo de gente que você possa imaginar. Mas a ambição, a inveja, o ódio imperam nesse lugar em que todos os habitantes mantém um código entre eles. Segredos são bem guardados e todos sabem da vida de todos. A família mais tradicional da ilha são os Liberatos. Na casa deles, vivem a mulher, Marta Liberato e o marido Jonas Liberato. O casal tem uma filha, Beatriz Liberato que, por trabalhar na capital, volta para casa somente aos fins de semana. Jonas é dono de um dos maiores armazéns do litoral, além de possuir uma empresa de construção na cidade. Na ilha, a inveja para cima do grande empresário é grande. Seu casamento com Marta não anda bem. Ambos estão sempre discutindo por desentendimentos mínimos quando se falam, pois um não suporta mais o outro. Certa época, a ilha foi invadida por uma grande friagem. O céu sempre nublado e o vento frio espantavam os poucos moradores de Katrina que se escondiam em suas casas. Certa noite, Jonas chega em casa e encontra sua esposa sentada no sofá, vestindo uma blusa grossa de lã e com uma xícara de chá na mão. O empresário joga a pasta em cima da poltrona.

Jonas: Já disse para não ficar me esperando.

Marta: Não faço questão de ficar lhe esperando, meu querido. Não posso tomar uma xícara de chá em minha própria sala?

Jonas: Própria?... Sei. Marta se levanta.

Marta: Mas hoje estou lhe esperando sim... Queria conversar com você.

Jonas: Conversar o quê? Não tenho nada para falar com você!

Marta: Não seja tão agressivo.. Isso vai acabar te matando.

Jonas: Você iria adorar, não?

Jonas vai até o bar e prepara para si mesmo uma dose de uísque.

Marta: Claro que sim... Você sabe muito bem disso!

Jonas: Fale logo o que você quer.

Jonas tira os sapatos se senta em sua confortável poltrona e estica suas pernas sobre a mesinha de centro. Marta se senta na outra poltrona.

Marta: Estou cansada de viver desse jeito. Não saio dessa ilha, dessa casa há tempos. Todos os dias olho para essas mesmas caras de pescadores com seus cheiros insuportáveis de peixe.

Jonas: O que você queria? Eles trabalham com peixe e você quer que eles saiam cheirando alfazema?

Marta: Eu quero sair desse lugar.

Jonas tira o copo da boca e olha espantado para sua esposa.

Jonas: Mas o que você está me dizendo? E quando decidiu isso? Por que já não saiu?

Marta: E você pensa que vou sair assim? Sem nada?

Jonas: E por que não?

Marta: Depois de vinte anos de casamento, meu querido, eu não vou sair daqui sem levar uma parte de sua fortuna.

Jonas: A velha conversa...

Jonas se levanta com seu copo e vai até o aparelho de som e o liga numa ópera. Marta se irrita e desliga o som.

Marta: Eu estou falando com você! Dá para você me ouvir?

Jonas: Marta, você já me falou isso várias vezes... Não se cansou de ouvir que não vou dar parte nenhuma da minha, como você diz, "fortuna".

Marta: Eu não quero ter que entrar na justiça.

Jonas: Claro que não... sabe que vai perder...

Marta: Não sei como não te matei ainda, sabia?

Jonas fica nervoso e lança o copo contra a parede. Ele se aproxima de Marta e a encara olho no olho.

Jonas: E por que não mata? Vai me mata! O que falta para isso? Coragem?!

Marta começa a chorar e corre para o quarto.

Na cozinha estão as empregadas da casa, Neide e Carla. A primeira é a mais nova, havia sido contratada há pouco tempo. Carla já é, praticamente, a governanta da casa.

Neide: Nossa... É sempre assim?

Carla: Ih, minha filha, você ainda não viu nada. Hoje ainda foi mais tranqüilo. Tudo se acalma quando a filha deles vem para cá.

Neide: Dona Beatriz parece mesmo ser uma pessoa muito sensata.

Carla: Ela é... Sempre foi uma boa menina. Ainda bem que não aprendeu nada com as discussões desses dois.

Neide: O que é que ela faz mesmo na capital?

Carla: Acho que trabalha com propagando, não sei bem... Não entendo muito dessas coisas. Ela teve uma grande chance saindo dessa ilha podre!

Neide: Por que fala assim de Katrina?

Carla: Você é muito nova e ingênua, minha filha. Um dia você vai ver a podridão que se esconde em cada um dessa ilha. As vezes penso que isso aqui tudo, foi criação do demônio.

Neide: Credo, dona Carla! Vira essa boca pra lá! Carla: Um dia você vai entender.

Carla começa a lavar os pratos.

Neide: Um dia eu vou sair daqui... Quero ser uma grande modelo.

Carla: Ai, meu Deus! Mais uma que quer ser modelo. Você sabe como é a vida dessas meninas?

Neide: Sei...cheio de glamour, fotos, dinheiro, homens...

Carla: Você acha que é assim? Espero que não sonhe muito alto para não levar uma grande queda.

Neide: Mas o que você está falando? Já foi modelo por acaso?

Carla: Claro que não, não é menina?! É que eu leio muitos jornais e revistas sobre modelos e atrizes e sei como é esse mundo.

Neide: Mas você sabe que essas revistas e jornais inventam um bocado desse mundo, não é?

Carla: Sim, eu sei... Mas muito do que se diz é verdade. Vamos mudar de assunto que isso me deixa irritada.

Neide: Tudo bem... tudo bem... Vamos trabalhar que a gente ganha mais.

Marta está em seu quarto, revoltada e com a respiração ofegante. Nervosa, ela derruba todas as coisas de cima da cômoda.

Marta: Idiota! Crápula! Você vai ver só uma coisa!

Numa outra casa, próxima da casa dos Liberato, vive a família Lourenço. Uma família completamente diferente da família Liberato. Uma família, aparentemente sem intrigas. Fernando está deitado na cama com sua esposa, Laura.

Laura: Como foi seu trabalho hoje?

Fernando: Correu tudo bem. E por aqui?

Laura: Tudo tranqüilo.

Fernando: E nosso filho?

Laura: Edgar passou o dia fora. Chegou há pouco. Hoje ele estava estranho, deve ter brigado com a namorada.

Fernando: Ele está namorando?

Laura: Parece que sim. Ele sai sempre dizendo que vai se encontrar com uma tal de Marisa, conhece?

Fernando: Não conheço. É filha de quem?

Laura: Não sei. Nunca ouvi falar.

No quarto de Edgar, um garoto de dezenove anos, um aparelho de som toca um rock pesado. O garoto esconde um pacote entre suas camisas dentro de sua gaveta.

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