Capítulo 22
Neide está na lavanderia da casa. Ela retira algumas peças de roupas da máquina e as coloca em um grande cesto de palha. A emprega levanta o cesto e o leva até o quintal onde começa a pendurar suas peças. Ao pendurar um lençol, Neide vê, na praia, Beatriz gesticulando com Marcelo. Ele também gesticula, como se estivessem brigando.
Neide: Dona Beatriz está brincando com fogo... Agora é ele quem vai tirar satisfações com ela... Eu vou avisar dona Marta.
Marta está na sala lendo o jornal e se assusta com a entrada desesperada de Neide.
Neide: Dona Marta! Dona Marta! Dona Beatriz está brigando com seu Marcelo lá na praia.
Marta ( se levantando e correndo ): Eu não acredito!
Marta corre até a praia. Ela vê, de longe, Beatriz e Marcelo gesticulando. Ela se aproxima.
Marta: Marcelo!
Eles se assustam com a chegada de Marta.
Marta ( chegando mais próximo ): Marcelo, por favor! Não precisa brigar com Beatriz. Com ela eu me entendo.
Marcelo ( com olhar de fúria para Beatriz ): Ela precisava ouvir umas verdades.
Beatriz ( para Marta ): Cuidado, mamãe! Não vai ficar grávida. Não se esqueça que já está velha demais para isso!
Beatriz sai pisando firme. Marta tenta ir atrás dela, mas Marcelo a segura.
Marta: Menina insolente! Eu não acredito no que ouvi!
Beatriz entra em casa furiosa. Neide e Carla se entreolham.
Neide: Agora o circo vai pegar fogo!
Carla: Cala essa boca, menina!
Beatriz passa pela sala e ao abrir a porta para sair, se surpreende com Tiago que estava para bater na porta.
Beatriz ( surpreendida ): Detetive?
Tiago: Dona Beatriz. Tudo bem?
Beatriz: Acho que o senhor não chegou em boa hora.
Tiago: Se preferir posso voltar mais tarde.
Beatriz: Por favor.
Beatriz fecha a porta. Ela se senta no chão e respira ofegante.
Lá fora, Tiago entra em seu carro, o Vectra preto.
Tiago: Não costumo fazer isso, mas eu sei que não vão tentar fugir.
Tiago resolve ir até o bar onde Jonas costumava ir. Ele encontra o barman, o mesmo que atendeu o empresário na noite de sua morte.
Tiago: Bom dia, amigo!
Barman: Bom dia!
Tiago: Começa cedo, não?
Barman: Sempre tem os bêbados da manhã. Sempre garantem uma graninha extra.
Tiago: Qual seu nome?
Barman: André.
Tiago tira uma caderneta do bolso e começa a anotar.
Tiago: Conhecia Jonas Liberato?
André: Sim... Era freqüentador assíduo daqui. Toda sexta-feira, após o expediente, ele vinha para cá ou sozinho ou com um amigo. Soube do que aconteceu com ele. Aquele dia eu percebi que ele não estava bem para dirigir.
Tiago: Então você se lembra daquele dia?
André: Sim... Me lembro. Ele chegou, pendurou colocou o paletó em cima do banco...
Um clarão. Vemos a cena do dia em que Jonas chegou ao bar. O empresário chega, e coloca o paletó em cima do banco ao seu lado. Se celular toca.
Jonas: Alô? ( pausa ) Oi, Fernando! O que houve? ( pausa ) Tudo bem... Eu fico por aqui sozinho mesmo. Preciso esquecer que aquela mulher está lá e que vou ter que passar o fim de semana inteiro com ela.( pausa ) Sem problemas, amigo. A gente marca alguma coisa. ( pausa ).
Jonas começa a beber e pede alguns petiscos. Ele se levanta, pega um taco de bilhar e começa a jogar sozinho.
Um novo clarão e voltamos para Tiago e André.
André: Ele ficou um bom tempo jogando e bebendo sozinho. Depois, sem dizer nada, ele encostou o taco, pegou o paletó e me pagou. Perguntei se ele estava bem para dirigir, mas ele disse que estava ótimo. Ouvi o carro saindo cantando pneu.
Tiago: Não tinha mesmo ninguém com ele?
André: Não, ninguém. Como eu disse, o amigo dele que vinha acabou dando o cano.
Tiago: Fernando, não é?
André: Se não me falha a memória.
Tiago: Seria voluntário para um depoimento formal na delegacia?
André: Claro. Sem problema algum.