Capítulo 3

Edgar disfarça e vai para o outro lado da balsa. Ele se vira e observa a paisagem do mar aberto, mas mantém os olhos em seu pai que conversa com Jonas.

Fernando: Estou preocupado com meu filho!

Jonas: Por que? Qual o problema com Edgar.

Fernando: Ele não se interessa por um faculdade. Não quer saber de fazer nada. Não quero que ele fique naquela ilha para o resto da vida dele.

Jonas: Bom... Eu tive sorte. Consegui com que Beatriz fizesse a faculdade e, hoje, ela está bem vivendo em São Paulo.

Fernando: Você tem orgulho dela, não?

Jonas: Foi a única coisa que esse casamento me trouxe de bom.

Fernando: Não fale assim... Já que quer se livrar da sua esposa por que não dá logo uma grana para ela assim você nunca mais vai Ter brigas.

Jonas: De jeito nenhum. Sei ser paciente. Ela vai se cansar um dia e vai sair daquela casa. No meu dinheiro ela não põe a mão!

Eles ficam em silêncio por um instante.

Fernando: Esse tempo é maluco, não? Estamos no litoral e estamos passando por um frio pior do que do sul.

Jonas: É... Talvez seja um sinal.

Fernando: Sinal?

Jonas: Deixa pra lá!

Jonas se vira e vê Edgar olhando para o mar.

Jonas: Fernando, aquele não é seu filho?

Fernando se vira e olha com atenção.

Fernando: Sim... é ele. O que ele vai fazer no continente essa hora?

Fernando vai até seu filho que se assusta quando seu pai põe a mão em seus ombros.

Edgar ( assustado ): Pai?! Você não foi na primeira balsa?

Fernando: Atrasou. O que você está fazendo aqui? O que vai fazer no continente?

Edgar: Vou... vou ver uns amigos.

Fernando: Amigos? Essa hora da manhã?

Edgar: Vou pegar alguns livros...

Fernando: Livros? Que história é essa? Você nunca gostou de ler, terminou o colegial obrigado e não se interessa por uma faculdade.

Edgar: Ah, pai! Me deixa!

Edgar sai para a polpa da balsa. Minutos depois, a balsa chega ao continente. Edgar sai correndo para não se encontrar com seu pai novamente. O rapaz anda pela cidade de Santos em passos acelerados. Momentos depois, ele chega à uma favela. Ele vai até um barraco. Um rapaz, mal encarado o atende. É Leco, o traficante.

Leco: E aí, cara? Trouxe a grana?

Edgar: Sim... eu trouxe.... Estou precisando de mais, você tem?

Leco: Tenho sim. Você está se saindo bem. Passa a grana.

Edgar tira o dinheiro do bolso e entrega para o traficante.

Leco: Espera um pouco.

Leco entra e, pouco tempo depois, sai com mais um pacote de maconha.

Leco: Aqui está. Quero a grana amanhã, falou? Nessa ilha parece que a galera gosta de fumar umas ervas, não?

Edgar: Pois é... Preciso ir agora. Amanhã volto aqui sem falta.

Em São Paulo, Beatriz está em seu escritório no telefone.

Beatriz: Como foi de viagem?( pausa ) Ótimo, mas já estou morrendo de saudades. ( pausa ) Logo a gente vai se encontrar ( pausa ).

A secretária, Adriana, entra na sala.

Beatriz: Preciso desligar agora, hoje a noite estarei indo para Katrina. ( pausa ) Beijo.

Adriana: Dona Beatriz, sua mãe está no telefone.

Beatriz: Obrigada.

Beatriz espera a saída de Adriana da sala.

Beatriz: Mãe? Tudo bem?

Marta: Tudo péssimo, minha filha. Você sabe. As discussões com seu pai estão cada vez mais freqüentes. Não estou suportando mais.

Beatriz: Mãe vocês têm que resolver isso logo. Por que você não vai para a casa da vovó, deixa o papai. A vovó ainda tem uma boa parte da herança do vovô. Você vai viver bem...

Marta: De jeito nenhum! Não vou sair daqui e deixar seu pai com toda essa fortuna só para ele. Se ele pensa que vai me vencer pelo cansaço, ele está muito enganado. Eu acabo com ele antes.

Beatriz: Mãe, não vai fazer nenhuma besteira, hein?

Marta: Eu já estou ficando louca, Beatriz. As vezes penso em algumas coisas...

Beatriz: Que tipo de coisas?

Marta: Nada não... Besteiras. Mas, as vezes, tenho vontade de matar seu pai!

Beatriz: Mãe?!

Marta: Calma, minha filha. Você sabe que não tenho capacidade nem de matar uma barata. Mas vou resistir.... Não vou deixar seu pai vencer essa batalha.

Beatriz: Hoje a noite estou indo para Katrina. Devo chegar aí por volta das dez da noite. Vamos ter uma conversa séria... Papai, você e eu.

Marta: Não sei se vai adiantar... Seu pai está irredutível.

Hosted by www.Geocities.ws

1