Getúlio
Vargas dominou a cena política brasileira entre 1930 e o fatídico
23 de agosto de 1954. O ex-presidente João Goulart e o atuante líder
político Leonel Brizola fazem parte das turmas formadas nas barrancas
do missioneiro-fronteiro rio Itu.
A estância Santa Tereza de Tyrteu Rocha Vianna era próxima
a Estância do Itu de Vargas e São Francisco era tão
distante da propriedade rural quanto à cidade de São Borja.
João
Belchior Marques Goulart (1918-1976) era filho de estancieiros de São
Borja, vizinhos dos Vargas. Nos dias de exílio de Getúlio
em Itu, o jovem Jango aproximou-se do Velho como amigo, para "ouvir e contar
estórias". Por este caminho da fidelidade pessoal, Jango chegou
ao trabalhismo, da qual foi o principal líder depois de agosto de
1954. No Itu, conversava com Getúlio nos dias de solidão
e relacionava-se com as principais lideranças do país nos
dias de romaria dos políticos em busca de apoio. O próprio
Jango tornou-se um deles e, em 1947, elegeu-se deputado constituinte estadual,
com 4.150 votos. Jango só ganhou renome nacional em 1953, quando
foi Ministro do Trabalho de Getúlio, que guardara dos tempos de
Itu não só a gratidão pela amizade surgida nos seus
dias de dificuldades, mas também um respeito por uma inteligência
flexível, apta a encontrar ponto de conciliação entre
opiniões divergentes. Virtude esta similar à que admirava
no alegretense Oswaldo Aranha.
Leonel
de Moura Brizola, nasceu em 1922, foi engraxate e carregador de malas na
estação ferroviária de Carazinho, RS. Aderindo ao
trabalhismo, já estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, visitou Getúlio Vargas no Itu, onde conheceu
Jango e sua irmã Neuza, com que se casaria em 1947, quando já
era deputado estadual eleito com 3.839 votos."
Fonte: História Ilustrada do Rio Grande do Sul, Ed. Já Porto Alegre, 1998.
João
Belchior Marques Goulart
Nascido
a 1º de março de 1918 - viveu até os dez anos
no campo. Exímio cavaleiro, calculava o número de reses do
rebanho à distância e adorava banhar-se no rio Uruguai.
Oswaldo
Aranha
Nascido no Alegrete (RS), a 15 de fevereiro de 1894, Oswaldo Euclydes de
Souza Aranha entrou para a História como o presidente da Assembléia
Geral da ONU que deliberou pela criação do estado de Israel,
em 1947. Criado na Fazenda do Alto Uruguai, em Itaqui, aos 13 anos, ingressou
no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Na antiga capital federal,
formou-se em Direito, em 1916. Durante seis meses, estudou Direito Internacional
na Universidade de Sorbonne, em Paris. Em 1923, tinha uma banca de advocacia
em Itaqui quando resolveu pegar em armas para defender o governo do caudilho
Borges de Medeiros, presidente do Estado. Ferido numa perna, foi transportado
numa carreta sob ameaça de gangrena até um hospital.
Istoé Edição 1574. Encarte, O Brasileiro do Século, Especial 11 Líderes e Estadistas.
Getúlio
Dornelles Vargas
Getúlio
Dornelles Vargas nasceu no município gaúcho de São
Borja, a 19 de abril de 1882 e foi batizado a 29 do mês seguinte.
Era filho de Manuel do Nascimento Vargas e de Cândida Dornelles Vargas.
Faleceu a 24 de agosto de 1954 na cidade do Rio de Janeiro. Eleito acadêmico
em 7 de agosto de 1941 e empossado em 29 de dezembro de 1943.
Os primeiros
estudos do futuro Presidente da República foram feitos em sua terra
natal mas, em 1897. Já concluído o curso primário,
juntou-se, na capital de Minas Gerais, ainda a cidade de Ouro Preto, aos
irmãos Viriato e Protásio, que aí residiam.
Um conflito
entre estudantes determinou o regresso dos irmãos Vargas ao Rio
Grande do Sul. Decidido a abraçar a carreira das armas, Getúlio
sentou praça no 6º Batalhão de Infantaria, aquartelado
em São Borja. Mais tarde matriculou-se na Escola Preparatória
e de Tática, sediada na histórica cidade de Rio Pardo, de
onde saiu para fazer parte do 25º Batalhão de Infantaria, na
capital do Estado.
Em 1903,
quando freqüentava como ouvinte a Faculdade de Direito de Porto Alegre,
o batalhão em que servia foi designado para transferir-se para a
cidade de Corumbá, em Mato Grosso, a fim de guarnecer a fronteira
com a Bolívia. Terminada a missão o referido batalhão
regressou a Porto Alegre e Getúlio, que atingira o posto de sargento,
desistiu da carreira militar.
De 1903
a 1907, matriculado na Faculdade de Direito, coube-lhe a incumbência
de proferir a saudação, em nome dos colegas, ao candidato
à presidência da República Dr. Afonso Penna, que, em
1906, visitou o grande Estado sulino. No seu discurso notava-se a influência
estilística de Euclides da Cunha. No ato de formatura, no ano seguinte,
foi o orador da turma.
De 1909
a 1913 cumpriu o mandato de deputado estadual, cargo que voltaria a exercer
de 1917 a 1923. Neste último ano, eleito deputado federal, exerceu
as funções de líder da bancada gaúcha. Conservou-se
na Câmara dos Deputados até novembro de 1926 quando, atendendo
a convite do Presidente Washington Luís Pereira de Sousa, foi nomeado
Ministro da Fazenda, cargo que deixou um ano depois para candidatar-se
ao governo do Rio Grande do Sul. Facilmente eleito, tomou posse a 25 de
janeiro de 1928. Em 1929 era escolhido pelos dirigentes da Aliança
Liberal para disputar contra Júlio Prestes - presidente de São
Paulo - a presidência da República.
Inconformados
com os resultados do pleito eleitoral, realizado a 1º de março
de 1930, os aliancistas começaram a conspirar no sentido de promover
a deposição de Washington Luís, fato que ocorreu a
24 de outubro de 1930 do referido ano. Instituiu-se uma Junta Governativa
que, a 3 do mês seguinte, entregou a Getúlio Vargas a chefia
do Governo Provisório, que se estenderia até a promulgação
da nova Constituição da República, em 16 de julho
de 1934.
Em 10 de
novembro de 1937 foi dissolvido o Congresso Nacional e tem início
o período intitulado Estado Novo, com a outorga de uma Carta Constitucional
que vigoraria até a deposição de Getúlio Vargas,
em 29 de outubro de 1945.
Em 1941
um grupo de acadêmicos patrocinou a admissão de Getúlio
Vargas na Academia Brasileira de Letras. A eleição foi tranqüila
mas o eleito só tomou posse, recebido pelo ministro Ataulfo de Paiva,
em 29 de dezembro de 1943.
A obra
literária do presidente compreendia apenas alguns discursos de natureza
política em sua maior parte, que vieram a ser reunidos, muitos sem
autoria definida, em "A Nova Política do Brasil".
No seu
discurso de posse na Academia Brasileira, Getúlio Vargas confessou
honestamente suas limitações no campo de literatura:
"A atividade
intelectual é para mim uma imposição da vida política,
que exige de quem a ela se consagra a obrigação de comunicar-se
com o público com precisão e clareza, explicando idéias
e problemas de governo, esforçando-se para fazer-se ouvir e compreender.
Não
sou e nunca pretendi ser um escritor de ofício, um cultor das belas-letras,
embora me tenha habituado desde moço à amável convivência
de poetas e romancistas, como leitor e admirador comovido de suas obras".
Eleito
presidente da República em 3 de outubro de 1950, voltou Getúlio
Vargas a governar o país até o dia 24 de agosto de 1954,
quando, diante da forte crise política reinante em todo o país,
o presidente suicidou-se no Palácio do Catete com um tiro de revólver
no coração. Sua vaga na Academia Brasileira de Letras viria
a ser ocupada pelo jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira
de Melo.
www.academia.org.br
Patrimônio é negligenciado pelos gaúchos
Conservação de acervos de presidentes depende mais de familiares e amigos do que de seus municípios de origem
Os gaúchos
tratam com descaso a memória dos seis presidentes da República
nascidos em solo rio-grandense.
Os acervos
de Hermes da Fonseca, Getúlio Vargas, João Goulart, Arthur
da Costa e Silva, Emílio Garastazu Médici e Ernesto Geisel
estão divididos entre museus, galpões e arquivos familiares
e nem sempre recebem os cuidados merecidos.
Algumas
coleções estão entregues à poeira, às
traças e às teias de aranha, como a de Jango, em São
Borja. Outras, como a de Hermes, em São Gabriel, correm o risco
de desaparecer por completo.
A casa
onde Hermes da Fonseca nasceu, no centro de São Gabriel, será
levada a leilão em março pela segunda vez em quatro meses.
Na cidade não há resquícios de pertences ou documentos
do ex-presidente, o primeiro gaúcho a chegar ao mais alto posto
da República. A população parece indiferente à
importância do marechal, que deixou São Gabriel nos anos 60
do século 19, aos nove anos, ao se mudar com a família para
o Rio.
Em São
Borja, o acervo pertencente a Jango está se deteriorando no Museu
da Estância. Só estão bem conservados os documentos,
pertences e fotos guardados por amigos e familiares. A situação
do patrimônio de Getúlio Vargas, que governou o Brasil de
1930 a 1945 e de 1951 a 1954, é menos precária, mas o modesto
museu fundado por um de seus filhos, Luthero Vargas, fica aquém
de sua importância histórica.
Para fazer
jus à figura dos presidentes e de outros gaúchos que contribuíram
com a história do poder nacional, o Museu Júlio de Castilhos,
em Porto Alegre, está organizando uma exposição que
homenageará os nascidos no Rio Grande do Sul que se destacaram na
República.
A mostra,
segundo a técnica em assuntos culturais Léa Neves, ainda
está em fase de formatação, mas deve estar pronta
para receber o público em março.
Estamos
fazendo contato com as famílias e os museus do Interior para obter
objetos e documentos. Não há acervo significativo dos ex-presidentes
nos museus da Capital informa Léa.
Entre os
itens já obtidos pelo Júlio de Castilhos, estão o
bastão de comando de Médici e um chapéu e uma rede
de dormir pertencentes a Vargas. Há peças dos ex-presidente
em outros Estados do Brasil, principalmento no Rio.
Hermes da Fonseca
Mandato: 15/11/1910 a 15/11/1914
Nascimento: São Gabriel, em 12/5/1855
Morte: Petrópolis (RJ), em 9/9/1923
Profissão: militar (marechal)
Idade ao tomar posse: 55 anos
NEREIDA GRABAUSKA
Casa de Hermes da Fonseca será leiloada
A casa onde nasceu o primeiro gaúcho a presidir o Brasil, marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (1910-1914), será leiloada em março.
O prédio,
erguido no início do século 19 no centro de São Gabriel,
já havia sido levado a venda pública pela Justiça
do Trabalho dia 12 de dezembro do ano passado, mas não apareceram
interessados na compra.
O imóvel,
avaliado em R$ 130 mil, pertence à Cooperativa de Crédito
de São Gabriel (Copex), formada por militares, que faliu na metade
dos anos 90. Em maio de 1996, 11 reclamatórias trabalhistas de ex-funcionários
da Copex ingressaram na Justiça para receber uma dívida de
R$ 100 mil.
A casa
em que veio ao mundo o oitavo presidente da República era o único
bem disponível para saldar o débito. Acabou penhorada. Ao
lado de outras construções antigas na mesma quadra, é
a única que padece com o abandono.
São
Gabriel, cidade conhecida como Terra dos Marechais, pouco sabe sobre o
filho que alcançou por eleições diretas, em 1910,
a Presidência. No Museu Municipal João Pedro Nunes não
há sequer um botão da farda do marechal Hermes da Fonseca.
As únicas referências ao gabrielense ilustre são reportagens
de jornais da época em que o militar exercia a presidência.
No município, apenas uma escola leva o seu nome.
O prédio
já sofreu reformas na fachada e, no interior, não há
nada do mobiliário original. Hoje, o salão principal do prédio
abriga obsoletas máquinas de escrever abandonadas sobre os móveis
empoeirados.
Segundo
o diretor da Vara do Trabalho de São Gabriel, Valério Teixeira
Torres, a Justiça cogitou alugar o imóvel, mas desistiu da
possibilidade quando começaram a entrar as ações trabalhistas
contra a Copex.
O procurador
jurídico do município, Clóvis Saccol dos Santos, lembra
que, na legislatura passada, foi apresentado um projeto de lei na Câmara
de Vereadores propondo o tombamento da casa. Como o imóvel já
estava penhorado, a proposta foi rejeitada pelo Legislativo.
A Biografia
Hermes
Rodrigues da Fonseca nasceu na então vila de São Gabriel,
no dia 12 de maio de 1855.
Era filho
do capitão e depois marechal Hermes Ernesto da Fonseca e de Ritta
Rodrigues Barbosa e sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, proclamador
da República.
Viveu
em São Gabriel até os nove anos.
Seu pai
era capitão engenheiro do 1º Regimento de Artilharia a Cavalo
de São Gabriel.
Com o
início da Guerra do Paraguai, o capitão Hermes Ernesto da
Fonseca foi convocado para atuar nos campos de batalha do Uruguai e do
Paraguai, o que levou a família a se transferir para o Rio.
Na capital
do Império, concluiu em 1871 o curso de Bacharel em Ciências
e Letras e, cinco anos depois, ingressou como cadete-aluno no Curso de
Artilharia na Escola Militar da Corte.
Em 17
de janeiro de 1878 se casou com a prima Orsina Francioni da Fonseca.
Foi nomeado
marechal no final do governo do presidente Francisco de Paula Rodrigues
Alves.
Em 1906,
no governo do presidente Afonso Augusto Moreira Pena, assumiu como ministro
da Guerra.
No dia
4 de janeiro de 1908, é sancionada a lei formulada por Hermes da
Fonseca, instituindo o Serviço Militar Obrigatório.
Dia 1º
de março de 1910, venceu as eleições presidenciais,
derrotando o baiano Rui Barbosa, seu mais ferrenho opositor, assumindo
o cargo no dia 15 de novembro do mesmo ano.
Sua mulher
morreu no dia 30 de novembro de 1912.
Pouco
mais de um ano depois casou-se com Nair de Teffé, filha do Barão
de Teffé.
Em 15
de novembro de 1914 entregou o cargo ao sucessor, Wenceslau Braz, e, em
seguida, embarcou com a mulher para a Suíça, onde viveriam
por seis anos.
Presidente
do Clube Militar, foi preso em 1922 após a revolta de 5 de julho,
com o movimento dos 18 do Forte Copacabana.
Foi solto
em 1921 e morreu em Petrópolis, no dia 9 de setembro de 1923.
Fonte:
Terra dos Marechais, de Osório Figueiredo
Memória
Presidente não criou raízes em sua terra
Historiador afirma que Hermes jamais auxiliou município natal
O historiador Osório Santana Figueiredo, que em novembro de 2000
lançou o livro Terra dos Marechais, afirma que o desconhecimento
sobre Hermes da Fonseca em São Gabriel se deve a uma indiferença
mútua.
Apesar de ter nascido na cidade, no dia 12 de maio de 1855, o menino Hermes
mudou-se com a família para o Rio de Janeiro aos nove anos. Para
Figueiredo, ele não teve tempo de criar raízes.
O marechal voltaria à terra natal somente quando estava em campanha
eleitoral para a Presidência, em 1909, numa rápida passagem.
Conforme o historiador, não há registros de que tenha jamais
se referido a São Gabriel ou ajudado o município em algum
pleito.
A população sabe que o marechal é filho da terra
e sabe onde é a casa em que ele nasceu. Nada mais lamenta Figueiredo.
Em seu livro, o historiador considera o marechal um precursor do trabalhismo
no Brasil, como responsável pela construção de vilas
operárias e incentivador da organização dos trabalhadores
em sindicatos.
Nem por isso a passagem do marechal pela Presidência foi tranqüila.
Além das crises econômicas causadas pelas baixas dos preços
dos produtos nacionais, enfrentou motins como a Revolta da Chibata e a
Revolta do Contestado, na fronteira entre Santa Catarina e Paraná.
Caio Cigana
São Gabriel
Prefeitura diz que memorial não é prioridade
Poeira, traças e teias de aranha ameaçam preservação de objetos pessoais de João Goulart em museu de São Borja
Uma cadeira que pertenceu ao ex-presidente João Belchior Marques
Goulart morto no dia 6 de dezembro de 1976, no exílio, em Mercedes,
Argentina revela a negligência com que a memória dos filhos
ilustres de São Borja vem sendo tratada.
A cadeira, exposta no Museu da Estância, galpão de propriedade
do grupo amador de arte Os Angüeras, está coberta por poeira
e teias de aranha.
Os funcionários da prefeitura de São Borja, que deveriam
manter a limpeza do local e receber turistas, deixaram de fazer o trabalho
há três meses.
A administração que se iniciou no dia 1º de janeiro
deste ano ainda não definiu quem retomará as tarefas de conservação
do galpão.
O memorial é uma obra importante para o turismo do município,
e meu desejo é desenvolver o turismo. Mas de onde vou tirar os recursos
nessa situação caótica em que assumi? diz o prefeito
Juca Alvarez (PPB), que cumpre o segundo mandato na prefeitura.
A criação de um memorial para preservar o legado de Getúlio
Vargas e João Goulart não está na lista de prioridades
do prefeito.
Os raros investimentos nos museus do município são modestos.
O diretor do Departamento de Atividades Culturais de São Borja (CAD),
Rodrigo Bauer, reconhece que os recursos são quase inexistentes.
Ele explica que a pouca verba é destinada à manutenção
dos prédios. Quase nada é reservado para o aumento do acervo.
Não temos recursos para ampliar o acervo e a ordem é segurar
despesas diz Bauer.
Orgulho local pelos presidentes não tem contrapartida prática
Alguns são-borjenses vêem um paradoxo na relação
entre a terra e seus dois filhos diletos. Quando o tema é a preservação
da memória de Jango e Getúlio, sobram discursos inflamados
sobre a herança política dos dois líderes do trabalhismo
que influenciaram os rumos do Brasil. O município se auto-intitula
Terra dos Presidentes. No terreno prático, porém, faltam
iniciativas para manter os objetos que ajudam a narrar a história
dos dois.
Os verdadeiros getulistas não existem mais e, em São Borja,
existe mais gente contra Jango e Getúlio do que se imagina. Eles
não querem manter a memória de quem já morreu opina
o ex-adido comercial brasileiro em Buenos Aires Luthero Fagundes.
João Goulart
Nascimento: São Borja (RS), em 1/3/1918
Morte: Mercedes, província de Corrientes, Argentina, em 6/12/1976
Profissão: Advogado
Período de governo na fase parlamentarista: 8/9/1961 a 24/1/1963
Idade ao assumir: 43 anos
Posse: em 8/9/1961, em sessão conjunta do Congresso Nacional, presidida
pelo senador Auro Moura Andrade, tomou efetivamente posse na Presidência
da República, depois da renúncia do presidente Jânio
Quadros. Na mesma sessão, tomou posse o primeiro gabinete parlamentarista
presidido por Tancredo Neves
Afastamento: de 2/04/1962 a 11/4/1962, por motivo de viagem, período
em que o presidente da Câmara dos Deputados exerceu a Presidência.
Ao retornar ao país, assumiu a Presidência da República
com seus poderes limitados
Período de governo na fase presidencialista: 24/1/1963 a 31/3/1964
Idade ao assumir: 45 anos
Início: não há registro no livro de posse, pois João
Goulart já era presidente desde 1961
Afastamento: no dia 31 de março de 1964, um golpe militar depôs
Jango, que deixou o país rumo ao exílio no Uruguai. No dia
2 de abril de 1964, o Congresso Nacional declarou vaga a Presidência
da República. Jango foi o único presidente brasileiro a morrer
no exílio.
Amigo de Jango guarda preciosidades
A inexistência de um museu para abrigar o patrimônio do ex-presidente
João Goulart, em São Borja, fez com que o legado do ex-presidente
brasileiro se espalhasse pelo município.
Na casa do aposentado Deoclécio Barros Motta, 78 anos, amigo pessoal
de João Goulart, duas preciosidades são preservadas com cuidado:
uma bomba de chimarrão, em ouro e prata, com as iniciais do nome
do ex-presidente, e a linha telefônica do líder político.
A bomba de chimarrão foi um presente de Jango. Ele achava que
a bomba era cheia de frescura e não gostava conta.
A linha telefônica ainda em nome de João Belchior Marques
Goulart foi comprada nos primeiros anos da década de 70. Motta recorda
que, mesmo no exílio, Jango sugeriu a compra da linha telefônica
em seu nome para verificar o que os militares iriam fazer.
Até hoje a linha está em no nome dele, e não vou
mudar. Na lista telefônica, o nome de Jango vai estar escrito sempre
diz.
A memória lúcida de Motta é o que mais atrai curiosos
a sua residência, na Rua Barão do Rio Branco, centro de São
Borja. Pesquisadores, professores e historiadores batem à porta
para ouvir um relatos da vida pessoal do ex-presidente. Motta jamais se
recusa a falar e se esforça por manter vivo o culto a Jango. Uma
memória que ele considera estar morrendo em razão da falta
de cuidado.
A família de Jango nunca teve interesse em preservar a memória
do ex-presidente aqui na sua terra natal. Jango amava como ninguém
São Borja diz.
Motta lamenta que objetos pessoais do ex-presidente estejam dispersos e
que alguns tenham sumido. Entre os pertences que o amigo de Jango gostaria
de rever num museu está um conjunto de arreios recebido de presente
do governo uruguaio. Os objetos em ouro e prata eram cópia fiel
dos usados pelo general José Artigas, herói do país
vizinho, em seu cavalo.
Só Deus sabe onde estarão lamenta Motta.
Instalação modesta abriga acervo de Getúlio
O filho Luthero Vargas fundou o único museu dedicado a preservar o patrimônio do pai no Rio Grande do Sul
O mesmo descaso registrado com o patrimônio deixado pelo ex-presidente
João Goulart poderia ter destruído o legado de Getúlio
Vargas, que governou o país de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954.
A deterioração só foi evitada porque o filho mais
velho de Getúlio, o médico Luthero Vargas, decidiu fundar
o Museu Getúlio Vargas, em 1982.
O museu, entretanto, é modesto, se comparado à importância
histórica de Vargas, que mudou os contornos políticos do
país ao liderar a Revolução de 1930. Localizado na
Avenida Presidente Vargas, centro de São Borja, o museu está
instalado numa casa que serviu de moradia para Getúlio de 1910 a
1923. No mês passado, 500 visitantes brasileiros de todos os Estados
e até estrangeiros passaram pelo local.
Objetos como a escrivaninha, o fraque utilizado para a posse como presidente
eleito em 1951 e o lençol sobre o qual Vargas foi encontrado morto
na manhã do dia 24 de agosto de 1954 são alguns dos 2 mil
itens do acervo exposto.
Numa das salas, porém, um detalhe denuncia a penúria do museu.
Os 48 álbuns com fotografias que registram as viagens de Vargas
pelo país como presidene permanecem distantes dos olhos dos visitantes,
não só pela falta de espaço mas porque necessitam
de restauração. As fotos, produzidas pela Agência Nacional,
estão sendo devoradas pelas traças. Enquanto os discursos
em torno da preservação da memória de Jango e Getúlio
proliferam na cidade, os insetos tratam de consumir as fotografias que
ilustram em preto e branco a Era Vargas.
É uma pena deixar isso se estragar comenta Ieda Maria Gonçalves,
funcionária do museu.
Getúlio Vargas
Nascimento: São Borja (RS), no dia 19/4/1883
Morte: Rio , no dia 24/8/1954
Profissão: Advogado
Período do primeiro governo: 3/11/1930 a 20/7/1934
Idade ao assumir: 47 anos
Posse: empossado pela Revolução de 1930, como chefe do
Governo Provisório
Período do segundo governo: 20/7/1934 a 10/11/1934
Idade ao assumir: 51 anos
Posse: em 20/7/1934, na Sala das Sessões dos Deputados, no Congresso
Nacional
Golpe: no dia 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas deu um golpe
de Estado, instituindo a ditadura do Estado Novo que o manteve no poder,
pondo fim à luta sucessória dos candidatos à Presidência
Período do terceiro governo: 10/11/1937 a 29/10/1945
Idade ao assumir: 54 anos
Posse: investidura outorgada. Vargas não assinou qualquer termo
ao se manter no poder após o golpe de Estado de 1937. É como
se o seu mandato ficasse automaticamente prorrogado, uma vez que foi cancelada
a eleição presidencial prevista.
Dissolução do Congresso: com o golpe de Estado do dia 10
de novembro de 1937 e a instituição do Estado Novo, foi dissolvido
o Congresso, outorgada a nova Constituição e garantida a
permanência de Vargas no poder
Período do quarto governo: 31/1/1951 a 24/8/1954
Idade ao assumir: 68 anos
Tipo de eleição: direta
Posse: no Congresso Nacional
Morte: Vargas suicidou-se no dia 24 de agosto de 1954
Instalação modesta abriga acervo de Getúlio
Monumento ao trabalhismo
A memória do ex-presidente Getúlio Vargas é lembrada
em Porto Alegre desde 1955 no Monumento à Carta Testamento, na Praça
da Alfândega, centro da Capital. Escrita por Getúlio antes
de cometer suicídio, no dia 24 de agosto de 1954, a carta está
reproduzida em granito no monumento.
Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação
do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias,
a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha
vida. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade
e saio da vida para entrar na história, escreveu o presidente.
Desde sua inauguração, o monumento tem sido ponto obrigatório
de peregrinação dos trabalhistas da Capital a cada ano, no
aniversário da morte de Getúlio. No ano passado, o presidente
nacional do PDT, Leonel Brizola (na foto, entre o deputado petebista Sérgio
Zambiasi e a senadora pedetista Emília Fernandes), participou de
ato que selou a coligação entre PDT e PTB em apoio à
candidatura do deputado Alceu Collares à prefeitura de Porto Alegre.
Mauro Maciel
São Borja
Jornal Zero Hora 21/01/01