Morre o encantador de cavalos
O uruguaianense Vasco Prado, um dos mestres da escultura gaúcha,
morreu quarta-feira, aos 84 anos Quarta-feira de calor sufocante em Porto
Alegre. Vasco Prado acordou como sempre ás 6h no silêncio
do Morro São Caetano, na casa-ateliê que construiu há
quatro anos, última casa de uma rua sem saída no morro mais
alto de Porto Alegre.
No ateliê onde passava os dias, um andar para o barro e as esculturas,
outro para os lápis e os desenhos, trabalhou, reclamou, exigiu dos
dois auxiliares, como sempre. Ao meio-dia tomou um tinto chileno, como
sempre. Estava envolvido na execução de uma Vitória,
uma escultura de cinco metros de altura que ergueria na confluência
das avenidas Praias de Belas e Ipiranga.
Um símbolo para Porto Alegre talvez. Na quarta-feira, Vasco trabalhava
no estudo da cabeça da maior mulher que teria esculpido e preparava
peças para a exposição comemorativa dos 85 anos, em
abril do ano que vem. À noite, adormeceu em frente a televisão.
Ás 22h50min, o coração de Vasco Prado parou.
"Foi um golpe muito duro para os mais chegados, para os amigos", Marcelo
Moreira, secretário artista há 16anos. Imaginávamos
que ele era imortal." No início dos anos 70, num ensaio realizado
em seu ateliê, Vasco deixou no fotógrafo Ricardo Chaves uma
impressão de doçura: "Ele falava baixo, era uma pessoa suave,
sem nenhuma ansiedade aparente".
"Vasco é um monumento", costumava dizer Iberê Camargo, que
nasceu no mesmo ano que o amigo, 1914, e dividiu ateliê com ele na
juventude.
"Ele conhece muito a profissão, eu o consulto sobre muitas coisas",
admite Xico Stockinger, que segue agora em vôo solo como o grande
nome da escultura gaúcha.
"O meu trabalho é esse: cavalos, mulheres, torsos", sintetizava
Vasco. Trabalhava por prazer, não por fado, todos os dias. Reconhecia
o desenho como base de tudo.
A linha firme do mestre, que admitia ter começado copiando Michelangelo,
traçada cavalos, mulheres roliças, o Negrinho do Pastoreio
que descobriu nos contos de Simões Lopes Neto e que em suas mãos
primeiro surgiu agonizante, crispado, depois voltou ereto, depois triunfante,
depois portador do sol e da esperança. Vasco nasceu em Uruguaiana
e morou em Minas e no Rio antes de voltar ao Rio Grande Do Sul, aos 14
anos.
Escolheu viver no seu Estado e dedicou a vida a dar forma em pedra, bronze
e cerâmica às lembranças que guardou do pampa. "Aqui
fiquei e não me arrependi". Mais velho de cinco irmãos, pai
militar, mãe dona de casa, fez Colégio Militar e começou
a Escola de Belas Artes, que abandonou três meses depois.
Virou autodidata, depois estudou no ateliê do grande Fernand Léger,
em Paris, deu aulas no Atelier Livre e no Margs, No memorável ateliê
da pedra Redonda foi mestre de uma geração de artistas. Nos
anos 50, ao lado de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glênio
Bianchetti e Clube Gravura, lendário núcleo de resistência
e engajamento. "Sempre fui da esquerda.
Nunca suportei as injustiças, os sofrimentos por que passa o povo.
Na época, achava que poderia mudar alguma coisa", proclamava, referindo-se
ao ano de 1946, quando se candidatou ao cargo de deputado estadual pelo
Partido Comunista Brasileiro mas não foi eleito.
Cidadão do mundo, Vasco Plantou obras públicas em praças
e edifícios da Alemanha, Argentina, Brasil, Estados Unidos, França,
Japão, Polônia e Uruguai.
No ano passado, falsificações de sua obra foram denunciadas,
no único caso do gênero já registrado em uma delegacia
de policia gaúcha.
Para que o público se despeça e homenageie o artista, o Margs
manterá pelo menos até 20 de janeiro a mostra de Vasco, com
fim inicialmente previsto para o próximo dia 20.
"Porto Alegre é minha cidade" Vasco Prado gostava de contemplar
a Capital de sua casa no Morro São Caetano
Vasco Prado*
Aos 14 anos cheguei a Porto Alegre e nunca mais saí. Gosto de Porto
Alegre. É a minha cidade. Sempre trabalhei aqui. O Morro São
Caetano, porém, é uma descoberta recente. Antigamente, aquele
espaço era campo. Era o que se chamava "fora da cidade". Foi o crescimento
urbano- a exploração imobiliária, o desenvolvimento
de lotes e bairros residenciais - que aproximou o lugar.
Eu nunca tinha ouvido falar do morro antes de 1985 ou 1986, quando fui
morar perto do Hospital Espírita. O morro São Caetano fica
ainda além. É um dos pontos mais altos de Porto Alegre. O
ponto mais alto em que se pode construir. Lá, estou erguendo o meu
novo ateliê. Sempre gostei de olhar a cidade, a cidade toda.
A visão do alto. Sempre procurei os lugares de onde pudesse enxergar
toda a cidade. Agora, terei uma visão mais abrangente, do alto do
São Caetano. Só aquela paisagem vale tudo.
Trabalhar com a cidade a seus pés. Cada dia, tudo mudando. Cada
hora do dia, uma luz diferente. Uma coisa cambiante. A temperatura, sempre
dois graus mais baixa do que qualquer outro ponto de Porto Alegre.
O morro, a 240 metros acima do nível do mar. Lá de cima,
vê-se todo o rio. Chamam rio, mas é outra coisa. É
a continuação da lagoa,estrangulada neste ponto. Na verdade,
é um lago, o regime de águas é de um lago.
O rio é apenas um nome. Como Pedras Brancas era um nome poético,
bonito. Há muitos lugares de porto Alegre que eu gosto, em que eu
gostaria de morar.
Quando vim para Porto Alegre, não morava em lugar nenhum. Morava
no colégio militar. Estudei lá oito anos.
Depois, fui para a Cidade Baixa. Morei na rua da Margem, nos anos 40 e
50, onde havia um conhecido carnaval. Ali, tive meu primeiro ateliê,
perto do riacho.
O ateliê seguinte foi na Joaquim Nabuco. A casa está lá
até hoje, em frente a Travessa Venezianos.
Um escultor de frases
SOBRE OS CAVALOS
A história do homem foi feita encima do cavalo, e é isso
que minha obra reflete. Não tenho ligação com crítico
algum e, sinceramente, não me interessa o que possam pensar do meu
trabalho.
SOBRE AS MULHERES
Amar não dói. Casar de 20 em 20 anos é bom.
Sempre tive namoradas sempre gostei muito das mulheres.
Achava a mulher muito importante e acho cada vez mais.
Vasco Prado Vasto
Leia a seguir trechos de texto da atriz Nora Prado, publicado no jornal
O
Continente em agosto de 1989. Sobre seu pai, Vasco Prado:
Vasco Prado, vasto meu pai, um mistério soprando forte pelos ventos
de Uruguaiana. Índio velho presente na carne antiga do barro, na
mão constante de uma natureza ariana e por isso mesmo ardente, impulsiva
e penetrante como seus cavalos.
Tu és parecido com os teus desenhos, tuas linhas firmes e simples,
porém completas, sucintas e diretas. Nada excede a exigência
do próprio gesto, só há lugar para o essencial. E
por isso és lindo e difícil, sobretudo por seres tão
próximo.
Impossível escrever a essa distância de filha sem escorregar
pelos canais da memória e ceder ao pulso dos afetos. No entanto,
é só o que eu posso te dar e a quem quiser saber, pois tua
trajetória artística, tua obra, está já esta
posta ao sol, há muito tempo, para quem quiser olhar. Eu e meus
irmãos, Nando e Dadaio, tivemos a sorte de termos os pais em casa
por perto, pois sendo artistas eles funcionavam em seus ateliês junto
da família.
Do tempo da infância , na casa das Três Figueiras, guardo as
melhores lembranças. - Pomba da Arca, Luz da Manhã, Estrela
de Israel- declamava Vasco - para mim com aquele olhar brilhante,quando
o dia amanhecia azul. Ou então, quando chovia e, juntinhos no vidro
da janela, bem abrigados do frio, dizia: - Tempo feio, Petit!
Esse seu lirismo temperado com uma certa dose de ironia e bom humor geravam
nele frases insólitas, como quando, de repente, ao entrar na sala,
anunciava: - Fui ali no pátio e ouvi o capim crescer! Daria um ótimo
ator caso enveredasse pelo caminho do teatro. Esse seu senso crítico
tão apurado é também seu fiel da balança, o
seu termômetro para a arte. Seu forte aliado na sua percepção
de mundo e de homem.
Morte comove Uruguaiana
Vasco Prado será homenageado na Califórnia da Canção
A noticia da morte do escultor Vasco Prado foi recebida com tristezas pelos
artistas de Uruguaiana, que na manhã de ontem estavam reunidos no
Ginásio Municipal de Uruguaiana para a abertura oficial da 28ª
Califórnia da Canção Nativa.
O ex-presidente e atual conselheiro do festival, Colmar Duarte, que havia
convidado o artista no dia anterior ao de sua morte a participar da Califórnia,
lamentou o fato.
- Ele disse que estava muito cansado para viajar. Vasco preferia ficar
em casa - comentou. O escultor uruguaianense havia confeccionado o troféu
Vitória especialmente para esta edição do festival.
A estatueta será oferecida ao vencedor da linha Manifestação
Rio-grandense.
Na manhã de ontem, a comissão organizadora preparava a redação
de um texto em homenagem ao escultor que seria lido durante o festival.
Um dos amigos do artista que mais sofreram com a noticia foi Ubirajara
Raffo Constant, 59 anos. Constant estudou entre 1967 e 1970 no ateliê
de Prado, na Capital.
Ele acompanhou a criação de obras como a escultura Negrinho
Triunfante, exposta no Parque Municipal de Alegrete. - Quando me lembro
dele, vejo uma pessoa com a alma terna e de uma mansidão incomparável
- disse.
Os amigos se despedem
Vasco Prado foi velado na Capital e cremado na tarde de ontem em São
Leopoldo
"Vasco morre no momento em que faz a melhor exposição da
sua vida. Morre em arte, em glória. A atual retrospectiva no Margs
mostra o escultor que ele foi. Como pessoa, foi de esquerda, quer dizer,
pensava politicamente, ou, simplesmente, pensava, o que não é
comum entre os plásticos." Paulo Hecker Filho, escritor e crítico
literário.
"Conhecia o Vasco desde seus 18 anos, quando ele fazia as oficinas de aulas
públicas. Aí começou nossa amizade. Nestes últimos
60 anos, ele criou a obra mais importante em escultura do Estado, produzindo
um volume de trabalho espantoso, com qualidade estupenda. Fica tudo agora
para o povo do Estado apreciar e amar."Plínio Berhnarndt, um dos
fundadores do Clube da Gravura.
"Vasco foi um dos maiores escultores do Brasil. Fico muito triste com a
perda. Ele deixou uma obra muito significativa. Ele enriqueceu o Brasil."
Fayga Ostrower, crítica de arte.
"Mesmo com idade avançada, andava cheio de planos. Queria voltar
a fazer litografia. Ele era um incentivo, um impulso para todo artista
continuar enfrentando novos desafios." Anico Herscovits, artista plástica
.
"Conheço o Vasco desde o tempo em que ele começou a dar os
primeiros passos nas artes plásticas. Sempre foi muito sério,
consciencioso, exigente com o que produzia. Lamento o seu falecimento porque
ele ainda estava trabalhando muito." Alice Soares, artista plástica.
"Vasco era muito especial. Manteve um espírito jovem, com sabedoria
e tranqüilidade. Sempre via as coisas de maneira positiva, acreditando
e se engajando em todos os movimentos importantes da cultura do Estado."
Ana Alegria, artista plástica
"Temos que pensar no Vasco Prado em dois aspectos indivisíveis:
a figura humana e a figura artística. Ele era uma pessoa íntegra.
Extremamente simples, conseguiu, com competência e apuro técnico,
chegar a essa mesma simplicidade em suas obras. Em seu ateliê, deu
oportunidade a muitos artistas jovens." Clara Pechansky, artista plástica.
"Vejo uma perda sob dois aspectos: o artista e o homem.Como artista, produziu
uma das obras mais bonitas do país em termos de escultura, sempre
fiel ao figurativo, por não querer destruir a imagem humana.Como
homem, sempre foi coerente. Ligado as esquerdas, nunca esteve em cima do
muro. Sempre ficou de um lado do muro. O esquerdo." Paulo Amaral, diretor
do Margs.
"Estamos perdendo o mestre da cultura gaúcha. O Vasco era um grande
promotor de arte rio-grandense. Em silêncio, porque não era
de falar muito. Por meio de sua obra, protestava contra a fome. Também
popularizou a escultura. Ele circulava muito pelas escolas, entre as crianças.
Como professor de arte e como curador do Margs, sempre esteve preocupado
com o artista e a qualidade do ensino de arte."Cezar Prestes, marchand.
"Vasco Prado é o escultor mais clássico e moderno do Rio
Grande do Sul. É um dos maiores escultores brasileiros. Poderia
ter sido mais que isso, mas optou por viver uma carreira e uma vida tranqüilas
- sem abandonar a combatividade - aqui no Sul. Era uma pessoa muito generosa,
de tal maneira que agora, em 1998, arregaçou as mangas para prestar
solidariedade à sua primeira mulher, Luiza Prado. Foi mestre de
muitos, mas não deixa seguidores." Renato Rosa, co-autor do Dicionário
das Artes Plásticas no Rio Grande do Sul.
"Indiscutívelmente é um dos maiores escultores do Rio Grande
do Sul, com grandes monumentos no Estado e obras nos maiores museus do
mundo." Fábio Coutinho, curador da mostra de Vasco Prado no Margs.
"Essa geração ( de Vasco ) tem expoentes que são pontos
de referência. Quando um ponto de referência se vai e não
se tem outro para substituí-lo, fica uma sensação
de orfandade." Maria Tomazelli, artista plástica.
"Vasco foi feliz"
A artista plástica Zorávia Bettiol garante que sabe lidar
com a morte, que seu pai a ensinou a encarar a morte como um desdobramento
natural da vida . Mas Zorávia, casada com Vasco entre 1957 e 1985,
chora quando fala do ex-marido: - Fico contente que ele tenha morrido em
plena forma, produzindo. Pena que o trabalho dele não seja reconhecido
em
todo o Brasil como é no Rio Grande do Sul.
Zorávia, 62, não esconde o sofrimento que marcou a separação:
- Foi difícil, porque além de sermos marido e mulher, eu
administrava o ateliê, me encarregava de colocá-lo em contato
com o público, porque Vasco tinha problemas de comunicação
e relacionamento.
Logo depois da separação, Zorávia conta que passou
a se relacionar bem com Vasco. Logo depois o artista preferiu se afastar:
- Parece que ele não agüentava que a gente se desse bem estando
separados.
Falando por telefone de São Paulo ( ela não veio para o velório
do ex-marido), Zorávia faz um balanço da vida de Vasco: -
O saldo é altamente positivo para a família, para o país,
para as artes plásticas.
Vasco teve uma vida difícil mas foi uma pessoa feliz, conseguiu
realizar quase todos seus sonhos. Quantas podem dizer isso?
Ecos do Clube da Gravura
Nos anos 50, artistas reuniram-se num grupo que marcou época. Um
deles era Vasco Prado. O Clube da Gravura tinha o engajamento como norma.
"Durante muitos anos atuamos juntos, desde a época do Clube Gravura.
Convidei o Vasco para dar um curso no Atelier Livre da Prefeitura, quando
funcionava no Mercado Público. Era um trabalhador infatigável,
sempre no ateliê. Não era homem de muita mídia, gostava
de estar no seu ateliê, como um artesão. Perdemos um artista
autêntico." Danúbio Gonçalves.
"Vasco tem uma obra de grande coerência. Convivemos na Europa na
década de 40. foi uma pessoa muito importante na criação
de clubes de gravura no Brasil. Deu uma contribuição essencial
para marcar uma orientação nova, uma tentativa de produzir
arte para atingir um público maior. Como gravura é um múltiplo,
permite um contato com público maior. Fez um trabalho diferente
tematicamente, mas da maior importância, em um instante político
do Brasil e da América Latina. Qualidade e probidade são
características de Vaso. Importante não só nas artes
do Rio Grande do Sul, é um dos maiores escultores brasileiros. Infelizmente
é pouco conhecido fora do Rio Grande do Sul, o que não é
justo pela qualidade da obra dele." Carlos Scliar.
"Vasco foi um grande artista, um sujeito que teve a longevidade a seu favor,
o que o ajudou a ter uma obra mais extensa. Foi um artista de primeira
linha no panorama nacional. A exposição atualmente no Margs
tem umas monotipias maravilhosas." Glênio Bianchetti.
Vasco Prado em 20 datas
1914- nasce em Uruguaiana
1936- termina o Colégio Militar em Porto Alegre
1940- Ingressa na Escola de Belas Artes de Porto Alegre, curso que deixa
três meses depois
1941- Constrói seu primeiro ateliê, onde recebe a assistência
e os ensinamentos do mestre Oscar Boeira
1947/48- É bolsista do governo francês, estudando nos ateliês
de Etienne Hadju e Fernand Léger, além da Escola de Belas
Artes em Paris 1960- Nasce o filho Fernando
1962- nasce a filha Eleonora. 1966- Exposição 25 anos de
Escultura, Margs
1968- Em Varsóvia, participa de diversas atividades artísticas,
Participa da Bienal da Medalha e da Placa, em Arezzo, na Itália
1971- Nasce o filho Eduardo
1972-1o Premio no Concurso Nacional para o Mural da Assembléia Legislativa
do Rio Grande do Sul
1973- Constrói o ateliê da Pedra Redonda.
1976-Exposição na Galeria de Arte Casa do Brasil, em Roma
1980- Mostra retrospectiva 40 anos de Desenho, no Centro Municipal de Cultura,
em Porto Alegre
1984- Edição do livro Vasco Prado 70 anos. Exposição
retrospectiva 70 anos de Vasco Prado, no Margs
1987- Nasce a filha Pilar
1993- Vende o ateliê da Pedra Redonda. Inicia a construção
do ateliê do Morro São Caetano
1994- Exposição retrospectiva 80 anos de Vasco Prado, na
Usina do Gasômetro, em Porto Alegre
1997- Denuncia falsificação de suas obras, distribuídas
como brindes no 16º Congresso da Psicanálise, realizado em
Gramado.
1998- Mostra retrospectiva na Pinacoteca Central do Museu de Arte do Rio
Grande do Sul, atualmente em cartaz Homenagem do parceiro Companheiros
no oficio, conhecidos há mais de 40 anos e amigos íntimos
há década.
Para falar de Vasco, Xico Stockinger ainda usa o tempo presente, lembrando
que o amigo está imortalizado nas obras que criou: - Vou sentir
falta dele em todos os sentidos. Assim que Xico chegou ao Rio Grande do
Sul, em 1954, recebeu de Iberê um bilhetinho para encontrar Vasco.
Mas a amizade próxima só começou há 10 anos,
quando os dois passaram a se ver com freqüência, em jantares
que se alternavam na casa dos dois. - Nós trocávamos figurinhas.
Ele gostava de comer, bebia seu vinho e também gostava de uma anedota
- lembra. Juntos acumulavam um século de experiência e afinidades.
A admiração era mútua e declarada.
Quem ocuparia o lugar vago deixado por Vasco? Xico hesita: _ Fazer aquele
tipo de escultura, eu não sei... o Iberê nunca foi substituído.
Na época em que Xico dedicou-se a esculpir cabeças carecas,
Vasco não escapou. Depois, não deixou por menos e presenteou
Xico com sua cabeça. A amizade sempre esbarrou no trabalho.
Juntos, os dois realizaram exposições e cursos. - O Vasco
é um ótimo professor. Na obra de Vasco, Xico destaca a sensualidade
e a simplicidade. E admite: Prefere os desenhos ás esculturas do
amigo.
- Ele não dava gritos de modernidade, ia em frente naquela escultura
tradicional, procurando adaptar temas gaúchos, como o Negrinho do
Pastoreio. O Vasco não alardeava muita coisa, ficava modesto, incubado
no seu ateliê.
O último encontro ocorreu há cerca de um mês, quando
Xico inaugurou uma escultura, uma figura de mulher, em frente ao Atelier
Livre da Prefeitura de Porto Alegre. A obra, Homenagem a Vasco Prado, celebrou
previamente a despedida dos dois amigos.
Jornal Zero Hora 11.12.1998.