10/12/2004

Milena Murta

 

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Parceria Ufes-Petrobras: até quando?

Universidade teme perda de benefícios com a saída da empresa

Desde 2001, a Petrobras tem parte de sua sede administrativa no campus de Goiabeiras da Ufes. A parceria começou a partir da necessidade da estatal de estabelecer-se em Vitória, já que com o crescimento das atividades de petróleo no estado e a conseqüente desvinculação da unidade de negócios do Espírito Santo, da unidade do Rio de Janeiro, a criação da nova sede era urgente.

Segundo o geólogo e representante da área de suporte operacional da Petrobras, Luiz Otávio de Castro, a idéia da empresa se estabelecer na universidade surgiu principalmente pelo fato da Ufes estar numa área federal e ser uma instituição de ensino e pesquisa. A proposta foi avaliada pela reitoria, que levou em consideração, para tomar um posicionamento, características como a tradição da empresa, suas proporções nacionais e por a mesma ser genuinamente estatal.

A Ufes cedeu então os espaços do CT-6, no Centro Tecnológico, e a área próxima ao Centro de Educação Física, conhecida como "Castelinho". Em contrapartida, a Petrobras teria que fazer uma série de investimentos, entre eles, contribuir para a manutenção da infra-estrutura da universidade, colaborar no processo de arborização e a sinalização do campus.

A comunidade universitária reagiu ao estabelecimento da estatal no campus, principalmente quando a empresa cogitou a construção de um prédio que abrigaria toda a sede administrativa num só lugar. Uma audiência pública foi realizada no fim de 2003, em que a Petrobras tomou conhecimento da opinião dos demais segmentos da universidade. Alguns estudantes não concordavam por acreditar em outras prioridades para serem erguidas, como a moradia estudantil.

Parte dos professores, representantes da Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), também discordava da criação do prédio, primeiro pela questão das condições urbanísticas (o deslocamento de 1200 funcionários traria vários problemas para o tráfego de carros, por exemplo) e depois porque a empresa só estaria usando a Ufes como local de excelente logística e localização, explicou o professor do departamento de Engenharia Elétrica, Edson Cardoso.

"O prédio foi apenas protocolo", disse Luiz Otávio. Segundo ele, a Petrobras só desistiu da construção do prédio no campus da Ufes, e conseqüentemente de sua instalação definitiva no local, porque analisou o espaço que a universidade poderia ceder e concluiu que seria insuficiente para suas instalações. Enquanto a estatal busca no mercado imobiliário um espaço adequado para sua sede, o Castelinho e o CT-6 continuam ocupados.

As parcerias

Segundo o assessor de imprensa da Ufes, Luiz Vital, a Petrobras não estabeleceu apenas uma, mas várias parcerias com a universidade. Entre os mais significantes investimentos estão a disponibilização de mais de R$ 1 milhão para renovação e conservação do acervo da Biblioteca Central, a construção do prédio do mestrado do Centro Tecnológico e diversas contribuições em equipamentos para os centros.

O professor Edson Cardoso ressalta que, no geral, os investimentos estão muito focalizados para as áreas de interesse da empresa. Segundo ele, exemplo disso é que enquanto a Engenharia Mecânica dispõe de um convênio com a Petrobrás, de financiamento de pesquisa, a Elétrica só recebe alguns equipamentos, sem relações didáticas.

O assessor Luiz Vital, porém, discorda desta crítica, afirmando que faltam projetos consistentes por parte dos Centros. "Não se pode ficar apenas esperando que os investimentos cheguem sem ter uma proposta do que fazer com eles, deve-se ter criatividade para criar projetos interessantes", disse Vital. Luiz Otávio rebate e afirma que a parceria da Petrobras não é com os Centros, mas sim com a Ufes. "É ela quem indica para onde vão os benefícios".

Tanto o representante da Petrobras como o assessor da Ufes tem em comum a idéia de que "só se investe esperando algo em troca", por isso, alguns Centros com contribuições maiores para o estudo e pesquisa na área de petróleo (como é o caso da Física e da Engenharia, áreas tecnológicas e exatas) podem ter maiores atenções.


A Petrobras ainda não definiu quando deixará o campus de Goiabeiras completamente. Segundo Luiz Otávio, mesmo com a ausência no campus, a estatal tem interesse em manter uma relação agradável com a universidade, mas não informou se os projetos e os investimentos continuariam como estão.

Segundo Vital, "a universidade perde bastante". Ele cita o exemplo da Universidade Federal do Rio de Janeiro que possui convênio semelhante. "Recentemente a Petrobrás informou o investimento de R$ 10 milhões em infra-estrutura no campus de lá" completou Vital.

O professor Edson, assim como diversos segmentos da comunidade universitária, reclama da falta de transparência nas negociações da parceria entre as duas entidades públicas. Segundo ele, as relações são ocultas e os professores, servidores e alunos não foram completamente envolvidos nos processos de instalação e desinstalação da empresa.


 
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