Rali de Mortágua

A penúltima especial...

“Olá está bom?...é um prazer tê-lo a participar na nossa prova...”

“Você é um imprescindível, carismático, um importantíssimo concorrente...é uma honra para nós!!!”

“Posso apertar-lhe a mão...este é o meu filho...quando nasceu já você corria....fantástico”

“Deixe-me tirar uma foto com a sua equipa...posso???...formidável...”

“O quê??? você vai desistir?...Não acredito...você não pode...não vai conseguir...os ralis precisam de si...”

“Fixe...a sua crónica estava muita fixe...é assim mesmo, você é que diz as verdades...estou ansioso por ler a próxima...”

“Dê-me uma camisola da sua equipa...são as mais giras do Campeonato...”

“Você realmente é um ídolo...ainda me lembro de o ir ver passar em Sintra, na minha adolescência, e passados estes anos todos você ainda anda por cá???”

“Queremos agradecer a presença de todos os concorrentes, agradecer aos nossos patrocinadores, dar os parabéns ao novo Campeão Nacional e também agradecer ao Dr. Victor Calisto a sua presença...”

MAS O QUE É QUE SE PASSA???

Deve estar tudo louco ou quase...

Passei a ser herói nacional???...porquê???

Porque anunciei no decorrer do Rali Sata Açores que ia pôr um ponto final nas minhas participações???

Porque a partir daí, as atenções sobre a nossa equipa têm sido redobradas....

O desprezo, com que, por exemplo, alguns dos habituais “speakers” das nossas provas tratavam a nossa participação desvaneceu-se, merecendo, agora, a nossa presença à saída ou à chegada, alguns comentários, quase sempre favoráveis...

O público passou a dispensar também maior atenção e apoio às nossas participações e as organizações têm tido algum cuidado com a maneira como nos tratam...

O que é que virou???

Até o S. Pedro tem ignorado a sua intolerância para com os ralis...

Se as alterações climáticas globais podem explicar esta ausência de trabalho do S. Pedro e do Batista, estas por si só, não podem explicar a mudança de atitude das pessoas...

Assim coloco como hipótese mais viável a sensação de alívio pela nossa decisão de abandonar as provas de estrada...

...ou a sensação mórbida do prazer perdido quando só se dá valor aquilo que se perde, se deseja o que se não tem e se se dá importância ao que já não é importante...

Mas se calhar também não interessa perceber porque houve mudanças...

Nós, e já estamos com saudades, vamos divorciar-nos para sempre do “amor de uma vida”, sem nunca ter experimentado ter apoios, quando deles mais necessitávamos e ter condições para fazer bons resultados desportivos quando a juventude, a saúde e a audacidade nos permitiam.

Agora, amigos, e creio que fiz muitos, é tarde...

...fica para a história a teimosia, devoção e dedicação, muitas vezes mal compreendida e apoiada, de uma equipa que para além de todas as virtudes e defeitos soube sempre estar por dentro....de uma forma diferente!!!

Esta foi a penúltima classificativa, e enfrentamos agora a ligação para que no Rali do Algarve consigamos cumprir com êxito todos os objectivos a que nos propusemos...

...encarar com qualidade e dignidade todas as provas em que participámos...

Mas nestes 32 anos que mais pareceram 32 dias, há máguas que não vou esquecer e alegrias que vou para sempre recordar...

Vou cansado de burocracia, de organizações desorganizadas, de exigências absurdas em nome da segurança, de imprensa especializada vendida aos “lobbys” de influência em nome de tiragens e audiências....e principalmente farto de mim que não sou fácil de aturar!!!

Tenho pena, no entanto, que este desporto lindo e envolvente que um dia quis que fosse o meu, contra tudo e contra todos, se tenha transformado em pelejas organizadas de clãs instituidos em nome de um S. Jorge que acaba sempre por vencer o dragão.

Quase que podemos escrever com muito pouca possibilidade de erro quais os 10 primeiros de cada prova do Campeonato Nacional de Ralis...

Quase que podemos adivinhar que para chegar aos 40 concorrentes por prova seja preciso uma ginástica absurda e já com garantia que um terço são carros do único troféu monomarca a fazer ralis em Portugal...

Não sei para onde vai caminhando tudo isto, mas parece-me que é para uma estrada sem saída!!!

Desportivamente, voltámos a ter um rali com uma superespecial na sexta-feira à noite que permitiu alargar o horário do rali e chamar alguma gente ao centro de Mortágua, embora a construção e execução deste evento possa ser revisto e tornado mais seguro e espectacular.

Com especias de lindo recorte, que logo se tornaram mais aptas a serem incluidas num rali de terra, o rali de Mortágua preparava-se para assistir às lutas dos mesmos em procura do mesmo e nos mesmos sítios....

E , só o aparatoso despiste da equipa da Fiat, que tudo decidiu mais cedo, permitiu consagrar, com todo o mérito, o novo Campeão Nacional, a quem abraço sentidamente, lembrando-me que o seu pai ainda nos permitia discutir com ele alguns lugares da classificação... ...com o filho já é diferente...não há “abébias” para ninguém...

E, desse despiste, apertou-se-nos o coração quando a notícia da possibilidade de ferimentos de alguma gravidade terem afectado o nosso Fanã...

...e só à noite pudemos confirmar, com alguma certeza que tudo estava controlado, e passados uns dias reconfirmar, que após tantos anos e tantas aventuras o diabo, às vezes, está atrás da porta....

...Muita força para ti!!!

Com novos, (antigos) problemas de direcção assistida e de travões lá fomos cumprindo o traçado o melhor que sabíamos e as nossas forças deixavam...

O 23º da Geral, o 10º do grupo N e o 3º da classe 3 foi até onde nos deixaram ir...

Obrigado

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