Li, com o maior prazer, a
entrevista concedida ao Diário de Notícias, através da qual o Grande
Oriente do Brasil manifesta à nação a sua intenção de, finalmente, fazer
com que a Maçonaria venha a ocupar na vida brasileira o papel que lhe cabe e
sempre lhe coube desde a Independência que, como todos sabemos, foi feita pelos
maçons.
Relembrei nessa ocasião
minha conversa com o senhor, e as nossas palavras de despedida, nas quais buscou
o senhor gentilmente trazer à minha atenção o fato de que (na sua opinião),
a Igreja Católica Romana é uma boa introdução à vida adulta para crianças.
Eu lhe disse então: "Mas a Maçonaria é infinitamente melhor", e
aproveito esta oportunidade para repetir e ampliar estas palavras.
Eu não quis discutir a
validade, ou falta de validade da Igreja Romana como campo de treino para
crianças, porque não é assunto que se possa propriamente discutir. É assunto
que deve — repito, deve — ser pesquisado por todo homem consciencioso e
responsável, principalmente por maçom de alto grau e no Brasil, onde essa
Igreja teve tanta influência na formação psíquica do povo — com os
resultados que estamos vendo no presente.
Para esta pesquisa,
vitalmente necessária a todos os maçons neste momento de transição, é
necessário uma análise cuidadosa da evidência espalhada pelas obras de muitos
pesquisadores imparciais e fidedignos; e isto não pode ser resumido numa breve
discussão. Eu estou a par dos fatos; o senhor não estava, na ocasião; e
afirmativas de minha parte teriam forçosamente de parecer ao senhor opiniões
arbitrárias e caprichosas, principalmente por o senhor, com certeza, suspeitar
de mim e de minhas intenções. "Telemitas não são mais benquistos no
momento do que o foram os gnósticos em seu tempo!"
A finalidade desta carta
é expor, de maneira a mais ordeira e clara, minhas conclusões, e citar obras
nas quais me baseio; de forma que o senhor possa, se quiser, consultá-las e
tirar suas próprias conclusões, que podem ou não virem a coincidir com as
minhas. Peço-lhe apenas que, tendo lido a minha carta, examinado se lhe
aprouver, as fontes nela citadas, e chegado, porventura à conclusão de que
são ambas de valor a seus irmãos maçons, transmita-lhes a carta assim como as
fontes, para que por sua vez, tenha a oportunidade de examinar, ponderar e
julgar.
Devo começar por
repetir-lhe o que lhe disse por ocasião de nossa conversa, e que tanto chocou
seus bons sentimentos e sua honesta devoção: que o homem chamado "Jesus
Cristo" nos Evangelhos nunca existiu. Suas peripécias são fictícias;
não padeceu sob nenhum Pôncio Pilatos; não foi nem poderia jamais ser a
única Encarnação do Verbo; e qualquer Igreja, seita ou pessoa que diga o
contrário ou está enganada ou enganando.
Não quero dizer com isto
que um homem assim não pudesse ter nascido, pregado e padecido. Pelo
contrário: tais homens nascem continuamente, e continuarão a nascer por
todos os tempos: Encarnações do Logos, Templos do Espírito Santo, Cruzes
de Matéria coroadas pela Chama do Espírito.
Direi mais: Houve, em
certa ocasião, um homem que alcançou no mais alto grau a consciência de sua
própria Divindade; e este homem morreu em circunstâncias análogas (porém
não idênticas!) àquelas narradas nos Evangelhos. Seu nascimento
perdeu-se na noite dos tempos: ele foi o original do "Enforcado" ou
"Sacrifício" no Tarô, e os egípcios o conheciam pelo nome de
Osíris. Foi esse Iniciado quem formulou na carne a fórmula do Deus
Sacrificado. Esta é a fórmula da Cerimônia da Morte de Asar na Pirâmide, que
foi reproduzida nos mistérios de fraternidades maçônicas da tradição de
Hiram, das quais o exemplo mais perfeito foi o Antigo e Aceito Rito Escocês. O
Grau 33° desse rito indicava uma Encarnação do Logos, a descida do Espírito
Santo; a manifestação, na carne, de um Cristo; a presença do Deus Vivo.
Para os fatos que servem
de base às asserções acima, indico ao senhor as seguintes obras de maçons
ilustres e merecedores:
LA MISA Y SUS MISTÉRIOS,
de J. M. Ragón.
THE ARCANE SCHOOLS, de
John Yarker.
DO SEXO À DIVINDADE, do
Dr. Jorge Adoum
CURSO FILOSÓFICO DE LAS
INICIACIONES ANTIGUAS Y MODERNAS, de J. M. Ragón.
ISIS UNVEILED, de Helena
Blavatsky, seção sobre o cristianismo.
Mme. Blavatsky não era
dos vossos, mas dos Nossos... Na minha opinião, Dr. G., um maçom de alto grau,
com tempo a seu dispor, faria um grande benefício a seus Irmãos ao traduzir
para o português as obras citadas acima, principalmente as duas primeiras.
Os documentos incluídos
no assim-chamado "Novo Testamento" (a saber, os Quatro Evangelhos, os
Atos, as Cartas e o Apocalipse) são falsificações perpetradas pelos
patriarcas da Igreja Romana na época de Constantino, por eles chamado "o
Grande" porque permitiu esta contrafação, colaborando com ela.
Constantino não teve sonho algum de "In hoc signo vinces". Tais
lendas são mentiras desavergonhadas inventadas pelos patriarcas romanos dos
três séculos que se seguiram, durante os quais todos os documentos dos
primórdios da assim-chamada "era Cristã" existentes nos arquivos do
Império Romano foram completamente alterados.
O que realmente aconteceu
na época de Constantino, foi que, aliados os presbíteros de Roma e Alexandria,
com a cumplicidade dos patriarcas das igrejas locais, dirigiram-se ao Imperador,
fizeram-lhe ver que a religião oficial era seguida apenas por uma minoria de
patrícios, que a quase totalidade da população do Império era cristã
(pertencendo às várias seitas e congregações das províncias); que o
Império se estava desintegrando devido a discrepância entre a fé do povo e a
dos patrícios; que as investidas constantes de seitas guerreiras essênias da
Palestina incitavam as províncias contra a autoridade de Roma; e que,
resumindo, a única forma de Constantino conservar o Império seria aceitar a
versão Romano-Alexandrina do Cristianismo. Então, os bispos aconselhariam o
povo a cooperar com ele; em troca, Constantino ajudaria os bispos a destruírem
a influência de todas as outras seitas cristãs!
Constantino aceitou este
pacto político, tornando a versão Romano-Alexandrina do Cristianismo na
religião oficial do Império. Conseqüentemente, a liderança religiosa passou
às mãos dos patriarcas Romano-Alexandrinos, que, auxiliados pelo exército do
Imperador, começaram uma "purgação" bem nos moldes daquelas da
Rússia moderna. Os cabeças das seitas cristãs independentes foram
aprisionados; seus templos, interditados; e congregações inteiras foram
sacrificadas nas arenas das províncias de Roma e Alexandria. Os gnósticos
gregos, herdeiros dos Mistérios de Elêusis, foram acusados de práticas
infames por padres castrados como Orígenes e Irineu (a castração era um
método singular de preservar a castidade, derivado do culto de Átis, do qual
se originou a psicologia Romano-Alexandrina). Os essênios foram condenados
através do hábil truque de fazer dos judeus os vilões do Mistério da
Paixão; e com a derrota e dispersão finais dos judeus pelos quatro cantos do
Império, a Igreja Romano-Alexandrina respirou desafogada e pode dedicar-se
completamente ao que tem sido sua especialidade desde então: AJUDAR OS TIRANOS
DO MUNDO A ESCRAVIZAREM OS HOMENS LIVRES.
Para o escrito acima,
indico ao senhor os seguintes livros:
ISIS UNVEILED, seção
sobre o cristianismo, de Blavatsky.
OUTLINES ON THE ORIGIN OF
DOGMA, de Adolf von Harnack.
DECLINE AND FALL OF THE
ROMAN EMPIRE, de Gibbon.
THE AGE OF CONSTANTINE THE
GREAT, de Burckhardt.
Quanto as falsificações
da Igreja Romano-Alexandrina, indico ao senhor as palavras do grande erudito
americano Moses Hadas, em suas notas à tradução do livro de Burckhardt, na
página 367, que passo a traduzir:
"A História
Augusta apresenta biografias de imperadores, Césares e usurpadores, de
Adriano a Numério (117—284), com uma lacuna no período de 244—253.
Pretende ser o trabalho de seis autores — Aelius Spartianus, Vulcacius
Gallicanus, Aelius Lampridius, Julius Capitolinus, Trebellius Pollio e Flavius
Vopiscus — e ter sido escrita entre os reinados de Diocleciano e Constantino,
ou cerca de 330. Alguns estudiosos crêem tais asserções verdadeiras, mas
outros mantém que a obra foi escrita um século mais tarde e por uma só
pessoa. Em tal caso o nome dos seis autores terá sido adicionado para tornar
mais convincente o que foi escrito."
Trocando em miúdos, o que
ele quer dizer é o seguinte: os patriarcas romanos, ansiosos por esconder seus
crimes (especialmente a perseguição a cristãos de outras seitas ou igrejas) e
por se declararem os únicos cristãos verdadeiros, destruíram todos os
documentos autênticos nos quais conseguiram por as mãos. (Isto lhes era
particularmente fácil, já que, desde a era de Constantino, eles foram os
guardiães de tais manuscritos). Feito isto, substituíram os destruídos por
outros, forjados, que descreviam a sua classe como oprimida pelos imperadores e
outras seitas cristãs como inexistentes ou obscenas. (Na realidade, ela
bajulara os imperadores desde o começo; o Culto de Átis era o único em Roma
ao qual os patrícios podiam ir legalmente.
Um pouco mais tarde,
Romanos e Alexandrinos brigaram. Isto porque cada facção queria fazer de sua
cidade o centro político e religioso do Império. Foi então que um dos poucos
historiadores pagãos que escaparam a atenção dos patriarcas, escreveu:
"AS ATROCIDADES DOS CRISTÃOS UNS CONTRA OS OUTROS ULTRAPASSAM A FÚRIA DAS
BESTAS SELVAGENS CONTRA O HOMEM" (Ammianus Marcellinus).
O capítulo final da
disputa foi a divisão do Império em Romano e Bizantino. Desde então, a Igreja
Romana tem-se chamado "Católica", e a Bizantina,
"Ortodoxa".
Ambas, é claro, um
amontoado de mentiras.
Qual o motivo, o senhor
perguntará, para esta perseguição impiedosa às seitas gnósticas e
essênias?
No caso dos essênios, as
razões foram políticas e dogmáticas. Aproximadamente um século antes do
assim-chamado "Ano Um", nascera na Palestina um rabino, cujo nome é
desconhecido (embora alguns estudiosos presumam ter sido Ionas ou Jonas). Ele
criou um novo sistema de Essenismo, fundando muitos ramos dessa fraternidade
judeu-cóptica, e adquirindo um grande número de seguidores na Ásia Menor.
Muitos documentos foram escritos acerca dos incidentes de sua vida e doutrina.
Foi um Adepto Cristão, ou seja, defendeu tese de que todo homem é um Templo do
Deus Vivo; deu testemunho do Logos e do Espírito Santo, e tal foi seu impacto
no pensamento religioso de sua época, que os patriarcas Romano-Alexandrinos, ao
escreverem a "história de Jesus Cristo", foram forçados a
incluí-lo, para evitar suspeitas. Chamaram-no de "João Batista" ...
Acerca deste Mestre
Essênio, aconselho ao senhor a leitura de:
THE DEAD SEA SCROLLS, AN
INTRODUCTION, de R. K. Harrison.
Também este livro deveria
ser traduzido para o português por um maçom!
Abaixo, cito uma passagem
atribuída a esse Iniciado, extraída de um manuscrito Cóptico intitulado
"Evangelho de Maria", apócrifo, desde 1896 no Museu de Berlim. Depois
de haver explicado vários pontos de sua doutrina, ele se despede de seus
discípulos:
"...
Quando o abençoado havia dito isto, ele os saldou a todos, dizendo: ‘A paz
seja convosco. Recebei minha paz para vós mesmos. Cuidai-vos de que nenhum vos
desvie com as palavras ‘Olha ali’, ou ‘Olha lá’, pois o Filho do Homem
está dentro de vós. Segui-o: aqueles que o buscam o encontrarão. Ide pois, e
pregai a Boa Nova do Reino. Eu não vos deixo nenhuma regra, e eu não vos dei
nenhuma lei, qual fez o legislador (Moisés) para evitar que vos sentisseis
obrigados por ela.’ E quando acabou de dizer isto, ele foi embora." Gnosticism,
An Anthology,
ed. Robert M. Grant, Collins, London, pp. 65—66, "The Gospel of
Mary").
Essa passagem pode ser
comparada a muitas outras nos Evangelhos, nos quais quando interrogado,
"Jesus" disse explicitamente: "O Reino de Deus está dentro de
vós".
E que razão tinham
Romanos e Alexandrinos para perseguir e exterminar os gnósticos gregos?
Desta feita o motivo era
puramente dogmático. Na época posteriormente atribuída pelos patriarcas ao
"nascimento de Jesus Cristo", um Iniciado grego deu vida nova aos
Mistérios de Apolus e Dionísio, restabeleceu o culto ao Sol Espiritual e ao
Logos, praticou maravilhas taumatúrgicas e, em suma, causou tal impressão que
os Romanos-Alexandrinos foram forçados a incorporar diversos
"milagres" em sua miscelânea evangélica, de forma que o seu
"Jesus" pudesse igualar os prodígios atribuídos a Apolônio de
Tyana. Ao mesmo tempo afirmaram que Apolônio havia sido enviado por
"Satã" para reproduzir os milagres de "Jesus" e assim
desviar as pessoas do "verdadeiro Cristo". Destruíram também,
sistematicamente, todos os documentos autênticos da vida de Apolônio, salvo
um, a fantástica e inacreditável Vita, atribuída a um pretenso
"discípulo" desse grande Adepto.
Novamente lhe indico ISIS
UNVEILED e o artigo "APOLLONIUS" na Enciclopédia Britânica.
Devo aqui, Dr. G., apender
um parêntese um pouco prolongado, de forma a estabelecer a maneira pela qual o
Catolicismo Romano difere do verdadeiro Cristianismo. Para este fim, começarei
por apresentar um dos poucos textos que nos chegaram quase sem alterações
cometidas pelos patriarcas de Roma e Alexandria. As modificações relevantes
vão comentadas entre parênteses, e o texto, apresento o original,
intato. É o intróito do Evangelho de "São João":
“No princípio era o
Verbo. E o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio
com Deus”.
“Todas as coisas foram
feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez”.
“A vida estava nele, e a
vida era a luz dos homens”.
“A luz resplandece nas
trevas, e as trevas não o escondem (isto é, não escondem o fato de que a luz
brilha nelas!)”.
“Houve um homem enviado
por Deus, cujo nome foi Jonas (Johannes, no original em grego)”.
“Ele veio como
testemunha da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele”.
“Ele não era a luz, mas
veio para dar testemunho da luz: a saber, a verdadeira luz que, vinda ao mundo,
ilumina todo homem”.
“Estava no mundo, o
mundo foi feito por intermédio dela, mas o mundo não a conheceu (no masculino
da Vulgata, para sugerir ‘Jesus’)”.
“Veio para o que era
seu, e os seus não a receberam (idem)”.
“Mas, a todos quantos a
(idem) receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus (e aqui os
Romano-Alexandrinos acrescentaram: a saber, os que crêem no seu nome, isto é,
no ‘Jesus’ que eles inventaram para servir aos seus)”.
(Próprios propósitos),
os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus.
"E o Verbo se fez
carne, e habitou em nós (a Vulgata aqui põe ‘entre’, o que muda totalmente
o sentido da passagem) cheio de graça e verdade, e vimos a sua glória, glória
como a do primogênito do Pai." (O Primogênito do Pai é, claro, Chokmah,
o Verbo Espiritual, a Primeira Emanação do Ancião dos Dias Kether.
Primogênito também traz à lembrança o "mais velho dos filhos de
Deus", Lúcifer ou Satã.)
Na versão acima,
original, deste documento cristão, e nas interpolações introduzidas pelos
Romano-Alexandrinos, Dr. G., tem o senhor o sumário e a base do dogma católico
romano.
Jonas, Apolônio, Simão
(Simão Pedro e Simão o Mago; a estes aludiremos depois), Adeptos Cristãos,
ensinaram todos os três: "Vós sois o Templo do Deus Vivo.
Contemplai a Luz dentro de vós, e sabei que sois Filhos da Luz."
Repetidamente esta
mensagem é encontrada nos Evangelhos; mas sempre deformada, condicionada ou
"explicada" pelas interpolações e teologismos Romano-Alexandrinos. O
resultado é que, algumas vezes, "Jesus" fala como um santo, como uma
verdadeira Encarnação do Verbo; o mais das vezes, porém, como fanático e
sectarista. Contradições deste tipo abundam.
Este é o resultado das
alterações e interpolações dos Romanos e Alexandrinos. Copiaram,
adaptando-os às suas necessidades político-financeiras, os documentos
essênios que descreviam as pregações de Jonas (entre outros, o "Sermão
da Montanha"). Inseriram "milagres" do tipo atribuído a
Apolônio de Tyana. Arranjaram um Mistério da Paixão em drama nos moldes dos
cultos de Mitras, Adônis, de Átis, de Dionísio e de Oannes — o que era
necessário para tornar o seu "Jesus" numa Encarnação do Logos do
Aeon de Osíris, o Deus Sacrificado. Tão cuidadosamente misturaram verdade e
mentira que durante quase mil e seiscentos anos, todo cristão que procurou
encontrar o Verbo em si mesmo — o único lugar onde pode ser encontrado —
deparou, nos portais de sua alma, com este fantasma insidioso, esta blásfema
quimera, este pesadelo teológico: "Nosso Senhor Jesus Cristo".
"Adora-me!
— diz o Egrégora — "Eu sou o filho de Deus. Tu não és nada mais
que uma criatura sem valor e pecadora, condenada desde o nascimento e destinada
ao inferno não fosse por meu sacrifício; e sem mim nunca alcançarás o céu."
Talvez o senhor comece a
compreender agora, Dr. G., a natureza daquilo que nós chamamos a Grande
Feitiçaria?
Após mil e seiscentos
anos de vitalização por multidões de adorantes, e a absorção de cascas
vazias de padres, freiras e fanáticos que se deixaram vampirizar por ele, o
Egrégora existe no assim-chamado plano astral, e é um demônio,
quer dizer, uma entidade ilusória. Não é um verdadeiro Microcosmo,
mas um gestalt de cascões vitalizados, um foco para tudo o que há de
negativo, derrotista, piegas, preconceituoso e introvertido na natureza dos
cristãos: um lodaçal hostil ao progresso e à evolução deles.
E, no entanto, nada há de
mais sagrado ou puro do que o que está oculto neste nome: "Jesus
Cristo"... É um híbrido dos títulos pelos quais os cabalistas essênios
e os gnósticos gregos, respectivamente, chamavam o Iniciado que alcançasse a
esfera de Tiphereth, o Filho — ou seja, a "sephira" ou plano de
consciência que em Nosso Sistema corresponde ao Grau de Adeptus Minor, e, no
Rito Escocês, ao 33° grau.
Cristo, Chrestos,
significa "Bom" e "Ungido". Este era um título nobre nos
Mistérios de Elêusis. O Iniciado tem sempre sido um sacerdote-rei desde a
antiguidade; a superstição absurda do "direito divino hereditário"
dos reis foi outra adulteração dos Romano-Alexandrinos para ajudar os tiranos
que os apoiavam. Seria realmente fácil se a verdadeira realeza, dura recompensa
da Iniciação, pudesse ser transmitida por métodos dinásticos, ou conferida
por um papa! Para fazer justiça a este tema um volume inteiro seria
necessário; diremos apenas que os símbolos tradicionais da realeza são os
símbolos da completa Iniciação. O Cetro representa o Falo, a imagem material
do Verbo; o Globo e a Cruz são formas da Cruz Ansata, símbolo da imortalidade
conferida pela Iniciação (mostra a mulher "dominada" pelo homem, ou
seja, satisfeita, pelo homem...), a Coroa é Kether, o Sahashara Cakkram
em completo funcionamento, a Primeira Sephira, o Ancião dos Dias, o Pai; o
Manto púrpura adornado de estrelas ou flores representa o Céu Noturno, a Aura
do Sacerdote de Nuit; e, finalmente, as roupagens rubro-douradas são o símbolo
do Corpo Solar, o Corpo de Glória do Iniciado — vermelho e ouro sendo as
cores heráldicas do Sol.
Quanto ao nome
"Jesus", é escrito em hebraico IHShVH (procuncia-se Jehêshua). Note
que isto é IHVH (Tetragrammaton) com Shin (Sh) intercalada. Shin é a letra que
representa a um só tempo os elementos Fogo e Espírito, e,
estando no centro de IHVH, equilibra as Quatro Forças Elementais Cegas do
Demiurgo. Jeová — a Palavra de Moisés — torna-se Jeheshua — a palavra de
Jonas. Nesta palavra o senhor tem o Deus Crucificado, Dr. G.: nela o Pentagrama,
o sinal do homem, a Estrela Flamejante do Santuário; nela a chave cabalística
do Tetragrammaton Cristão, INRI, que significa, entre outras coisas, Igne
Natura Renovatur Integra, ou seja, Pelo Fogo (do Espírito Santo) a
Natureza se Renova Inteiramente...
A diferença básica entre
o Cristianismo e as religiões que o precederam é que o Mistério de Osíris,
até então revelado apenas a aspirantes cuidadosamente selecionados nos mais
profundos recônditos dos mais remotos santuários, foi abertamente oferecido ao
mundo. Antes do Aeon de Osíris, no Aeon de Ísis, os homens adoravam a Deus em
uma de suas múltiplas imagens (adaptadas à visão espiritual de indivíduos
diversos em nações diversas) da mesma forma que uma criança ama e adora sua
mãe: como Alguém que protege, alimenta, conforta e ocasionalmente corrige e
castiga, mas sempre como alguém exterior a si mesmos.
Foi a revelação do
Mistério da Morte de Osíris que acordou os homens para a consciência de que
eles, em si mesmos, são a divindade encarnada. Tampouco podemos ir muito longe
neste assunto, pois é matéria para outro volume. O Aeon de Virgo-Pisces, com
suas vibrações, adaptava-se às idéias de devoção e sacrifício
(auto-sacrifício), tornando a Iniciação Racial possível, em larga escala;
mas é necessário que o senhor compreenda, Dr. G., que o Mistério de Osíris
data da mais remota antiguidade. O Deus Sacrificado é fórmula anterior a
destruição de Atlântida, quando o verdadeiro significado dos símbolos, até
então geralmente conhecido, tornou-se privilégio de alguns poucos iniciados.
Um sacrifício humano anual, para ajudar a colheita, era um rito genérico entre
todas as tribos agricultoras da Europa e da Ásia Menor há cinco mil anos; e
mesmo nos primórdios do Romanismo, ainda era praticado por tribos
indo-européias. O sacrificado era, originalmente, o rei da tribo;
reinava durante o ano, e era executado nos Ritos da Primavera, ou Páscoa (em
inglês Easter, corruptela de Ishtar). Era tratado como
encarnação do deus tribal, e adorado até o momento de sua morte. Com seu
sangue os campos de cultivo eram salpicados; sua carne era comida por nobres e
sacerdotes e o povo tinha de contentar-se em respirar a fumaça de certas partes
queimadas e oferecidas à divindade que ele havia encarnado (estas partes
variavam: algumas tribos queimavam os órgãos sexuais, outras o coração).
Eventualmente, com o
desenvolvimento da inteligência, a fórmula tornou-se mais conveniente para os
reis: algum gênio tribal concebeu a idéia de um vicário; e desde
então, um rei substituto era simbolicamente ungido para a ocasião, para ser
sacrificado no lugar do rei verdadeiro. Primeiro usavam voluntários, depois
velhos e doentes ou criancinhas, a seguir inimigos, e por último animais.
Em muitas tribos, os pais,
em vez de se sacrificarem, sacrificavam seus primogênitos (neste caso eram os
pais os chefes ou patriarcas das tribos). Na Bíblia, a história do
primogênito de Abraão é uma hábil fábula que marca a transição, entre os
primeiros judeus, do sacrifício dos primogênitos a Jeová para aquele dos
bodes expiatórios.
Sacrifícios humanos,
acompanhados de antropofagia ritual, eram costumes no continente Indo-Europeu,
na Australásia, no continente Africano e no Novo Mundo. A presença universal
de tal rito, numa época em que a arte da navegação era praticamente nula,
indica uma origem comum na antiguidade. Esta foi a Atlântida, se bem que o
senhor deva notar que seus habitantes não praticavam sacrifícios
humanos. Foi precisamente a destruição desta civilização (devida não a
"castigo divino", mas a um dos grandes movimentos periódicos da
crosta terrestre a intervalos de vinte mil anos) que, havendo deixado apenas
algumas colônias em outras terras, resultou na volta à barbárie que ali
ocorreu quando os símbolos passaram a ser interpretados da forma mais
grosseira. Alguns centros mais adiantados da cultura Atlante mantiveram o
verdadeiro significado. Entre eles o Egito, onde os Mistérios Menores (de Ísis
e de Osíris), eram celebrados com pleno conhecimento de seu significado
verdadeiro (é suficiente que o senhor recorde que no Livro dos Mortos a alma do
morto ou da morta é sempre chamada Osíris), e os Mistérios Maiores (de
Nuit-Hadit-Hoor) preservados com o máximo segredo.
Foi do Egito que veio a
corrente de Osíris, a qual, devido a diversidade de povos e línguas, e as
dificuldades de comunicação no plano material, manifestou-se em pontos
diferentes do continente Indo-Europeu sob formas diversas, embora seguindo
sempre a fórmula do Deus Sacrificado. A corrente começou aproximadamente no
ano 500 A.C. Um extático da Ásia Menor, cujas aventuras tornaram-se lendárias
e que eventualmente ficou conhecido pelo nome de Dionísio, viajou pela Grécia,
Ásia Menor e Índia, ensinando a nova fórmula de Iniciação Racial. Este
Iniciado, original verdadeiro do "Jesus Cristo" evangélico, foi um
filho espiritual de Krishna, ou antes, de Vishnu, de quem foi Krishna o
principal avatar; e sua Palavra era INRI, que é uma modificação da Palavra de
Krishna, AUM. Citamos aqui o Capítulo 71 de LIBER ALEPH, um dos mais profundos
trabalhos do Mestre THERION:
"KRISHNA tem nomes e
formas inumeráveis, e Eu não conheço seu verdadeiro Nascimento humano. Pois
sua Fórmula é da mais alta Antiguidade. Mas Sua Palavra se espalhou em muitas
terras, e nós a conhecemos hoje em dia como INRI, com o secreto IAO ali velado.
E o significado desta Palavra é a Maneira do Trabalho da Natureza em Suas
Mudanças; isto é, ela é a Fórmula de Magia pela qual todas as Coisas se
reproduzem e se recriam a si mesmas. No entanto, esta Extensão e
Especialização foi mais o Trabalho de Dionysus; pois a verdadeira Palavra de
Krishna era AUM, implicando antes uma declaração da Verdade da Natureza que
uma Instrução prática em Operações detalhadas de Magia. Mas Dionysus, pela
Palavra INRI, estabeleceu as Fundações de toda Ciência,da forma como
entendemos a palavra Ciência hoje em dia em um Senso particular, isto é, de
fazer com que a Natureza externa mude em Harmonia com nossas Vontades."
Este Iniciado, cujo nome
carnal é hoje desconhecido, mas que conhecemos por Dionísio (o qual pode
ter sido seu nome, pois se tornou bastante comum na Ásia e na Grécia depois de
sua morte), viveu e trabalhou aproximadamente quinhentos
anos antes da assim-chamada era "Cristã". Foi mencionado por um
dos profetas judeus — Isaías — em várias passagens do Livro de Isaías.
Estas eram estudadas com veneração profunda pelos velhos Essênios, que sabiam
do seu sentido oculto. A passagem principal é citada aqui (parênteses meus):
"Quem acreditou em
nossa pregação? A quem foi mostrado o braço de ADONAI? (braço é um
eufemismo para o Falo, o órgão material do Verbo. Coxa, braço,
quadril, chifre, etc., são eufemismos para pênis, usados tanto
no Novo quanto no Velho Testamento para apaziguar as mentes prurientes dos
tradutores que, projetando seus próprios traumas psíquicos, acharam que o povo
ficaria chocado ao ouvir um pênis chamado de pênis. Este tipo de "censura
bem intencionada" ainda hoje é praticada: os cristãos todos parecem
achar-se capazes de "proteger a virtude" de seus semelhantes!)
"Porque foi subindo como um rebento novo (ou seja, como uma Palavra nova,
necessariamente mal entendida e temida a princípio) perante Ele, e sua raiz em
uma terra seca; não tinha presença nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma
beleza tinha ele que nos agradasse.
"Foi desprezado, o
mais rejeitado entre os homens; homem que sofrera e sabia o que é padecer; como
um de quem os homens se desviam, foi desprezado, e dele não fizemos caso.
"Em verdade, ele
tomou sobre si nossas mazelas; as nossas dores carregou sobre si; e por isto o
considerávamos aflito, ferido de Deus e opresso.
"Ele foi golpeado,
mas por nossas transgressões; moído, mas por nossas iniqüidades; o castigo
que nos trouxe a paz caiu sobre ele, e pelas suas pisaduras nós fomos sarados.
"Andávamos todos
desgarrados, como ovelhas, cada um se desviava do caminho, mas ADONAI fez cair
sobre ele a iniqüidade de nós todos.
"Ele foi oprimido e
humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e como
ovelha, muda perante seus tosquiadores, manteve silêncio.
"Por decreto
tirânico nos foi arrebatado, e sua linhagem, quem dela cogitou? Pois ele, foi
cortado da terra dos vivos; por causa da transgressão do meu povo ele foi
ferido.
"Deram-lhe sepultura
com os perversos, mas com o rico habitou em sua morte, pois nunca fez
injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca.
"Todavia, a ADONAI
agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando ele deu a sua alma (a Vulgata tem der,
para sugerir que isto é uma profecia sobre — claro — "Jesus
Cristo") como oferta pelo pecado, viu a sua posteridade (isto é, seus
filhos mágicos) e prolongará seus dias; a vontade de ADONAI prosperará em
suas mãos.
"Ele verá o fruto do
penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com sua
compreensão (isto é, Binah; a "entrega da alma" corresponde a
passagem do Abismo) justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará
sobre si.
"Por isso eu lhes
darei muitos como a sua parte (isto é, como seus discípulos) e com os
poderosos (isto é, os Reis ou Potestades — uma das hierarquias celestiais)
repartirá ele os despojos; porquanto derramou a sua alma (isto é, o seu sangue
— o Vinho de IAO — na Taça de BABALON, que contém o sangue dos santos) na
morte; foi contado com os transgressores (isto é, considerado maligno), contudo
levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores (isto é, os malignos
entre os quais foi contado, os quais eram na realidade os que o condenavam)
intercedeu."
Livro
de Isaías, LIII, vv. 1—12.
Talvez o senhor compreenda
melhor o acima se eu citar aqui alguns versos de um dos Livros Santos de
Télema:
"46. Ó meu Deus, mas
o amor em Me rebenta sobre os laços de Espaço e Tempo, meu amor é derramado
entre aqueles que não amam o amor.
"47. Meu vinho é
servido àqueles que nunca provaram o vinho.
"48. Os fumos dele os
intoxicarão, e o vigor do meu amor engendrará bebês pujantes de suas
virgens."
Liber
VII, vii, vv. 46—48.
Há certos segredos
iniciáticos, Dr. G., que não podem ser "revelados" pela simples
razão que apenas aqueles que os experimentam em si mesmos são capazes de
compreender referências a eles feitas. Portanto limitar-me-ei a dizer que a
história simples contada nos versos de Isaías descreve a carreira de todo
Adepto Cristão. Isto, em teoria, seria também a história de todo Maçom do
Grau 33°, mas na prática, embora não tenham os senhores perdido a Palavra,
mantém a letra mas não o espírito. Os senhores Maçons caíram bem aquém do
que era tencionado por seu sistema — isto principalmente devido ao constante
ataque da Igreja de Roma.
Os patriarcas
Romano-Alexandrinos que escreveram o Novo Testamento copiaram palavras de
verdadeiros Iniciados; resulta que, encerradas em seus Evangelhos adulterados,
ainda há várias chaves que aqueles que "tiverem ouvidos de ouvir"
(isto é, percepção espiritual: o sentido da audição corresponde ao Akasha
hindu, o Elemento do Espírito) podem usar para encontrar a Medicina Universal e
o Elixir da Vida...
No entanto, os
Romano-Alexandrinos erraram tristemente ao tentar usar de métodos profanos para
expandir um Cristianismo viciado por interpretações dogmáticas e ambições
temporais de poder político e financeiro. Falharam por não fazerem o
preconizado por Jonas aos Essênios: "dar a César o que é de César e a
Deus o que é de Deus". Invariavelmente, quando quer que na história da
humanidade um sistema de teurgia é conspurcado e se torna uma religião
organizada, sofrem os elos entre o sistema e sua fonte espiritual. Os planos
não podem ser misturados, e acreditando-se movidos pelas melhores intenções,
os Romano-Alexandrinos foram na verdade impelidos por vaidade e orgulho —
sentimentos enraizados no ego — precisamente a faculdade que o homem deve
destruir na Passagem do Abismo!
O resultado foi que,
perdendo o contato com o Logos do Aeon de Osíris, a Igreja Romano-Alexandrina
tornou-se instrumento de forças demoníacas — isto é, de forças ilusórias,
egóicas — e deu-se desde então a erros espantosos, a crueldades indizíveis.
Conseqüentemente, os
verdadeiros Cristãos retiravam-se daquela igreja no momento mesmo em que ela
triunfava sobre suas "rivais" Gnósticas e Essênias e aliava-se aos
príncipes do mal do mundo. Retiravam-se, e silenciosamente continuaram seu
trabalho através de todo o abuso e perseguição que se seguiram; e
eventualmente, para contrafazer mais eficientemente os efeitos da Grande
Feitiçaria, criaram a Maçonaria.
O senhor sabe, é claro,
que o Rito Antigo, ou melhor, a Grande Loja da Inglaterra, foi organizada (e o
Rito inteiro reformado) por um certo Elias Ashmole, Judeu, e irmão da R.C. A
R.C. (que só existe neste mundo com este nome, desde que o grande iniciado que
se ocultou sob o nome de "Christian Rosenkreutz", começou o movimento
que resultou na Renascença, na Reforma e nas Revoluções Francesa e Americana)
é responsável pelo Mistério do Logos — o Mistério do Cristo. É tarefa
dela zelar para que este Mistério jamais seja perdido pela humanidade. Quando
quer que, por erros humanos, por oscilações do karma terrestre, ou pelas leis
do acaso, a transmissão da Palavra e do Sinal (isto é, a sucessãoapostólica)
é ameaçada, é a R.C., sob um de seus muitos véus (ela nunca usa
abertamente o nome de R.C.!) através de um ou mais de seus Irmãos, que lembra
à humanidade o significado espiritual da Encarnação; da Promessa de
Ressurreição; da Grande obra; isto é: o Estabelecimento do Reino de Deus
sobre a Terra.
A R.C. nunca interfere de
forma alguma com a organização ou direção de ritos Maçônicos; nem seus
Adeptos, necessariamente ingressam em tais ritos. Apenas, informação em
quantidades suficientes é outorgada, e fontes de pesquisa são sugeridas ao
exame dos Maçons, para que o significado espiritual dos ritos seja
restabelecido pelos próprios Maçons.
A R.C. está abaixo do
Abismo: A Grande Ordem que não tem nome é simbolizada pelo Olho no Triângulo,
e este é o Collegium Summum, ou a S.S., da A\A\
A A\A\ é apenas uma
das Fraternidades Iniciáticas, e abaixo do Abismo é das mais novas. Foi
organizada em sua forma presente na primeira década deste século.
Quanto a S.S., é a mesma
para todas as Fraternidades Iniciáticas. Isso é fonte de surpresa, às vezes,
para iniciados de graus mais baixos, pois chegando a certas consecuções,
verificam que Mestres que pareceram pregar doutrinas completamente opostas
(como, por exemplo, Maomé e Jonas) estão sentados lado a lado no Aerópago dos
Adeptos.
Recapitulando:
Quem é "São João
Batista"? É Jonas, Ionas, Jon, Johannes, João, o Mestre da Retidão dos
Essênios, cujos sermões são postos nos Evangelhos na boca de
"Jesus".
Quem é "Jesus"?
É qualquer Adepto, isto é, qualquer indivíduo que tenha
atingido o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, o Paracleto.
Quem é "Jesus
Cristo"? É o nome dado pelos Romano-Alexandrinos à sua versão fictícia
do Logos do Aeon de Osíris, cuja Palavra foi INRI, a quem Nós conhecemos por
Dionísio.
Quem é o "Pai"
a quem "Jesus" sempre se refere nos Evangelhos? É o Logos, a LUX, o
Verbo, cuja Sephira é Chokmah, o Primogênito de Kether.
Quem é Cristo?
Tecnicamente é todo e qualquer Adepto, desde que, no simbolismo Grego, o nome
corresponde ao Essênio Jeheshua; mas na prática o título é usado para
designar o LOGOS AIONOS.
Do ponto de vista
místico, "ninguém atinge o Pai a não ser pelo Filho";
conseqüentemente, desde que todo Adepto Cristão é uma Encarnação do Verbo,
a distinção entre o Cristo Solar e o Cristo Interno é mera ilusão do profano. "Ego sum
qui sum", diz o Iniciado — AHIH, EU SOU O QUE SOU.
Quando Aleister Crowley
estava sendo "julgado" (foi nesta ocasião que o juiz, presidindo, o
chamou de "o pior homem do mundo"), o promotor lhe perguntou:
"Não é verdade que
o senhor se chama a si mesmo de A Besta do Apocalipse?"
Crowley, que já estava
acostumado a esperar o pior de seus semelhantes, respondeu com a paciência e
agudeza de humor que lhe eram características:
"Este nome significa
apenas O Sol. O senhor pode me chamar de Raio-de-Sol, se
quiser."
Isto é: chamá-lo de Adepto,
ou seja, Jeheshua, ou seja, Maçom 33°, Dr. G., Sol em miniatura,
isto é, Tiphereth ...
Esta confusão entre o
Adepto e seu Pai aparece até em "João Batista" quando ele diz:
"Eu sou a Voz (ou seja, o Verbo) que clama no Deserto (isto é, no
Abismo)."
O mais antigo símbolo
conhecido para o Logos é o Olho dos Egípcios; e o Olho está no Abismo; este
é o Olho do Triângulo, e esse é o verdadeiro Baphomet, o Chefe Secreto
de todos os Maçons.
Abaixo do Abismo, Ele é
representado por dois Adeptos, um do Pilar Branco, o outro do Pilar Negro. O do
Pilar Branco é o Adepto Exempto, e ele promulga a Lei; o do Pilar Negro é o
Adepto Maior, e ele faz com que as promulgações do Adepto Exempto sejam
cumpridas.
Os judeus, depois que
pararam de sacrificar primogênitos, tinham dois bodes sagrados para os
festivais, um branco e outro negro. O branco era sacrificado a IAO (o nome mais
antigo de Jeová); o negro, carregado com as maldições dos sacerdotes, era
impelido para o deserto...
Compreende o senhor melhor
agora, Dr. G., por que razão a Sala dos Maçons é chamada a Sala do Bode
Preto?
O Olho no Abismo é o Olho
do Sol, o Olho de Hoor, que, por certas razões ocultas, é identificado com o
ânus. É por isso que se dizia, dos adoradores de "Satã", que eles
"beijavam o ânus de um bode preto"... E no Egito Antigo, em certo
ritual onde cada parte do corpo do Iniciado era colocada em relação com cada
parte correspondente de algum ser divino, o Iniciado dizia em dado momento:
"Minhas nádegas são as nádegas do Olho de Hoor."
Mas que diabo — perdoe o
trocadilho — é na verdade este notório Satã que os padres romanos nos
acusam de adorar, e a quem eles culpam por seus fracassos (ao invés de culparem
a sua estupidez preconceituosa)?
Quando a Igreja Romana
começou a "catequização" das províncias, encontrou continuamente
deuses locais. Aprendendo as peripécias lendárias de tais deuses, os
engenhosos padres romanos fabricavam um "santo" com as mesmas proezas
e diziam aos ignorantes pagões: "Esse seu deus não é mais do que um
demônio que tenta lhes desviar de Nosso Senhor Jesus Cristo, e para este fim
imita as façanhas de nosso amado mártir Fulano. E se vocês não me acreditam
ouçam a história da vida de nosso santo mártir..."
E lá vinha a ladainha.
Dessa forma, a Igreja
Romana assimilou em sua liturgia um panteão inteiro de deuses
"pagãos" que eram transformados em santos e santas e mártires
imaginários — os únicos mártires Cristãos do início do Cristianismo foram
os Essênios e os Gnósticos, a quem os Romano-Alexandrinos acusaram, caluniaram
e denunciaram aos Imperadores. Exemplos: aqueles que adoravam o Cristo sob a
forma de um asno (Priapus); os que adoravam o Cristo sob a forma de um peixe
(Oannes); os que adoravam o Cristo sob Seu Nome de Baco ou Dionísio...
Mas houve um deus pagão
que os romanos não conseguiram absorver, porque suas peripécias eram por
demais viris para serem atribuídas a um "santo romano", que era
necessariamente um castrado, no corpo ou no espírito. Por outro lado, seus
ritos eram tão vitais, tão universalmente populares nas províncias que era
impossível esperar que o povo o esquecesse; depois de seis séculos de tirania
Romano-Alexandrina ele ainda era conhecido e adorado: o deus PÃ, o deus de
chifres e de cascos de bode...
Portanto, não podendo
fazer dele um santo, Dr. G., fizeram dele o diabo.
Uma profusão de dados
sobre tudo o que foi escrito acima pode ser encontrado nos seguintes livros:
THE GOD OF THE WITCHES, de
Margaret Murray.
O LIVRO DOS MORTOS,
traduzido do egípcio por Sir Wallis Budge.
THE GOLDEN BOUGH, de Sir
James Frazer, na edição completa em vários volumes. Neste trabalho
monumental o senhor encontrará um estudo detalhado dos deuses pagãos tornados
em "santos" e "mártires" do calendário romano...
Mas, voltando ao deus Pã:
a Igreja Romana lutou contra os ritos deste deus durante vários séculos. Os
festivais de Pã eram orgiásticos — daí sua popularidade — e celebrados
nos Equinócios e Solstícios. Eventualmente, a Igreja Romana foi forçada a
incorporar estes rituais em sua liturgia, visto ser impossível eliminá-los; e
sabiamente fez deles os festivais mais importantes do culto a "Nosso Senhor
Jesus Cristo": a Páscoa (com Corpus Christi), o "Natal", o dia
de "São João Batista" e o dia de "São João Apóstolo".
Eventualmente, a reforma gregoriana mudou o "Natal" que a princípio
era oscilável como a Páscoa e Corpus Christi, e caía no Solstício; e tendo
finalmente absorvido o rito orgiástico que então tinha lugar, os padres
romanos fixaram a data em 25 de dezembro (dava muito na vista um aniversário
oscilante!...) Desde então os católicos romanos, seus derivados posteriores e
muitas ordens ocultistas espúrias celebram nessa data a
"ressurreição" ou "nascimento" do Sol: isto porque o
Solstício de Inverno é o momento em que o Sol, tendo alcançado seu máximo
declínio meridional na eclítica, começa sua volta para o Norte, levando o
calor que renovará a vida da vegetação na Primavera.
Mas do ponto de vista
Iniciático, quem era este Pã?
Como
qualquer deus de toda e qualquer terra em todo e qualquer período da história
do mundo, era uma das formas pelas quais o
Sol Espiritual, que é o Pai verdadeiro, ou o seu Primogênito, que é a
"Besta", são adorados. Esta Besta varia segundo a precessão dos
equinócios, pois o Equinócio da Primavera se move (devido ao deslocamento do
ponto vernal) de signo para signo no Zodíaco aproximadamente a cada dois mil e
quinhentos anos e no Zodíaco os signos são alternadamente representados sob a
forma humana e a animal.
No Aeon passado, os pontos
vernais caíam respectivamente em Virgo e Pisces, a Virgem e o Peixe; no que lhe
antecedeu, caíam em Áries e Libra, o Carneiro e a Justiça (a mulher com a
espada e a balança dos romanos antigos); no presente, os pontos vernais caem em
Aquarius, ou seja, a Mulher com a Taça (BABALON) e em Leo, ou seja, a Grande
Besta Selvagem (THERION).
O deus Pã é simplesmente
a fórmula do Logos que data do Aeon de Câncer-Capricórnio. Aí está o
"diabo" dos padres romanos reduzido às suas verdadeiras proporções.
Reduzido?... Bem, é uma questão de ponto de vista...
Não podemos nos
aprofundar nesta questão do deus Pã, nem no simbolismo dos chifres, nem mesmo
na história completa da luta da Igreja Romana contra o culto do
"Diabo"; um culto que, diga-se de passagem, Roma jamais conseguiu
destruir, a despeito de seus esforços sinistros. O senhor encontrará os dados
fundamentais para tal estudo num livro precioso, publicado pela primeira vez no
século XVIII, mas recentemente republicado nos Estados Unidos e na Inglaterra:
TWO ESSAYS ON DE WORSHIP
OF PRIAPUS, de Payne Knight.
Limitar-nos-emos a dizer
aqui que este era o deus adorado por "bruxos" e
"feiticeiras", que preservaram seus ritos orgiásticos apesar de toda
perseguição implacável, das calúnias absurdas e do terrível risco de
tortura e morte na fogueira, além de outras punições impostas pela Igreja de
Roma, não só da Idade Média como até ao século XVIII — e que só não
são impostas até hoje devido ao trabalho paciente e silencioso dos Maçons,
representantes dos verdadeiros Cristãos...
Depois que Romanos e
Alexandrinos estabeleceram seu domínio teológico no Concílio de Nicéia
(disto falaremos depois) e instituíram o dogma de "Jesus Cristo" como
personagem histórica e "única Encarnação do Verbo", os poucos
Essênios e Gnósticos que sobreviveram à "purgação", continuaram,
sob o maior segredo, a tradição pura e original dos Mistérios Menores do
Egito e da Fórmula de Dionísio.
Várias vezes, no curso
destes mil e quinhentos anos, os Iniciados tentaram reconstituir abertamente os
ensinamentos Essênios e Gnósticos. Em toda ocasião em que isto aconteceu, a
Igreja Romana interveio com fúria demoníaca, assassinando homens, mulheres,
velhos e até criancinhas, sem a mínima compunção; ao ponto mesmo (como no
caso dos Albigenses) de capitães medievais, homens supostamente embrutecidos
pela violência das batalhas selvagens da época, terem ficado tão fartos da
chacina que foram perguntar ao papa se, porventura, não estariam exterminando
inocentes com os culpados (essa gente morria tão virtuosamente, o senhor
compreende!). E foi em tal ocasião que o Bispo de Roma honrou a tradição
"Cristã" de sua Igreja com as seguintes palavras:
"Matai a todos; Deus
distinguirá os seus."
A matança, Dr. G.,
incluía até recém nascidos.
E não é que se tratasse
de fé cega por parte do Bispo de Roma, na crassa teologia do seu credo. Não é
que ele acreditasse realmente na existência de um "salvador" chamado
"Jesus", e no fato dos Albigenses serem "criaturas do
Diabo". Não, Dr. G., não havia sequer a justificativa do fanatismo — se
de justificativa podemos chamá-la — pois os papas romanos sabem, e sempre
souberam, que nunca houve nenhum "Jesus Cristo"!
Talvez lhe seja difícil
crer no que digo? Pois lembre-se das palavras históricas, proferidas num
momento de descuido por um dos mais cínicos e mais prósperos dos papas, Leão
X:
"Quantum
nobis prodest haec fabula Christi!"
Ou seja: "Quanto nos
ajuda esta fábula de Cristo!"
O senhor deve se lembrar
de que os documentos originais daquilo que os Romanos chamavam de
"Cristianismo" estão preservados na Biblioteca Secreta do Vaticano.
É bastante simples para os pouquíssimos prelados a quem a Cúria dá acesso
aos documentos mais antigos, verificarem onde acabam os fatos e começa a
ficção.
Creio que já falamos
suficientemente da história passada da Igreja de Roma. Não deve ser
necessário que eu lhe lembre Joana D’Arc, nem Gilles de Rais (contra o qual
foram feitas as acusações mais horrendas, mas contra o qual jamais
apresentaram evidências — nem sequer um ossinho! — das centenas de
crianças que ele havia, supostamente, sacrificado; e seus acusadores, e
juízes, dividiram entre si seus consideráveis bens), nem os Templários, nem o
Imperador Frederico Hohenstaufen, nem João Huss, nem Michel Servet, nem
Henrique IV (assassinado por ordem dos Jesuítas), nem os Cátaros, nem os
Albigenses, nem os Huguenotes, nem os Judeus e Árabes de Portugal e Espanha,
nem os Gnósticos franceses, alemães, escoceses, irlandeses e ingleses que
foram chamados de "feiticeiros" e forçados a confessar obscenidades
sob torturas diabólicas, nem Cagliostro, nem uma quantidade imensa de Maçons
cujos ossos branquejam a estrada que leva à Roma. Creio que, a um Maçom, não
deve ser necessário falar mais do passado dessa igreja infame.
Falemos então do presente
— desta época de "reforma" e do "Papa da Paz".
Mudou a Igreja de Roma?
Dr. G., o senhor acha,
certamente, que essa propalada reforma romana, que esse muito propagandizado
concílio ecumênico, que as duas bulas de João XXIII (na realidade João XXIV:
houve uma época, entre outras da história do papado, em que havia três papas.
Um deles chamou-se João XXIII, foi forçado a renunciar ao papado quando os
dois outros fizeram um pacto contra ele, e pouco após morreu envenenado — por
quem, deixamos ao senhor ponderar) — o senhor acha que tudo isso fará da
Igreja de Roma algo mais humano, mais próximo de Deus e do Seu Logos?
Muito bem; tenho diante de
mim, neste instante em que lhe escrevo, um catecismo católico romano chamado
"Doutrina Cristã". É publicado pelas Edições Paulinas e leva o nº
1; é destinado, portanto, ao condicionamento das mais tenras criancinhas. O
senhor me disse que, na sua opinião, a Igreja Romana era uma boa introdução
à vida adulta para crianças. Se assim é, considere as seguintes passagens que
transcreverei desse livreto infame (os parênteses são meus):
"Eu gosto do meu
catecismo." (Auto-sugestão inconsciente.)
"O catecismo me
ensina o caminho do céu." (Do outro lado, o inferno.)
"O caminho do céu
é: conhecer a Deus" (pela boca dos padres), "amar a Deus" (de
acordo com a definição de "amor" por parte dos homens que evitam
todas as manifestações sadias desse sentimento), "e obedecer a
Deus." (Pela boca dos padres, seus únicos representantes legítimos; os
demais são servos do diabo, e se alguém tentar definir por si mesmo a
obediência a Deus, esse alguém na Idade Média era queimado vivo, e hoje em
dia é culpado de orgulho, um dos pecados mortais.)
"Eu irei sempre ao
catecismo para conhecer o caminho do céu" (a ameaça velada é que, se a
criança não for ao catecismo para aprender o caminho do céu, acabará no
inferno).
"Estudarei sempre
direitinho o meu catecismo" (e há quem diga que os comunistas inventaram a
lavagem cerebral!)
Isto, apenas como
introdução. Seguem-se as seguintes notáveis "verdades":
"Jesus morreu na cruz
para nos salvar" (falsidade histórica; mas a implicação dogmática é
que, desde que somos criaturas condenadas ao inferno desde o nascimento não
fosse por "Jesus", precisamos, mesmo na infância, de salvação. Que
distância entre isto e "Deixai virem a mim as criancinhas, pois delas é o
reino dos céus!..."
"As criancinhas
gostam muito de Nossa Senhora (se isto fosse uma cartilha russa, e em vez de
"Nossa Senhora" estivesse Lênin, nós chamariamos este tipo de
propaganda de atentado contra e mente humana; no entanto, Lênin, pelo menos,
realmente existiu! ...)
"Nossa Senhora é a
mãe de Jesus." (De fato, BABALON é a Mãe do Adepto; mas não é assim
que eles interpretam!...)
Mais adiante, o
"Credo", com a nota: "O Credo é o resumo da religião que Jesus
nos ensinou."
Isto é uma mentira
deslavada, pois nem Jon nem Dionísio, os originais do "Jesus Cristo"
evangélico, ensinaram religiões. Buda não pregou o Budismo, nem Lao-Tsé o
Taoísmo, nem Maomé o Islamismo; nenhum guia espiritual de vulto estabeleceu
qualquer dogma formal, com exceção de Moisés; e ele, ao menos, tinha a
desculpa de precisar criar uma cultura do nada, de fazer uma nação daquela
multidão de ex-escravos supersticiosos e rebeldes que o seguia. São sempre os
sucessores dos Magos (diga-se de passagem, os falsos sucessores) que
organizam religiões e dissociam o Espírito da Letra, mais cedo ou mais tarde
comportando-se de forma completamente oposta àquela recomendada pelo Instrutor.
No entanto, no caso
presente, a mentira é dupla; pois além do fato de que Jon não deixou
"religião" a ser seguida, o Credo de Nicéia, que é o credo a que o
catecismo em questão se refere, não era sequer um sumário da religião que
começava a se cristalizar em redor dos ensinamentos de Jon. Este credo era
antes um códice dos dogmas que os Romano-Alexandrinos consideravam essenciais
ao estabelecimento de sua dominação política, material, temporal,
sobre as muitas congregações — igrejas — fundadas na Ásia Menor e na
península romana por seguidores e discípulos de Jon, cada qual com variações
de doutrina e temperamento determinadas por condições locais e idiossincrasias
do discípulo fundador. Estes discípulos foram os originais dos
"apóstolos" dos "Atos" (os "Atos" são uma
antologia cuidadosamente censurada; e deturpada pela introdução de incidentes
e nomes altamente imaginários, de alguns dos discípulos de Jon. As mais
gritantes falsidades lá se encontram misturadas a fatos históricos. O
propósito de tais falsificações foi a afirmação da autoridade da Igreja
Romana, a qual, longe de ser a mais velha das igrejas Cristãs, era a mais nova
e certamente a menos Cristã de todas. Um exemplo interessante é "Simão
Pedro", que é o mesmo "Simão o Mago" que a ele se opõe nos
Atos... Era um Gnóstico a quem a Igreja Romana teve que atribuir a sua
fundação, pois ele pregara em Roma e era universalmente respeitado por todas
as congregações; mas ao mesmo tempo, teve que ser atacado devido às doutrinas
que tinha em comum com os Gnósticos Gregos e os Essênios Hebreus.
"Pedro" e "Paulo" são, possivelmente, a mesma pessoa, mas
só pesquisas futuras, empreendidas por investigadores sem preconceitos que
tenham acesso à verdadeira documentação, poderão esclarecer tal ponto). A
história da maneira pela qual os Romano-Alexandrinos forçaram o Concílio de
Nicéia a votar neste Credo é um pântano de horrores. Tal era a situação que
os patriarcas visitantes não ousavam andar pelas ruas de Nicéia, Roma ou
Alexandria, sem terem ao menos uma dúzia de guarda-costas, por medo de serem
assassinados por ordem dos patriarcas Romano-Alexandrinos. (Veja-se OUTLINES ON
THE ORIGIN OF DOGMA, DECLINE AND FALL OF THE ROMAN EMPIRE e LA MESSE ET SES
MYSTÈRES, para uma discussão detalhada deste assunto.)
Mas examinemos esse
"resumo da religião que Jesus nos ensinou"!
"Creio
em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra..."
(Já começa deturpado, pois o "Pai" a quem Jon se refere em seus
sermões era Dionísio, o Logos do Aeon, o pai espiritual de Jon. O
"Criador do Céu e da Terra" era, na verdade, "Criadores",
no plural. A Gênese, um trabalho cabalístico, é sempre mal traduzida. Os
"Elohim", criadores do céu e da terra, eram literalmente "deuses
macho-fêmea", ou seja, uma hoste divina andrógina. Então, o senhor
talvez perguntará, quem era Jeová? Era o Pai de Moisés, da mesma forma que
Dionísio era o Pai de Jon!...) Mas continuemos:
"...e
em Jesus Cristo, um só seu filho, Nosso Senhor..." (Estas
dez palavras causaram mais mortes no Concílio de Nicéia do que quaisquer
outras. Houve ocasiões em que patriarcas Romano-Alexandrinos provocaram com
insultos pessoais outros patriarcas que se opunham a este "um só seu
filho" ou a este "Nosso Senhor" até que os ofendidos reagissem
— e fossem imediatamente apunhalados por assassinos previamente instruídos.
Quanto a parte de "Jesus Cristo" ninguém a ela se opôs seriamente,
visto que os verdadeiros Iniciados Cristãos nem sequer se deram ao trabalho de
ir ao Concílio, sabendo tratar-se de caso fraudulento, como quaisquer outros
concílios convocados pelos Romano-Alexandrinos antes ou depois deste. Os
Iniciados Cristãos já começavam a organizar (prevendo a necessidade premente
que para eles haveria) as irmandades secretas que apareceriam abertamente na
Idade Média, como a Franco-Maçonaria — o grêmio maçom que construiu as
grandes catedrais Góticas. Esses franco-maçons formavam uma classe social a
parte, pois, não sendo nobres nem padres nem militares, não eram camponeses ou
vassalos, tampouco. A Igreja Romana os protegia porque deles precisava para a
construção — sendo ela, até hoje, incapaz de construir coisa alguma... E
foi através dessas associações de pedreiros que o verdadeiro Cristianismo foi
transmitido de reino a reino, de cidade a cidade, e isto, ironicamente, sob a
proteção dos romanos... Veja-se THE ARCANE SCHOOLS, ou qualquer bom compêndio
de história da maçonaria para maiores detalhes).
"...o
qual foi concebido do Espírito Santo..." (Outra
fonte de muitos assassinatos foi este dogma. Sobre ele não faremos
comentários: padres romanos certamente lerão esta carta, e não temos qualquer
intenção de dar a eles quaisquer dados sobre a natureza do Espírito Santo.
Já que eles O invocam tanto, devem saber o que Ele é!...)
"...nasceu
da Virgem Maria..." (esta Virgem Maria
é também a Grande Meretriz do Apocalipse. É a Grande Meretriz porque Ela se
dá a tudo o que vive; e é a Virgem porque permanece intocada por tudo a que se
entrega. Quem é Ela? É a Casa de Deus, a Natureza, a Grande Mãe, e as leis
naturais são as únicas leis realmente divinas... Ísis-Urânia, NUIT, Nossa
Senhora das Estrelas, é a concepção dessa Mãe Grande e Eterna, copulando
desavergonhadamente e avidamente com todas as Suas criaturas, pois em cada uma
delas Seu Senhor se manifesta e A ocupa. Ela é também a mais alta e mais
verdadeira forma de PÃ. A Ísis eternamente inviolada é esta Virgem Imaculada,
e as imagens da Virgem com o Menino Jesus nas Igrejas Romanas são cópias das
múltiplas imagens de Ísis com o Menino Hoor, que podem ser examinadas na
seção de Egiptologia de qualquer museu).
"...padeceu
sob o poder de Pôncio Pilatos..." (pessoa
altamente questionável esse Pôncio Pilatos, do ponto de vista histórico.
Recentemente foram "descobertas" e "reveladas" nos E.U.A.
umas "cartas da mulher de Pilatos a uma amiga". Estas relatam como a
vida do casal tornou-se puro melodrama depois de haverem lavado as mãos no caso
"Cristo Jesus". Mais conversa fiada jesuítica, sem dúvida...)
"...foi
crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos, ao terceiro dia ressurgiu
dos mortos, está sentado à mão direita de Deus Pai Todo Poderoso donde há de
vir julgar os vivos e os mortos." (Tudo
isto tem um significado esotérico, e é a verdade de todo Cristo, de todo
Adepto; mas os padres de Roma profanam estes símbolos quando os interpretam da
forma mais crassa.)
"Creio
no Espírito Santo... (eles nem sabem o
que Ele é, não tendo merecido Sua presença sequer uma vez, ao longo de mil e
seiscentos anos!)
"...na
Santa Igreja Católica..." (esta é a
única e verdadeira Igreja acima do Abismo, e inclui todos os cultos dos homens;
mas os padres romanos querem aludir, naturalmente, à igreja de Roma.)
"...na
remissão dos pecados..." (esta
"remissão dos pecados", que faz da humanidade uma raça suja e
maldita é, de todas as blasfêmias deste credo, a menos perdoável. Esta é
precisamente a razão pela qual a Igreja de Roma nunca mereceu a manifestação
do Espírito Santo!)
"...na
ressurreição da carne..." (isto se
refere a doutrina da regeneração, isto é, da Medicina Universal; mas tendo
este e outros segredos do Cristianismo primitivo sido perdido pelos romanos,
eles interpretam esta frase da forma mais grosseira. Veja-se o RITUAL DE
MAÇONARIA EGÍPCIA, de Cagliostro, para maiores detalhes.)
"...na
Vida Eterna..." (isto se refere ao
Elixir da Vida, novamente mal interpretado.)
"Amém".
Agora, por favor, atente
bem para esta passagem que se segue:
"Um
dia, alguns anjos fizeram pecado."
(Mais adiante explicam o que é pecado.)
"Os
anjos maus são chamados demônios."
"Os
anjos maus foram para o inferno." (É
necessário que haja inferno. Pondere como essas criancinhas eram infelizes, sem
saberem que havia inferno antes de entrarem em contacto com a Igreja de
Roma!...)
"Para
que Deus nos criou? Deus nos criou para conhecê-Lo..."
(na versão de Roma.)
"...para
amá-Lo e serví-Lo neste mundo..."
(os pais tem filhos porque precisam de admiradores e escravos, nenhum ser
sobre-humano poderia ter outra motivação...)
"...e
depois ir com Ele ao Céu." (Todo
cachorro bem treinado merece uma recompensa.)
Convenhamos: a versão
romana do Criador mostra bem pouca imaginação criadora!
Mas a insensatez continua:
"Adão
e Eva eram felizes no Paraíso. Um dia, porém, fizeram pecado. Que é pecado? O
pecado é uma desobediência voluntária à lei de Deus ou À LEI DA
IGREJA." (A ênfase é nossa. Note,
por gentileza, que os astuciosos roupetas estão duplamente assegurados:
primeiro, porque foram eles que escreveram "a lei de Deus"; segundo,
porque são eles que escrevem a lei da igreja!)
"Jesus
morreu na cruz para nos salvar do pecado." (Eles
nem sabem mais o que é "Jesus", e nunca souberam o que é a Cruz.)
"Deus
dá o prêmio aos bons e o castigo aos maus. O prêmio para os bons é o céu. O
castigo para os maus é o inferno. O céu e o inferno NÃO TERÃO FIM".
(A ênfase é nossa. Deus não é apenas destituído de imaginação, é também
destituído de misericórdia, para não falar em senso de humor. Este "Deus é um demônio
feito a imagem daqueles que o promovem!")
"Quem
vai para o Céu? Vai para o Céu quem morre sem pecado grave". (Note
que não é necessário ser virtuoso, alegre, corajoso, honrado, para ir para o
céu. As virtudes positivas não tem sentido para as criancinhas
"cristãs" à moda romana: é suficiente "morrer sem pecado
grave". Veja o senhor, no Apocalipse, o que tem o AMÉM a dizer à
Igreja em Laodicéia, Cap. III, vv. 14—22).
"Quem
vai para o inferno? Vai para o inferno quem morre em pecado grave."
Desta forma os cavalheiros
de Roma podem conservar seu bolo e comê-lo ao mesmo tempo. Se o senhor não é
batizado (por eles) ao nascer, está destinado ao menos ao purgatório (favor
lembrar que o purgatório é uma invenção relativamente recente, promulgada
quando o povo começou a reclamar que Roma mostrava pouca caridade para com os
homens: no começo, o inferno era a única alternativa para o céu). A vida do
senhor, do nascimento à morte, é completamente subordinada a eles: comunhão,
sacramento, confirmação, casamento, confissão... Lembre-se Dr. G., que toda
esta teologia que ameaça de tormento eterno aos que não a aceitam, toda esta
síndrome de repressão, de escravidão psíquica e social, toda esta
maquinação, está baseada nas mentiras deliberadas e conscientes dos
patriarcas de Roma e Alexandria! Verdadeiramente, eles podem se gabar: "Quantum
nobis prodest haec fabula Christi!"
Mas, infelizmente para
eles, Dr. G., o Cristo não é uma fábula.
E o Verbo se fez carne, e
habitou em nós.
Tu que és eu mesmo, além
de tudo meu;
Sem natureza, inominado,
ateu;
Que quando o mais se
esfuma, ficas no crisol;
Tu que és o segredo e o
coração do Sol;
Tu que és a escondida
fonte do universo;
Tu solitário, real fogo
no bastão imerso;
Sempre abrasando; tu que
és a só semente
De liberdade, vida, amor e
luz, eternamente;
Tu, além da visão e da
palavra;
Tu eu invoco, e assim meu
fogo lavra!
Tu eu invoco, minha vida,
meu farol
Tu que és o segredo e o
coração do Sol
E aquele arcano dos
arcanos santo
Do qual eu sou veículo e
sou manto.
Demonstra teu terrível,
doce brilho:
Aparece, como é lei,
neste teu filho!
Os versos acima, Dr. G.,
foram escritos por Aleister Crowley, "o pior homem do mundo" de acordo
com a opinião dos padres que organizaram a campanha difamatória que o seguiu
por toda a vida. Estes versos deveriam ser cantados com orgulho por todo Filho
da Luz, ou seja, por cada ser humano, cada Filho de Deus!
O senhor ainda acha que a
Igreja Romana pode ser encarregada, por homens responsáveis, honrados e
ajuizados, da educação de crianças?
Dr. G., enquanto essa
igreja não reconhecer publicamente seus crimes contra Deus e a humanidade;
enquanto não renunciar para sempre a essa ameaça de inferno e a esse dogma de
pecado com os quais forças negativas, que se opõem a evolução da humanidade,
tentam impedir ao homem e a mulher que se tornem Deus por meio do ato sexual
(veja o Evangelho de "João", cap. IV, vv. 13—16); enquanto ela for
a causadora de masturbação e autismo entre os seus assim-chamados monges e
freiras, em vez de permitir que se expressem livremente como homossexuais (qual
são freqüentemente) ou como heterossexuais (qual são algumas vezes); enquanto
o Bispo de Roma não admitir que ele é um entre muitos e herdeiro de uma
história acumulada de erros; em suma, enquanto a Igreja Romana existir (pois no
dia em que renunciar a todas as suas infâmias não será mais
"Romana", mas finalmente parte da verdadeira Igreja Católica, a
Humanidade), a ela se aplicam as palavras de Jon, o filho da Luz copiadas por
ela em seus assim chamados "Evangelhos":
"Cuidado com os
falsos profetas, que a vós se mostram como cordeiros, mas que internamente são
lobos vorazes.
"Pelos seus frutos os
conhecereis.
"Nem todo aquele que
me diz: Senhor! Senhor! Não temos nós profetizado em Teu nome, não temos
expelido demônios em Teu nome, e em Teu nome não realizamos muitos milagres?
"Então eu lhes direi
tranqüilamente: Nunca vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais a
iniqüidade."
"Mateus",
VIII, vv.15—23.
Francamente, Dr. G., não
posso entender como um Maçom, como um homem sensato e honrado pode, por um
momento, defender uma instituição que é uma nódoa na história da
humanidade. Nós, verdadeiros herdeiros de Cristo, temos sido acusados de odiar
a Igreja de Roma. Sabe Deus que não a odiamos: nós a abominamos e desprezamos
com tal intensidade devido aquilo que não só é vil em si mesmo, como
aviltante para tudo o que é sagrado e valoroso no homem. Dizem que o diabo
corre da Igreja de Roma, e é verdade. Mas não é que nós a temamos: ela nos
enoja. É inútil proclamar o efeito maravilhoso que o Romanismo tem exercido
sobre a civilização ocidental. A verdade é precisamente o oposto. Roma tem
combatido toda reforma e todo progresso a cada passo, aceitando-os apenas no
último minuto, e então fingindo — para os incautos — tê-los inventado. A
renovação das artes, das ciências, da liberdade humana, jamais veio de Roma;
veio dos Maçons, dos árabes, dos judeus, da herança pagã redescoberta na
Renascença, dos protestantes alemães, franceses e ingleses, das invasões dos
piratas normandos e até das hordas de tártaros e turcos: nunca de Roma.
Considere a evidência
histórica, Dr. G.! Durante mil anos, o sistema feudal, tornado odioso
justamente pelos abusos decorridos da aliança da igreja com os senhores
feudais, oprimiu a população da Europa. Veio a Reforma — e em um século o
sistema havia praticamente desaparecido. A Inglaterra católica romana era uma
ilhota insignificante perdida no mapa da Europa: veio Henrique VIII, expulsou os
jesuítas, criou o Anglicanismo — e em duas gerações a Inglaterra derrotava
a Espanha católica romana, tornava-se o maior poder naval do mundo e estava
prestes a construir um império mais poderoso que o dos Césares. A França
decaiu com os Valois católicos romanos: veio Henrique IV, protegeu os
Huguenotes, foi assassinado por isto, mas em um século a França de Luís XIV
deslumbraria o mundo. Os protestantes colonizaram a América do Norte; compare o
progresso da civilização da América do Norte com a situação das Américas
Central e do Sul, colonizadas por padres jesuítas!
Os países onde no momento
prevalece o dogma romano, estão atrasados de cinqüenta a cem anos em progresso
material, e moralmente, em certas áreas, o atraso é de quinhentos a mil anos.
Os países protestantes têm sina muito melhor. Mas, infelizmente, mesmo os
protestantes não estão livres da mancha do "pecado original" e do
complexo de culpa, como tampouco a crença da necessidade de
"salvação" já que usam os textos evangélicos fabricados por
Romano-Alexandrinos; e não foi a toa que Ambrose Bierce, por muitos considerado
um dos maiores Iniciados americanos, escreveu, como parte da definição da
palavra "Cristão" em seu impagável e realista "O Dicionário
do Diabo":
"Sonhei-me no alto
dum morro, e vejam só:
Em baixo, pias multidões,
com ar de dó
Triste e devoto, andavam
de cá para lá
Domingadas em suas roupas
de sabá,
Enquanto na igreja os
sinos gemiam
Solenes, alertando os que
em falta viviam.
Foi então que pessoa alta
e magra eu vi
Vestida de branco, a olhar
para ali
Com a face tranqüila,
suave, simbólica,
E os olhos repletos de luz
melancólica.
‘Deus te abençoe,
estranho!’ — exclamei.
‘Inda que, por teu
diverso traje, bem sei
que vens sem dúvida de
longínquo cantão,
espero que sejas, como
essa gente, Cristão.’
Ele os olhos ergueu, com
tão severo ardor
que senti meu rosto a
queimar de rubor,
e respondeu com desdém:
‘Como! O que é isto?!
Eu, um Cristão? Na
verdade, não! Eu
sou Cristo’."
(Tradução de Soror K.A.)
Se o senhor quiser ler um
magnífico estudo psicológico do Romanismo, leia "O
ANTICRISTO" de Nietzsche, e quando quer que o senhor encontre a palavra
"Cristão", substitua-a por "católico romano". O senhor
terá a Igreja de Roma exatamente como é.
Resumindo o conteúdo
desta carta:
Todos os homens são
filhos de Deus, Todos os homens são capazes de realizar sobre a terra o Reino
dos Céus, que está dentro de nós. Somos todos membros do Corpo de Deus, todos
Templos do Espírito Santo, e basta limpar o Templo — o que não significa
castrar-se fisicamente ou psicologicamente! — para que a Presença se
manifeste.
Não há nenhum
"Jesus, filho único de Deus" para ser adorado; e quaisquer pessoas
que afirmem o contrário ou estão enganadas ou estão enganando.
Está escrito nos
"Evangelhos": "Vós conhecereis a verdade, e a verdade vos fará
livres."
E também, está escrito,
nos originais santos, blasfemados e traídos pelas perpetrações
Romano-Alexandrinas, que Jon olhou sorridente para a multidão e, abrindo os
braços, lhe bradou:
VÓS SOIS O CAMINHO, A
RESSURREIÇÃO E A VIDA!
Pois é eternamente
verdade que o Verbo se faz carne; e, neste exato momento, habita em nós.
Amor é
a lei, amor sob vontade.
Marcelo
Motta
Nota
Bibliográfica
e
Addendum
Esta carta foi
originalmente escrita no dia 9 de julho de 1963 e.v., endereçada a um maçom
osiriano, médico, o Doutor Luiz Gastão Costa Souza, clinicando em Petrópolis, RJ.
Foi-nos posteriormente dito, por outro maçom osiriano e ex-Aspirante, Euclydes
Lacerda de Almeida, que o Dr. Gastão cuidadosamente guardou a carta, mas se
absteve por completo de mostrá-la a outros maçons.
Após o Primeiro de Abril
de 1964 e.v., a carta foi copiada a carbono pelo autor, e distribuída
livremente nas ruas do Rio de Janeiro a pessoas a quem ele se sentia
impulsionado a entregá-la. A segunda versão foi consideravelmente ampliada na
parte bibliográfica e histórica. O presente documento representa a terceira,
e, esperamos, final versão.
A carta original terminava
com os seguinte dizeres:
"Doutor Gastão, este
momento é um dos mais graves na história da humanidade. Dos quatro cantos do
mundo forças das mais hediondas, das mais diabólicas, forças desalmadas
se concentram em um ataque ao Homem, a Deus, à Justiça e à Verdade. Os
comunistas encarnam um dos aspectos destas forças; as religiões organizadas do
Aeon passado encarnam outros. No momento presente, são pouquíssimos os homens
que conservam contato com os planos espirituais; e no entanto eu levanto minha
voz em profecia e lhe digo:
Esta é a escuridão da
Passagem dos Aeons.
No Novo Aeon, serão os
bodes que organizarão a Igreja.
A maçonaria é a chave do
Templo de Deus.
Eu avisei o senhor quando
nos vimos: se os maçons brasileiros tentarem honestamente limpar a maçonaria
das forças malignas que tentam infiltrar-se nela; se eles se despertarem
novamente para a luta espiritual e para a luta cívica, eles terão todo o
auxílio que for necessário. O Olho ainda está no Triângulo. MAS SE VÓS
FIZERDES PACTOS COM DEMÔNIOS, O OLHO SE FECHARÁ SOBRE VÓS.
Não é possível ser
maçom e ser católico romano.
Não é possível ser
marxista e ser maçom.
Não é possível ser
maçom sem ser cristão.
Limpai as Lojas! Ou o Olho
se fechará sobre vós.
Calafetai as Lojas! Ou a
energia espiritual que nelas se acumula se escoará (esta é a razão
por que o vosso segredo é a vossa força).
Serví o Brasil antes de
mais nada; acima de toda outra nação; sois brasileiros, e o progresso — como
a caridade — começa em casa. Dai aos pobres do vosso excesso, mas não da
vossa substância.
Sede verdadeiros maçons:
maçons dignos dos que vos precederam, maçons dignos dos que fizeram a
Independência, o Segundo Império e a República.
Nunca tenhais medo de
lutar pela Verdade e pela Justiça, e perdoai os vossos adversários — mas vencei-os antes!
Não agradeçais à Igreja de Roma as concessões que ela vos "faz".
Ó meus irmãos — pois como homens, somos todos irmãos — essas
"concessões", vós as conquistastes: não ouvis os gemidos de dor?
Não vedes os oceanos de sangue, não percebeis a legião de mártires
maçônicos, não sentis ainda o cheiro e o clarão das fogueiras? A Igreja de
Roma nunca fez concessões de ordem teológica a não ser por razões
econômicas e políticas; ela sempre se aliou aos tiranos contra os oprimidos, e
aliar-se-á aos marxistas, se necessário, para combater-vos; mas sede fiéis ao
Olho e o Olho vos servirá.
Todo o progresso humano;
toda lei humanitária; toda proteção à ciência pura; toda tolerância
religiosa que existe no mundo presente foi o resultado do trabalho dos maçons!
Nunca vos esqueçais disto! Não deveis agradecer ao inimigo aquilo que ele não
concedeu, mas que vós conquistastes pelo sacrifício de muitos e pelo paciente
trabalho de incontáveis outros.
Repito-vos: sede dignos do
Olho, ou o Olho se fechará sobre vós."
O Primeiro de Abril de
1964 e.v. não teria ocorrido se os maçons tivessem cumprido as condições
desta profecia. Em vez de fazer isto, a maçonaria brasileira deu os seguintes
passos para trás nos anos que se seguiram a esta carta:
1) Dividiu sua direção
em duas facções antagônicas.
2) Permitiu a publicação
em jornais de fotografias do interior de Lojas, inclusive em funcionamento.
3) Promoveu declarações
públicas de aliança com a Igreja de Roma.
4) Espionou-nos e cooperou
em armar-nos ciladas na busca por desvendar nossos "segredos".
Infelizmente, não temos segredos. Ponde um tratado sobre cálculo tensorial nas
mãos de um estudante primário e deixai-o ler o livro a vontade: de nada lhe
adiantará. O "esoterismo" é uma farsa: verdadeiros segredos NÃO
PODEM ser revelados, pela simples razão de que sem vivência é impossível
compreendê-los, mesmo quando são explicados da maneira mais simples e mais
franca. Hoje, como em toda época, o mistério é o inimigo da verdade.
Devido ao desleixo ou
inércia dos maçons, a profecia da carta se cumpriu e continua cumprindo. Como
conseqüência, a maçonaria brasileira só está viva agora na O.T.O. e na
Ordem de Télema. Nós não reconhecemos nenhum movimento maçônico
do Velho Aeon.
A bom entendedor, meia
palavra basta; aos maus entendedores, milhares de discursos não surtirão
efeito.
Não existe Lei além de
Faze o que tu queres.
Rio de
Janeiro, AN LXXIII, 7 de janeiro de 1977 e.v..
Adendo,
20 de agosto de 1987 e.v.:
Faze o
que tu queres há de ser tudo da Lei.
A passagem do tempo e a
influência do texto original desta carta sobre o Romanismo viram o aparecimento
da assim chamada "Teologia da Libertação". Para os incautos, pode
parecer que a Igreja Romana está melhorando. Depois da chacina impiedosa dos
militantes comunistas nos movimentos populares de reforma agrária (chacina
organizada e executada pela direita católica romana brasileira), este
movimento, infiltrado de padrecos e outros "pastores" crististas
(firmemente apoiados pelo sionismo, diga-se de passagem!), agora reivindica
reformas através de "missas" e "procissões". Dirigentes
marxistas, como Fidel Castro, fazem ruídos de tolerância para com o romanismo
"reformista" que se propagandiza como "amigo e defensor dos
pobres".
Os teologismos de Leonardo
Boff e "Frei Beto", entre outros, parecem bastante plausíveis
àqueles cuja capacidade de raciocínio é rudimentar — como, após um quarto
de século de cuidadosa lavagem cerebral, sóe serem a maioria dos
latino-americanos. A Igreja Romana espertamente promove esses e outros
pseudo-dissidentes através de bem propagandizadas "censuras" e
"punições".
Esta mesurada dança de
batinas esbarra, entretanto, contra várias rudes verdades. Do ponto de vista
material, duas estatísticas falam: primeiro, que a Igreja Romana é o maior
proprietário de imóveis do Brasil (sempre através de testas-de-ferro,
"irmandades", etc.); segundo, que mais de setenta por cento dos
brasileiros não moram em casa própria.
Do ponto de vista
psicológico, a "Teologia da Libertação" em nada muda o defeito
fundamental do Romanismo: em nada ataca, em nada atinge o Credo de Nicéia. A
finalidade dessa "teologia liberadora amiga dos pobres" é
simplesmente tornar o romanismo aceitável aos marxistas, que já controlam
metade do globo, e estão gradualmente conquistando, pelo menos ideologicamente,
a outra metade. Ultimalmente, o que o Vaticano deseja é o que sempre desejou:
total controle do poder político e econômico em todo o mundo e total
restrição da vida intelectual e moral da humanidade. A "Nova
Teologia" é tão "nova" quanto a "Nova República".
Um famoso
"médium" brasileiro, autor de muitas "obras psicografadas"
assinadas com os nomes de gênios literários falecidos, tanto de nosso país
como de outros, recentemente comentou candidamente a uma admiradora que às
vezes ele duvida da verdade do que faz; mas que, como a maior parte do dinheiro
que angaria é dedicado à caridade, ele acha que faz mais bem do que mal aos
seus semelhantes.
Esta opinião tem sido
ecoada por muitos charlatões através dos séculos; entre outros aquele que
disse: "Quanto nos ajuda essa fábula do Cristo!". Ocorre, entretanto,
que os fatos da natureza não podem ser mudados pela ilusão humana. O bem-estar
social não nasce da mentira: a "caridade" praticada com uma falsidade
como base produz apenas mais gerações iludidas; os últimos quinze séculos,
dominados pelo cristismo, deveriam servir de lição — e servem — aos
brasileiros verdadeiramente inteligentes, e verdadeiramente interessados no
bem-estar e prosperidade da nação. Um escravo bem nutrido ainda é um escravo;
e quem está disposto a trocar sua liberdade por um falso conforto não é um
ser humano: é um ‘bípede implume’ de Diógenes, ou um ‘macaco falante’
de Kipling, ou um ‘homem baixo’ de Aiwass.
Quanto ao sionismo, o
motivo por que auxilia o cristismo é muito simples: os sionistas e o Vaticano
formam juntos o maior poder financeiro do mundo assim-chamado
"capitalista". O propósito da "Teologia da Libertação" é
exatamente análogo ao da "T.F.P.": proteger as enormes fortunas
multinacionais da nacionalização e socialização que elas têm
invariavelmente sofrido nos países marxistas. Agora, como antes, a religião
continua sendo o ópio das massas e a garantia dos ricos. E no que concerne o
judeo-cristismo, "teologias da libertação" tem como finalidade
simplesmente prolongar essa garantia através dos séculos.
Enquanto não abandonar
publicamente e definitivamente o Credo de Nicéia, a Igreja Romana não mudará,
e o cristismo continuará. Não se elimina causas atacando seus efeitos; nem
mesmo quando o ataque não é fingido.