| HOME TEXTOS POLÍTICOS ESTUDOS BÍBLICOS LINKS UM
DIA NA VIDA DO BRASILINO
"Não existe imperialismo no Brasil." CARLOS LACERDA, na "Tribuna da
Imprensa" "Essa história de imperialismo não passa de
invenção de falsos nacionalistas que pretendem impedir o progresso da nação." Em "O Estado de São
Paulo" Não sei se você conhece o
Brasilino? Mas isso não importa... Brasilino - é um homem qualquer,
que mora num apartamento qualquer, numa cidade qualquer. . . Situemo-lo em
Santos, por exemplo. Brasilino, como todo o bom burguês,
começa o dia acordando; sim, porque o operário, êste, levanta-se ainda
dormindo a fim de chegar a tempo ao serviço. Brasilino acorda e aperta o botão
da campainha à cabeceira da cama, campainha essa que soa na copa; porém soa,
consumindo energia - energia que é da Light, e, assim, o Brasilino inicia o seu
dia pagando dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO. Mas Brasilino não pensa nisso e
começa o seu dia, feliz A irritação do nosso herói,
contudo, logo desaparece, pois a algumas centenas de metros à frente, Brasilino
vê surgirem os dutos da Light e uma grande tabuleta com os seguintes dizeres:
LIGHT AND POWER, a maior usina hidrelétrica da América do Sul - 1.200.000 KW.
- Aí, Brasilino exulta e monologa com eentusiasmo - "Isto sim A Light que fêz
a grandeza de São Paulo." Sim, porque Brasilino confunde Light com
Energia. ÊIe não sabe que o que fêz a grandeza de São Paulo não foi a Cia.
Light e sim a Energia e que, se a Energia não pertencesse à Light, São Paulo
seria dez vêzes maior, ou o Brasil dez vêzes menos miserável. O interessante
é que Brasilino nunca perguntou, a si mesmo, que seria da Inglaterra se não
existissem as Lights pelo mundo. Brasilino prossegue a viagem e,
logo mais, atinge o o altiplano, onde vê descortinar-se o panorama grandioso do
progresso industrial, que êle julga ser do Brasil : "Volkswagen do
Brasil" - "Mercedes Benz do Brasil" - "Willys overland do
Brasil" - "General Motors do Brasil" - "Rolls Royce do
Brasil" - "Cia. Brasileira de Peças de Automóveis" - "Simca
do Brasil" - "Plásticos do Brasil" e inúmeras outras "do
Brasil" e "brasileiras", mas todas elas ESTRANGEIRAS. Brasilino, afinal, chega a São
Paulo. Estaciona o seu carro em uma das ruas do centro e, a pé, alcança a Rua
Líbero Badaró, para concluir um negócio. Brasilino recorda-se de que Líbero
Badaró foi um homem que, ao ser assassinado, exclamou : "Morre um liberal,
mas não morre a Liberdade " E Brasilino conclui : "Que sujeito burro
que interessa a Liberdade para um homem que já morreu?" Enquanto assim pensa, Brasilino
chega aos escritórios da "Crescinco, Cia, de Investimentos",
pertencente ao Sr.Rockefeller. Brasilino sente-se orgulhoso de emprestar o seu
dinheiro a um dos homens mais ricos do mundo, mas que, para financiar as suas
indústrias, prefere usar o dinheiro dos
próprios brasileiros, atraindo-os com a vantagem de juros de 2% ao mês e livre
do imposto de renda. Brasilino não sabe que, entre o dia em que êle entregou o
dinheiro, e o dia em que êsse mesmo dinheiro lhe foi devolvido, a Brasilino entra no Cine Metro, onde
passa a tarde, deliciando-se com um filme, que é americano e, para passar
algumas horas distraídas, Brasilino paga dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO. Ao sair do Cinema, Brasilino sente
uma leve indisposição ; entra numa farmácia e toma um "Alka-Seltzer." E, assim, até para prevenir uma
indigestão, Brasilino precisa pagar dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO. Toma novamente o seu carro e volta
para Santos. Chegando à casa, faz novamente a sua toilette, liga o rádio de
cabeceira, marca "G. E." da "General Electric do Brasil", e
deita-se sobre um colchão de espuma de borracha "Foamex" da "Firestone
do Brasil" e repousa a cabeça, sobre um travesseiro do mesmo material,
dormindo, feliz, o sono da inocência. Não sei porque, mas a história do
Brasilino traz sempre, à mente, -aquelas magníficas palavras do Sermão da
Montanha : "Bem-aventurados os pobres de espírito porque Mas uma coisa jamais será do
Brasilino: O REINO EM SUA PRÓPRIA TERRA. Por isso, leitor, se alguém lhe
disser que não existe imperialismo económico, no Brasil, é porque está
ENGANADO, ou porque ESTÁ ENGANANDO VOCÊ. Santos, Outono de 1961.
Edição especial para distribuição
grátis.
|