Após umas merecidas férias estamos de novo em Toronto. Àqueles que nos procuraram na internet as nossas desculpas pelo atraso deste BOLETIM. A próxima edição sairá impreterivelmente a 1 de Setembro.
Ausências do Canadá não significam necessariamente ausência dos mercados canadianos, pois que a internet possibilita a continuação do seguimento das bolsas canadianas. No entanto, o �feeling� do mercado é mais forte quando nos encontramos integrados pessoalmente no meio financeiro do país.
Uma montanha de correio esperava-nos. Além de correspondência pessoal, newsletters financeiras, reportes de companhias e o dito �junk mail�. Nos primeiros dias tratámos de dar caminho a toda a correspondência. Agora, com isso já atrás das costas, (alguns reportes e magazines menos importantes ainda por ler) iniciamos a feitura deste BOLETIM.
�Mergers and Aquisitions� não desapareceram do mapa. Companhias a engolirem outras companhias (por vezes chamadas beneficamente aquisições amigáveis, noutras hosteis.) continuam.
Quando regressámos a Toronto as discussões referentes à fusão entre empresas mineiras eram o tema do dia, com relevo para Inco e Falconbridge, cujas acções estão presentemente em alta. As de Falconbridge são negociadas à volta de $62.00 (durante o ano $62.00 - $22.19) e as de Inco já aumentaram 44% nos últimos doze meses ($78.50 � $46.65).
Inco fez uma oferta de 21.5 biliões de dólares aos accionistas de Falconbridge (cash a acções) pelas acções da companhia.
Competindo com Inco, uma firma anglo-suiça, Xsrata PLC, fez igualmente uma oferta �hostil� para adquirir Falconbridge. ($52.50 por acção).
Inco decidiu, então, pôr mais valores na mesa. Aliou-se a uma companhia americana produtora de cobre, Phelps Dodge Corp. Esta concorda em comprar o débito de Inco e pretende adquirir a Inco/Falconbridge por $14 bilião de dólares e 303 milhões de acções de Phelps. A nova empresa seria a combinação de Inco, Falconbridge e Phelps.
Se isto não bastasse, Teck Cominco também quer comprar Inco.
Ofertas, contra-ofertas e �poison bills�. Muita gente vai ficar rica...
O preço do petróleo continua a subir. Em Portugal já pagámos mais de 1.40 euros por um litro de gasolina, no Canadá o litro já ultrapassou a barreira de um dólar.
Ao contrário do que seria de esperar o entusiasmo pelo empreendimento conhecido por Oil Sands, em Alberta, abrandou um pouco. Ultimamente têm sido postas em dúvida a viabilidade e vantagens financeiras duma expansão do projecto. Para extrair o óleo do solo é preciso energia, usando gás (que também é caro); há falta de pessoal especializado e as despesas do projecto estão a aumentar dramaticamente. Previsões feitas sobre os custos de exploração parecem agora estar muito longe da realidade.
O Pembina Institute, membro da organização The Oil Sands Environmental Coalition, pediu ao Alberta Energy and Utilities Board para recusar a licença a Suncor Energy para expandir a exploração das suas operações de �oil sands�. A maior preocupação é a degradação da qualidade do ar. A poluição provocada por este género de operações é elevada e segundo o membro do Instituto o requerimento da companhia petrolífera deve ser recusado.
Recentemente o ex-candidato à Presidência dos Estados Unidos, Al Gore, fez comentários negativos quanto à viabilidade do programa, referindo-se à necessidade do uso de energia para produzir energia.
Um dos artigos mais interessantes que lemos ultimamente refere-se a IPOs (Initial Public Offerings). Ele foi publicado no REPORTER ON BUSINESS (Globe and Mail � 6 de Julho de 2006) e o seu autor é Derek DeCloet.
Quando uma companhia decide tornar-se pública e ter as acções/unidades transaccionadas na bolsa inicia-se uma acção conhecida como IPO.
A companhia contrata uma instituição financeira como agente, para pôr o processo em prática. O agente (�dealer�) estuda a viabilidade do negócio, faz um balanço e a apreciação do seu valor levando em consideração capitalização, receitas previstas, etc. Criando um �pré-forma� (balanço contabilístico) o agente põe um valor na companhia. Após essa avaliação, ele faz as necessárias clarificações e recomendações, aconselhando à empresa a melhor maneira de �enfrentar� o mercado.
A instituição financeira pode actuar sozinha, no que se chama um �bought deal�, ou através dum �banking group� (sindicato composto por várias instituições financeiras) para oferecer as acções aos investidores. Por todo este trabalho agentes recebem uma comissão.
A fascinação dos investidores com investment trusts tem resultado na transformação de muitas companhias para este tipo de investimento. Banqueiros acumulam milhões por cada conversão de companhias.
O cronista usa os exemplos de duas companhias: SPINRITE e ENTERTAINMENT ONE. A primeira foi registada na bolsa de Toronto em Fevereiro de 2005. Os accionistas que compraram as unidades quando elas foram lançadas a público perderam 74% do investimento (mais se as distribuições � agora suspensas - forem levadas em consideração). Outros casos existem em que, aproveitando a euforia dos �trusts�, as instituições bancárias que os promovem, parecem não tomar as precauções necessárias.
Se investidores perderam muito dinheiro, os milhões arrecadados pelos banqueiros (conselheiros) estão garantidos.
Segundo o mesmo artigo, 13 business trusts que foram lançados na bolsa (went public) suspenderam distribuições. Na maioria dos casos o problema é débito elevado. Por vezes, alguns recorrem a empréstimos do banco, para poder continuar a pagar aos �unitholders�. Há casos até em que os bancos, ao fazerem empréstimos a essas companhias, fazem-nos com juros mais elevados � como a clientes com crédito de risco. E são esses os mesmos bancos que recomendaram a venda de unidades aos investidores e receberam comissões chorudas...
Em resumo: quando um �investment banker� prepara uma empresa para a tornar em �investment trust� e a recomenda aos seus clientes, ele arrecada milhões em despesas de financiamento, organização, etc. Só que, quando a companhia é negociada na bolsa, ele �aperta a turquêz� e decide se deve ou não financiar a companhia e em que condições.
Uma solução, segundo Mr. DeCloet, é dar probidade ao acto. Desde que os bancos têm tanta responsabilidade na emissão e recomendação destas companhias no mercado público, estipule-se que parte das comissões que eles cobram sejam investidas nas companhias que trouxeram a público e que sejam obrigados a manter o investimento por três anos.
Neste momento, em que se fala tanto em �transparência� esta é uma óptima ideia, mas como muitas outras boas ideias, não vemos possibilidades dela �sair do saco�.
Copyright © 2006 Álvaro Trigo