Este BOLETIM sai atrasado e um mais pequeno do que o habitual. O próximo número sairá no 1 de Julho.
A primavera começou e com ela as reuniões anuais dos accionistas de companhias públicas. Muitas empresas escolhem Toronto como o local para terem as suas assembleias gerais. Accionistas, jornalistas, analistas financeiros e simples curiosos correm de reunião para reunião. Estes encontros são úteis, pois possibilitam uma comunicação directa entre investidores e administradores das empresas.
Igualmente, notícias afectando o mercado abundam, desde o julgamento de Lord Black, uma das personalidades mais controversas do Canadá, a ser julgado nos Estados Unidos por actividades financeiras ilegais, até às já tradicionais aquisições de companhias canadianas por entidades estrangeiras. Falamos deste assunto mais abaixo.
Mal tínhamos acabado de escrever o último número do Boletim quando a bolsa de Toronto teve uma descida forte e inesperada � 2.7%. A caída não resultou de uma baixa das bolsas de Nova Iorque, Londres ou Paris, mas sim da bolsa chinesa - o Shanghai Stock Exchange (descida de 8.8%). Numa economia global, um acontecimento numa parte do mundo afecta, imediatamente, a outra. A queda foi como um tsunami financeiro que varreu continentes.
Jeff Rubin, economista chefe de CIBC World Markets, e personalidade considerada na Bay Street, afirmou que a queda da bolsa chinesa não foi significativa, pois que aquela aumentara 140% no período de um ano.
Após o calafrio, a bolsa de Toronto voltou à calma habitual, mas o mais ligeiro �tremor� poderá afectar, novamente, o mercado. Não nos devemos esquecer que o rally actual da principal bolsa canadiana começou nos fins de 2002 e que subidas contínuas não duram eternamente. Por vezes, correcções fortes tornam-se necessárias. Não só refreiam a exuber�ncias de alguns investidores, como trazem senso a preços não justificados.
No panorama petrolífero os dias de drillings contínuos parecem ter abrandado. A razão principal não é a do preço do óleo ter estabilizado, mas com os custos elevados com a procura de novos poços.
Não é a primeira vez que consideramos apresentar SHOPPERS DRUG MART aos nossos leitores. No passado, hesitámos, ao pensarmos que o preço das acções estaria elevado. Agora, decidimos fazê-lo.
Perante inovações, alterações e surpresas, que acontecem continuamente, torna-se necessário actualizarmo-nos, reconsiderar e analisar as firmas à luz de acontecimentos presentes. Conscientes das transformações do presente tentamos assim antecipar o futuro.
Situações e perspectivas parecem, por vezes, alterarem-se hora a hora, se não segundo a segundo. Duas notícias recentes influenciarão a actuação de Shoppers. Boas notícias e más notícias.
Comecemos pelas �más notícias�.
O governo da província do Ontário está decidido a reduzir as despesas de saúde pública e anunciou que pagaria menos às farmácias pelos produtos farmacêuticos ditos �genéricos�. A nova lei, não só reduz o preço pago pelo governo por medicamentos genéricos, como proíbe �rebates� que laboratórios, por vezes, oferecem às farmácias.
Estas medidas aplicam-se a produtos farmacêuticos vendidos através das receitas do ODB (Ontario Drug Benefit), isto é, programas para recipientes da terceira idade, assistência social e outros similares.
Estas �reformas� no sistema estão a ser postas em prática nas restantes províncias do Canadá.
Shoppers Drutg Mart diz que tal não irá reduzir as receitas da companhia.
No lado positivo, um departamento de Shoppers que é altamente lucrativa é o dos cosméticos (Beauty BOUTIQUE). A companhia acaba de anunciar que passará a distribuir, na sua linha de cosméticos, produtos da marca de prestígio (e preço elevado) Estée Lauder. Todos sabemos como a venda de cosméticos é altamente lucrativa e isto é uma boa notícia para a companhia. Há ainda a considerar que muitos dos cosméticos vendidos são importados e pagos em dólares americanos. Com a subida do dólar canadiano, em relação ao americano, importadores beneficiam do c�mbio.
Shoppers Drug Mart está presente em todo o Canadá. Começou a sua existência com 17 farmácias em 1962 e tem crescido continuamente. Com 511 farmácias na província do Ontário acaba de inaugurar a número 1000 com um novo estabelecimento, também no Ontário (Don Mills).
Em Quebeque, Shoppers Drug Mart está estabelecido como Pharmaprix.
A companhia tem a sua própria linha de produtos, LIFE.
Com uma população cada vez mais idosa e de vida prolongada aumenta a procura de remédios, suplementos, vitaminas e outros produtos o que deverá beneficiar a firma.
As acções de Shopppers Drug Mart são negociadas na bolsa de Toronto, com o símbolo SC. Preço recente: $51.20 ($53.49/$40.22), o mais alto e mais baixo nos últimos doze meses). O dividendo é relativamente modesto (yield de 1.25%). O P/E é de 25.
Os takeovers de companhias canadianas continuam. Muitos deles são leveraged takeovers, isto é, aquisições de companhias feitas com débito. Nalguns casos as empresas que adquirem outras usam o cash flow das adquiridas para servir o débito.
O próprio governador do Banco do Canadá, David Dodge, afirmou, recentemente, estar preocupado com o aumento de fundos hedge e grupos de capital que, ao aquirirem companhias canadianas, reduzem o número de companhias públicas e a liquidez do mercado.
BCE Inc. ofereceu-se para ser comprada. Após meses de apatia, a companhia dá notícias que enchem páginas e páginas de jornais. O board de directores consultou uma firma especializada neste tipo de aquisições � Kohlberg Kravis Roberts.
Para os accionistas de BCE, a notícia é boa. Frustrados pela actuação modesta da companhia (esquecem-se dos dividendos), receberam favoravelmente a notícia e o preço das acções ganhou movimento.
Entre os interessados: Ontario Teachers Pension Fund, o maior accionista de BCE Inc. (5%), que convidou uma firma americana especializada em buy outs e quer participar na compra e o Canada Pension Plan Investment Board.
Barrick, a maior companhia mundial produtora de ouro, eliminou os últimos contratos de venda de ouro a longo prazo � conhecidos como hedging. Hedgindo é como um seguro, é uma garantia de venda a preço fixo. Infelizmente para Barrick, a companhia não pode tirar vantagem da subida do preço de ouro. Os seus contratos têm sido mais baixos do que o preço a que o metal tem sido negociado.
Para sair de hedging a companhia teve que despender $557 milhões de dólares americanos.
Em 19 anos, Loblaw, teve o seu primeiro prejuízo, no último trimestre. Concorrência, numa industria altamente competitiva, e a presença de Wall-Mart no Canadá, obrigou a companhia a uma despesa de reestruturação avaliada em $89 milhões de dólares. Incluídos neste despesa, $15 milhões de dólares para indemnizações a empregados despedidos e despesas com um consultante contratado para elaborar um plano acção para o ressurgimento da firma.
A companhia afirmou que irá reduzir preços, para melhor competir com outras organizações, investir em tecnologia e �trabalhar� nos Real Canadian Super Stores, do Ontário.
A companhia americana Alcoa Inc. pretende adquirir Alcan Inc.
Alcoa afirma-se determinada em investir 5 biliões de dólares americanos em fundições no Quebeque e aperfeiçoar a fundição em Kitimac, na Colômbia Brit�nica.
O governo do Quebeque aprova o takeover, desde que não haja perca de lugares de trabalho. O ministro Federal das Finanças continua à espera dos resultados dum estudo feito pelo ministério para dar o seu parecer sobre a transacção.
Da maneira como as coisas correm não é para admirar que em breve outra companhia canadiana desapareça do mapa.
Copyright © 2007 Álvaro Trigo