A ARTE DE SER DESPEDIDO

Dependendo da maneira como voc� reaja, o que � uma situa��o desagrad�vel - mas super�vel - pode se transformar numa calamidade

Por Andrea [email protected]

Quando seu chefe chama voc� para uma conversa reservada e, com ar grave e compungido, diz logo de sa�da que "sente muito", voc� est� prestes a sentir a terceira maior dor que um ser humano � capaz de sofrer. Voc� vai come�ar aquela conversa fun�rea preocupado e termin�-la arrasado por um dos maiores impactos emocionais que podem acometer uma pessoa. De acordo com uma pesquisa feita pelos m�dicos americanos Thomas Holmes e Richard Rahe, essa dor s� � superada, em primeiro lugar, pela perda de um filho. Em segundo, pela perda do marido ou da mulher ou dos pais.

� um sentimento devastador, capaz de provocar rea��es inesperadas, intempestivas - e freq�entemente desastrosas. Dependendo da maneira como a pessoa reagir, uma dor terr�vel mas super�vel pode acabar liquidando uma carreira. Os problemas que o demitido enfrenta podem se manter no tamanho normal ou ganhar propor��es de calamidade a partir da rea��o �quela conversa desagrad�vel descrita no in�cio desta reportagem.

A quest�o �: como reagir quando se � demitido? Como se controlar para n�o piorar ainda mais uma situa��o j� suficientemente ruim? Sim, a vontade � dar um tapa na cara do chefe. Um tapa estridente, para que todos no escrit�rio ou�am. O.k., todo mundo ouviu. Agora voc� est� preparado para pagar o pre�o do tapa? O pacote de sa�da que sua empresa lhe daria vai ser engavetado. Essa hist�ria vai correr. E quem � o chefe que vai contratar algu�m que pode esbofete�-lo na sa�da?

"N�o importa o quanto enfurecido e irritado voc� esteja, n�o queime nenhuma ponte", diz a consultora americana Rosanne Beers, da Beers Consulting, de Iowa, nos Estados Unidos. Uma das especialidades de Rosanne � prestar consultoria a executivos que perderam seus empregos. "Quando a pessoa n�o sabe lidar com suas emo��es e reage de forma violenta, normalmente acaba tendo de voltar atr�s, pois vai precisar ter boas refer�ncias de seu ex-chefe para um novo emprego", diz Rosanne. "N�o se esque�a de que voc� ainda est� � merc� da companhia."

N�o se pode dizer que ser demitido se tornou algo banal e vulgar. Seria um exagero. (E at� uma ofensa para a dor de quem perdeu o emprego.) Mas aquele estigma que cobria o demitido nos tempos em que os empregos eram para sempre se esvaneceu nestes dias de enxugamentos em escala global. Isso porque o ato de demitir (e com ele o ato de ser demitido) virou um dos mais corriqueiros - ainda sempre dolorosos - do mundo corporativo.

Apenas um exemplo: em 1986, quando a Volkswagen e a Ford se fundiram e se transformaram na Autolatina, havia 75 000 funcion�rios na empresa (considerando-se as opera��es brasileira e argentina). Oito anos depois, quando as duas montadoras se separaram, apenas 54 000 tinham permanecido. Dos 2 200 gerentes que existiam no momento da uni�o, sobraram 900 na desuni�o. Outro exemplo: em 1991, o banco Ita� tinha 50 000 funcion�rios. Hoje tem cerca de 36 000.

"H� 10 anos, a demiss�o estava ligada ao fracasso. Hoje ningu�m tem a menor restri��o em contratar algu�m que tenha sido demitido", diz Carlos Faccina, diretor de recursos humanos da Nestl�. Um estudo da Drake Beam Morin, mais conhecida como DBM, a maior empresa de recoloca��o de executivos do mundo, revela que h� 20 anos o profissional trocava de emprego apenas duas vezes, em m�dia, em toda a carreira. H� dez anos j� mudava quatro vezes. Atualmente s�o oito vezes. Na metade delas a troca de emprego � conseq��ncia de demiss�o.

SITUA��O PENOSA - Hoje sabe-se que a perda do emprego n�o est� necessariamente ligada a quest�es de desempenho. Uma pesquisa feita com 1 000 empresas americanas no ano passado mostrou que mais de 60% delas iriam demitir gente em decorr�ncia de corte de custos ao longo de 1997. A demiss�o integrou-se no dia-a-dia das empresas. � uma coisa que pode acontecer com qualquer um. Bem, esta � uma maneira um tanto gen�rica de abordar o tema. Vamos personalizar a discuss�o. Voc�. Voc� saberia como agir se acontecesse com voc�? (Isso supondo que j� n�o tenha acontecido.) O chefe chama voc� e...

Que fazer para n�o complicar consideravelmente uma situa��o que j� � suficientemente penosa?

"Deixe o escrit�rio com uma atitude positiva, pois voc� ser� sempre lembrado dessa maneira", afirma a americana Letitia Baldridge, autora de um guia de maneiras executivas consultado internacionalmente. Letitia ocupou quase tr�s p�ginas do seu livro com conselhos sobre como reagir � demiss�o. Ela lembra que � um momento para o qual nenhum executivo foi treinado ou preparado. Na opini�o dela, a demiss�o � um epis�dio estressante e terr�vel, mas todos n�s temos as armas para sobreviver a ele. Basta saber us�-las.

Os americanos Willian J. Morin e James C. Cabrera, especialistas em recoloca��o de executivos, escreveram um livro sobre o assunto. O t�tulo: Como Sobreviver � Perda de um Emprego e Ser Bem-Sucedido no Encontro de Outro. No pref�cio, Morin e Cabrera avisam que n�o h� como escapar da dor e da raiva que acompanham a perda do emprego. "Mas voc� pode controlar e dissipar esses sentimentos e at� transform�-los num triunfo pessoal e profissional", dizem eles. � preciso entender que a sua dor � �nica, s� voc� sabe o que est� sentindo. Mas a situa��o que voc� atravessa n�o �.

E ent�o: o que fazer se voc� for demitido? Suponha a seguinte situa��o: voc� acaba de saber que foi demitido. E a�, voc� faz o qu�? A resposta: nada. Coloque um z�per na boca. Respire fundo e apenas escute tudo o que o seu chefe tem para dizer. Ou pelo menos finja que est� escutando, porque provavelmente a essa altura voc� vai estar numa outra �rbita e n�o vai ouvir mais nada do que ele diz. Voc� vai sentir um aperto no peito, um buraco no est�mago, uma zoeira na cabe�a. "Na hora do baque, a sua rea��o vai ser proporcional aos seus sentimentos naquele momento", diz Victoria Bloch, diretora da DBM no Brasil. "Voc� pode dizer coisas que n�o diria 10 minutos depois." Coisas das quais talvez se arrependesse antes de chegar ao elevador.

Se voc� perceber que n�o h� condi��o de continuar a conversa, pe�a uma reuni�o para o dia seguinte. Voc� precisa de tempo para se recuperar do golpe e colocar as id�ias no lugar. O melhor a fazer pode ser sair do escrit�rio. "Se voc� decidiu sair imediatamente, fa�a isso. Nem volte para a sua mesa, n�o converse com ningu�m", dizem os consultores Morin e Cabrera. Ap�s receber uma not�cia dessas, voc� poder� suspeitar de que perdeu o controle da sua vida. V� para casa, o lugar que ser� o seu porto mais seguro nesse momento. Ao voltar para a sua realidade, voc� vai come�ar a entender que o seu emprego � apenas uma parte da sua hist�ria. Lembre-se, voc� foi demitido do emprego e n�o da sua vida.

Letitia Baldridge tem conselhos pr�ticos para quem acaba de perder o emprego. Suas recomenda��es �s vezes n�o batem com as de Morin e Cabrera, o que demonstra sobretudo como � complicado este assunto. Os dois sugerem o sil�ncio depois da demiss�o. Letitia n�o. Para ela, a primeira coisa a fazer � contar a m� not�cia aos colegas do escrit�rio. Mas em conversas reservadas. Nada de juntar um grupinho no meio do corredor e fazer um show do tipo "Esta � a minha vida". Se voc�, diz Letitia, passar as informa��es corretas, os rumores que cercam quase todas as demiss�es tender�o a se dissipar. Aproveite a conversa, sugere Letitia, para elogiar a turma da qual voc� se despede. "Diga o quanto voc� apreciou trabalhar com eles. N�o seja t�mido, demonstre os seus sentimentos. As pessoas gostam de demonstra��es de carinho", afirma Letitia.

Mais uma recomenda��o de Letitia: escreva uma carta para o principal executivo da empresa, com c�pias para os funcion�rios. Diga o quanto voc� apreciou trabalhar na empresa, ser membro desse time. "Mesmo que n�o seja verdade, vai ser melhor voc� sair com uma imagem simp�tica em vez de mostrar o rancor esperado por todos", diz Letitia. Ela sugere que voc� escreva tamb�m uma carta para cada um dos colegas com quem teve um bom relacionamento durante o tempo em que trabalhou na empresa.

Por que tudo isso? Para mostrar que voc� � bonzinho? N�o. Para melhorar a sua situa��o. "Mantenha o seu bom humor, pois assim as pessoas v�o querer continuar se relacionando com voc� e estar�o mais dispostas a ajud�-lo", aconselha Letitia.

Ah, sim: n�o pense s� em voc�. Pense tamb�m em sua secret�ria, que - pobrezinha, sem culpa de nada - est� em apuros por sua culpa. (Calma: tamb�m n�o � culpa sua. Mas mesmo assim ela est� em apuros.) Os bons modos executivos imp�em que voc� fa�a tudo o que estiver ao seu alcance pela sua secret�ria ou assistente. Fale com o pessoal da empresa para tentar encaix�-la em outra vaga e fa�a uma maravilhosa carta de recomenda��o para ela.

N�O TENTE BARGANHAR - E no dia seguinte ao an�ncio de demiss�o? O que voc� faz? Ap�s uma boa noite de sono (ou, mais provavelmente, de ins�nia), voc� vai estar um pouco mais acostumado com a id�ia. "A partir desse momento, voc� tem que se convencer de que as pessoas n�o v�o automaticamente discrimin�-lo ou pensar que voc� � um incompetente porque foi demitido. � importante mostrar ao mundo (e a voc� mesmo) o quanto � resistente."

Em caso de d�vida sobre alguns aspectos de sua sa�da, volte ao escrit�rio e tenha uma boa conversa com o chefe. Diga que quer uma conversa franca. Voc� precisa saber honestamente por que foi demitido, pois isso vai ajud�-lo na sua carreira dali para a frente. N�o tente barganhar. Jamais pe�a para ficar at� terminar um projeto e nunca diga coisas do tipo: "Demita fulano que � mais jovem que eu e n�o tem filhos".

Al�m de continuar demitido, voc� ter� dificuldades, com expedientes como esse, em olhar para o espelho. "N�o se humilhe, pois � uma decis�o que n�o tem volta", diz Victoria, da DBM. Em seguida, pe�a para que ele repita novamente tudo o que dissera no dia anterior, principalmente a parte do seu pacote de sa�da. Anote todas as informa��es. Isso vai sinalizar que voc� tem consci�ncia do seu valor e pretende negociar muito bem a sua sa�da. A empresa vai querer ver voc� longe o mais r�pido poss�vel porque voc� se transformou numa embara�osa lembran�a para todos do que pode acontecer com eles um dia. Mas isso n�o � problema seu. N�o aceite a primeira oferta s� para sair r�pido de cena. Voc� n�o � um criminoso. V� com calma.

Procure obter mais benef�cios pela sua sa�da: amplia��o do tempo de cobertura do plano de sa�de, um valor maior na indeniza��o, a possibilidade de ficar por mais algum tempo com o carro da empresa ou at� mesmo com os servi�os da sua secret�ria. "As chances de voc� melhorar o seu pacote de sa�da s�o enormes porque a empresa sempre pode mais do que est� oferecendo", diz Jos� Augusto Minarelli, da Lens & Minarelli, uma empresa de recoloca��o de S�o Paulo.

Ap�s a conversa em que o chefe comunica a m� not�cia, � poss�vel que a primeira pessoa que voc� veja pela frente seja um profissional de recoloca��o. Cada vez mais as empresas est�o buscando a ajuda desses especialistas na hora de fazer uma demiss�o. Muitas vezes eles ficam de plant�o na sala ao lado enquanto voc� est� recebendo a not�cia. Pode parecer uma atitude muito fria e calculada por parte do seu chefe. E � isso mesmo. Em vez de se melindrar com a atitude dele, tire o melhor proveito da situa��o.

"� bom ter algu�m por perto quando voc� acaba de romper com toda uma hist�ria de vida", diz Victoria. � at� melhor que se trate de uma pessoa estranha, pois voc� pode reagir do jeito que quiser. Victoria j� esteve na sala ao lado de v�rias empresas e assistiu a todos os tipos de cena, da torrente de improp�rios �s l�grimas silenciosas. (Improp�rios ditos diante de uma pessoa "neutra", como Victoria, s�o uma coisa. Ditos ao chefe s�o outra, infinitamente mais amea�adora para a carreira de quem perde o controle.)

Na opini�o de Minarelli, que tamb�m tem experi�ncia em atender executivos assim que eles recebem a comunica��o da demiss�o, o momento da catarse � aquele em que o demitido est� diante do especialista em arrumar novos empregos. "Enquanto voc� estiver sozinho com o profissional de recoloca��o, aproveite para desabafar, dizer tudo o que pensa", diz ele.

Minarelli atua de acordo com a rea��o do demitido. Se a pessoa estiver muito ansiosa, Minarelli pode recomendar que saia de cena por uma semana e feche para balan�o. Ela est� precisando de um tempo para reordenar as id�ias. Se o demitido estiver agindo de forma demasiadamente passiva, ser� instigado a reagir. A se mexer. Nada de descansar. � hora de voltar � ativa. "O nosso objetivo � colocar a pessoa de novo nos trilhos", diz Minarelli.

MAIORES BOBAGENS - Em algumas empresas n�o � o especialista em recoloca��o que entra em a��o logo ap�s a m� not�cia. � gente da casa mesmo. A Alcoa, por exemplo, estabeleceu uma entrevista de desligamento que acontece logo ap�s a demiss�o. O teor da conversa, mantida em sigilo, � transmitido apenas ao diretor de RH e ao presidente da Alcoa. A id�ia � saber mais sobre cada caso. "Se tr�s pessoas de uma mesma �rea n�o sabem por que foram demitidas, existe algo errado. De repente � o chefe que deve ser mandado embora", diz Jos� Taragano, diretor de RH e qualidade da Alcoa.

Morin e Cabrera acreditam que as primeiras 72 horas depois da demiss�o representam o per�odo mais prop�cio para que voc� cometa as maiores bobagens. Voc�, lembram eles, ainda vai estar de cabe�a quente e sendo bombardeado por um turbilh�o de emo��es. Suas id�ias poder�o estar em pane. Com a palavra um expert em id�ias em pane. "N�o adianta ficar ruminando coisas do tipo 'onde errei' ou 'e se eu tivesse feito isso ou aquilo'", diz o psiquiatra Henrique Sch�tzer Del Nero. "Essa vis�o paran�ica vai atrapalhar a sua recupera��o." Pelo div� do psiquiatra j� passaram altos executivos que se encontravam destro�ados por uma demiss�o. Um conselho de Del Nero: "Voc� precisa se sentir como um passageiro de um processo que n�o tem em voc� o culpado ou o inocente".

Esse � o momento de se concentrar e entender o que aconteceu com voc�. N�o atenda ao seu primeiro impulso de sair correndo em busca de um novo emprego. Voc� vai estar t�o atordoado que n�o ter� condi��es de avaliar se o emprego � bom ou n�o. Vai querer agarrar a primeira coisa que vir pela frente. "Isso � como tentar montar num cavalo que acabou de derrubar voc� no ch�o", dizem Morin e Cabrera. O melhor a fazer, segundo eles, � parar, calcular o tamanho do tombo e checar os danos. Nesse momento, voc� tem duas prioridades: lidar com as suas emo��es e enxergar o lado pr�tico da sua sobreviv�ncia dali por diante.

Vamos come�ar com o lado emocional. "N�o pense que d� para esconder as suas emo��es. Elas estar�o estampadas na sua testa e n�o v�o desaparecer se voc� simplesmente ignor�-las", dizem Morin e Cabrera. V�rios estudos do Michigan Prevention Research Center, do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan, revelam que a perda do emprego �.

 

BOM HUMOR - "Cada pessoa tem uma capacidade pr�pria de lidar com isso. Muitas vezes ela precisa de uma ajuda externa para superar o baque", afirma ele. Segundo Ara�jo, n�o � incomum o caso de executivos que passam a usar drogas ou abusar do �lcool na tentativa de restabelecer o bom humor. E aten��o, mulheres. Segundo Ara�jo, as mulheres, que j� carregam uma carga de press�o por causa da jornada dupla e do sentimento de culpa em rela��o a deixar os filhos para ir trabalhar, t�m uma chance de duas a tr�s vezes maior de sofrer de problemas psicol�gicos ao serem demitidas.

Um presidente de uma grande corpora��o e um gerente m�dio reagem praticamente da mesma maneira � perda do emprego. Uma pessoa com apenas dois anos de empresa se sente t�o chocada quanto a que estava h� 20 anos no mesmo emprego. Essa � a conclus�o de Morin e Cabrera ap�s terem acompanhado cerca de 15 000 casos de recoloca��o ao longo de suas carreiras. Ou seja, a sensa��o de ter sido atropelado por um caminh�o � a mesma para todos. A dor e o sentimento de frustra��o e de impot�ncia s�o os mesmos para qualquer pessoa. O que muda de uma pessoa para outra � a rea��o.

H� o caso, por exemplo, da secret�ria de uma grande companhia multinacional, com sede em S�o Paulo, que n�o conseguia aceitar o fato. Depois de demiti-la, o chefe disse que ela poderia ficar na empresa at� encontrar outro emprego. Ela ficou seis meses. Foi uma situa��o constrangedora no escrit�rio. Todos os dias ela aparecia na empresa, se sentava � sua mesa e agia como se estivesse realmente trabalhando. A situa��o chegou a um tal ponto que a empresa decidiu mudar todo o layout do escrit�rio mas manteve o espa�o dela no mesmo lugar, completamente deslocado do novo cen�rio - assim como a pr�pria secret�ria. Ela precisou de um acompanhamento psiqui�trico para superar a crise.

Outro caso quem conta � a dupla de especialistas americanos Morin e Cabrera. Um alto executivo que trabalhou para uma companhia durante 20 anos foi demitido numa sexta-feira e colocado num avi�o rumo a Chicago, onde receberia o aconselhamento de uma equipe da DBM. Na segunda-feira seguinte ele n�o apareceu no escrit�rio da empresa de outplacement. Foram encontr�-lo no quarto do hotel com a apar�ncia de quem n�o havia tomado banho e com a barba por fazer. Ele estava sentado numa cadeira, em posi��o fetal, em estado de choque. Ele era um profissional competente e talentoso, mas precisou de seis meses para recuperar sua autoconfian�a. Dois anos depois estava no comando de uma grande companhia.

A especialista americana em recursos humanos Donna MacDougall Ferris, autora de um guia sobre a busca de emprego, se baseou em pesquisas da psiquiatra Elizabeth Kubler-Ross para estabelecer oito est�gios emocionais p�s-demiss�o. O primeiro deles � a recusa em admitir o quanto isso afeta a sua vida. Essa recusa levada ao extremo se transforma na nega��o do fato em si, como aconteceu com a secret�ria descrita acima. Depois vem a frustra��o, que vai crescer se voc� continuar sentindo que a sua vida est� fora de controle. N�o deixe isso acontecer, tome as r�deas da situa��o.

Em terceiro lugar, surge a raiva. Voc� poder� sentir raiva da empresa, do chefe, dos colegas. "N�o se reprima. D�-se o direito de sentir isso", diz Donna. "Provavelmente voc� ficar� mais aliviado e logo essa raiva vai passar." No quarto est�gio voc� passa a se questionar sobre coisas que acha que deveria ter feito e n�o fez. Ap�s isso vem a sensa��o de apreens�o em rela��o ao futuro. "Esse est�gio � um dos mais delicados, pois voc� ter� de se controlar para n�o entrar em p�nico", afirma ela.

QUEST�O FINANCEIRA - O melhor a fazer � n�o superdimensionar as coisas. Lembre-se que o bicho tem o tamanho que voc� o desenha. O sexto est�gio vai ocorrer quando voc� realmente entender o que est� acontecendo. A� vem a depress�o. Essa � a hora do luto e da dor. N�o se preocupe, voc� vai sair dessa. Trate de se alimentar direito, fazer exerc�cios e manter um pensamento positivo. Depois vem a aceita��o da situa��o. Agora, voc� estar� preparado para o �ltimo est�gio, quando voc� volta a enxergar um futuro cheio de oportunidades. "Pronto, voc� est� novamente com o controle da situa��o. � s� seguir em frente", afirma Donna.

As primeiras 72 horas s�o fundamentais para que voc� atravesse aquele duro percurso que vai da dor da perda � visualiza��o de uma sa�da para o problema. � tempo suficiente para voc� perceber que o mundo n�o acabou porque voc� foi mandado embora do emprego. Voc� precisa estar com a mente tranq�ila para poder cuidar de um t�pico vital: a quest�o financeira.

O sal�rio de cada m�s sumir� por uns tempos. E ent�o? Primeiro conselho: n�o minta. Conte para a fam�lia a hist�ria como ela �. Sendo sincero, diz a consultora americana Rosanne Beers, voc� ter� mais apoio da fam�lia na hora de cortar despesas. Outro conselho de Rosanne: fa�a um planejamento financeiro como se voc� fosse ficar um ano sem trabalhar. Provavelmente voc� n�o vai ficar tanto tempo assim fora do mercado. Mas, se voc� fizer os cortes no or�amento com isso em mente, voc� ter� um f�lego maior e ficar� menos angustiado se a sua recoloca��o demorar mais que o esperado. E ou�a mais esse conselho de Letitia: "N�o pare de se divertir. Mesmo se voc� tiver que reduzir os seus gastos, convide as pessoas para ir � sua casa para comer uma pizza ap�s um filme".

Se voc� acha que estar� protegendo a sua fam�lia ao preferir se isolar num canto da casa em vez de abrir o seu cora��o e dizer tudo o que sente, voc� est� inteiramente errado. O clima pesado vai estar no ar e a melhor maneira de ameniz�-lo � falar sobre o assunto com as pessoas mais chegadas. N�o esque�a que elas tamb�m est�o assustadas com tudo isso e cabe a voc� serenar os �nimos. "Procure n�o deixar a sua fam�lia deprimida com os seus pensamentos negativos moment�neos, pois ela � o seu bem mais valioso", diz Letitia. Reparta as suas emo��es com essas pessoas e voc� provavelmente se surpreender� com a for�a que ir� encontrar dentro de casa. "Conhecemos v�rios exemplos de casais que fortaleceram ainda mais a rela��o durante uma crise causada pela demiss�o de um deles", dizem Morin e Cabrera.

Se voc� tiver filhos pequenos, d� uma aten��o especial a eles. As crian�as vivem num mundo de fantasia em que as coisas podem atingir propor��es muito maiores do que a realidade. Todas as d�vidas delas devem ser esclarecidas. Explique a elas que n�o existe um culpado para o que ocorreu pois as crian�as tamb�m t�m uma certa tend�ncia em se sentir culpadas pelas coisas ruins que acontecem com os pais. "A crian�a deposita toda a seguran�a nos pais. Se ela n�o entender bem o que est� acontecendo pode achar que vai perder tudo o que tem de uma hora para a outra", diz Rosanne. Talvez seja o caso at� de informar o coordenador pedag�gico do col�gio para que ele acompanhe mais de perto as atitudes dos seus filhos nesse per�odo.

Quanto aos amigos, cabe a voc� decidir quais deles quer por perto. Talvez voc� tenha que procur�-los, pois muitos poder�o se sentir constrangidos com a situa��o. Ningu�m sabe o que dizer nessas horas. Voc� deve quebrar o gelo. Com certeza, eles s� estar�o aguardando o seu sinal verde para se aproximar e dar todo o apoio do mundo a voc�.

MARKETING PESSOAL - N�o se isole. Nessas horas, todos precisam das pessoas que fazem parte dos bons momentos de sua vida. Hoje foi com voc�, amanh� poder� ser com um deles. Todos est�o, de certa forma, no mesmo barco. E � assim que voc� deve pensar em rela��o �s pessoas que ir�o cruzar no seu caminho durante essa fase dif�cil. Tenha sempre em mente que o mundo n�o est� contra voc�. Por isso, n�o fique o tempo toda na defensiva. Cada vez que voc� for apresentado a algu�m, a segunda ou terceira pergunta que ouvir� ser�: onde voc� trabalha? Pelo menos � assim que 99,9% das pessoas no mundo iniciam uma conversa. Ou seja, n�o � nada pessoal. Por isso, responda � pergunta com a maior naturalidade do mundo e continue o papo.

Voc� sempre se formular� a seguinte quest�o: eu poderia ter evitado essa demiss�o? Isso ningu�m sabe. At� porque cada caso � um caso. O que voc� poderia � estar mais preparado para essa possibilidade. N�o s� a da perda do emprego como a da busca por um novo posto de trabalho. "Desenvolva uma base de seguran�a para sobreviver � demiss�o", afirma Minarelli. Ele est� falando da palavra do momento: empregabilidade, o conjunto de compet�ncias e habilidades necess�rio para garantir a sua coloca��o dentro e fora da empresa. "O que existe hoje � a seguran�a de ser empreg�vel", afirma ele. Os instrumentos essenciais da empregabilidade: idiomas, cursos, MBAs, marketing pessoal etc.

E o que se aprende nesse processo todo? "Pela primeira vez na sua vida, voc� teve a oportunidade de parar e pensar o que voc� espera de um novo emprego e vice-versa", dizem Morin e Cabrera. A despeito de toda a dor, voc� provavelmente estar� melhor do que era. Talvez tenha enxergado falhas e defici�ncia que jamais perceberia se estivesse na seguran�a de seu antigo emprego. E o melhor de tudo � que voc� aprendeu que existe vida ap�s a demiss�o.

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