Como evitar que situações complicadas atrapalhem sua carreira - e sua vida

Por Andrea [email protected]

"Não há nenhuma realização tão fácil de alcançar como a polidez,
e nenhuma mais lucrativa"
George Bernard Shaw

Imagine alguma das seguintes situações: você acaba de assumir um setor da empresa onde os subordinados são mais velhos e, provavelmente, fizeram força para conquistar esse mesmo cargo e não conseguiram. Como lidar com isso? Ou: você se vê obrigado, de alguma forma, a convidar seu chefe, que não é um amigo pessoal, para jantar na sua casa. Como fazer as coisas correrem de forma natural e agradável? Outra: você resolve mudar de emprego e não quer criar um clima ruim. Como cumprir direito todas aquelas etapas de buscas e entrevistas sem pisar na bola na empresa onde está agora? E mais essa: no final de um almoço de negócios o cliente engata num papo animado sem demonstrar a menor pressa em ir embora e você já está atrasado para outro compromisso. Como encerrar o encontro com elegância?

Você está seguro de que saberia agir corretamente diante de situações como as descritas acima? Sim? Parabéns. Quem sabe realmente o que fazer em casos dessa natureza está preparado para se sair bem em todas aquelas circunstâncias - e elas são muitas - nas quais a vida executiva exige uma etiqueta correta. Caso tenha dúvidas, nenhum problema. Você faz parte de um grande número de profissionais que, apesar de serem pessoas bem-educadas, não dominam completamente todos os detalhes do código de comportamento em vigor no mundo dos negócios. É o tipo de coisa que tem conserto.

Sim, a vida em sociedade coloca uma série de desafios específicos para o executivo. Desafios que vão muito além do que prescrevem os manuais de etiqueta: como retribuir presentes, como se comportar num casamento, como se vestir, como proceder à mesa. Tudo isso é fácil porque depende, basicamente, de coisas que a maioria dos executivos tem: educação, adquirida no convívio familiar e social, bom senso e capacidade de observação. Mas a vida dos negócios, dentro e fora da empresa, cria situações para as quais o código habitual de boas maneiras freqüentemente não tem respostas. Isso é tanto mais verdade numa época em que a vida nas empresas passa por transformações numa intensidade talvez sem paralelo. Mudam as empresas, mudam as demandas feitas aos executivos, mudam os códigos e mudam as regras. "Nosso objetivo não é ensinar o executivo a lidar com os talheres à mesa, mas sim como agir a partir daí", afirma o casal americano Linda e Wayne Phillips, autor do livro The Concise Guide to Executive Etiquette, e donos de uma empresa que promove seminários e presta consultoria nessa área.

O executivo de hoje se vê diante de circunstâncias novas no dia-a-dia de trabalho. São momentos que geram dúvidas genuínas a respeito de como se comportar, mesmo para quem teve berço e acumula anos de janela. Que dizer de profissionais jovens, sem muita experiência de vida? Ou de quem só agora está chegando a postos que exigem altas doses de traquejo? Se alguém lhe disser que se preocupar com esse tipo de questão é algo fútil ou secundário, não dê ouvidos. Saber resolver bem as "saias justas" é fundamental para a carreira do executivo. Em primeiro lugar, porque os modos de uma pessoa continuam traduzindo quem ela é. Depois, porque as empresas estão prestando cada vez mais atenção ao "capital social" de seus executivos, ou seja, à sua capacidade de comportar-se com savoir-faire, elegância e cavalheirismo diante de superiores e subordinados e, principalmente, de clientes, fornecedores e seus pares no mundo empresarial. Dessa capacidade vai depender, muitas vezes, a imagem que a empresa projeta de si.

"Os princípios da etiqueta social e de negócios têm a mesma função que os sinais de trânsito: indicam, através de uma mesma linguagem, quem são as pessoas com quem vamos nos encontrar, conversar, viajar e fazer negócios", afirma o casal Phillips. Um profissional que não tenha noções corretas, e até sofisticadas, de etiqueta, poderá anular boa parte da sua competência técnica. Porque não se trata de saber se comportar bem só entre amigos e parentes em ocasiões sociais. É preciso saber se portar dentro do ambiente profissional, com o "público" que tem a ver com o trabalho. Esqueça as lendas sobre sujeitos grossos e bem-sucedidos profissionalmente, por graça de seu talento e eficiência. Casos assim podem até existir, por essa ou aquela circunstância especial, mas você não terá nada a ganhar indo por esse caminho - o mais provável é que acabe apenas com a fama de grosso e, pior, que trombe em sua carreira. Trata-se de uma equação simples: nove entre 10 pessoas não gostam de dar apoio a gente desagradável.

Obviamente não é possível prever todas as situações delicadas com as quais você poderá deparar. Algumas podem ser tão inusitadas que talvez nem tenham sido imaginadas por alguém. A prática da vida, no entanto, mostra que há uma série de cenários que ocorrem com maior freqüência. Selecionamos alguns. Do material pesquisado, dois livros, particularmente, surgem como instrumentos valiosos de ajuda para quem queira estar atualizado com a etiqueta executiva contemporânea: o escrito pelo casal Phillips (citado acima) e o da americana Letitia Baldrige, New Complete Guide to Executive Manners. Letitia foi chefe do staff de Jacqueline Kennedy entre 1961 e 1963, e permaneceu como consultora de protocolo da Casa Branca nas cinco administrações federais seguintes. Vamos a eles.

Meus subordinados são mais velhos que eu

Se você é um jovem executivo que acaba de assumir uma área onde os outros são mais velhos, não espere ser recebido com flores e banda de música. Haverá, sim, amargura e frustração nos corredores. A regra número um é saber tratar essas pessoas com o respeito que elas merecem. Por exemplo: quando quiser falar com um dos subordinados, em vez de chamá-lo até sua sala (ou, pior ainda, chamá-lo em voz alta), levante-se e vá à mesa dele. Ele vai gostar de sentir que está sendo tratado com gentileza. Se for preciso fazer uma crítica ou repreensão, o cuidado deve ser redobrado. Esqueça, absolutamente, a idéia de dar um pito. Não dá para usar as mesmas palavras e o mesmo tom de voz que se usaria com um estagiário. Diga exatamente o que tem a dizer, mas sem revelar irritação ou impaciência, e numa conversa que tenha o tom e o nível de diálogo profissional. Outra coisa: se você chama o seu pai ou seus tios de senhor, trate seus subordinados mais velhos da mesma maneira, até que insistam para ser chamados de "você". Todas essas não são apenas questões de educação, mas sim de consideração.

Valorize ao máximo a experiência das pessoas. Aproveite os conhecimentos daquele que morou fora do Brasil, do craque em investimentos, do outro que trabalhou anos numa fábrica de tratores. Lembre-se de que as pessoas têm passado. Talvez você, mesmo sendo mais novo, tenha mais experiência profissional que seus subordinados. Mas a vivência deles é maior, nunca esqueça. Enfim, não se coloque no Olimpo e mostre que é de carne e osso. Isso mexe de verdade com as pessoas.

Mesmo com esses cuidados, esteja preparado para um certo clima pesado no começo. Há algumas maneiras, porém, de minimizar a resistência inicial. "Antes de assumir o cargo tente saber um pouco mais sobre a vida das pessoas com quem vai trabalhar daqui para a frente", diz Letitia. Sua própria secretária pode ser uma boa fonte de informações (deixe claro que não está atrás de fofocas). Você poderá ter alguma coisa mais interessante para dizer na hora das apresentações além do "conto com você, hein". Dê os parabéns à funcionária que acaba de ter um filho temporão. Pergunte ao supervisor, que foi transferido de uma das subsidiárias para a matriz, se já se acostumou na nova cidade.

Não esqueça, também, que gente nova num departamento desperta curiosidade (leia o item Sou novo na empresa). E é melhor que seja você a pessoa que vai satisfazer o desejo de informações dos outros. "É importante falar um pouco de você, da sua formação profissional, das empresas por onde passou", diz Letitia. Sua vida pessoal provoca igual interesse. Diga logo se é casado ou separado, se tem filhos, quantos tem. Se for discreto demais corre o risco de as pessoas começarem a fazer suposições. É mais seguro, portanto, tomar a iniciativa de fazer uma autobiografia resumida antes que algum aventureiro a faça por você. Tome todos esses cuidados mas jamais permita que a sua amabilidade seja confundida com fragilidade. Sua firmeza tem que estar estampada no seu rosto, nas suas atitudes e nas suas palavras.

Sou mais velho que meu chefe

E o contrário? Quando é você quem está do outro lado da mesa? Ter que engolir um chefe mais novo raramente é uma experiência confortável, pelo menos nos momentos iniciais. Por mais que você saiba que isso é um sinal dos tempos e que vem acontecendo nos quatro cantos do mundo, ou por mais que tenha tido sua cota de chefes mais velhos e idiotas, não deixa de ser um problema para o ego - para a imagem que você faz de si mesmo, para a imagem que os outros fazem de você. "É extremamente difícil para o executivo ficar abaixo de um jovem que está aprendendo a lidar com situações que ele tira de letra", diz o casal de consultores Wayne e Linda Phillips. O primeiro passo é admitir logo quanto isso o incomoda (talvez a irritação passe até mais rápido) e se controlar - entre outras coisas, para não ficar sem emprego. Num momento desses, sem que se perceba, mágoas e frustrações de anos podem vir à tona. Em vez de jogá-las para cima do novo chefe, reflita um pouco: o rapaz pode ter tido acesso a melhores universidades, a experiências internacionais, a cursos de especialização, enfim, a oportunidades que você não teve. E mesmo que não seja o caso, trate de valorizar o que está bem com você, independentemente do novo chefe. Ninguém consegue ter tudo. Vai ver você é mais feliz que ele no casamento. Ou tem mais sorte no pôquer.

É bobagem encarar o problema como uma derrota pessoal. Em geral, na vida, nós fazemos só aquilo que nos parece importante de alguma maneira, e se tivermos condições de fazer. Por isso não se atormente pelas coisas que deveria ter feito e não fez. Não seja seu próprio carrasco. Aja com a cabeça. "Em vez de trabalhar contra o jovem chefe, ajude-o com sua experiência e ganhe a confiança dele", aconselham os Phillips. E, por favor, faça isso sem dar uma de pai. A pior coisa é ter ao lado alguém que considera obrigação dos mais novos seguir à risca as opiniões dos mais velhos, já que estes são mais velhos. Nada de proferir, em tom de mal disfarçada alegria, o célebre "eu avisei", quando as coisas não dão certo. Nada de ficar o tempo todo lembrando que você tem tantos anos de janela, tantos anos de empresa, tantos anos de profissão. Nada de dizer a seu chefe mais jovem que "as coisas aqui não funcionam assim", "aqui sempre fizemos de outro jeito" e frases da mesma família. "Não há acordo que resista a esse tipo de atitude", diz o casal Phillips.

Não precisa ser cínico a ponto de parecer feliz com a chegada do moço. Não adianta sorrir se os seus olhos estão fuzilando o "garoto". Também não é preciso (aliás, é muito ruim) concordar com ele em tudo: se você genuinamente discorda de alguma coisa, exponha, racional e tecnicamente, o seu ponto de vista. O que não adianta nada é andar pelos corredores arrastando a tromba. Ou com ares de vítima. Ninguém vai agüentar suas lamúrias por muito tempo. A melhor maneira de reagir a isso é tomar uma injeção de ânimo. Faça planos, coloque em prática um de seus projetos pessoais. Prove a você mesmo que sua vida é muito maior do que a simples chegada de um chefe mais jovem.

Nunca sei o que fazer quando...

Preciso convidar meu chefe para jantar na minha casa. Antes de mais nada saiba que só existem três situações em que você deve convidar o chefe para um jantar na sua casa. 1- Para retribuir um jantar na casa dele (um jantar no qual não tenha ido metade do departamento, bem entendido). 2- Se ele vem mostrando interesse em conhecer sua mulher(marido), seus filhos, já tocou no assunto uma ou duas vezes, enfim, vem sinalizando claramente vontade de se aproximar mais de você. 3- Ou se, independentemente da relação profissional, vocês são amigos pessoais (já eram antes de trabalhar juntos ou se tornaram dentro da empresa). Fora essas três situações não faça um convite desses. Você corre o risco de ganhar imagem de bajulador e, pior, irá colocar o chefe numa posição difícil. Como é que ele vai recusar o seu convite?

Ele aceitou, não importa qual dos casos seja. O próximo passo é não complicar ainda mais aquilo que já é meio complicado por natureza. Tudo correrá bem se você agir da mesma maneira que age ao receber seus amigos. Seja você mesmo. O pior erro é criar uma situação artificial. Por exemplo, se você é um jovem executivo, em começo de carreira, é fácil imaginar sua condição financeira. Seu chefe, aliás, conhece seu salário melhor que ninguém. Não adianta fazer uma coleta na prataria e nos cristais da família para impressioná-lo. O réchaud da sua tia rica não vai nem caber direito na sua mesa de jantar. Os talheres de prata também são grandes demais. E sua falta de familiaridade com os apetrechos vai ficar clara. "Ninguém precisa mascarar nada", diz Cristina Franco, consultora de moda e de modos. "O que conta é a simpatia e gentileza com que você trata os seus convidados." Quanto ao menu, prefira pratos simples e de aprovação comprovada.

Sou convidado para jantar na casa do chefe. Não saia falando para todo mundo no escritório. Aqueles que não foram convidados vão se sentir por baixo e tendem a pichá-lo. Se você é casado(a), o convite, provavelmente, será feito ao casal. Se for solteiro(a), mas tem namorada(o) firme, pergunte se pode levá-la(o). Isso só vale para os convites informais. "Jamais peça para levar a(o) namorada(o) a uma festa ou jantar de negócios, a menos que venha estipulado no convite o direito a acompanhante", diz Letitia. Quanto às flores, pode escolher entre enviá-las antes do jantar ou mandá-las no dia seguinte, sempre com um cartão de agradecimento. Entregá-las pessoalmente, à noite, pode atrapalhar a anfitriã. Ela terá que providenciar um vaso, acomodar as flores e ainda colocá-las num local de destaque. Imagine se todos os convidados tiverem a mesma idéia que você...

Tenho que dar o meu cartão de visita. Para saber se deve, ou não, oferecer seu cartão e identificar o momento certo de fazer isso, a jornalista americana Judith Martin, autora do livro Miss Manners' Guide for the Turn-of-the-Millennium, diz o seguinte: "Você só deve oferecer o seu cartão se perceber durante a conversa que há um interesse comum para um contato futuro". Portanto, esse negócio de ir chegando e logo entregando o cartão é errado (a não ser que de antemão já se saiba que vai haver interesse). Seja seletivo. Não saia distribuindo cartões a torto e a direito. Nem transforme essa atitude rotineira num show. "A troca de cartões deve ocorrer de forma discreta", diz Letitia.

No que se refere a cartões, o importante mesmo é não esquecer de levá-los, principalmente nos encontros e eventos de negócios. Demonstra descuido, pouco-caso. Quanto à quantidade, peque pelo excesso. Reponha o estoque da carteira toda semana. Outra coisa: esteja você num restaurante ou numa festa black-tie, nunca entregue o cartão durante a refeição.

Viajo sozinha. Ainda hoje, mesmo nos lugares mais civilizados, a mulher tem que mostrar que o fato de estar sozinha não significa que esteja "disponível" ou procurando companhia. Qualquer mulher sabe bem deixar claro quando a aproximação não interessa. "Basta um olhar", diz Letitia. Nem sempre é assim tão simples. Às vezes a transmissão do recado requer uma mão-de-obra muito maior. De qualquer forma, não é preciso se trancar nas horas de folga de uma viagem a trabalho. Ou se privar de tomar um drinque no bar do hotel.

Mulher sozinha num bar de hotel quase sempre é abordada. Como evitar uma ofensiva indesejada? "Aparentando ser sempre a mulher de negócios que você é. Esse é o segredo", diz Letitia. Carregue sua pasta de executiva para o bar ou restaurante. Sem qualquer embaraço, peça uma mesa para uma pessoa. Você se sente constrangida por estar sozinha? Puxe um bloco e anote coisas para o dia seguinte ou para a próxima reunião. "Se não vier nada à cabeça simplesmente finja que está escrevendo algo importante", diz Letitia. "Depois de algum tempo até os mais insistentes vão cansar de ficar olhando para a sua cara e você vai poder comer sossegada."

Uso barbicha. Pega bem?

Se você é um executivo que cultiva algo do gênero, preste atenção especial a esta dúvida. Ela foi levantada por um jovem executivo que tinha uma entrevista para um emprego e queria saber se deveria, ou não, tirar a barbicha. (O rapaz enviou um e-mail à revista americana GQ, no final do ano passado.) Quem responde é Letitia: "O executivo deve ter um estilo que combine com a companhia na qual trabalha ou pretende trabalhar. Numa empresa de computação pode ser normal usar barbicha ou cavanhaque. Num banco causa péssima impressão". Traduzindo: se o instinto disser que convém, livre-se da barbicha (ou da barba, ou do rabo-de-cavalo, ou do cabelo nos ombros, e por aí afora). Não vai doer nada - e, principalmente, é o tipo de coisa que pode se consertar depois.

Sim, pois o sacrifício de hoje pode ser um recuo temporário, sobretudo se você se revelar um excelente profissional. "Ao voltar de suas primeiras férias, apareça com a barbicha e veja o que acontece", sugere Letitia. Se um colega disser que você está parecendo um VJ da MTV, tudo bem. Pode ser inveja. Mas se seu chefe fizer algum comentário do tipo "que coincidência, meu filho surfista está usando uma barbicha idêntica à sua", não insista. O recado foi dado. Se não houver nenhuma reação, deixe como está: você acaba de conquistar o direito a ter seu estilo próprio dentro da empresa.

Como me comportar quando viajo a trabalho

Quando o executivo faz uma viagem profissional, ao exterior ou dentro do Brasil, ele se torna uma espécie de embaixador da empresa. E é do tamanho desse título que fica a sua responsabilidade. Tudo o que fizer será usado contra, ou a favor, não apenas ele pessoa física mas também contra a companhia em que trabalha. O tempo todo, sem intervalos para descanso, a empresa que o executivo representa estará sendo avaliada através do seu comportamento, das suas atitudes, da sua educação.

Isso ficou bem claro? Então vamos passar a dois tópicos nos quais o brasileiro é mestre em deslizar. O primeiro é a pontualidade. No dia-a-dia das empresas aqui no Brasil é comum uma reunião começar 15 ou 30 minutos depois do horário estipulado. Ninguém estranha. Costumamos calcular grande parte dos compromissos já com uma folga de meia hora, quando não mais.

"A falta de pontualidade está tão impregnada na nossa cultura que usamos o adjetivo 'pontual' para descrever uma pessoa da mesma maneira que o 'simpático', o 'alegre' ou o 'ranzinza'", diz Claudia Matarazzo, consultora de etiqueta e autora do livro Gafe não é Pecado. É assim mesmo. Mas é bom que se tenha em mente que essa é uma característica tipicamente brasileira. No mundo dos negócios internacionais ninguém entende um atraso - a não ser que chegue acompanhado de uma história trágica (e real). Para os estrangeiros, de forma geral, falta de pontualidade significa desinteresse, pouco caso, desatenção, desconsideração. Que fazer? "Informe-se no hotel sobre o tempo que se leva para chegar ao local da sua reunião, e saia com uma boa antecedência", recomenda o casal de consultores Phillips.

O segundo ponto em que o brasileiro erra sem nem se dar conta é a falta de formalidade. Somos conhecidos como um povo muito simpático. E isso em nada nos atrapalha. O problema é que muita gente confunde simpatia e cordialidade com liberdade, intimidade, confiança abusiva e coisas do gênero. Aí é ruim. E pode atrapalhar muito. É natural perguntar a um executivo brasileiro que conhecemos uma hora atrás se ele é casado, tem filhos, onde mora, qual sua idade e o que faz nos fins de semana. Ele não se ofende. Europeus e americanos, nessa mesma circunstância, encaram esse tipo de pergunta como invasão de privacidade. E igualmente estranham se você disparar a falar sobre sua vida pessoal. Quando a conversa sobre trabalho acabar, portanto, fale sobre clima, esportes, filmes. Ou canalize a sua curiosidade para o modo de vida daquele lugar.

Estou sendo paquerado(a) por um cliente

É provável que você já tenha visto esse filme. Ou, pior, venha a ser o(a) protagonista. (Troque a palavra cliente por colega ou chefe, dá tudo na mesma.) Não perca tempo numa situação dessas. Seja radical e corte o mal pela raiz. "Se você é solteiro(a) e vive sendo convidado(a) por um colega ou cliente para sair e não está interessado, não fique enrolando", diz Letitia. "Diga que você adoraria conhecê-lo(a) melhor, mas já existe alguém muito importante na sua vida (mesmo que seja o seu cachorro, ele não precisa saber)." Torça, de qualquer forma, para estar sendo assediado(a) por uma pessoa normal. Com gente equilibrada, sinceridade e firmeza costumam ser um breque eficiente.

Quando as tentativas insistentes de aproximação estiverem ocorrendo durante um jantar de negócios, é fundamental que você fique longe dos drinques. De acordo com Letitia, nessas ocasiões é preciso estar alerta para se defender com o cérebro, e não com o corpo. Uma resposta inteligente e bem-humorada, por exemplo, pode ser suficiente para aniquilar qualquer possibilidade de cantada. Depende, de novo, de quem está dando a cantada. Se for um colega de trabalho que bebeu demais na clássica "festa da firma", livre-se dele(a) de forma brincalhona. No dia seguinte, se ele(a) lembrar-se de alguma coisa, vai estar morrendo de vergonha.

Infelizmente, as histórias nem sempre se resolvem de maneira tão civilizada. No caso de um(a) cliente obstinado, a situação é mais delicada. Ainda mais se o cidadão (ou cidadã) fizer ameaças do tipo "cuidado porque eu posso prejudicá-lo(a)". Isso soa antigo, quase medieval, mas ainda acontece nas melhores empresas. A saída é abrir o jogo com seu chefe. E rápido. Sua falta de traquejo em lidar com a situação pode ser interpretada de outra maneira pelo(a) afoito(a) cliente. A situação se complica de verdade quando o(a) autor(a) da cantada é seu próprio chefe. Há dois caminhos a seguir nesse caso. O primeiro é pedir demissão e partir para vida nova. O segundo é reverter a situação.

Se você adora o que faz, recebe um salário confortável e trabalha na empresa dos seus sonhos, a mão-de-obra vai valer a pena. Claro que não estamos falando de casos de assédio explícito. Esses têm de ser encaminhados para a Justiça. Falamos daquele chefe que faz comentários com duplo sentido e lança olhares sedutores (pelo menos é o que ele acha). Assim que ele(ela) se convencer da sua falta de interesse, prepare-se. Você vai passar um bom tempo a pão e água. Vão sobrar nas suas mãos só os projetos menos importantes, mais trabalhosos e sem nenhuma projeção na companhia. Por melhor que seja o seu desempenho, os elogios vão passar a anos-luz da sua mesa. Se estiver disposto(a) a agüentar tudo isso, você pode virar o jogo. Não é muito simples deixar um bom profissional na geladeira meses a fio. As pessoas vão querer saber o porquê. Para fugir das explicações, o(a) chefe dom-juan é capaz de deixá-lo(a) em paz.

Namoro no escritório

Não dá para negar: o ambiente de trabalho, por onde circulam pessoas inteligentes, informadas e cheias de energia, é um dos campos mais propícios aos relacionamentos amorosos que a sociedade moderna tem a oferecer. Existe toda uma fantasia em torno do envolvimento com alguém da empresa. É algo que passeia no imaginário de cada um de nós. Quando ocorre nos motiva, e pode nos tornar mais produtivos. Quem nunca sentiu atração por um colega que atire a primeira pedra. Em alguns casos a reciprocidade é total e acaba virando namoro. Daí para a frente envereda por um terreno perigoso. Se o relacionamento vai ser eterno não interessa. O fundamental é saber lidar com ele enquanto dure. As pessoas vão estar assistindo de camarote. E o chefe vai estar julgando sua atuação, mesmo que veladamente. Assim como nos desfiles das escolas de samba, ganhar, ou perder, pontos vai depender da sua performance.

"Por mais apaixonados que vocês estejam, não devem agir como um casal de pombinhos", afirma Letitia. O conselho parece óbvio? Lembre-se de que o assunto é paixão. A número dois é respeitar os limites do escritório. É da porta para fora o lugar do romance. Os Phillips lembram que qualquer munição que se dê aos fofoqueiros de plantão pode se transformar em artilharia pesada - que, claro, será usada contra você. "Se o relacionamento der errado, os dois ficam expostos a comentários maldosos", dizem eles.

Sou novo na empresa

Mesmo que você carregue na bagagem algumas mudanças de emprego, os primeiros dias num novo ambiente são sempre estressantes. A resistência ao novato na companhia ocorre em qualquer parte do mundo. É infantil, mas típico do ser humano. Se você é um estagiário, vai passar um bom tempo num estado de absoluta invisibilidade. Corre o risco até de ser pisoteado se por acaso cair no chão. Se for um executivo mais experiente, a coisa pode ser pior ainda. Algumas pessoas vão detestá-lo pelo seu salário, outras pelo seu cargo, outras ainda só pelo fato de você ser um recém-chegado. Seja qual for sua patente, portanto, não espere reciprocidade total logo de cara. "Não importa se a recepção foi fria. É você quem deve se aproximar das pessoas", diz Letitia.

O duro dessa fase é que, se por um lado você vai se sentir um idiota ao perceber que sorriu para alguém que nem olhou para você, por outro estará sendo observado. Nos mínimos detalhes. E nesse caso não convém questionar a sabedoria do velho provérbio que diz que a primeira impressão é a que fica. "Seja cuidadoso nos seus atos", diz Judith Martin. "E não economize simpatia." O importante é estar preparado para enfrentar esses momentos, ter em mente que dias melhores virão e reverter a situação o mais rápido possível. Eis algumas dicas:

Escute e aprenda em vez de falar muito. Um bom ouvinte é sempre mais bem recebido que um falante.

Decore logo os nomes das pessoas. Enquanto estiver fazendo trocas, ninguém esquecerá que é novo. Além do mais, isso irrita.

Seja um bom observador e tente captar a cultura da empresa: é fundamental para ser considerado membro daquele grupo. Se as pessoas trabalham de jeans, não insista em ir de terno e gravata ou vice-versa. Da mesma forma, não use os tratamentos de "senhor" e "senhora" se ninguém usa. Você não parecerá educado, e sim um chato.

Não fique se justificando por tudo e por nada o tempo todo. É cansativo.

Faça perguntas e tire suas dúvidas sem bisbilhotar. Você ainda não tem esse direito.

Não fique mostrando o quanto sabe sobre isso ou aquilo. Ninguém gosta de gente exibida.

Não se limite a conquistar apenas os mais importantes. Além de ser feio, o pessoal do staff mais baixo não perdoa esse tipo de coisa - e eles sempre são de grande valia. O mensageiro pode virar seu melhor aliado. A recepcionista poderá dar uma informação importante qualquer dia desses. O estagiário pode virar o seu chefe.

Convide seus colegas (um por vez) para almoçar. Nem é preciso dizer que você paga a conta. Aceite, igualmente, os convites deles para almoçar no restaurante da empresa, ainda que a comida não lhe agrade.

Durante a refeição, diga o quanto ainda está perdido, que precisa de ajuda para se situar melhor e entender o funcionamento da empresa.

Entre nas listas de casamento, aniversário e nascimento mesmo que não conheça as pessoas (não é hora de economizar dinheiro). Mostre que quer fazer parte do grupo.

Estou ligeiramente grávida

Em 1965, Letitia viu um cliente demitir uma alta executiva porque ela havia engravidado. Segundo Letitia, ele olhou bem para ela e disse: "Você era lucrativa para a companhia, e escolheu não ser mais". Hoje, a filha dessa executiva deve estar indo para o trabalho com seu bebê a tiracolo e o deixará na creche da empresa. "Na década de 70, qualquer executiva que ficasse mais do que duas semanas em casa após o parto era considerada sem ambição", afirma Letitia. Não mais. De qualquer forma, a gravidez não é tão inconseqüente e passageira quanto um resfriado. Portanto, uma vez grávida, a executiva deve tomar algumas providências para evitar prejuízos à sua vida profissional.

O chefe deve ser o primeiro do escritório a saber da novidade. Explique a ele, por exemplo, quais são seus planos, se vai, ou não, poder manter o mesmo ritmo de trabalho durante a gravidez, o que pretende fazer depois que o bebê nascer, se vai juntar as férias com a licença-maternidade, enfim, quanto tempo ele ficará sem você. Se a gravidez acontecer às vésperas da tão esperada promoção, deixe claro que você continua no páreo. "Seja melhor do que nunca, uma supermulher mesmo", diz Letitia. "Se puder, prove que seu rendimento até aumentou. Todos em volta estarão esperando o contrário, não se iluda." A grávida deve resistir à tentação de usar a desculpa da gravidez para fazer corpo mole, faltar ao trabalho, fugir das tarefas chatas. É antiprofissional, já que não pode ser punida nesse período. Mas todo mundo percebe. Uma última dica: durante o tempo em que estiver em casa, mantenha contato com a empresa. Mostre interesse, acompanhe o que está ocorrendo em seu setor, faça sugestões, não deixe as pessoas esquecerem que você faz parte da equipe. E tente não voltar 20 quilos mais gorda.

Disse uma besteira. E agora?

Quando o assunto é gafe, uma coisa é certa: ninguém passa por essa vida impune. Ou seja, já aconteceu com você ou ainda vai acontecer. É apenas uma questão de tempo. Assim que perceber que cometeu uma gafe, siga o conselho da experiente Letitia Baldrige: "Não coloque o episódio em proporções maiores do que ele merece". O tamanho do estrago varia, é claro, de gafe para gafe. Há situações que nem deveriam ser consideradas gafes, por mais constrangedoras que sejam. Os casos clássicos de perda súbita de memória, o tão conhecido "me deu um branco", são um exemplo típico. Muito bem, você esqueceu o nome de uma pessoa com a qual já se encontrou, e mesmo conversou, antes. Lembra-se até para que time ela torce, mas seu nome, sabe-se lá por que, não há meio de lembrar. Saída ideal para um aperto desses, infelizmente, não existe. Peça desculpas, não esconda que esqueceu o nome e demonstre que realmente ficou embaraçado com sua falha.

Às vezes, pode-se tentar escapar pela tangente. Se você está apresentando essa pessoa a outra, invente uma razão para sair de perto e peça que elas mesmas se apresentem. Mas não vá tão longe a ponto de não ouvir os nomes. É importante lembrar que colocar os outros em situações delicadas também é falta de educação. Preste atenção para evitar que isso aconteça. Ao encontrar alguém que poderá não recordar o seu nome, diga-o logo de cara. "Lembra-se de mim? Sou Fulano de Tal". Pronto. Para facilitar ainda mais sua identificação, diga o nome da empresa em que trabalha ou algo que a pessoa possa relacionar a você.

Seja, tanto quanto possível, indulgente diante de eventuais gafes que cometam em relação a você. Até para merecer de outros a mesma indulgência. "A 'vítima' deve ter a generosidade de se lembrar das gafes que ela própria já cometeu", diz a colunista Danuza Leão, autora do livro Na Sala com Danuza. Pense duas, três, quantas vezes for antes de abrir a boca. A regra de ouro de um mafioso era não beber jamais em companhia de alguém. Falta de sentimento gregário? Não exatamente. É que a bebida, segundo ele, estimulava a pessoa a abrir a boca. E então começavam os problemas. Pense nisso - mesmo não tendo nenhuma conexão com a Máfia que vá além de livros, revistas e filmes.

Tem alguém lendo os meus e-mails?

Se tem mesmo e você escreveu algum segredo, logo logo vai descobrir. E certamente não será o primeiro a saber. Não existe segurança de privacidade no e-mail. As técnicas de proteção ainda não foram difundidas, se é que elas existem e protegem de fato. Enquanto isso não acontecer, sempre será possível alguém ler o que você escreveu. Ou recebeu. Assuntos pessoais, comentários sobre colegas, dados confidenciais, enfim, tudo o que não gostaria de ver publicado no jornal deve passar longe do seu correio eletrônico.

Ninguém precisa ser um especialista em sistemas para mandar e receber mensagens. Mas o e-mail também tem suas normas de boas maneiras - é a chamada netiqueta, a etiqueta da Internet. Elas devem ser obedecidas. Se não por obrigação, que seja por educação. Veja as principais:

Seja o mais conciso e objetivo que puder nas mensagens. Se não liga para o seu tempo, ligue ao menos para o dos outros. Preencha sempre a linha do assunto. Se couber nessa linha tudo o que quer dizer, basta escrever a palavra fim e ponto.

Tal qual os telefonemas, é elegante responder as mensagens recebidas e com rapidez.

Não envie correntes da felicidade ou malas diretas via e-mail. Nada mais chato do que ligar o computador pela manhã e dar de cara com uma oração para uma santa desconhecida, com direito à ameaça de entrar numa maré de azar se quebrar a corrente.

Não use acentos, sinais gráficos ou qualquer outro recurso do seu software. Os diferentes sistemas de correio eletrônico geram problemas de compatibilidade que podem transformar sua mensagem numa sopa de letras.

Cuidado com o excesso de informalidade nas suas mensagens. Se você está tratando seriamente de negócios, use alguns dos termos que usaria numa carta normal.

Na linguagem da Internet, escrever em letra maiúscula, com exceção da primeira letra, é o mesmo que gritar.

Jamais escreva um e-mail quando estiver com raiva de alguém. Por escrito as coisa têm outro peso.

Com que roupa eu vou?

Com qualquer uma, não mesmo. Acreditar que estar de roupa já é suficiente, que o que importa é a sua capacidade profissional, é ingenuidade. Experimente aparecer vestido com todo o seu talento e de maneira inadequada num jantar importante e veja aonde sua imagem vai parar. Aparência conta, sempre contou e, provavelmente, só vai deixar de contar no dia do Juízo Final. O problema é que você está no começo da carreira, ganha pouco e roupas custam caro. Certo, ninguém discorda. Mas não custam caro apenas para você. Seu concorrente, sua secretária, seus pares, todos dão um jeito. "Se você é um(a) jovem executivo(a), faça um empréstimo e invista no seu guarda-roupa", diz Letitia. Você não sabe combinar as peças, não confia no seu gosto? Antes de ir às compras, aconselha Letitia, olhe à sua volta. Observe como se vestem seus colegas de trabalho, seus superiores e copie. É o melhor jeito de não errar.

A elegância é o tipo de coisa que se nota através dos detalhes. E a deselegância também. Numa canela exposta, por exemplo. Observação bem prática da americana Letitia em relação às prosaicas meias: "Escolha as mais compridas, que vão até o começo dos joelhos. Com meias curtas, ao cruzar as pernas, um pedaço das canelas vai aparecer". Aparece mesmo e é horrível.

E quanto às mulheres? Bem, desde que as mulheres perceberam que não precisam se "fantasiar de homens" para ser respeitadas no mundo dos negócios, o perigo foi para o extremo oposto. Os terninhos escuros exageradamente discretos foram substituídos por vestidos curtos demais, saias justas demais, roupas coloridas demais, cabelos soltos demais, saltos altos demais. Regra básica: vestir-se de perua é hor-ro-ro-so. O escritório não é lugar de ser peruamente insinuante. Muito menos chocante.

Preciso demitir alguém

A experiência da demissão é sempre dura. Mais para o demitido, ainda que ele consiga outra colocação com facilidade, mas também para quem demite. Por isso, antes de mais nada certifique-se de que é mesmo necessário demitir a pessoa, de que não há como mudá-la de função ou aproveitá-la numa outra divisão da empresa. Tendo que demitir, se esforce para minimizar a dor e as conseqüências desse ato para o demitido. Nunca pegue a pessoa de surpresa. Dê indícios de que a relação caminha para o fim. De forma alguma deixe sua decisão vazar dentro da companhia. Nada mais humilhante do que a pessoa ficar circulando pela empresa sem saber o que todos já sabem - que seu tempo acabou.

Não há um dia ideal para transmitir uma notícia dessa a alguém, mas o calendário deve ser observado. Verifique se não é justamente o aniversário da pessoa. De tardezinha é um horário péssimo, sobretudo às sextas-feiras. "O funcionário tem que ter tempo de se refazer antes de voltar para casa", afirma Victoria Bloch, diretora da empresa de outplacement DBM. A comunicação deve ser feita pessoalmente (nunca por escrito) na mesma sala em que você recebe normalmente a pessoa ou num local neutro. É importante que não haja testemunhas por perto.

Na hora da conversa fatídica (que deve durar cerca de 10 minutos), vá direto ao assunto. Primeiro, se possível, fale sobre os méritos e as realizações da pessoa. Em seguida, apresente o pacote de benefícios da demissão (outplacement, prolongamento do plano de saúde, a quantia de dinheiro que terá ao sair). Por fim, como certamente a pessoa estará baratinada, diga o que ela deve fazer quando deixar o local. Esteja preparado para as reações mais adversas, desde a raiva até o choro copioso. Jamais se altere. Determine um certo tempo para que a pessoa continue usando a sala, o telefone, a secretária. Faça o que estiver ao seu alcance para ajudá-la. O executivo Vinicius Prianti, do grupo Unilever, resume numa frase como fazer a coisa certa: "Dê à pessoa que você está demitindo o mesmo tratamento que gostaria de ter se estivesse no lugar dela". Não esqueça que um dia isso pode acontecer com você. (Neste ponto da reportagem você tem direito a bater três vezes na madeira.)

Negócios à mesa

Não, esta não é mais uma aula sobre a utilização correta de talheres, copos e taças à mesa. Por mais complicada que pareça, essa é a parte fácil dos almoços e jantares de negócios. (Em qualquer manual de etiqueta o assunto é tratado com pormenores.) O difícil é enfrentar o que pode acontecer a partir daí. Há situações que ocorrem no dia-a-dia de qualquer executivo(a) que, por mais que sejam rotineiras, não deixam de criar embaraços e gerar incertezas. Provavelmente você já sentiu na pele uma ou várias delas. Quer ver? Você marca um almoço com um cliente e quando chega ao restaurante ele já está sentado à mesa. No caminho entre a porta de entrada e a mesa, você vê várias pessoas conhecidas. O que fazer? Cumprimentar cada uma delas numa peregrinação de mesa em mesa enquanto o cliente espera? Humm. Ir primeiro até a mesa do cliente, cumprimentá-lo e em seguida pedir licença para dar um alô rápido aos amigos? Hummm. Fingir que não viu os conhecidos e ir direto para a mesa onde o cliente aguarda? Hummmm.

Essas opções são uma pior que a outra. A maneira correta de agir é cumprimentar as pessoas de longe, apenas com um aceno de cabeça, e se dirigir à mesa onde o cliente está sentado. "Naquele momento o principal alvo de sua atenção é a pessoa que está aguardando por você", afirma Claudia Matarazzo. "É muito feio deixar alguém que está ali por sua causa sozinho, olhando para as paredes, enquanto você conversa com os amigos." No final da refeição, a caminho da saída, você pode dar uma paradinha na mesa dos conhecidos (se é que eles não foram embora) e dar um oi.

Sobre isso também existe uma regra. Se no meio da refeição um conhecido vai até sua mesa cumprimentá-lo, não é preciso estender a mão a ele. Não seria nem higiênico. E, de resto, seus acompanhantes ficariam na dúvida entre também se levantar ou não.

Há uma série de outros erros relativos a almoços e jantares de negócios que parecem banais mas são cometidos com freqüência por executivos(as). Vamos lá: se você fez o convite, não dê margem a dúvidas sobre quem vai pagar a conta. Vai ter que cancelar um almoço ou jantar? Não eleve ao quadrado a sua indelicadeza mandando a secretária dar a notícia à pessoa. Avise você mesmo, por telefone. Por falar em indelicadeza, o trânsito está cada vez mais caótico, todo mundo sabe, mas chegar atrasado continua horrível. Segundo a consultora Letitia, há um limite para o tempo de espera. Se a pessoa não chegar em 20 minutos, ligue para o escritório dela. Se ninguém souber dela, espere, no máximo, por mais 20 minutos. E vá embora. Antes, deixe uma mensagem com o maître.

Enfim, uma vez à mesa, cara a cara com o interlocutor, não dá para exagerar na objetividade. Rezam as normas do bom comportamento que é aquele que fez o convite quem deve tomar a iniciativa de mudar o assunto para negócios. Mas somente depois de alguns minutos de conversa amena. Por mais ansioso que você esteja, tenha paciência e procure aparentar tranqüilidade. Faz parte do jogo. Outra situação aflitiva é perceber que seu convidado não demonstra a menor pressa em ir embora, está genuinamente empolgado com a conversa, e você tem um encontro importante logo em seguida. O casal Linda e Wayne Phillips aconselha o seguinte: "Se for um cliente muito importante, peça licença, procure um telefone e desmarque o próximo compromisso. Tratando-se de algo inadiável, peça desculpas à pessoa, explique que tem um encontro em 10 minutos e diga que ligará no dia seguinte para marcar uma nova conversa". E, claro, cumpra a promessa. Outra saída, ainda segundo os Phillips, é orientar sua secretária a ligar para o restaurante se você não voltar ao escritório até determinada hora. "É uma atitude meio teatral, mas ajuda a convencer o cliente da necessidade da sua partida", diz o casal.

Meu charuto está incomodando?

A probabilidade de que a resposta para a questão acima seja sim é de 99%. Se mesmo assim você ainda tem dúvida, pergunte. É o mínimo que pode fazer. (De preferência antes de acender o charuto.) O empresário István Wessel é fumante há 27 anos. Ele faz parte do Clube do Charuto, de São Paulo. Veja como ele lida com a questão: "Nos restaurantes onde as mesas são muito próximas umas das outras, nunca deixo de pedir autorização aos meus vizinhos para fumar", diz Wessel. "Quase sempre recebo um sim." Se Wessel não perguntasse antes, provavelmente as pessoas torceriam o nariz. Todo mundo gosta desse tipo de atenção. Quando a "autorização" é negada, Wessel simplesmente não acende o charuto. "Não dá para sentir prazer à custa do desprazer do outro", diz ele. Se a vontade for muito grande, aconselha, levante-se e vá saborear o seu charuto no bar.

Na opinião de Wessel, só se deve acender o charuto em ocasiões propícias. Num coquetel, em ambiente fechado, onde poucos estão fumando cigarro e ninguém fumando charuto, não se arrisque. "Você pode parecer pedante", diz ele. Num jantar em casa de amigos, aguarde o sinal do anfitrião. Não houve sinal? Então esqueça. E aí vai um lembrete para os mais distraídos - aqueles que nunca estão com os charutos no bolso e resolvem o problema filando. Que tal levar uma caixa cheia para os amigos qualquer dia desses? Charutos bons custam caro.

Quero mudar de emprego

Poucas coisas são piores do que sair brigado de um local onde se trabalhou. Por isso, todo cuidado é pouco quando decidir partir para outra. Não estamos falando dos cuidados óbvios, como fazer os seus contatos somente nos seus horários livres. Estamos falando sobre a maneira de lidar com a decisão junto aos seus colegas e chefe. Primeira coisa: pense bem. Decida se quer mesmo mudar de emprego antes de começar a agir.

Se recebeu uma boa oferta, deixe claro que essa é a razão da sua demissão. Diga também que viver uma nova experiência profissional vai torná-lo um(a) melhor executivo(a). Seja paciente para repetir a história a todos os que vierem fazer perguntas. Sobretudo colabore para minimizar o impacto da sua saída. Se ofereça para ficar ali até ser decidido quem vai substituí-lo, para treinar a pessoa, avisar os clientes, terminar os projetos em andamento ou prestar assessoria a distância. Seja simpático (sem parecer fingido) para garantir que as portas ficarão abertas. Não apenas porque a empresa pode voltar a ser interessante num outro momento da sua carreira. No próprio emprego novo os antigos colegas podem ser úteis. Se a proposta veio da maior concorrente da companhia, e seu chefe é uma pessoa intempestiva, dobre a prudência. Mantenha a linha mesmo que ele tenha um ataque histérico. Agradeça por tudo o que aprendeu com ele (seja verdade ou não) e não corte o contato.

Tenho que dar um presente

Eis algo difícil. Se for indispensável presentear alguém das relações de trabalho - um cliente, um fornecedor, seu chefe -, prepare-se para queimar alguns neurônios. Você terá que buscar indícios daquilo de que a pessoa gosta recordando conversas, fazer um breve estudo da sua personalidade, analisar seu estilo. Sim, porque para fazer sucesso de verdade o presente tem que ser individualizado, tem que traduzir o bom observador que você é. Caso contrário, pode até prejudicá-lo. Se você tiver que presentear algumas pessoas, e não apenas uma, nada de tentar matar os coelhos com uma só paulada. "Nunca compre o mesmo presente para vários clientes", dizem os Phillips. "Isso revela um total desinteresse da sua parte. E a última coisa que um cliente quer sentir é que ele é apenas um a mais na sua lista." Um pequeno pacote de dicas da conselheira Letitia vai ajudá-lo a não transformar o presente numa arma, já que a vítima pode ser você mesmo(a).

Não adianta achar que gastando os tubos você se desincumbirá direito do problema (dinheiro não resolve tudo, já dizia sua avó). O presente não pode ser valioso a ponto de ser considerado uma propina.

Não perca tempo procurando algo mirabolante para um executivo de fora. Vá direto àquelas bobagens típicas de que todo estrangeiro gosta.

Um presente com um gigantesco logotipo da sua empresa não é um presente. É uma propaganda.

Nunca leve um presente a uma pessoa que você ainda não conhece. Fica muito forçado.

Com bebidas você sempre fará um bom papel. Se não conhece o gosto da pessoa nesse aspecto, escolha um vinho. As chances de acerto são maiores. Letitia lembra que o endereço certo para enviar bebidas alcoólicas é a residência, e não o escritório.

Flores continuam sendo um presente charmoso, chique e certeiro. Para o escritório mande arranjos prontos. Para a residência, nada como um lindo ramalhete.

Morreu um diretor da empresa

O assunto é terrível, mas o fato pode acontecer a qualquer momento na sua empresa. A primeira coisa a saber é que a companhia deve dar uma atenção especial aos familiares. De acordo com Letitia, se o executivo morreu de repente, no escritório ou no meio de uma viagem a trabalho, cabe à empresa cuidar de tudo. A família do morto deve ser informada na hora (de preferência pessoalmente). A empresa deve tomar a frente dos trâmites - velório, enterro, papéis - e pagar as despesas. "A empresa deve providenciar desde a babá para as crianças (se for o caso) até uma pessoa para informar amigos e parentes sobre horário e local do velório e enterro", diz Letitia.

E quanto a você, o que deve fazer? Resposta: o máximo que puder para que o clima fúnebre não perdure no escritório além do necessário. Até porque a vida continua.

Hosted by www.Geocities.ws

1