O Estado e as religiões

Juvanir Borges de Souza

 

Desde a Antiguidade, passando

pelas idades Medieval, Moderna e Contemporânea, encontramos sempre os governos (Estado) ligados estreitamente às diversas denominações religiosas.

É notória a união entre os governos da maioria dos países da Ásia Central e da Ásia Menor com o Islamismo. No Ocidente, não foi menor a vinculação entre a Igreja Romana e os Estados europeus e americanos, até os fins do século XIX.

O denominado “direito divino”, invocado e defendido por reis, imperadores e aristocracias a eles ligadas, foi sustentáculo, por muitos séculos, das teocracias diversas.

As denominadas democracias, regimes políticos baseados na soberania popular, fortaleceram-se com a conquista da liberdade, que se vem firmando no mundo, por toda parte, apesar de alguns retrocessos compreensíveis, diante das próprias imperfeições humanas.

No Brasil, desde a queda do Império e a proclamação da República,em 1889, ocorreu a separação entre o Estado e a Igreja Católica. Apesar das tentativas para o retornodo vínculo Estado-Igreja, todas as Constituições que se seguiram à de 1891 mantiveram a separação e, conseqüentemente, liberdade de culto, de consciência, de reunião. Foi, sem dúvida, a consagração, na prática, da liberdade para todos, maiorias e minorias religiosas, que se deve à argumentação firme e convincente de Rui Barbosa e Benjamin Constant, dois grandes trabalhadores contra a opressão. O Movimento Espírita, refletindo os princípios da Doutrina dos Espíritos, posiciona-se sempre em defesa da liberdade, sem prejuízo da responsabilidade individual e coletiva. Reconhece, por isso, o papel importante das religiões, especialmente na formação e aperfeiçoamento moral dos indivíduos. Mas as religiões, que sempre invocam a inspiração divina para fundamentação de seus preceitos, não devem assumir o controle dos governos, seja pelos enganos interpretativos de seus seguidores, seja pelo fanatismo individual que se manifesta em muitos de seus representantes, seja pela presunção de superioridade. Provas dessa presunção tivemos recentemente, quando, após a Conferência pela Paz Mundial de LíderesReligiosos e Espirituais, realizada pela ONU, em Nova York, de 28 a 31 de agosto de 2000, o Papa declarou que todas as outras religiões são inferiores ao Catolicismo. Declaração semelhante fez o Aiatolá Khomeini a respeito do Islã. Que dizer dos erros e fanatismo geradores da Inquisição, que perseguiu e condenou à fogueira milhares de “hereges”, pelo crime de não seguirem a religião dominante? E dos Cruzados, empenhados na matança de inocentes porque “Deus assim o deseja” (“Deusvult”)? Lembremos que outra religião impunha a morte da viúva na mesma pira funerária do marido e ainda outra denominação religiosa determinava que os avós deveriam morrer nas geleiras, voltando à natureza. Acima estão alguns exemplos de excessos, de presunção, de ignorância e de insensibilidade, preconizados por religiosos em nome de suas religiões, a demonstrarem que, apesar de princípios morais elevados que fazem parte das doutrinas e crenças, quando no poder seus representantes muitas vezes se excedem, dando oportunidade à manifestação de suas paixões e inferioridades. Daí o inconveniente das teocracias de variadas origens, pela facilidade das degenerações, em função das imperfeições de todos os habitantes do nosso mundo. Milênios se passaram até que considerável parcela da população terrestre, esclarecida por filósofos, pensadores e pela própria prática política, chegasse à conclusão de que o Estado laico e democrático é a melhor forma de organização estatal, no qual o representante do poder tem a obrigação de respeitar a todos, independentemente de suas convicções religiosas. O Espiritismo e o Movimento que o pratica e representa no Brasil bem cedo conheceram os rigores e inconvenientes do Estado unido à religião oficial e majoritária – o Catolicismo. Apesar dos predicados de homem justo e esclarecido, o Imperador D. Pedro II nem sempre pôde evitar as perseguições e incompreensões de que foram vítimas os espíritas, no final do Império brasileiro. Essa foi uma das razões que fundamentaram o empenho de alguns representantes do povo, na Constituinte de 1891, a lutarem pela separação da Igreja Católica do Estado brasileiro. Hoje, já bem distante daquele ato político-social de grande importância, sentimos todos – maiorias e minorias religiosas – os efeitos benéficos da separação, dos quais ressalta uma melhor compreensão e acentuada tolerância entre os religiosos das diversas denominações. Se todas as grandes religiões têm inscrito o princípio do amor a Deus e ao próximo em seus núcleos de sustentação moral, urge que cada seguidor dê preeminência a esse mandamento comum, superior, em torno do qual todos podem entender-se. Muitas vezes, por ignorância e fanatismo, um governante, representando uma determinada religião no poder, julga necessário favorecer sua facção em detrimento das demais. É, evidentemente, um erro de graves conseqüências quando transformado em prática governamental. Os governantes que se posicionam sempre em favor da religião que representam, em detrimento das demais, agem defendendo o princípio de que “os fins justificam os meios”, perigoso e injusto em suas conseqüências. Em substituição a tal princípio eis a regra correta: “à pureza dos fins deve corresponder aos meios justos empregados para alcançá-los”, uma vez que, prejudicar minorias, perseguir, desconhecer direitos alheios não são meios justos de satisfação de interesses pessoais ou de facções, travestidos de bons objetivos. Na Era atual, a Era Espírita, torna-se necessário evitar determinadas práticas e concepções errôneas, utilizadas por milênios, em detrimento dos interesses e do progresso dos próprios homens. Uma dessas práticas, aceita ainda na atualidade, é a da confusão do poder governamental de uma nação com determinada religião. Além do cerceamento da liberdade, a utilização dessa forma de governança é causa de conflitos e guerras, além da grande injustiça cometida contra muitas mentes que não se ajustam ao regime. As religiões que se impõem através dos governos fogem às suas finalidades precípuas, transformam--se em verdadeiras blasfêmias contra os princípios morais e éticos e contra a razão, pela presunção de seus representantes em muitos dos atos que praticam. A Verdade, as realidades da vida devem ser sempre aceitas pelo homem, com liberdade de pensamento e nunca sob coação. Sua aceitação deve ser obra do tempo e da evolução do entendimento humano.Assim, pela lei do progresso, onde quer estejamos, seja qual for à posição social, raça e grau de civilização, todos seremos chamados, no decorrer dos tempos e através das sucessivas reencarnações, a aceitar as verdades eternas, pelo livre entendimento da razão.

A Doutrina Espírita, por seu caráter e por sua índole, não obriga a ninguém obedecer compulsoriamente seus princípios e postulados. As leis divinas, as lições que o Cristo deixou em sua Mensagem e o Consolador são claros nesse sentido. Em função dessa norma superior, divina, o Espiritismo, assim como não impõe seus princípios, também não aceita a imposição de outras correntes de pensamento, filosóficas e religiosas. Há que se obedecer à liberdade de convencimento para todos, já que o Criador dotou os homens do livre-arbítrio.

Em lugar da imposição, o correto é a persuasão, através do esclarecimento, do estudo, do confronto de princípios, da demonstração, da experiência. Em uma palavra, a evolução, o progresso individual são obras de educação, tanto no campo intelectual quanto no moral-espiritual. As religiões exercem influência sobre as massas de seguidores. Se não há segurança sobre os preceitos superiores de ordem moral, advindos, em geral, através das revela- a melhor forma de organização estatal, no qual o representante do poder tem a obrigação de respeitar a todos, independentemente de suas convicções religiosas.

O Espiritismo e o Movimento que o pratica e representa no Brasil bem cedo conheceram os rigores e inconvenientes do Estado unido à religião oficial e majoritária – o Catolicismo. Apesar dos predicados de homem justo e esclarecido, o Imperador D. Pedro II nem sempre pôde evitar as perseguições e incompreensões de que foram vítimas os espíritas, no final do Império brasileiro. Essa foi uma das razões que fundamentaram o empenho de alguns representantes do povo, na Constituinte de 1891, a lutarem pela separação da Igreja Católica do Estado brasileiro. Hoje, já bem distante daquele ato político-social de grande importância, sentimos todos – maiorias e minorias religiosas – os efeitos benéficos da separação, dos quais ressalta uma melhor compreensão e acentuada tolerância entre os religiosos das diversas denominações. Se todas as grandes religiões têm inscrito o princípio do amor a Deus e ao próximo em seus núcleos de sustentação moral, urge que cada seguidor dê preeminência a esse mandamento comum, superior, em torno do qual todos podem entender-se.

Muitas vezes, por ignorância e fanatismo, um governante, representando uma determinada religião no poder, julga necessário favorecer sua facção em detrimento das demais. É, evidentemente, um erro de graves conseqüências quando transformado em prática governamental. Os governantes que se posicionam sempre em favor da religião que representam, em detrimento das demais, agem defendendo o princípio de que “os fins justificam os meios”, perigoso e injusto em suas conseqüências.

Em substituição a tal princípio eis a regra correta: “à pureza dos fins deve corresponder aos meios justos empregados para alcançá-los”, uma vez que, prejudicar minorias,perseguir, desconhecer direitos alheios não são meios justos de satisfação de interesses pessoais ou de facções, travestidos de bons objetivos. Na Era atual, a Era Espírita, torna-se necessário evitar determinadas práticas e concepções errôneas, utilizadas por milênios, em detrimento dos interesses e do progresso dos próprios homens. Uma dessas práticas, aceita ainda na atualidade, é a da confusão do poder governamental de uma nação com determinada religião. Além do cerceamento da liberdade, a utilização dessa forma de governança é causa de conflitos e guerras, além da grande injustiça cometida contra muitas mentes que não se ajustam ao regime. As religiões que se impõem através dos governos fogem às suas finalidades precípuas, transformam--se em verdadeiras blasfêmias contra os princípios morais e éticos e contra a razão, pela presunção de seus representantes em muitos dos atos que praticam. A Verdade, as realidades da vida devem ser sempre aceitas pelo homem, com liberdade de pensamento e nunca sob coação. Sua aceitação deve ser obra do tempo e da evolução do entendimento humano. Assim, pela lei do progresso, onde quer estejamos, seja qual for à posição social, raça e grau de civilização, todos seremos chamados, no decorrer dos tempos e através das sucessivas reencarnações, a aceitar as verdades eternas, pelo livre entendimento da razão. A Doutrina Espírita, por seu caráter e por sua índole, não obriga a ninguém obedecer compulsoriamente seus princípios e postulados. As leis divinas, as lições que o Cristo deixou em sua Mensagem e o Consolador são claros nesse sentido. Em função dessa norma superior, divina, o Espiritismo, assim como não impõe seus princípios, também não aceita a imposição de outras correntes de pensamento, filosóficas e religiosas. Há que se obedecer à liberdade de convencimento para todos, já que o Criador dotou os homens do livre-arbítrio. Em lugar da imposição, o correto é a persuasão, através do esclarecimento, do estudo, do confronto de princípios, da demonstração, da experiência. Em uma palavra, a evolução, o progresso individual são obras de educação, tanto no campo

intelectual quanto no moral-espiritual. As religiões exercem influência sobre as massas de seguidores. Se não há segurança sobre os preceitos superiores de ordem moral, advindos,

em geral, através das revelações, porque os homens neles interferem através de interpretações pessoais, interesses imediatos, presunção e orgulho, as conseqüências não são boas, gerando fanatismos, pseudoverdades, imposições, como é comum nas instituições em que o Estado se apóia na religião e vice-versa. Trabalho, solidariedade, tolerância, a célebre divisa do Codificador, continua sendo segura orientação para todos os espíritas. O Movimento Espírita precisa preocupar-se com a educação das massas, em sentido lato, com a divulgação da Doutrina, por todos os meios lícitos, mas não com a conquista do poder transitório, para impor-se, como ocorre com outros movimentos filosóficos e religiosos. Não devemos esquecer que as obras fundamentais das grandes religiões – Hinduísmo, Budismo, Cristianismo, Islamismo – não são obras definitivas, absolutas. Suas origens remontam a um passado em que a Humanidade vivia em estágios evolutivos muito distantes do atual. Não foi por outra razão que o Cristo de Deus prometeu um outro Consolador, que viria para aclarar muitos de seus ensinamentos e trazer novos conhecimentos. E o Consolador, o Espiritismo, por sua vez, na lição dos Espíritos Superiores e de Kardec, adverte que a Doutrina dos Espíritos incorporará novos conhecimentos, novas verdades, desde que comprovados. O Cristo, por outro lado, retificou

muitos entendimentos do Velho Testamento, interpretados literalmente, formulando a síntese maravilhosa baseada no amor a Deus e ao próximo, extensiva aos homens de todas as latitudes e de todas as religiões. O complexo do comportamento humano, das crenças, das instituições, dos valores espirituais-morais e materiais não se transforma tão-somente com imposições, com revoluções políticas ou econômicas, mas sim pelo conhecimento das verdades eternas que se internalizam nas consciências individuais e coletivas, provocando o progresso, a evolução. Em suma, toda imposição, em matéria religiosa, revela fanatismo. Se a imposição vem do Estado, as conseqüências negativas são muito maiores.

Como conclui W. Stainton Moses, em sua obra Ensinos Espiritualistas, pág. 154 da 4. ed. FEB:

“Qualquer religião, de qualquer raça, em qualquer ponto do globo, que tenha a pretensão de

possuir o monopólio da Verdade Divina, é uma ficção humana nascida da vaidade e do orgulho do homem.”“ Nenhum sistema de teologia tem o monopólio da verdade (...).”“.

 

 

 

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