Porquê recorrer às novas tecnologias de informação e
comunicação no contexto das salas de aula? Este trabalho surge no âmbito do biénio do
Ramo de Formação Educacional na área da Filosofia e é o resultado final da
cadeira semestral de Tecnologias da Informação e Comunicação em Educação,
vulgo T.I.C.E.. Não cabe neste espaço a fundamentação da importância dos
T.I.C.E. que justificaria a novidade da sua introdução no ramo geral da
formação dos futuros professores formados na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa. Enquanto professores, todos sentimos a concorrência, nem sempre leal
porque geralmente pouco informada e demasiadas vezes equivocada, das novas
tecnologias comunicacionais. Apesar disso, os novos meios de comunicação
exercem uma poderosa atracção sobre os espíritos dos nossos alunos que neles
concentram o melhor da sua atenção, desviando-a dos professores. As escolas,
nomeadamente as actividades desenvolvidas no espaço das salas de aulas,
devem, por isso, tornar-se mais atractivas e tentar conciliar a exposição de
conteúdos científicos com actividades didácticas que vão de encontro ao
interesse dos alunos por forma a motiva-los para a aprendizagem. As mais
recentes pesquisas no domínio da cognição apontam para o facto de que a
motivação é o motor da aprendizagem; isto é, que os alunos aprendem melhor
quando retiram prazer do próprio processo de aprendizagem. Mais, as
aprendizagens conseguidas com prazer são mais eficazes e duradouras. Por
muito interessantes que consideremos as matérias que lecionamos, por mais que
nos empolguemos na sua exposição, por mais empenho que ponhamos em suscitar a
discussão e abrir o espaço para a participação activa dos alunos, muitos
deles parecem não reagir aos estímulos que preparámos com tanto empenho e
cuidado. Importa, por isso, adoptar outras estratégias, inclusive
apropriarmo-nos daquilo que tem jogado contra nós, no sentido de conseguirmos
um novo aliado. Estamos em crer que o recurso à informática e à Internet
pode contribuir para mudar o panorama de desmotivação geral que abunda nas
nossas escolas. Por outro lado, as actividades desenvolvidas a partir dos meios
informáticos permitem que os nossos alunos possam desenvolver competências ao
nível da operacionalidade com os mesmos. Se é certo que a maioria dos jovens
estudantes teve, desde muito cedo, acesso ao computador da família, as suas
actividades prendem-se, invariavelmente, com os jogos, as intermináveis
conversas nos chats ou o surf desregulado e sem rumo pelos sites
da Internet. Importa mudar essa visão exclusivamente lúdica do
computador e mostrar que o mesmo tem potencialidades em termos de
aprendizagem e realização de trabalhos, por estender essa mesma dimensão de
ludicidade à seriedade pesada com que os estudos tendem a ser associados.
Enquanto isso, estaremos a proporcionar aos nossos jovens oportunidades,
ainda não iguais, mas mais próximas à dos seus pares europeus. Se a
Comunidade Europeia se pode definir como uma aposta na cooperação, ela
define-se, igualmente, como concorrência e competitividade. Há, então, que
proporcionar aos estudantes o desenvolvimento das mesmas competências que, já
há anos, estão a ser motivo de investimento nos outros países da Europa
comunitária sob pena de agravar ainda mais o desequilíbrio que, de todas as
formas, se faz sentir. Ainda que num âmbito bem mais estrito, no contexto nacional a
desigualdade de oportunidades prende-se frequentemente com a aquisição de
competências ao nível do desempenho com as modernas tecnologias. Até agora,
as razões dos desequilíbrios têm-se prendido com a questão da posse; isto é,
os jovens que dispõem de meios tecnológicos em casa ou cujos familiares
possuem mais rendimentos para lhes pagar um curso de informática têm reais
possibilidades que os economicamente mais desfavorecidos não podem, sequer,
sonhar ter. Se a escola se encontrar devidamente equipada, se os professores
tiverem formação que lhes permita explorar as novas tecnologias (e não é
preciso saber muito, ou possuir grande imaginação) no sentido de a adoptar
como um novo recurso pedagógico posto à disposição dos alunos, estarão a
contribuir para que todos tenham a possibilidade de desenvolver competências
na área e para o, consequente, desagravamento das desigualdades de
oportunidades, bem como motivá-los para a aprendizagem. Espera-se que, agora que finalmente a comunidade
política percebeu a importância da introdução dos T.I.C. nas escolas, comecem
a ser oferecidas acções de formação aos professores, já em exercício, que
lhes possibilitem o desenvolvimento de competências nesta área e que as
mesmas não sejam um exclusivo da formação dos novos profissionais, com o que
se estaria a promover uma nova situação de desigualdade, agora entre os
professores. Porque se a genuína motivação de todo o professor é conseguir
motivar os seus alunos para os estudos e o gosto pelas matérias que leciona,
é desejável que lhe sejam facultados todos os meios que lhe permitam
concretizá-lo. Para o bem de todos: professores e alunos. |