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  O susto

 

             Em agosto de 1987 nasceu nosso filho, o nome dele � Gerson. Ainda lembro quando um dos tios ao v�-lo na sa�da da sala de parto virou-se pra mim e disse em tom de brincadeira:
- Esse n�o tem como negar, ele � sua cara. Oito meses se passaram e eu comecei a notar alguma coisa diferente nele. Numa das visitas peri�dicas ao pediatra eu perguntei ao m�dico:
- Doutor, eu estou achando que ele tem uma apar�ncia um pouco estranha.
E ele me respondeu:
- Eu tamb�m havia notado, mas como � muito suave n�o achei que dev�ssemos tomar qualquer atitude, mas se voc� quiser, podemos fazer o exame de care�tipo.

             Naquele momento nós sentimos um frio na espinha, mas n�o pod�amos ficar na d�vida e ent�o marcamos o exame, que foi feito pela USP (Universidade de S�o Paulo). Enquanto est�vamos na sala de espera e v�amos outros nenens chegando, ficamos convencidos que n�o havia nada de errado com nosso filho, por que ele n�o mostrava nenhum sintoma parecido com os daquelas crian�as que est�vamos vendo, ele conseguia equilibrar a cabe�a, ele n�o babava, a língua ficava dentro da boca, ele n�o era fl�cido, enfim, n�o era igual �quelas crian�as. Finalmente chegou nossa vez, fizemos o exame, respondemos algumas perguntas e uma semana depois t�nhamos o resultado nas m�os. Abrimos o envelope e a realidade dura estava l� naquele peda�o de papel, estava confirmado, o Gerson era um Down. O impacto na hora � terr�vel, a gente acha que o exame pode estar errado, mas se estiver certo, como contar para os av�s e parentes mais pr�ximos, como � que nós vamos fazer pra criar um excepcional, de repente numa fra��o de segundos s�o tantas d�vidas que passam pela nossa cabe�a, que hoje � at� dif�cil de lembrar.

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  M�os � obra

             Talvez por ter o primeiro pediatra, pego a miss�o mais dif�cil, que � dizer aos pais o que eles n�o gostariam de ouvir, procuramos outro, que por coincid�ncia j� havia trabalhado com crian�as com S�ndrome de Down, seu nome, Conrrado, uma pessoa talvez especial n�o sei, mas que com poucas palavras foi capaz de nos mostrar que o problema existia sim, mas n�o era a pior coisa do mundo, ele disse:
- Voc�s devem cria-lo como uma crian�a normal, brigar quando tiver que brigar, elogiar quando tiver que elogiar e resolver os problemas somente quando eles se manifestarem, por que dificilmente seria poss�vel evit�-los, ou seja, exemplificando de uma forma bem simples, n�o adianta voc� ensinar matem�tica para o seu filho, se o problema dele � o portugu�s. Agora sob a tutela do Dr. Conrrado, come�amos o tratamento, procurando seguir suas instru��es e conselhos.

 

             Come�amos a estimular o Gerson usando todo tipo de apelo, trabalhando todos os sentidos, tato, vis�o, audi��o e olfato. Com tr�s anos de idade iniciamos um acompanhamento com uma fonoaudióloga e o colocamos na sua primeira escola. Como fisicamente e mentalmente a diferen�a em rela��o as crian�as desta faixa et�ria n�o era acentuada, tudo correu muito bem. Nesta escola ele permaneceu por dois anos convivendo com outras crian�as ditas normais e se mostrou, em alguns aspectos, mais racional que seus companheirinhos. Ele nunca brigava, por nenhum motivo, se ele estivesse usando um brinquedo e outra crian�a o tomasse dele, simplesmente ele procurava outro e estava tudo bem. Se alguma crian�a o agredisse, ele se afastava sem chorar e sem se queixar �s professoras. Com cinco anos ele ingressou na pr�-escola e tamb�m em uma academia de gin�stica, onde foi praticar nata��o, isto para colaborar no desenvolvimento da coordena��o motora, que sempre foi perfeita, e evitar a flacidez, que tamb�m nunca existiu. Na escola, de ensino regular, onde estudavam duas primas e futuramente estudaria um primo, ele foi muito bem recebido, quase que com festa e naquele ano tudo se passou de forma muito normal e feliz pra todos n�s que acompanhamos sua luta di�ria.

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  Revolta

 

             Um novo ano letivo come�ou e no seu t�rmino veio a surpresa, todos seus primos, como era de praxe, receberam seus boletos de matr�cula para o ano seguinte e n�s n�o. Esperamos por um aviso, um chamado, um comunicado, uma convoca��o, qualquer coisa, mais ela n�o veio, ent�o fomos at� a escola para saber o que estava acontecendo, por que n�s n�o recebemos a renova��o da matr�cula? Tentamos falar com os funcion�rios, mais ningu�m nos esclarecia nada, at� que conseguimos marcar uma "audi�ncia" com a diretora da escola, alias uma escola grande em Guarulhos. Esta pessoa, que dirige um estabelecimento respons�vel pela forma��o das pessoas que contribuir�o com o futuro no nosso pa�s, essa pessoa que tem uma vida econ�mico financeira estabilizada e bem definida, essa pessoa que se apresenta como uma pessoa culta e bem informada, essa pessoa que � formada em psicologia, teve a sensibilidade de um matador de aluguel para nos dizer que nosso filho n�o era mais bem vindo em seu col�gio.

             O agravante foi que essa pessoa de nome M�rcia, infelizmente ainda lembro seu nome, nem procurou disfar�ar o motivo, apenas tentou se esconder atr�s de outras pessoas num ato covarde, alegando preconceito de outros pais que amea�avam retirar seus filhos do col�gio, caso o Gerson continuasse por l�. Nessa situa��o voc� se sente muito mal, d�i muito voc� ouvir uma coloca��o destas de uma pessoa que naquela ocasi�o, teoricamente, seria o profissional com quem mais n�s dever�amos contar e a �nica coisa que na verdade ela fez foi dizer - tchau, o filho � seu, se vira, me faltam adjetivos para qualificar uma pessoa t�o pobre de esp�rito como esta diretora.

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  Melhor decis�o

             Eu n�o sigo nenhuma religi�o, o que n�o quer dizer que n�o sou temente � Deus. Sempre acreditei que Deus � pai e n�o padrasto, sempre achei que Deus nunca lhe d� um fardo maior do que voc� pode carregar. Est�vamos pensado no que fazer, procurando escolas perto de casa, pesquisando na APAE, quando num domingo enquanto eu comprava algo diferente para o almo�o em uma rotisserie pr�xima de casa e enquanto o Gerson brincava ali pr�ximo a mim, aparece uma senhora acompanhada de seu marido (Lina e Domingos) e come�am a brincar com nosso filho e a me dizer como ele aparentava estar bem, como ele era esperto e me disse que tinha um filho com o mesmo problema, o nome dele � M�rcio.

 

             Ela me disse que ele havia estudado numa escola de ensino regular aqui em Guarulhos muito boa, mas que percebeu a necessidade de coloca-lo num estabelecimento com ensino direcionado ao problema de seu filho. Muito gentilmente ela me deu o número do telefone de sua casa e me disse maravilhas da escola aonde o M�rcio estava estudando. Confesso que no momento n�o me interessei muito. Chegando em casa comentei com minha esposa, mas at� devido a dist�ncia da escola (n�s estamos em Guarulhos e a escola � em Santo Amaro), n�s n�o nos interessamos. Depois de conversarmos muito, eu e minha esposa, resolvemos ir conhecer a escola e levar o Gerson para uma avalia��o, esta foi a melhor atitude que poder�amos ter tomado, nessa escola ele � feliz e de tempos em tempos, percebemos alguns saltos evolutivos.

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  Hoje

 

             O maior problema que o Gerson tem, � n�o conseguir juntar as palavras de uma forma que qualquer pessoa consiga entender, do resto, ele joga bola e brinca com outras crian�as no condom�nio onde moro e aparentemente elas n�o o discriminam, alguns at� o convidam para os anivers�rios. Outro dia ele ganhou uma camisa do S�o Paulo de um dos adolescentes daqui do condom�nio, quer dizer, acredito que ele seja bem aceito. O Gerson como a maioria dos portadores da S�ndrome de Down � muito carinhoso, tanto que at� mela. Ele adora m�sica e tem um �timo gosto musical, que vai de Ivan Lins, Chico, Djavan passa por Gabriel o Pensador, Beatles, Elton John, Yes, Led Zeppelin e muitos outros.

             Jogos de computador pra ele n�o tem segredo, tira fotos com uma qualidade muito melhor que muitos adultos, adora praia, adora o campo e na fazenda do tio, andar � cavalo e alimentar o gado � uma das maiores curti��es. Gosta de tirar leite da vaca, pescar, estuda no CEDE, dirigido por sua diretora Nancy Derwood Mills, profissional de primeira linha e faz parte do grupo teatral Imagem Viva, dirigido por Geraldo Junior, pessoa boníssima esta, que dispensa qualquer comentário, isso tamb�m tem colaborado muito no seu desenvolvimento.

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