História para uma educação popular

Paulo Leandro Menezes de Souza

Desde a chegada dos europeus no Brasil, a nossa História tem sido marcada por grandes desigualdades sociais, políticas, económicas e educacionais. A tendência é que este abismo de diferenciações agrave-se, na medida em que o mundo económico internacional é regido por um modelo capitalista , devorador. Faz-se necessário, enquanto professores de História - pensarmos e repensarmos num fluxo constante, a nova prática.

O europeu ao chegar na América trouxe consigo o espanto, a estranheza em ver a criação e o mundo em seu estado natural e perfeito. O homem, os seres e a natureza estavam a disposição dos recém chegados. O mundo verdadeiramente pleno e em harmonia está ali para ensinar o homem do Velho Continente. A prática foi inversa. Os modelos viciados, tortuosos, doentios, gananciosos e destruidores de si mesmo e da natureza do europeu fízeram-se prevalecer. Impiedosos em sua domesticação imposição de valores os poderosos europeus implantaram suas normas e regras sociais. A educação de lá para cá tem sido um instrumento eficaz de propagação deste modelo asfíxiático.

O modelo natural foi substituído pelo "evoluído", a subsistência pelo acúmulo indiscriminado, a preservação pela devastação.

Contemporaneamente a paisagem daquela realidade, só mudou nos atores. Mesmo porque matas e índios estão cada vez mais raros. Muda-se os atores, mas os personagens são os mesmos. A atuação consiste em representar a servidão, a obediência, o certo e o errado dos poderosos economicamente. O neoliberalismo para uns sinónimo de progresso e avançado, soa para outros tantos como escravidão e atraso. Atraso social, de perspectiva, de luta, de sonho de vida. A utopia fíca cada dia mais distante. O modelo superou o espírito. Sem paradigmas o homem é facilmente conduzido a subserviência. O modelo é extremamente competente. Certeiro nas suas táticas e objetivos e objetivos. Objetivo de conduzir, aglutinar, se for possível.

Cabe a nós professores de História desvendar estas questões. Porque o homem é obrigado a viver de formas precárias e sub-humanas. Porque a divisão e a soliedariedade virou coisa do passado? Porque o homem não atua e intervém no meio social? Porque o homem não pensa?

Neste contexto a História entra como uma ferramenta mestra, e tem que executar o seu papel com perfeição. Caso o contrário será men reprodutora do modelo excludente. Fazer com que o aluno, indiferente de ser apenas um personagem, passe a ser um escritor de sua própria história. Eis o nosso grande desafio.

Devemos ter o cuidado, nas nossas mediações, de não nos tomar propagandistas das nossas convicções, sob o risco de nos tomar ditadores da verdade. Cabe aqui um parêntese sobre a verdade. Afinal o objeto de estudo da História e o homem. Compreendemos por homem, ser em constante formação, complexo, único. Daí não podermos fazer de todos a mesma leitura, nem tampouco lhes apresentar a "verdades" absolutas e irrefutáveis. Para nós professores de História, cabe o papel de provocar e confrontar verdades constantemente ao educando. O professor não deve se eximir de seu papel problematizador, observador do mundo e suas relações, cabe a ele decifrar estas relações e traze-las para a sala de aula.

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