O Conhecimento na Idade Média


Alguns historiadores afirmam que o conhecimento da humanidade parou de evoluir com os gregos, sendo o desenvolvimento do saber entre os romanos menos frutífero. O período que se segue a Antiguidade clássica, a Idade Média, é tida como a Idade das trevas, como se o conhecimento tivesse parado ou mesmo recuado, voltando a se desenvolver somente após o Renascimento. Entretanto, é durante a Idade Média desenvolveu-se algumas filosofias como a escolástica, vinculadas a Igreja Católica que tentavam vincular razão e fé. É também neste período que há uma ruptura com a percepção temporal cíclica presente nos gregos e o resgate da percepção temporal linear.

Se nosso pensamento racional é herança dos gregos antigos e uma parte de nossa matemática, dos árabes, nossos valores morais são hebraicos, lembrando que os hebreus do Antigo Testamento são os judeus de hoje. Entre os povos da Antiguidade, era presente a percepção da noção de tempo cíclica. Vivia-se por anos e gerações sempre da mesma forma, nada aparentava mudar, o mundo do neto era o mesmo mundo do avô. O tempo era marcado, ou medido, conforme os fenômenos da natureza. Não havia os minutos e muito menos os segundos, a passagem do tempo era dada pelo nascer do sol, pelo entardecer ou pelo numero de vezes que a lua aparecia, por exemplo. Tudo parecia ser um eterno circulo de nascimento e morte, onde sempre o dia seria sucedido pela noite, uma estação por outra, sendo que o dia ou o verão ou mesmo o inverno morreria e retornaria pelo infinito. O ritmo da vida era o do preparo do terreno, do plantio e da colheita, tudo com um tempo certo que se repetiria no próximo ano. Essa visão do tempo foi chamada da Lei do Eterno retorno.

A percepção do tempo inaugurada pelos hebreus é linear, como se o tempo fosse uma linha reta, com direção, sentido. Não há repetição, nada vota a ser novamente o que já foi. Antes dos tempos, haveria um tempo sem tempo, o tempo de Deus, ou Jeová, que, sendo Deus, não deveria ser subordinado ao tempo, mas sim atemporal. O tempo propriamente dito iniciaria com a criação e se desenrolaria na direção do apocalipse e do juízo final, onde novamente, não haveria mais tempo. Nesta visão, o tempo é humano, relativo aos seres mortais. Esta leitura dos judeus sobre o tempo foi apropriada pelos católicos que passaram a pontuar e a marcar a contagem da linha do tempo a partir do suposto ano do nascimento de Cristo. Desta leitura do tempo surgiram diversas seitas e seus profetas anunciando o fim dos tempos embasados nas múltiplas leituras do apocalipse de João. O retorno de Jesus ou de outros heróis marcou o pensamento das pessoas da Idade Média e sobreviveu até os dias de hoje. Este tempo pontuado das profecias é chamado de escatológico.

Além do tempo, a Igreja, como forma de converter pagãos, desenvolveu filosofias que tentavam unir fé e razão. Entre elas está a escolástica. Trata-se da aproximação da filosofia de Aristóteles com a compreensão do fenômeno da Revelação cristã para compreender de forma racional alguns fenômenos como a imortalidade ou a tríade de Deus (o pai, o filho e o Espírito Santo). Se por um lado, o conhecimento cristão se construía por dogmas, que são as verdades indiscutíveis da Igreja, a razão não deveria ser contraditória com a fé, mas sim subordinada a ela. Deveria-se, desta forma, usar a filosofia para explicar ou dar argumentos aos dogmas. O revelado era aquele que recebia uma manifestação direta de Deus. Sendo deus verdadeiro por princípio e a razão aquela que busca a verdade, o revelado poderia, por tanto, fazer uso da filosofia para explicar os dogmas.

No início do cristianismo, não existia a Igreja Católica, ela só se constitui a partir da aliança de uma seita cristã com o Império Romano de Constantino I no século IV. Muitos cristão se organizavam em pequenas seitas. Os princípios católicos se construíram na medida em que a os chefes da Igreja estabeleciam o que era heresia. Heresia é tudo aquilo que é contrário aos princípios da Igreja. Houve mesmo algumas seitas cristãs que não se aliaram com o Império Romano e foram perseguidos como hereges.

O poder da Igreja Católica na Idade Média se confundia com o próprio conhecimento produzido neste período, uma vez que as escolas e universidades eram da Igreja.


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