Prof: Alexandre Lobo

Descartes e a dúvida cética

Desde seu início, a filosofia sempre e preocupou com questões relativas a como é possível o conhecimento. Essa é uma questão que tem atravessado a história da filosofia. Pertinente a esta questão, agrega-se outra, como conhecer a verdade? Mas afinal, o que é a verdade? Onde ela está.

Religiões e magias nos dão verdades absolutas, incontestáveis que são os dogmas. Um dogma, portanto, é tudo aquilo que é tido como verdade indiscutível, como por exemplo a existência de Deus para uma religião ocidental cristã. Mas, na era moderna, para a ciência e a filosofia, não devem existir dogmas. Foi pelo questionamento dos mitos que surgiu a filosofia e a ciência se desenvolveu. Galileu, por exemplo, foi julgado pela Igreja católica por discordar do dogma de ser a terra o centro do universo. Apenas recentemente o papa João Paulo II reconheceu o erro da Igreja.

Entretanto, o caminho de hoje e o passado da filosofia tem princípios diferentes na construção do conhecimento. Entre os gregos, partia-se de certezas para o conhecimento. Entre os idealistas, por exemplo, era certo que o conhecimento tinha início nas idéias. É com Descartes que o processo do conhecimento ganha outro princípio, o da dúvida. Bem, aquelas pessoas conhecidas como céticas são aquelas que duvidam de tudo, que dificilmente tem algo como verdade.

Para Descartes, a dúvida era necessária na construção de um conhecimento verdadeiro a respeito de tudo. Mas, inicialmente, deveríamos duvidar de tudo, tudo que tínhamos como certeza não poderia ser considerado verdade. Uma prova disto era o fado de que muitas pessoas tem opiniões diferentes para o mesmo assunto. E qual delas tem a verdade?

Para dar fundamento ao seu método de conhecimento, Descartes elabora os três graus da dúvida:O primeiro, “em virtude do nossos sentidos algumas vezes nos enganarem, quis supor que nada havia que fosse tal como eles nos levam a imaginar.1” Ou seja, nossos sentidos enganam, podemos ver coisas que não correspondem à realidade. Uma colher num copo de água, por exemplo, pode parecer estar quebra. É através da ilusão de óptica que nossos sentidos enganam.

O segundo grau da dúvida diz respeito a possibilidade de estarmos sonhando, a nossa vivência mais próxima pode ser apenas um sonho. Quantas vezes não tivemos um sonho que parecia realidade, ou ainda, aquele sonho que sonhamos que estamos acordando de um sonho?

O terceiro grau da dúvida é referente ao Gênio Maligno, uma entidade maléfica que sempre nos conduz ao erro de cálculo, por ela, a maior das certezas, a matemática, que é exata, poderia se tornar falsa.

Mas, diz Descartes : “logo após percebi que, quando pensava que tudo era falso, necessário se tornava que eu - eu que pensava - era alguma coisa - penso, logo, existo.”2 Em, este é um princípio que não pode ser duvidado, pois, mesmo com ilusão de ótica, com a possibilidade de se estar sonhando, ou mesmo com erro de cálculo, é sempre um sujeito que está pensando, e tudo, nesse sentido, é pensamento, mesmo com erro, mesmo um pensar de forma falsa a respeito de algo, é um pensar.

É a partir desta certeza primeira que é possível construir um conhecimento, mas ele deve sempre partir da dúvida. O segundo passo do conhecimento seria ordenar as dificuldades de tal forma que ficasse mais fácil ultrapassa-las. Feito, isto, o conhecimento deve ser ordenado do mais simples ao mais complexo. E, por último, fazer uma revisão geral para evitar erros, ver se não ficou nada de fora na construção do conhecimento.

Este método de Descartes foi adotado pela ciência.

Questões:

1- O que é um dogma? 2 - O que é ceticismo? 3- Segundo Descartes, por que deveríamos duvidar de tudo? 4 - Por que não é possível duvidar do principio “penso, logo existo”? 5 Descreva uma situação que ilustre o primeiro ou o segundo grau da dúvida.


1Descartes, René. Discurso do método. Rio de Janeiro, Ediouro. S/d. P 85.

2Descartes, p 86.


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