Filosofia – Prof. Alexandre Lobo - www.webhumanas.hpg.com.br

Noção de dialética


Da origem grega, a palavra dialética (dia, dual, lekitkós, dialogo) significa tanto a dualidade dos objetos com seus contrários quanto a arte do diálogo. O primeiro filósofo grego a empregar a dialética no primeiro sentido foi Heráclito. Enquanto Parmênides buscava estabelecer as essências dos seres através da idéia do ser uno e imutável, o ser algo, Heráclito afirmava a mutabilidade de tudo, negando que os seres pudessem ter uma essência uma vez que existe o movimento e nada permanece o mesmo. Platão era dialético no outro sentido, seguindo seu mestre Sócrates, ensinava seus discípulos através do diálogo, de questões que eram lançadas e, conforme as respostas, novas questões eram feitas conduzindo a uma conclusão.

É com Friedrich Hegel e Karl Marx que a dialética ganha o sentido usado hoje na filosofia e nas Ciências Humanas. Hegel desenvolve a idéia de movimento de Heráclito e nos diz que temos duas formas de apreender a realidade, uma, relativa a aparência mutável, ao momento, e outra, a essência, imutável e eterna. Na essência, os objetos e os seres teriam dentro de si o seu futuro, ou melhor, a idéia de essência inclui o movimento e a idéia de processo. Usando um exemplo do próprio Hegel, a essência de uma semente é o processo de sua transformação em árvore e em fruto. Uma semente já contém em si a própria arvore, e, a arvore, por sua vez, contém a semente e o fruto. O processo, ou o movimento,é uma totalidade em que os momentos, como o mento da semente, são as partes.

Karl Marx desenvolve a dialética de Hegel e parte do princípio da contradição. A dialética marxista estabelece o princípio da contradição. Todos os seres contém em si os seus opostos, tudo se define pela sua negação. Enquanto na lógica de Aristóteles, um ser não pode ser diferente de si mesmo, a dialética incorpora o diferente de si mesmo como parte da definição de si. Vejamos, como podemos saber que determinado objeto é um carro? Bem, um carro é um não-trem, um não-motocicleta, ou mesmo um não-pessoa. Somos informados a respeito dos objetos comparando-os com o que não são. Uma outra forma de entender a dialética é perceber que algumas idéias só são compreensíveis pela existência de opostos. Só podemos entender o frio se tivermos noção do calor, do alto pelo baixo, do bem pelo mal. Neste sentido, o frio não existiria se não houvesse sua negação, o calor.

A dialética tem três momentos: tese, antítese e síntese. A tese corresponde ao princípio de identidade, ou seja, como percebemos os seres, o que pensamos sobre eles e o que eles parecem ser. Uma semente é um momento do processo, ou seja, a idéia de semente corresponde a tese. A antítese é a comparação dos seres com seus contrários, ou do ser com o não ser, o que algo é com o que não é. Uma semente não é uma arvore, uma madeira não é um armário, uma pepita de ouro não é um colar assim como uma tinta a óleo não é um quadro. A síntese é o resultado da tese com a antítese, ou seja, do ser com o seu oposto, sua negação. A síntese entre uma semente (não-árvore) e uma arvore (não-semente) é o próprio processo de transformação da semente em árvore.

Marx politizou o conceito de dialética aplicando-o para a compreensão social. A sociedade ou a história da sociedade seria um todo, suas partes seriam as classes sociais em contradição: o escravo é um não senhor, assim como o senhor é um não escravo, o servo é um não nobre assim como o nobre é um não servo, mas cada um depende do outro para existir. Essas classes em luta transformariam as sociedades movendo a história.

O pensamento dialético leva a perceber que um ser se define e depende de outro, que nada existe isolado no universo e que tudo está em um processo de transformação, não permanecendo o mesmo.

Questões:

  1. É possível existir riqueza sem existir pobreza? Explique.

  2. O que era a dialética em Platão?

  3. Explique a importância da contradição na formação do ser na dialética.

  4. Crie um exemplo em que se possa perceber a tese, antítese e síntese.

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