A construção do homem moderno e a formação do capitalismo: contradições e conflitos

Gensmar Borges1


A quebra da tradição em prol de um ser genérico e livre, um ser pensante tendo a razão embasada no amor e na luta por um ser dotado de beleza e caráter, a virtude, a ética e a justiça como principio que se luta até a morte, essa como tragédia humana, mas também como redenção de um novo ser na construção de uma nova sociedade. Fica claro no livro Romeu e Julieta o livre arbítrio ou liberdade de expressão e escolha, baseada na virtude do caráter e na beleza de um ser inteligente e livre duma tradição baseada no ódio e na mesquinhez ou pequenez do homem, apegada à tradição e ao preconceito que reproduz uma sociedade dominadora e injusta. Tradição essa sustentada pelas brigas de famílias que se reproduzem ao longo do tempo, no casamento arranjado dentro da elite para reprodução de seu prestígio e riqueza, ou na força da educação religiosa que se sustentava em torno da castidade ou repressão dos prazeres ou desejos. A tragédia de Romeu e Julieta acontece na luta por sua individualidade e liberdade na busca do amor a um ser genérico e belo na sua plenitude, que luta por seus desejos, não no sentido do puro prazer, mas de um desejo completo na beleza física e espiritual.

O movimento chamado pelos historiadores como renascimento foi importante como base cultural da sociedade moderna que se gesta em contraposição à sociedade tradicional medieval. Aos fatores culturais, soma-se outros fatores de ordem econômica e política que se desenrolam na formação do Estado moderno absolutista, assim como nas idéias econômicas do mercantilismo, importantes nas grandes navegações e no processo de colonização da América e na formação do capitalismo comercial, época ainda de transição para a consolidação do sistema propriamente dito.

Desenvolve-se um estado moderno centralizando o poder na figura do rei como monarca absoluto (absolutismo), aliada a uma classe social emergente na burguesia que defende um monopólio comercial e restrições políticas às colônias. Contrários a um ser livre e soberano no plano social, esses conflitos levam a uma nova forma de pensar baseados na liberdade econômica e política na construção de um cidadão livre e consciente de seus direitos, desenvolvendo-se a partir das chamadas Revoluções Burguesas de meados do século dezenove. Consolida-se, a partir de então, uma nova fase do capitalismo industrial e, posteriormente, financeiro que se apropria desses conceitos como forma de reproução do sistema e no açulo de capital e controle dos países desenvolvidos da Europa.

Nesse contexto, os países da América Latina e o Brasil se desenvolvem, principalmente no processo de independência política, mas sempre atrelado e dependente das economias ditas desenvolvidas da Europa: primeiro Portugal e Inglaterra e, posteriormente, logo após a 1ª e 2ª Guerras Mundiais os Estados Unidos.

As contradições se reproduzem até hoje na luta de um homem realmente livre, onde o sistema adotou a racionalidade fria desvinculando razão, emoção e liberdade, transformando tudo numa mercadoria, onde a “liberdade é apenas uma questão de detalhe” expresso numa propaganda da Sandy. Poderia se fazer uma comparação entre o homem de Romeu e Julieta e de Sandy e Junior.

1 Professor de História da rede estadual e municipal de Esteio – RS.

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