Quando eu penso em quando conversávamos,quero dizer, conversávamos compridamente,sobre coisas sonhadas e sonháveis e eu meacostumei com o som de sua voz, com o teujeito amoroso de me falar de amor sem que eupedisse e me sorrir numa cumplicidadequase sem palavras.Eu me acostumei com tudo, que mais tardeme faria tanta falta.Enquanto conversávamos, eu pensava que era bom que tudo acontecesse, que o futuroestivesse tecendo seus dias entrechuvas, sóis e luas cheias.Eu tenho saudade daquele tempo; eu sabia das tuasmúsicas favoritas, das tuas inclinações e ambições.Sabia dos planos, das conquistas, do cansaço,do filme que marcou, das alegrias e revoltas.E a minha vida nem era essa coisa absurda que ficou.Nela, os espaços eram preenchidos pelastuas palavras, tua ternura curta,dolorida e branca.Depois veio o silêncio cruel.Um silêncio que me devolveu a um mundo que eu havia esquecido que pertencia,trazendo de volta o não sentido das coisas.Mas eu esperei...Às vezes num contido silêncio; noutras vezes,não aguentando, te procurava comoque querendo manter a todo custouma história que não existia mais...( e eu nem me lembro direito maiscomo era antes...)Queria continuar aquela conversa que pensei,nunca terminaria; queria continuara trocar impressões de vida!Depois veio algo bem maior que o silêncio, doendo muito mais que todas as palavras frias: o vazio!Hoje, todas as ruas e cidades nos separam.Os homens continuam matando e sendomortos nas guerras. As criançascontinuam nascendo, gentecontinua chegando ou partindo cheiasde saudade.Tudo igual pelo mundo, tudoabsolutamente igual.Só tua voz é que saiu de viagem e,sem explicação nenhuma, não voltou nunca mais!
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