PRIMA DONNA

 

PARTE 9

 

         Petrouska olhou para um dos vários quadros expostos na Place du Tetre, em Montmartre, onde os artistas plásticos desconhecidos expunham suas obras para vender. Adorava andar por ali, sentia-se em seu elemento, junto daqueles pintores. Em vários notava um talento especial e se surpreendia com o fato desses talentos serem anônimos. Isso também a amedrontava. Era uma indicação que para se tornar conhecido e se destacar na pintura não era tão fácil como imaginava. Não bastava ter talento, tinha que ter a sorte de possuir um bom marchand para comercializar as obras e ter a sorte de ser notado pela mídia. Vencer em Paris ou em qualquer outro grande centro de cultura dependia de uma série de fatores.

 

         Ela havia deixado Gina em casa, ensaiando. Gina estava se preparando para gravar um novo cd com árias de várias óperas e estava selecionando as que colocaria no cd com o produtor musical. Ela havia achado melhor não estar presente, porque nessas horas  Gina era apenas a profissional concentrada com o seu trabalho.

 

         Estava com ela em Paris morando juntas há mais de um mês e estavam vivendo uma tórrida paixão. O conde não tornara a aparecer e tudo transcorria maravilhosamente. Elas se amavam todas as  noites, tinham seus trabalhos, tinham seus espaços para se dedicarem aos seus trabalhos. Petrouska já havia pintado dois quadros, muito elogiados por Gina. Ao cair da tarde, costumavam sair para compras ou passeios, e à noite jantavam no terraço romanticamente olhando as luzes da torre Eiffel e dos Champs Elisèes. E Petrouska terminava  sempre no quarto de Gina, onde dormia depois de horas de sexo intenso.

 

         Gina havia prometido que quando ela juntasse uma  boa quantidade de quadros, falaria com um amigo para organizar uma exposição em uma galeria de renome.

 

         Petrouska não queria ser ajudada por Gina, mas agora via que sem a ajuda dela, nunca passaria de uma pintora anônima, como os pintores da Place Du Tetre.

 

         Um quadro chamou sua atenção. Diferente da maioria, que geralmente eram impressionistas, cubistas ou acadêmicos, esse quadro era de estilo surrealista, mostrando uma mulher nua flutuando no espaço, em um sono tranquilo, com o planeta Terra ao longe.

 

         Petrouska parou, analisando-o. A técnica não era tão boa quanto a criatividade. As sombras no corpo estavam imperfeitas nas pinceladas, mas a idéia do quadro era  muito boa.

 

         -Quer comprá-lo? O preço é cem dólares, mas posso fazer um desconto.

 

         Petrouska voltou-se para olhar a dona daquela voz suave. Viu diante dela uma moça de mais ou menos sua idade, com uma jaqueta de preta sobre uma blusa de lã vermelha, calça de couro negro, botas e um chapéu gracioso sobre os bastos cabelos acobreados e anelados. Os olhos verdes escuros a fitavam com curiosidade, enquanto sorria gentilmente.

 

         Petrouska sorriu desajeitada.

 

         -Merci, mas não posso comprá-lo – Declarou – Não tenho todo esse dinheiro comigo e nem teria onde colocá-lo.

 

         A jovem pareceu decepcionada.

 

         -Achou caro? Está bem, eu posso baixar o preço...oitenta dólares está bom?

 

         -Não é apenas o preço que me impede de comprá-lo – reiterou Petrouska – Não teria onde colocá-lo, não tenho uma casa para isso.

 

         O olhar da jovem percorreu suas roupas caras e a fitou com incredulidade.

 

         -Está dizendo que não tem onde morar?

 

         Petrouska riu.

 

         -Não, não é isso! É que estou hospedada na casa de uma amiga e a casa já é repleta de quadros de pintores famosos. Não há lugar para mais um.

 

         A moça sorriu com amargor, baixando o olhar.

 

         -Entendo...sua amiga jamais colocaria o quadro de uma desconhecida perto dos seus, de pintores famosos...

 

         -Oh! Não quis dizer isso! – Disse Petrouska, enrubescendo de vergonha por sua falta de tato – É que a casa não é minha...a dona tem um gosto diferente do meu...

 

         A moça ergueu os olhos, fitando-a com um sorriso triste.

 

         -Très  bien... desculpe minha insistência...é que estou aqui a semana toda e ainda não consegui vender um quadro sequer. E preciso de dinheiro para comer e pagar o maldito aluguel do meu quarto. Mas, ces’t la vie.

 

         Petrouska comoveu-se. Aquela moça devia estar tão acostumada a passar privações, que estava conformada com sua situação. Teve vontade de ajudá-la. Não conhecia o lado duro da vida, mas podia imaginar como era horrível. Aquela garota podia ser ela, se não fosse a ajuda de Gina. Sentiu uma profunda identificação com a garota.

 

         -Ecoute moi...se não se ofender, posso pagar um almoço para você em um restaurante que não seja muito caro...aceita almoçar comigo?

 

         A garota a fitou surpresa e desconfiada.

 

         -Pagar-me um almoço? Por que?

 

         -Porque também sou uma pintora  e quero ajudar à uma colega de profissão. Além de admirar seu quadro, simpatizei com você. Então, aceita?

 

         Ela a fitou admirada, sorrindo. Tinha um belo sorriso, os dentes perfeitos e brancos.

 

         -Você não é desse mundo! Oferecer um almoço à uma estranha! Mas, aceito! Não posso me dar ao luxo de recusar um convite desse! Espere um momento...

 

         Rapidamente, a moça desarmou o tripé que sustentava o quadro, fechou-o, colocou o quadro sob o braço e acenou com o tripé na mão, sorrindo.

 

         -Vamos? Estou pronta.

 

         -Vamos – Respondeu Petrouska – Onde gostaria de comer?

 

         -Oh, no Maxin’s, de preferência!

 

         Petrouska riu.

 

         -Terá de contentar-se com bem menos. Estou apenas com cinquenta euros no bolso.

 

         A moça começou a andar ao seu lado, fitando-a atentamente. Eram da mesma altura.

 

         -Estava brincando. Conheço um restaurante perto daqui, La Mére Catherine, que a comida é muito boa e barata. Com menos de cinquenta euros comeremos bem.

 

         -Ótimo, vamos lá.

 

         Petrouska a fitou disfarçadamente. Era bonita. Um perfil gracioso, de nariz ligeiramente arrebitado, uns lábios cheios e bem torneados, os olhos expressivos. Como uma moça tão bonita estava passando dificuldades para pagar o aluguel e sua comida? Porque devia ser honesta, senão ganharia dinheiro se prostituindo.

 

         A moça apontou o restaurante do outro lado da rua.

 

         -É ali.

 

         Petrouska olhou. Era um pequeno restaurante com paredes e toalhas vermelhas nas mesas que ficavam sob um toldo na calçada. O interior parecia escuro, mas era simpático o local.

 

         A moça a pegou pela mão e a puxou, atravessando a rua. Petrouska sentiu um arrepio à aquele contato e preocupou-se. Como podia sentir isso por uma desconhecida, se amava Gina?

 

         Pararam diante do restaurante e a moça largou sua mão, sorrindo.

 

         -Prefere ficar aqui fora, ou lá dentro? – Perguntou a moça.

 

         -Lá dentro deve estar menos frio.

 

         -Então, venha – Disse a moça, avançando.

 

         Se sentaram em uma mesa no canto. Eram onze horas da manhã e o restaurante ainda estava quase vazio, o que permitiu que fossem logo atendidas. O garçon trouxe o menu e sorriu para a moça.

 

         -Bom Jour, Cris. Vejo que já vendeu um quadro hoje – O garçon disse, sorrindo.

 

         A moça sorriu para o homem alto e magro, de cabelos grisalhos rareando nas têmporas.

 

         -Que nada, Pierre! Não tive essa sorte. Mademoiselle  quem vai pagar meu almoço – Disse, indicando Petrouska com a mão.

 

         Ele fitou Petrouska com curiosidade.

 

         -Uma nova amiga, Cris? Meus cumprimentos, mademoiselle. O que vão escolher?

 

         Cris olhou para Petrouska.

 

         -Pode escolher, eu gosto de qualquer prato daqui.

 

         Petrouska sorriu, timidamente.

 

         -Escolha você, que conhece a comida desse restaurante. Confio em seu bom gosto.

 

         Cris sorriu e falou com confiança ao garçon:

 

         -Pierre, dois casoulet e uma garrafa de vinho.

 

         O garçon assentiu e foi tratar dos pedidos. Cris olhou para Petrouska com um sorriso divertido.

 

         -Ele pensou que você é uma amiga minha. E na verdade, nem nos apresentamos. Meu nome é Christienne Sardu, mas prefiro ser chamada de Cris, simplesmente.

 

         -O meu é Petrouska Vonsky.

 

         Ela a fitou com admiração.

 

         -Petrouska Vonsky! É um nome russo. Você é russa?

 

         -Sim.

 

         -Existe um balé de Stravinsky com esse nome.

 

         -Exato. Minha mãe deu-me esse nome  porque era o seu balé predileto.

 

         -Logo que a vi, achei que era estrangeira. Seus traços são eslavos.

 

         Em poucos instantes, a comida chegou, em uma tijela fumegante, pão e uma garrafa de vinho. O garçon encheu as taças e Cris ergueu-a, fitando Petrouska sorridente.

 

         -Ao nosso conhecimento, Petrouska! Salut!

 

         -Salut! – Respondeu Petrouska, sorrindo também.

 

         Cris tomou um gole e estalou os lábios de prazer.

 

         -Ah, um vinho com esse frio é muito bom!Há tanto tempo não tomava vinho! Obrigada, Petrouska!

 

         Petrouska sorriu timidamente.

 

         -É um prazer poder proporcionar à você esse pequeno prazer, Cris.

 

         Cris se serviu do casoulet e começou a comer com apetite, acompanhando com  fatias de pão. Petrouska percebeu que ela estava faminta e se comoveu. Pegou uma porção mínima, apenas para acompanhá-la. Não estava com fome.

 

         Cris esvaziou o prato rapidamente e olhou para ela.

 

         -Não vai repetir? –Perguntou, olhando para a tijela, que ainda tinha comida.

 

         -Não, pode comer . Estou sem fome - Disse, mostrando seu prato quase intocado.

 

         Cris despejou o resto da comida em seu prato e comeu rapidamente. Petrouska desviou o olhar, constrangida, fingindo prestar atenção na entrada do restaurante. Cris acabou de comer e passou o gardanapo nos lábios, fitando-a parecendo envergonhada por sua gula.

 

         -Você disse que está hospedada na casa de uma amiga...então, não reside em Paris, não é?

         -Certo. Eu residia em Gèneve. Mas agora vou fixar residência aqui.

 

         -Vai ficar lá provisoriamente, ou em definitivo?

 

         Petrouska a encarou pensativa. Ela era uma estranha. Não tinha porque falar de sua vida  ou planos à ela. Mas isso também a deixava à vontade  para desabafar. Era uma pessoa que a ouviria, mas depois não se veriam mais. Uma ouvinte que não tinha nada com sua vida e a opinião dela não a afetaria. Olhou aquele rosto que a fitava confiantemente, como só os jovens confiam, e respondeu:

 

         -Não sei se vou ficar lá  por muito ou pouco tempo. Nós estamos iniciando um relacionamento, mas temos problemas de confiança.

 

         O olhar de Cris brilhou com uma chama de entendimento.

 

         -A sua amiga... vocês são amantes?

 

         A pergunta franca de Cris não a abalou. Na verdade, sentiu-se aliviada por finalmente ter alguém com quem falar seu problema íntimo.

 

         -Sim. Há mais de um mês.

 

         O olhar de Cris a percorreu especulativo.

 

         -Eu imaginava algo assim, quando a vi. Você me olhou de uma forma que uma mulher normalmente não olha outra. E ofereceu para pagar meu almoço. Olha, se está pensando que vou pagar essa comida com sexo, está enganada!Não gosto de mulher, tenho um namorado que amo e...

 

         Petrouska ficou vermelha e contestou, em tom ofendido:

 

         -Eu não quero nada de você! Está enganada, eu amo a mulher que tenho! Eu apenas quis ajudar você, mas se está com pensamentos errados sobre mim, au revoir!

 

         Petrouska se ergueu, pegou todo seu dinheiro e jogou sobre a mesa e saiu com passadas furiosas.

 

         Ela ouviu Cris gritando para esperar, mas não parou. Estava andando há uns cinco minutos quando foi agarrada pelo braço e puxada. Ela se voltou, vendo Cris a fitando respirando em longos austos.

 

         -Pour Dieu! Você anda rápida, Petrouska! – Disse, cansada.

 

         Petrouska a fitou friamente.

 

         -O que deseja?

 

         Cris respirou fundo, soltando seu braço. Olhou-a encabulada.

 

         -Eu...quero pedir desculpas...eu fui ingrata e preconceituosa. Você foi legal comigo, e retribuí cuspindo no prato que comi. Perdoe-me... é que já recebi a “cantada ” de uma  lésbica metida a conquistadora, que me convidou para jantar.E por isso, achei que você era como ela.

 

         Petrouska a encarou, ofendida.

 

         -Meu Deus, Cris! Eu não sou nenhuma conquistadora de mulheres! Eu até bem pouco tempo era virgem! A mulher com quem estou foi a primeira pessoa com quem tive sexo!Jamais iria cantar você apenas porque paguei um almoço para você! Apenas quis fazer uma gentileza!

 

         -Eu sei! Agora eu sei! Peço mil desculpas! Petrouska, queria tanto que me desculpasse e esquecesse o que eu disse!

 

         Petrouska olhou pensativa para a moça. Ela parecia sincera, o olhar implorando. Sorriu.

 

         -Está bem. Vou esquecer.

 

         Cris sorriu, os olhos brilhando.Estendeu a mão.

 

         -Então, amigas?

 

         Petrouska apertou a mão dela.

 

         -Amigas.

 

         Sentaram na mureta que ladeava o rio Seine e conversaram sobre arte e sobre suas vidas. Cris contou que  havia fugido de casa aos doze anos, a mãe tinha um amante que queria abusar dela. E confessou que já havia ido para a cama com uma mulher, mas não havia sentido nada.A mulher era  bem masculinizada e havia sido bem violenta, querendo usar contra a vontade de Cris um membro artificial e ela saíra do hotel correndo.

 

         Petrouska a fitou de cenho franzido.

 

         -Puxa! Deve ter sido mesmo horrível, eu nunca me submeteria a uma coisa dessa. Sexo tem de ser feito com muita paixão e amor, e deve ser consensual. Não é à toa que não gostou.

 

         Petrouska olhou para seu relógio de pulso e se assustou. Três da tarde! Gina já devia ter acabado o ensaio e estava esperando-a . Olhou para Cris, descendo da mureta.

 

         -Tenho que ir. Gina deve estar esperando-me. 

 

         Cris sorriu, a imitando.

 

         -Ah, o nome da sua amante é Gina? Belo nome. Ela faz o que na vida?

 

         Petrouska hesitou. Não havia falado quem era sua amante, nem o que fazia na vida. Não achava certo falar sobre Gina, ela era conhecida e tinha de ser preservada. Só falara sobre sua vida na orquestra de seu pai à  Cris,  seu desejo de ser pintora, mas sem muitos detalhes.

 

         -Prefiro não falar, Cris. Não posso expor a vida dela, não é certo.

 

         -Tudo bem, Petrouska. Entendo. Eu a verei de novo?

 

         -Claro, sempre virei aqui ver os quadros. Você expõe aqui todos os dias?

 

         -Todos os dias que a feira abrir, estarei aqui.

 

         Petrouska estendeu a mão. Cris a ignorou e deu dois beijos rápidos no seu rosto, no cumprimento francês.

 

         -Até outro dia, Petrouska. Adorei conhecer você – Disse ela, se afastando.

 

         Petrouska a ficou olhando afastar-se. Ela parou, se voltou e veio correndo.Colocou nas mãos de Petrouska o quadro dela, fitando-a com um sorriso.

 

         -É para você. Se não tiver onde colocar, jogue fora.

 

         -Cris! – Tentou protestar Petrouska . Ela acenou e saiu correndo.

 

         Petrouska sacudiu a cabeça sorrindo e fitou o quadro. A assinatura era simples, apenas Sardu.

 

LLLLLLLLLLLLLLLL

 

         Quando chegou ao apartamento de Gina, a encontrou discutindo com o produtor musical e o maestro Luca Pierangeli, em sua sala de música. Ela sorriu e disse para o produtor:

 

         -Chega, por hoje. Amanhã encontro com vocês no estúdio, para o início das gravações.

 

         O maestro e o produtor se despediram de Gina e saíram, depois de combinarem a hora. Ela foi levá-los até a saída e Petrouska foi à  copa, pegar um suco de frutas. 

 

         Gina veio ao seu encontro  e beijou Petrouska levemente nos lábios, em seguida  pegando seu copo e dando um largo gole.

 

         -Hummm...delícia! – Disse, sorrindo.

 

         -Meus lábios ou o suco de pêssego? – Perguntou Petrouska, sorrindo.

 

         -Os dois. Aproveitou bem o passeio, Pet? – Perguntou Gina, espremendo seu corpo contra o de Petrouska, enfiando sua coxa entre as coxas da loura e beijando-a no pescoço.

 

         -Sim. Fui até a Montmatre ver a feira de quadros – Respondeu Petrouska, percebendo que Gina estava desejando ter sexo com ela. Já conhecia o jeito dela demonstrar isso. E seu corpo foi tomado de excitação só em pensar em ter Gina em seus braços. Gina gostava de possuir, mas quando se entregava, era uma coisa louca!

 

         A mão de Gina acariciou seu seio por cima da blusa.

 

         -Vi um quadro no hall de entrada. Por que comprou o quadro de uma pintora desconhecida? – perguntou Gina, mordiscando o lóbulo de sua orelha.

 

         -Não comprei. Ganhei de presente – Respondeu Petrouska, envolvendo os braços no pescoço de Gina, movendo os quadris sensualmente.

 

         Gina afastou-se bruscamente e Petrouska quase caiu, estando apoiada nela. Gina a fitou com os olhos congelados.

 

         -Ganhou?! De quem?

 

         Petrousaka ingenuamente contou tudo, como conheceu Cris, que a havia convidado para almoçar, o que haviam conversado. Gina a ouvia com aquele olhar que tanto detestava nela, enigmático. Mas quando terminou, os olhos se estreitaram, como um olhar felino. Ela contraiu os lábios numa espressão de desgosto e Petrouska a fitou surpresa.

 

         -O que há? Fiz algo errado?

 

         Ela cruzou os braços e a fitou acusadoramente.

         -Quer dizer que você conheceu uma garota na rua e pagou um almoço para ela? E depois de revelar que é gay, ela lhe deu um quadro de presente? Oh, você não fez nada demais! – Comentou, ferina.

 

         Petrouska a fitou surpresa, não sabendo se ficava ofendida ou feliz, ao perceber que Gina estava com ciúmes dela.

 

         -Gina, está com ciúmes? Ouça, se eu estivesse com alguma maldade nesse conhecimento, não teria contado tudo à você! Teria inventado que comprei o quadro!

 

         -Você contou porque é cínica!Como teve coragem de expor sua vida para uma estranha? Queria mostrar o que gostava, para adiantar logo as coisas? Para ver se ela aprovava esse tipo de relação?

 

         -Gina! Nem pensei nisso!Só tive pena dela! Ela disse que estava sem dinheiro para comer e pagar o aluguel do quarto e eu...

 

         -Chega! Não quero ouvir mais nada! E aquele quadro, não o quero em minha casa! Dê a alguém, venda, jogue fora, mas não o quero aqui!

 

         Gina, está exagerando! Não vou desfazer-me do quadro porque você está com idéias erradas! Vou guardá-lo em meu quarto. Você não disse que temos de preservar nossa individualidade? Que tem o direito de ter seus amigos e eu, os meus? Pois arranjei uma amiga também! Nossos direitos são iguais!

 

         Gina empalideceu e a fitou com um olhar furioso.

 

         -Muito bem, Petrouska, você quis assim! – Disse, saindo da sala com passadas largas.

 

         Petrouska sentou no sofá, sentindo-se arrasada. Como podia imaginar que Gina iria ficar com ciúmes de um simples conhecimento que fizera? Realmente, havia sido ingênua. Estava aprendendo a viver, a ver que nem sempre devia ser totalmente sincera, as pessoas preferiam ouvir mentiras, palavras que fossem de acordo com o que desejavam. Nem tudo que lhe falassem devia dizer para uma ciumenta parceira, para evitar atritos como o que havia acontecido.

 

         Pegou o quadro no hall e o levou para seu quarto. O colocou numa prateleira alta do closet, para Gina não ver. Não tinha coragem de jogá-lo fora, nem de vender. Havia sido um presente de uma garota que o fizera com dificuldade.

 

         Pensou em ir procurar Gina e tentar fazer as pazes. Mas achou melhor esperar ela se acalmar. Foi para o banheiro e tirou sua roupa. Entrou no box e abriu as torneiras, deixando a água tépida cair sobre seu corpo, relaxando-a.

 

         Acabou seu banho meia hora depois e vestiu um roupão de banho, indo até a cozinha para tomar água. Abriu a geladeira e olhou indecisa para uma jarra de suco, quando sentiu duas mãos pousar em seus ombros. Voltou-se assustada, vendo Gina vestida com um robe de seda negro, fitando-a com evidente desejo.

 

         -Você assustou-me – Disse,  Petrouska, quase sem voz.

 

         Gina a fitou com um um olhar de raiva contida e mágoa.

 

         -Oh...agora eu assusto você... até conhecer essa garota, eu não provocava isso.

 

         Petrouska estendeu a mão e acariciou o rosto de Gina, fitando-a com amor.

 

         -Eu a amo, Gina. Como pode duvidar disso? Eu fui sincera com você, porque não tive nenhuma maldade com esse conhecimento. Mas se não acredita em mim, não vejo outra solução a não ser ir embora dessa casa. É isso que quer?

 

         Gina a fitou em silêncio por um instante e então a abraçou com força, estreitando-a contra os braços fortes.

 

         -Não! Você não pode fazer isso, Pet, porque eu a amo! Você é minha! Só minha!

 

         Petrouska se apertou contra ela, numa entrega total.

 

         -Sim, eu sou sua, Gina... não duvide disso, eu a amo demais!Eu só quero você! Acredite, por favor!

 

         Gina a beijou com paixão, um beijo que exigia, que mostrava que era sua dona. Petrouska retribuiu entusiasticamente, sentindo as mãos de Gina pegar suas coxas e a levantar do chão. Petrouska rodeou a cintura dela com as pernas e seu pescoço com os braços, suas bocas se sugando, as línguas se acariciando, em um beijo profundo.

 

         Gina deu alguns passos e a colocou sentada sobre a mesa da cozinha, empurrando-a suavemente para trás com seu corpo, sem deixar de beijá-la. Com suas coxas entre as de Petrouska, o robe abriu, desnudando coxas e sexo da loura.A mão de Gina desceu e tocou o sexo úmido de excitação de Petrouska com as pontas dos dedos. Gina gemeu quando Petrouska ergueu os quadris, buscando mais contato. Ela afastou-se para fitar o rosto da loura, que estava vermelho de excitação.

 

         -Quero possuir você agora, Pet...penetrar em você até o fundo... – Disse, com voz rouca de desejo – Prove que é minha...

 

         Petrouska a fitou com fogo no olhar.

 

         -Venha... penetre em mim...com força...até onde puder...

 

         -Dio mio! Oh, Pet! Você me deixa louca!

 

         Gina abriu seu robe e expôs o dildo que trazia preso ao seu corpo. Ela o pegou na mão, dirigindo-o para a vulva molhada de Petrouska, esfregando-o até o objeto ficar molhado com a  doce umidade do sexo. Petrouska gemia, movendo o corpo em desespero, os olhos nos olhos de Gina.

 

         -Oh, Gina! Não demore...venha...ou eu mesma vou me satisfazer!

 

         -Então, toque-se... para eu ver...

 

         Petrouka pousou a mão em seu sexo, tocando seu clitóris com os dedos, massageando em movimentos circulares, ofegando:

 

         -Depressa...penetre-me, Gina!

 

         -Oh, Pet! – Disse Gina, segurando o dildo e o dirigindo para a entrada da vagina de Petrouska. Ela empurrou em um movimento dos quadris e apertou-se o máximo que pôde, com Petrouska dando um grito de prazer. Ela ficou imóvel, apertando-se, até Petrouska se acostumar com a invasão.

 

 Então, começou a se mover com movimentos firmes, em um entra-e-sai que fazia Petrouska tremer, as pernas envoltas em sua cintura, erguendo ao quadris para satisfazer cada estocada. Ela fechou os olhos e começou a estremecer, gemendo enlouquecida. Suas mãos apertaram os braços de Gina e ela soltou um grito, paralizando o corpo com os quadris erguidos  em um orgasmo violento, que a arremessou nas nuvens.

 

Gina deitou a cabeça sobre seu seio, respirando fundo.

 

-Pet, você é minha...só eu posso amar você assim...

 

Petrouska acariciou os cabelos de Gina, espalhados em seu tórax.

 

-Eu sei, meu amor...e agora, eu também quero retribuir o prazer imenso que me deu...

 

Gina ergueu o rosto, fitando-a sorridente.

 

-Ainda bem que disse isso, porque estou quase pegando fogo!

 

-Venha cá, minha amazona fogosa...

 

         E lá se foi a tarde e a noite...

 

 

         Continua na parte 10

 

        

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