AMOR ACIDENTAL
(ACCIDENTAL LOVE)
AUTORA:
B.L. MILLER
TRADUÇÃO:
Kaká Gonçalves
Nota:
Já
fizeram uma tradução dessa
fic, mas de qualidade sofrível, pelas imprecisões
do
tradutor, erros de digitação e palavras inteiras que não
se aplicavam à original, fazendo algumas frases ficarem sem sentido.
E nem dando atenção às frases de expressões idiomáticas,
fazendo o leitor ficar confuso sobre o que significava . Essa presente tradução
procurou ser a mais fiel possível do original da autora B.L. Miller. Para isso,
foram 3 meses de árduo trabalho.
As personagens
que aparecem nesta história são da própria criação
de BL Miller, que possui copyright delas de 1998. A tradução foi
permitida pela escritora para esse site, desde que citando o site de origem: http://www.blmiller.net/room/index.html
PARTE 1
Rose Grayson
subiu o fecho de sua jaqueta azul marinho e colocou o capuz sobre sua cabeça.
O cordão que normalmente o teria mantido em seu lugar havia sido retirado
há muito tempo antes que ela a tivesse comprado no brechó.
Ela não tinha nenhuma
dúvida de que a primeira rajada de
vento frio penetrante o tiraria de sua cabeça, mas para o momento, isso
era o melhor que ela
podia fazer. Ela olhou fora a intensa iluminação
do estacionamento do Money Slasher, o grande supermercado em que trabalhava
em meio expediente.Ela havia estado esperando ficar
em período integral, mas com a economia da maneira em que estava, os
trabalhos de tempo integral eram difíceis de se obter. O louco horário
que lhe deram fizera impossível conseguir outro trabalho de meio período
para completar seu salário, e Rose não podia correr o risco de
perdê-lo. Havia tomado semanas de tentativas para conseguir entrar
para esse supermercado de Albany .
Como
a meteorologia havia previsto, os pequenos flocos de neve que estavam caindo
quando seu turno começou, agora estava soprando um forte vento e uns
bons centímetros de
neve haviam caído sem o final ser em vista. Rose olhou abaixo
seus desgastados tênis e gemeu. Esta era a pior parte de ter um trabalho
à duas milhas de seu apartamento. A longa caminhada até sua casa
garantia que seus pés estariam congelados, para não mencionar
o resto de seu corpo. Ela era às vezes bastante afortunada em conseguir
uma carona de Kim, a encarregada do supermercado, mas não essa noite.
Kim havia terminado seu turno há uma hora atrás e de nenhuma maneira
Rose pediria que a esperasse. Tomando uma respiração profunda,
ela meteu seu cabelo louro-avermelhado no capuz, dobrando-o para
frente, e caminhou para fora, no implacável tempo.
XXXXXXXX
Verônica
Cartwright deu uma olhada em seu relógio tachonado de diamantes pela
décima vez em uma hora. De todas as desgraçadas noites, tinha
que justo nessa comparecer ao Sam’s, a casa de mariscos que era o lugar de reuniões dos ricos e poderosos de Albany.
Em qualquer noite se podia ir até ali e ver o governador, senadores de
estado, e gente comum que podia gastar centenas de dólares em um jantar.
O maitre sabia quem era quem e os sentava em lugares de acordo. Nunca alguém como
Verônica, que encabeçava uma das maiores famílias que possuía
corporações na área, sentaria perto de alguém que
sequer não possuísse sua própria casa.
Verônica não gostava de ir ali, apesar do prestígio
de sua cozinha. Esta noite, no entanto, ela tinha pouca opção.
Mark Grace, da Comissão de Zonas, lutava para tirar de uma zona um dos
empreendimentos da família Cartwright, a Cartwright Car Washes. E
seus primos
haviam apelado para ela usar todo seu
charme para conseguir que a negociação para liberação
do ponto comercial se concretizasse. Seus primos tinham uma pequena ramificação
da corporação familiar. Era um negócio pequeno, em termos
de renda para a família, mas enorme aos olhos do público, especialmente
com os trinta túneis de lava-a -jato de automóveis na área
e os numerosos anúncios de televisão. "Tenha seu carro bem
lavado em Cartwrights" era um acertado slogan, e
fazia muito tempo,
levava o nome dos varões da família
a serem conhecidos no lugar.
John e Frank, os primos à cargo do serviço de lava-jatos,
desejavam construir um novo posto na esquina de Lake e State Streets. Era uma
excelente localização, mas em uma área predominantemente
residencial. Inclusive queriam, por hora, comprar a parte da esquina do armazém
que havia estado previamente ali e as casas adjacentes à espera de uma
transação. Agora o encarregado Grace estava questionando a destruição
de três "magníficos antigos edifícios" de Albany
para colocar outro "estúpido lava jato". As reuniões
e negociações não funcionaram, ofertas de grandes doações
cívicas não funcionaram, inclusive os subornos falharam. E quando
os irmãos haviam esgotado todas suas idéias e ainda não
podiam tê-lo convencido, apelaram para Verônica para colocar as
coisas corretamente. O chefe da
comissão saltou os olhos na oportunidade
de se encontrar com uma das mulheres mais cobiçadas da cidade e insistiu
em jantar com ela essa noite.
Assim,
em resultado disso, ela teve que sair de seu agradável lar no meio de
uma dessas piores nevascas que já haviam caído pela cidade há
anos, para vir e jantar com o encarregado para que este lhe autorizasse a construção.
Era uma situação para negociar e Verônica
estava acostumada a isto. O único problema era que Grace queria mais
do que a boa vontade da beleza de cabelos negros que dirigia a Cartwright Corporation.
Devido à sua insistência em que eles se encontrassem essa noite,
não teve a oportunidade de fazer a reserva da mesa.
Para quase qualquer pessoa, teria significado não entrar
na prestigiosa casa de ostras. Mas para Verônica, o maitre os colocou
no bar, enquanto desesperadamente tentava encontrar um lugar para a presidente
de Cartwright Corporation e seu convidado. Durante a espera, a mulher de olhos
azuis sofria tendo que escutar os comentários de um homem que lhe
dizia tudo sobre seus títulos, o quanto era inteligente e como ela deveria
realmente considerar passar mais tempo com ele. A única parte boa da
noite havia sido o constante reabastecimento do garçon de sua taça
de vinho com o mais fino das vindimas . Pelo menos havia podido
gozar de um bom vinho enquanto o escutava o zangão atacando.
Agora
uma hora mais tarde, estavam sentados em sua mesa, comendo um jantar que lhes
havia sido servido a poucos minutos.
"Então,Verônica...
você sabe, seu nome é tão bonito. Um nome bonito para uma
bela dama".
Mark
esticou seu garfo para roubar um pedaço de lagosta à termidor
do prato dela.
"Não entendo por que você acha que uma área
com tal classe e beleza precise de um lava-jato. Pode você imaginar o
tráfego que atravessaria por ali? Interrompendo as pessoas enquanto eles
estivessem dormindo, perturbando-os com o forte barulho que essas máquinas
fazem".
Seu garfo encontrou outro pedaço de lagosta, o
resto da cauda. "Com certeza você não desejaria um desses
ao lado de sua porta, não é mesmo?".
Os
olhos azuis se ofuscaram ao ver a melhor parte de sua lagosta ir
à caminho da boca de outro alguém. Havia sido cortês e agradável
toda a tarde e agora já era hora de ensinar a esse pequeno homem uma
lição. Limpou seus lábios com o guardanapo de linho.
"O
lava-jato fica aberto somente das oito da manhã as dez da noite. Estou
certa de que ninguém vai acordar e ficar incomodado, e se você
roubar mais um pedaço da comida do meu prato eu vou lhe apunhalar a mão
com este garfo, fui clara?".Ela disse claramente enquanto levava a taça
de vinho aos lábios.
"Agora você e eu, ambos sabemos que nessas ruas há
muito tráfego, e certamente os residentes gostarão da idéia
de ter um lava-jato em sua área, e isto também significa dez empregos
a mais para a comunidade. O que acha que aconteceria nas próximas eleições
se nós apoiássemos aos Democratas e se lhes déssemos uma
pequena peça de informação? Qual seria sua designação
se o novo prefeito resolvesse limpar a casa?".
"Agora
você está deixando escapar certa presunção, Srta.
Cartwright," disse ele recostando-se e acendendo um cigarro. Fumar certamente
era proibido nessa seção do restaurante, mas Mark acreditava que
com sua posição podia ficar a cima do que considerava uma estúpida
lei. "Os Cartwrights sempre apoiaram aos republicanos, todo mundo sabe".
Ele
deu uma outra tragada de seu cigarro, a fumaça fez cócegas no
nariz de Verônica.
"Realmente?"
Ela esvaziou sua taça e a pousou na toalha de linho da
mesa, reprimindo um sorriso ao pensar na bomba que estava a ponto de jogar no
desgraçado encarregado.
"Deixe-me
lhe dizer algo, Sr. Grace. Os Cartwrights, financiam a mais de um democrata
durante anos, e agora que eu estou no comando, haverá cada vez mais".
Seus
olhos azuis perfuraram nos dele quando se inclinou e tomou o cigarro de sua
mão, afundando-o profundamente em seu caranguejo recheado.
"Esta transação não significa nada
para mim, exceto conseguir que meus primos fiquem fora de minhas costas. Sua
posição não significa nada para mim. Pagaria centenas de
milhares na próxima eleição se isso significasse lhe tirar
do departamento e colocar alguém que visse que o trabalho é mais
importante que o poder de representar, assim você precisa tomar uma decisão.
Você pode se tornar o bom individuo que trouxe mais dez empregos ou o
idiota que conseguiu ser eleito para sair do departamento, a decisão
é sua".
Verônica
havia decidido que logo haveria uma nova comissão.
"Acho que esta reunião terminou. Espero que tenha
gostado do meu
jantar".
Em
seu sobressaltado olhar acrescentou:
"O
que foi? Pensou que ia ter sorte esta noite, Sr. Grace?"
Seus olhos o olharam rapidamente uma vez mais.
"Sinto muito. Não durmo com cães. Nunca se
sabe quando podem ter pulgas".
Pegou sua carteira e saiu rápido, deixando o encarregado
irritado, não tendo conseguido nada, a não ser encurralado e com a conta.
XXXXXXXX
Rose
cruzou a rua e entrou no parque Washington, um lugar gigantesco
no centro da cidade. À noite, o parque ficava fechado por causa dos crimes
que cruzavam por ali. Rose
normalmente o rodeava, mas isso
significaria seis quadras adicionais fora de seu caminho e com o alarido do
vento e o frio, a rota mais direta para casa era a necessária. Na caminhada
de cinco quadras do supermercado à beira do parque, as orelhas de Rose
já estavam vermelhas como uma beterraba por causa do frio e seu nariz
havia começado a escorrer.
Não podia sentir os dedos de seus pés e os bolsos
de sua jaqueta não faziam nada para proteger seus dedos. Decidindo que
a falta de pegadas na neve e a temperatura abaixo de zero era certa, Rose caminhou
penosamente além da enorme estátua de Moisés que marcava
a entrada e a neve que cobria o sinal que advertia contra estar no parque à
noite. O feroz vento se negava em lhe permitir que seu capuz ficasse em sua
cabeça e seu cabelo até os ombros balançava livremente
sobre seu rosto. Seu corpo tremia ferozmente e tudo o que ela podia pensar era
em chegar em casa e afundar em um agradável banho quente. Estava a meio
caminho através do parque e dentro da vista da Madison Avenue quando
os ouviu se aproximarem, seus rápidos passos cruzando a neve debaixo
de seus pés.
"Bem,
bem, bem, o que temos aqui?"
Ela virou
sua cabeça para ver quatro homens se aproximando rapidamente, não
correndo, mas certamente
caminhando muito rápido.
"Venha
doçura, temos algo para você, pare agora".
"Sim,
por que não vem a uma festa conosco?".
O
intenso frio fazia que suas pernas se sentissem como chumbo, mas a idéia
de ser roubada na metade do escuro parque por quatro homens dava nova vida a
seus passos. Tentou ignorá-los e continuar em seu caminho, mas os homens
continuaram seguindo-a.
"Vamos
vadia, deixa o Danny ter alguma diversão", o mais próximo
disse, fazendo com que o coração de Rose começasse a palpitar
com dolorosa força em seu peito. Tinha que sair dali e tinha que sair
dali agora mesmo. Começou a correr, mais que tropeçando, através
da neve até as brilhantes luzes da Madison Avenue.
Verônica
despreocupada atravessava as luzes da já adormecida cidade, no meio do
caminho seu Porsche deslizava sobre a neve. Não havia ninguém
ao redor há essas horas. Passou a rua Lark sem pensar e maldisse em voz
alta. Agora teria que cruzar todo o parque para pegar a rua seguinte. Não
vendo nenhum carro a sua frente, pisou no pedal de seu Porche 911 e o lançou
a toda velocidade. Ia muito rápido pela rua coberta de neve, especialmente
dado que os tira-neve não haviam passado recentemente, mas não
se importava com isso. Não teria que parar logo e ainda estava abaixo
do limite fixado, embora definitivamente estivesse rápido para as condições
das ruas. O cruzamento seguinte estava a menos de uma milha.
De repente, um brilho de azul e ouro apareceu diante dela, uma
figura saiu correndo de dentro dos automóveis estacionados. Verônica
colocou ambos pés nos freios e deu um puxão forte no volante para
a esquerda, mas não houve tempo. A neve não lhe deu nenhuma tração
e um horripilante silêncio encheu o ar quando viu como a frente baixa
do Porsche golpeava a um pedestre e lançava a pessoa indefesa contra
o pára-brisa. O carro esportivo vermelho finalmente parou a vários
carros mais adiante e o corpo resíduo caiu da capota sobre o chão
coberto de neve.
Durante vários segundos Verônica não pôde
fazer nada senão agarrar-se ao volante e olhar fixamente a teia de aranha
que agora constituía seu pára-brisa, enquanto que seu coração
palpitava com força sem controle. A realidade do que havia acontecido
finalmente penetrou em sua mente e com as mãos trêmulas abriu a
porta. Deu uma olhada para ver se havia alguma testemunha, mas as 12:30 AM,
porém era quarta-feira à noite e todo o mundo estava na cama.
No viu a gangue de criminosos que estavam perseguindo a vítima dar a
volta e fugir novamente dentro da escuridão do parque.
O
sangue estava começando a se juntar no chão debaixo do corpo,
embora o extremo frio fizesse o fluxo menor do que normalmente teria sido. Verônica
se ajoelhou junto à desabada forma e com sua mão enluvada virou
a vítima para o outro lado. Ofegou quando viu o maltratado rosto da uma
jovem mulher.
"Oh,
meu Deus".
Um
brilho verde justo na beira de sua visão causou que a mulher de cabelo
escuro virasse e procurasse. Era o reflexo de um semáforo. Deu uma olhada
sobre o cruzamento da Avenida New Sclotand. Estava somente a três quadras
do centro médico. Abriu rapidamente a porta do passageiro e empurrou
a alavanca que reclinava o assento. Verônica sabia que a melhor coisa
era tentar imobilizar a mulher, mas não havia nada com que pudesse fazer
isso nesse momento e a poça de sangue estava continuamente crescendo.
O hospital estava muito próximo para pensar em chamar uma ambulância
e perder preciosos minutos. A decisão foi tomada, Verônica deslizou
seus braços debaixo dos ombros da inconsciente mulher e a arrastou para
o carro. Menos de um minuto mais tarde estavam correndo até o centro
médico.
Enquanto
dirigia ligou para a "emergência", um pensamento ocorreu a magnata
empresaria. Não só havia estado correndo velozmente e atropelado
a esta mulher senão que se um policial decidisse lhe fazer a prova do
bafômetro não haveria maneira alguma que pudesse passar, não
depois de todo o vinho que havia consumido em Sam’s há um tempo atrás.
Virou o carro para a direita no último momento e estacionou no espaço
do estacionamento dos cirurgiães. Na escuridão com só a
parte traseira do Porche projetando-se, ninguém a questionaria por que
estaria estacionada ali.
Saiu do carro e caminhou até a entrada de emergências,
tentando desesperadamente pensar no que fazer. A resposta veio quando avistou
uma maca colocada justo no interior das portas de vidro. Verônica agarrou
a maca e a empurrou até seu carro. As horas passadas em seu ginásio
particular lhe permitiram levantar facilmente a inconsciente mulher e colocá-la
sobre a maca. Durante a transferência, uma pequena carteira esportiva
caiu do bolso traseiro da vítima e aterrissou no chão coberto
de neve. Verônica a pegou, metendo-a no bolso de sua jaqueta de pele,
e correu tão rápido como podia enquanto empurrava a maca até
a entrada de emergência.
"Preciso
de ajuda aqui! Esta mulher foi atropelada por um carro!" Gritou logo que
as portas internas se deslizaram abrindo-se. A enfermeira encarregada e o interno
da noite correram para o outro lado da maca para começar a examinar.
"Temos
lesões múltiplas, comprovemos o quadro e vamos ver quem está
na chamada do O.R". O médico loiro disse.
Uma recepcionista foi imediatamente buscar o cirurgião
e chamar a ajuda, enquanto a enfermeira começava a medir a pressão
arterial da mulher inconsciente. Afastando-se do caminho, Verônica olhou
com horror quando o médico cortou a jaqueta e as roupas da mulher jovem
tirando-as de seu corpo. Tudo parecia estar coberto de sangue, especialmente
as calças. Um velho médico chegou ao lugar, tinha o cabelo despenteado
pelo sono.
"Que
temos?".
"Atropelamento
e fuga. Compõe-se de fraturas de ambas as tíbias e perônios,
Doutor Maise", o jovem médico explicou. "Prováveis lesões
internas também. Quem quer que a atropelou, ia em alta velocidade".
"Façam
que preparem a O. 2, o tipo de sangue e análises, seis unidades de sangue
e procurem os doutores Gannon e Marks para operar". O resto da conversa
foi perdido por Verônica quando colocou as mãos em seus bolsos
e sentiu a fria carteira que estava metida dentro. Abriu a magra carteira, surpresa
com a carência de conteúdo. Não havia fotos, nenhum cartão
de crédito, inclusive nem carteira de motorista. Um cartão azul
da biblioteca identificava a vítima como Rose Grayson e dizia seu endereço
como sendo rua Morris. Um cartão de seguro social e um cartão
de uma conta atual de Money Slasher eram as únicas outras partes de sua
identificação. Abriu o compartimento de velcro de dentro e encontrou
dois bilhetes de ônibus, uma chave de casa, e doze centavos. Não
havia nada mais. Bem, pelo menos tinham um nome e endereço para avisar,
pensou enquanto caminhava até a mesa da enfermeira no comando. Quando
se aproximou, ouviu duas mulheres atrás da mesa falando.
"Parece
uma indigente para mim. A registre com Jane Doe... vejamos...".
Folheou os papéis sobre a mesa. "... número 77. Uma vez que
ela esteja fora de perigo a transferirão para o Memorial de toda maneira".
"Com
licença", Verônica a interrompeu. "Ela foi atropelada
por um carro e está gravemente ferida. Por que eles a transferirão
para outro hospital?".
"Olha
senhorita", disse a enfermeira encarregada, que em sua placa simplesmente
se lia senhora Garrison. "Este hospital está ao encargo do estado
de Nova Iorque para atender aqui todos os casos de urgências médicas.
Uma vez que esteja fora de perigo de morte, temos que transferí-la para
o Memorial, desde que não tenha excedido sua cota para os indigentes".
"Cota
para indigentes?".
"Nós
estamos obrigados a dar cuidado completo para certo número de indigentes,
para não estimar o custo de cada ano. Já cobrimos este requisito.
É obvio que ela não tem dinheiro e muito provavelmente nenhum
seguro. Agora a estão levando para a cirurgia, intervenção
cirúrgica que provavelmente nunca pagará. Este hospital não
funciona só de boas intenções. Se não tem capacidade
para pagar, será transferida para o Memorial. Não cumpriram ainda
suas obrigações este ano".
A
mulher morena entendia as implicações... Se não se tinha
nenhum seguro, não permaneceria no melhor centro médico da região.
"Mas ela tem seguro", Verônica deixou escapar, havia tomado
uma decisão. "Quero dizer... a conheço. É minha funcionária".
"Ela
tem seguro?" A enfermeira Garrison perguntou incrédula. "Srta...,
estamos a vinte graus abaixo de zero lá fora com um vento gelado. Estava
correndo por aí com uma jaqueta de primavera que parecia que havia sido
pega na lata de lixo. Fraudar o seguro é um crime em Nova Iorque. Onde
está seu cartão de seguro?".
"Não,
estou lhe dizendo que ela tem seguro. Olha", Verônica meteu sua mão
dentro de sua jaqueta e tirou sua pequena carteira de cartões de visita.
"Sou Verônica Cartwright, presidente e CEO da Cartwright Corporation".
Rapidamente baixou o olhar ao cartão da biblioteca em sua mão.
"A senhorita Grayson acaba de começar a trabalhar para nós.
Não houve tempo para que eles lhe expedissem seu cartão, mas juro
que ela tem seguro através de minha companhia. Agora há algum
formulário ou algo que eu tenha que assinar para autorizar isto?".
Agora
que percebia que poderia ter se equivocado a enfermeira voltou atrás.
Ela esticou o braço e pegou uma das várias pranchetas que já
continham uma caneta e de variada forma. "Preencha os itens de um a dez
dentro de suas possibilidades. A senhora sabe como entrar em contato com seus
familiares?"
"Uh,
não... tenho certeza que a informação está no escritório
em alguma parte. Posso ligar para isso amanhã".
"Ótimo".
A enfermeira voltou a se dirigir a sua companheira de trabalho. "Mude na
listagem de Jane o código 77. Seu nome é...". Olhou de novo
a alta mulher de maneira inquisidora.
"Rose
Grayson".
"Rose
Grayson," a enfermeira Garrison repetiu, como se a enfermeira mais jovem
não o tivesse ouvido da primeira vez.
Verônica
se afastou da mesa de recepção e se caiu em uma das cadeiras de
vinil alaranjadas para completar a pouca informação que sabia
e instalar-se para a longa espera.
********
Durante
as três horas de cirurgia Verônica estava muito preocupada. Não
havia tido notícias da jovem mulher que havia atropelado e a falta de
informação colocava os nervos da executiva em um caos. E se ela
morreu? Verônica se estremeceu ao pensamento. Então outro
pensamento chegou a sua mente: A luz do dia chegaria logo e o dano óbvio
na frente de seu carro seria evidente. E isso significaria perguntas, perguntas
que não queria responder. Ela caminhou até o telefone público.
A mulher que sempre concedia favores, agora precisava de um. Verônica
discou o familiar número. No terceiro toque, uma voz masculina cheia
de sono lhe respondeu. " ‘É melhor que você tenha
uma boa razão de merda para me acordar".
"Frank,
sou eu Ronnie".
"Ronnie?".
O tom mudou imediatamente. "Hei Ro, que aconteceu?".
"Eu
preciso..." -engoliu em seco- "Preciso de um favor".
"Você
conseguiu que aquele idiota concedesse a transação?".
"Isto
está no papo. Escuta Frank, isto é mais importante". Ouviu
o som de um isqueiro quando seu primo acendeu um cigarro na intenção
de despertar completamente. "Preciso que venha e pegue meu carro e me deixe
outro".
"Desde
quando me converti em seu serviço de reboque particular de carros?"
"Desde
que tive que passar uma noite afiançando seu traseiro saindo com aquele
imbecil do Grace", grunhiu. "Está no estacionamento de emergências
no Centro Médico de Albany. Coloca o outro carro no estacionamento geral
e traga-me as chaves na sala de espera das emergências. Frank, tem que
fazer isto agora. Não posso esperar até amanhã". Sabia
que o custo de pedir o favor compensaria muito o atual favor, mas às
vezes era justa a maneira que devia ser. Pelo menos sabia a quem avisar quando
precisava fazer algo discretamente. Seu primo preferido não era nada
se não cuidadoso.
"Sala
de emergência? Ronnie, você está bem?".
"Calma
Frank. Vai acordar a Agnes. Sim, estou bem, só muito perturbada".
Olhou para seu relógio. "Realmente preciso que venha aqui e leve
o carro".
"Seu
carro está funcionando ou o embrulhou em torno de uma árvore?"
"O
pára-brisa e a frente estão em pedaços. É melhor
dirigi-lo por um par de quadras e depois o coloque em um guincho".
"Caramba,
não pede muito, não é mesmo? Sabe que terei que pedir ao
John para me ajudar? Não posso dirigir um guincho e um carro de reserva".
"Coloca
o reserva no guincho, então não vai precisar de outro motorista,
só faça isso agora". Desligou e voltou para cadeira que estava
fazendo com que seu traseiro ficasse incomodo pelas últimas três
horas. Pegou uma revista do quarto mês da People e havia justo começado
a passar as páginas quando o Doutor Maise entrou na sala.
"Grayson.
Há alguém aqui para Grayson?" Ele perguntou em voz alta,
embora Verônica fosse a única pessoa na sala.
"Aqui".
Levantou-se rapidamente. "Como ela está?".
"Tão
bem como pode estar em seu estado, suponho. Está descansando agora. A
senhora é da família?".
"Uh...
não, sou sua chefa".
"Oh...
a senhora pode contatar sua família?".
"Não
ainda. Minha secretária está trabalhando nisso", mentiu.
"Como ela está?".
"Bem,
ambas as pernas estão seriamente fraturadas e havia uma pequena fratura
em seu crânio, muito provavelmente ao chocar-se com o carro. Com exceção
de arranhados e um corte profundo em seu rosto que requereu vários pontos,
não havia muito mais. Nenhuma lesão interna de toda maneira. Ela
viverá, mas passará um bom tempo antes que possa voltar a trabalhar,
estou certo". Ele tirou seus óculos e os limpou com a ponta da jaqueta.
"Diria que provavelmente uns três meses para que as pernas se curem,
então talvez três a seis meses de terapia física".
"Oh
Deus". Verônica se sentou novamente, incapaz de acreditar que em
uma fração de segundo havia arruinado a vida de alguém
por quem sabe quanto tempo.
"A
senhora viu o acidente?". Ele lhe perguntou, a tirando de seus pensamentos.
"Uh,
não, eu não", rogando que Frank não tenha voltado
a dormir e estivesse a caminho com o guincho e um carro de reserva.
"Bem,
quem quer que tenha atropelado a essa pobre garota a golpeou fortemente. Provavelmente
algum bêbedo que inclusive nem se deu conta que a atropelou".
"Provavelmente",
repetiu.
"Bom,
se a senhora me der licença, preciso ir vê-la". Ele saiu da
sala de espera. Ela o viu se afastar, então se afundou novamente na cadeira
alaranjada. A mulher, Rose, viveria. Suspirou aliviada por isso, mas a culpa
ainda pesava fortemente sobre ela. Em um breve momento havia destruído
as pernas da jovem mulher, em sua mente possivelmente a Srta. Grayson ficaria
lesada de vida.
********
O
céu continuava escuro quando Verônica fechou os olhos, o cansaço
ameaçava reclamá-la. Minutos mais tarde eles se abriram outra
vez quando seu nariz foi atacado pelo cheiro ao longe de uma barata colônia.
"Cuz".
"Olá
Frank", disse com cansaço quando ele se sentou no assento a seu
lado. "Já fez o que lhe pedi?".
"Tudo
feito", disse orgulhosamente, lhe estendendo um jogo de chaves. "Mazda
Azul. Terceiro andar, placas do distribuidor. Não há como errar".
"Obrigada".
"Por
nada. Sempre fico feliz de fazer um favor a minha prima preferida". Sorriu,
mostrando os dentes que eram muito brancos para serem verdadeiros. "Então,
o que fez? Atropelou alguém?".
"Cale-se!".
Sussurrou apertando os dentes, surpresa pela quantidade de estupidez que seu
primo parecia possuir.
"Desculpe".
Levantou suas mãos em um gesto apaziguador. "Caramba, você
está naqueles seus dias ou algo assim?".
"Obrigada
por fazer o que lhe pedi, Frank. Agora me faça um favor e assegure-se
de que o Porsche seja levado a minha casa. Coloque-o na garagem. Farei com que
Hans vá até lá e o conserte".
"Não
entendo por que não o leva, poderia ter Michael trabalhando nele. Sabe
que ele é o proprietário...".
"Michael
possui uma representação de Toyota. Trabalha em carros de vinte
e trinta mil dólares, não em Porsches. Hans é o melhor
mecânico que conheço. Só assegure-se de que seja colocado
na garagem, fora da vista de alguém. Mova o jipe se precisar de espaço".
"Bom",
suspirou, sabendo que nunca ganharia a discussão. Deu uma olhada procurando
algo interessante.
"O
que foi?". Questionou, olhando-o de maneira mordaz e logo para a porta.
"Você
vai me dizer por que está aqui ou o porquê de seu carro estar todo
destroçado, não vai?".
"Frank,
o que aconteceu a meu carro ou por que estou aqui, é assunto meu, assim
como todos os lucros do lava-jato são seu negócio. Entendeu?".
"Entendo".
Sabia que era melhor mijar longe de sua prima, sabendo perfeitamente bem como
o quanto ela podia ser volátil às vezes. Levantou-se. "Sabe
meu número se precisar de algo".
"Sim".
Abriu a revista People e olhou através das páginas, eficazmente
despedindo-o. Esperou até que ele saísse pela porta antes de se
dirigir à seção de enfermeiras para perguntar sobre as
condições da jovem mulher.
xxxxxxx
Verônica
saiu ao deprimente dia cinza. A neve havia parado e agora as ruas estavam cheias
de pessoas que tentavam de alguma maneira passar através da neve congelada.
Meteu a mão no bolso e tirou o cartão da biblioteca. Morris Street.
Tentou imaginar onde estava a rua em referência ao hospital. Certamente
não estava longe e poderia a encontrar sem um mapa, Verônica se
dirigiu até a garagem dos vários andares do estacionamento.
O
pequeno carro azul estava estacionado justamente onde Frank havia dito que estaria.
A mulher de cabelo escuro lançou sua maleta no assento do passageiro
e dobrou seu longo corpo dentro do pequeno espaço do assento do motorista,
agachando-se até que encontrou a alavanca que lhe permitiu empurrar o
assento para trás de modo que seus joelhos não beijassem seu queixo.
Teve que girar a chave várias vezes antes que o 323 pudesse crepitar
para a vida. Verônica bombeou a gasolina em várias ocasiões
até que o velho carro pareceu disposto a continuar. "Frank, seu
filho de uma cadela", ela xingou, golpeando o veículo, e lentamente
o tirou do estacionamento e se dirigiu até a rampa.
Verônica
virou à esquerda do estacionamento e se dirigiu acima da avenida
New Scotland até o parque. Dirigiu por duas ruas, antes que pudesse ver
algum sinal da rua que procurava. Como pensou, Morris Street era em um só
sentido, com certeza na direção contrária do caminho que
queria ir. Um rápido giro sobre Madison e outro em Knox a colocou no
outro extremo da rua e finalmente pode subir pela estreita rua.
Morris
Street foi uma vez o lar para doutores e famílias ricas, mas há
muito tempo havia mudado para ser uma rua conhecida
unicamente pelos esporádicos motoristas que passavam de longe e pelas
baratas, ou algo assim. As casas estavam abarrotadas firmemente juntas, normalmente
com menos de um pé de distância entre elas. Verônica estacionou
sobre o único espaço aberto que encontrou, não fazendo
caso da marca vermelha da saída contra incêndios que estava proeminente
localizada sobre a calçada quebrada. Verônica pegou sua maleta
do assento ao lado e saiu do carro. Pensou em fechar o ordinário e maltratado
carro, mas decidiu que não valia a pena o esforço. Se um ladrão
queria lutar com a coisa estúpida para conseguir que funcionasse isso
estaria bem para ela. Subiu sobre o banco de neve e deu uma olhada para o número
da casa. Na maioria dos prédios faltava um número ou ambos dígitos,
mas finalmente encontrou o lugar que Rose Grayson chamava de lar.
Verônica
subiu os desconjuntados e escorregadiços degraus da escada até
que chegou ao exterior da porta que conduzia ao primeiro e segundo andar de
apartamentos. Uma olhada nas caixas de correspondências montadas na parede
mostrou que Rose vivia no apartamento do sótão. Tirou da pequena
caixa de correspondências as cartas que havia e deu um passo para trás
sobre a plataforma. Maldizendo em pensamento ter que descer a escada coberta
de neve outra vez, a mulher de cabelo escuro colocou sua mão enluvada
sobre o instável metal do corrimão e lentamente voltou ao nível
da rua. Debaixo das escadas encontrou uma porta em que a maioria de sua pintura
havia desaparecido. Um pequeno cartão preso ao vidro dizia simplesmente
"Grayson". Verônica bateu várias vezes, mas não
recebeu resposta. Talvez a jovem mulher vivesse sozinha. Metendo a mão
em seu bolso, tirou a chave da gasta carteira esportiva e a introduziu na fechadura
montada dentro da maçaneta da porta. Fez algumas tentativas, mas finalmente
a fechadura girou, permitindo a executiva entrar no pequeno apartamento.
Dizer
que Rose vivia em uma miserável pobreza seria amável. O primeiro
cômodo em que Verônica entrou era muito provavelmente a sala, embora
carecesse de móveis. Uma cadeira de jardim que faltavam várias
tiras estava colocada no centro do cômodo, livros marcados "Albany
Public Library" estavam empilhados junto a esta. Isso era todos os móveis.
Nem um só quadro ou pôster preso nas paredes. Não que uma
dezena de quadros pudesse fazer diferença. O gesso velho, esmigalhado
havia desaparecido em vários lugares, mostrando as secas ripas que saiam
debaixo. O teto estava em um estado similar de deterioração. As
manchas amareladas pela água formavam acidentados círculos e em
vários lugares este cedia visivelmente.
Verônica
duvidou que passasse muito tempo até que o teto começasse a cair.
O apartamento estava extremamente frio e uma rápida comprovação
do termostato demonstrou o porquê. A poeira havia se colocada no marcador,
indicando que a temperatura não havia sido mudada há bastante
tempo. Foi marcado em trinta, mas com as rajadas que vinha das velhas janelas
do cômodo se sentia mais como dez. Deixou sua maleta na desconjuntada
cadeira, então meteu a mão em seu bolso e tirou duas cartas que
havia pegado na caixa de correspondência de Rose. A primeira era nada
mais que propaganda postal anunciando que se o número ganhador fosse
igual ao número que estava no envelope em que estava "inscrita a
Grayson" ela seria a ganhadora de onze milhões de dólares.
A outra carta era um envelope amarelo da companhia de luz. Embora soube que
não deveria, Verônica deslizou um unha muito bem feita embaixo
do canto do envelope e o abriu. Como havia suspeitado, era um aviso de corte.
Meteu a carta na parte traseira de seu bolso e se dirigiu ao dormitório,
esperando encontrar uma agenda de endereços ou algo que indicasse a quem
deveria avisar que a jovem mulher estava no hospital.
O
dormitório era tão revelador como a sala. Uma pequena cama estava
encostada junto à parede e uma cadeira servia como uma improvisada penteadeira.
Um par de jeans que fazia muito tempo que tiveram dias melhores e igualmente
gastas algumas jaquetas compunham a pequena pilha de roupas junto com alguns
pares de meias que pareciam mais um queijo suíço do que calçado.
Uma minuciosa procura, não que isto tomasse muito esforço, faltava
revelar alguma agenda de endereços ou outros artigos pessoais. Nem uma
carta de um amigo, nenhuma fotografia, nada que indicasse que Rose conhecia
a alguém... Ou que alguém conhecesse a Rose.
O
banheiro foi só outra deprimente parada no percurso de Verônica.
O caixa de primeiros socorros continha um quase vazio tubo de desodorante e
um esmagado tudo de pasta de dentes, ambos da marca de Money Slasher. Dois tampões
colocados sobre a tampa do vaso sanitário junto com um rolo meio vazio
de papel higiênico. Uma toalha gasta estava esticada sobre a beira da
tina e três pares de roupa interior esfarrapadas penduradas sobre o tubo
do chuveiro. "Como você consegue viver assim?". Perguntou em
voz alta enquanto girava deixando o pequeno banheiro. Enquanto fazia isso, notou
o único artigo que previamente havia passado por alto antes. Entre a
tina e a parede havia uma pequena caixa de areia. "Bem, pelo menos não
está sozinha". Como se tivesse ouvido a frase, um alaranjado e branco
gatinho de não mais de quatro meses veio correndo ao banheiro, miando
bastante forte para anunciar sua presença. "Hei, olá".
"Mrrow!" Verônica se inclinou para acariciá-lo, mas o gato
correu até a cozinha. "Vem aqui. Não vou lhe fazer mal".
"Mrrow!"
O gato permaneceu na entrada da cozinha, negando-se a se aproximar. "Bem,
será dessa maneira, veremos se lhe dou algo". Passou ao lado do
gatinho e entrou na cozinha, desejando rapidamente não tê-lo feito.
A
cozinha era um velho modelo de gás que provavelmente foi bastante eficiente
nos tempos de sua avó. Situados em cima uma pequena frigideira e uma
cafeteira, enquanto uma bem usada forma para fazer biscoitos jazia dentro do
forno. Abriu uma gaveta e deu um pulo para trás quando várias
baratas correram ao redor, tentando furtivamente regressar para dentro da escuridão.
Fechou a gaveta rapidamente, mas não antes de notar o único jogo
de talheres que este continha. A geladeira continha uma garrafa de plástico
de leite que havia sido enchida com água, a metade de um frasco de maionese,
um pote de margarina, e uma quase vazia garrafa de ketchup. Quando Verônica
alcançou a porta do armário, suas pernas foram rapidamente rodeadas
pelo ansioso gato.
"Meow, meow, merrow?"
Efetivamente,
o armário tinha dentro uma caixa meio vazia de comida para gatos da Money
Slasher e uma caixa de macarrão.
"Meow,
meow?".
"OK,
OK, entendi a indireta", disse, tirando a caixa. O alaranjado e branco
gato perambulava sobre sua vasilha, esperando sem muita paciência que
a alta humana lhe desse de comer. "Quanto comem os gatos de seu tamanho,
hein?".
"Mrrow?".
"Não
importa".
Serviu
o seco alimento na vasilha até que chegou ao limite.
"Aqui
está, isso deve lhe entreter por um tempo".
Olhou a vasilha de água. "Quer um pouco de água
também, sua majestade?".
O gato estava muito ocupado comendo embaixo para responder. Verônica
levou a vasilha até a torneira e jogou fora o resto da água antes
de abrir a torneira. Um horrível som veio da tubulação
e rapidamente a fechou.
"Parece
que você conseguiu água do congelador".
Deixou
a vasilha no chão ao lado da vasilha de comida e estava a ponto de continuar
sua busca, quando ouviu batidas na porta.
"Grayson,
sei que está aí dentro. Ouvi você abrir a água".
Uma irritante voz do outro lado da porta gritava. "Já é o
terceiro, e quero meu dinheiro de merda do aluguel agora!" Bateu outra
vez. "Maldição, estou doente de sua choradeira sobre seu
minúsculo cheque! Se você não pode pagar o lugar, então
você nunca deveria ter mudado para aqui... Maldição, junta
suas peças de lixo!".
A
porta foi aberta de repente para revelar a um corpulento homem que fedia a álcool
apesar de ser tão cedo. "Quem porra é você? Disse à
ela que com companheiros de quarto, ia custar extra"!
"Quanto
ela lhe deve?". Verônica perguntou, tentando de maneira muito difícil
manter seu genio
controlado.
"Quatrocentos
e cinqüenta. Seiscentos se descubro que você está vivendo
aqui também", grunhiu. "E quem porra é você?".
Verônica
não respondeu, em lugar disso foi até a cadeira e revirou sua
maleta até que encontrou seu talão de cheques.
"Qual
é seu nome?".
"Para
que?".
"Se
você quiser receber o aluguel, preciso um nome para escrever no cheque...
ou posso só colocar a palavra cuzão para completar
?".
"Não
pego porra de cheques. Eles sempre voltam".
"Garanto
que este não voltará. Dê-me seu nome".
"Cecil
Romano, mas não aceitarei nenhum cheque de merda".
"Já
ouviu falar de Cartwright Corporation?" Perguntou enquanto preenchia várias
partes do cheque.
"Claro
que sim. E quem não?".
"Sou
Verônica Cartwright. Este cheque é da minha conta pessoal. Se você
quiser seu dinheiro do aluguel eu lhe sugiro que pegue este". Entregou
o cheque. Cecil o olhou cuidadosamente, com certeza era um engano.
"Preciso
da identidade".
"Gostaria
de ver minha habilitação ou algum importante cartão de
crédito?" Perguntou, alcançando sua maleta e tirando sua
carteira. Nesse momento o alaranjado e branco gatinho decidiu sair e ver o que
era todo aquele bate-boca.
"Que
porra é essa?".
"Para
mim, parece um gato. Diga-me, você é capaz de formar uma frase
completa sem a palavra porra nela?".
"Eu
disse à ela, nada de animais. Nada de animais, significa nenhuma porra
de animal. Nada de animais, nada de companheiros de quarto, nada... seja que
porra você é". Dobrou o cheque e o guardou em seu bolso. "Já
tive o suficiente. Ela reclama de tudo, desde o pequeno ruído nas tubulações
até falta de pintura nas paredes, e agora isto. Quando você encontrar
a pequena vadia, lhe diga que a quero fora daqui antes do final da semana. Ela
e essa pulguenta coisa peluda podem ir viver no banco de neve, que não
me importa".
"Farei
com que suas coisas sejam levadas daqui imediatamente. Acredito que você
seja o proprietário da velha cozinha e geladeira centenária, não?".
"Droga,
claro que sou o proprietário. Sou o proprietário dessa cama em
que ela dorme também. Ela estava querendo comprar por cinqüenta
dólares, mas não a vi ainda".
"Bem,
agora você não a venderá. Você pode conservá-la".
Meteu sua carteira e talão de cheques novamente dentro de sua maleta.
"Há algo mais que você sinta necessidade de continuar
assaltando-me com sua respiração que empesteia?".
"Não
dou uma porra por você, não pode vir à minha casa e falar
assim comigo dessa maneira", grunhiu. "Só se assegure de que
o lugar esteja nas mesmas condições de quando ela se mudou ou
não lhe devolverei a garantia".
"Duvido
que você lhe devolveria a garantia de qualquer maneira", Verônica
contra-atacou. "Depois de tudo, você é o típico senhor
dos tugúrios".
"É
melhor você levar esse maldito gato com você quando for embora,
ou eu vou torcer o pescoço dele de merda e o atirarei no banco de neve".
Saiu deixando as portas abertas, fazendo com que o ar frio se misturasse já
ar frio de dentro do apartamento. "E se assegure de que ela retire seu
correio de merda", grunhiu quando fechou a porta com uma pancada.
Verônica
se virou e esfregou a testa.
"Meow?".
"Bom,
acho que terei companhia por alguns dias, huh?". Disse, sentando-se no
chão vazio ao lado do gato. "Gostaria de saber seu nome. Isso seria
mais fácil do que ficar lhe chamando de ‘gato’ o tempo todo".
"Mrrow",
o gatinho respondeu, subindo no colo da mulher morena. Verônica permitiu
que o ronronante felino permanecesse por alguns minutos, enquanto tentava pensar
no que havia acontecido. Havia somente vindo investigar a quem deveria contatar
para avisar que Rose estava ferida e terminou por conseguir que expulsassem
a jovem mulher de sua casa. Não que fosse uma grande perda, considerando
as condições nas quais vivia. Não importa, decidiu. Seu
primo Danielle, encarregado de Cartwright Properties, certamente solucionaria
tudo, ali haveria um apartamento acessível disponível, no qual
poderia colocar Rose.
"Algo
com paredes verdadeiras", murmurou, olhando para o buraco na parede oposta
que era semelhante a um prato de comida. "OK, gato, hora de nos movermos".
O gatinho se opôs vocalmente, mas finalmente aceitou quando a alta humana
se levantou. "Vamos juntar as coisas de sua mamãe e sair e nos metermos
em algum lugar quente".
Levar
os pertences de Rose foi fácil, especialmente quando Verônica decidiu
que as únicas coisas que tinham que sair do decrépito apartamento
eram os livros da biblioteca e o talão de cheques que encontrou na gaveta
da cozinha. A gasta roupa, o imprestável móvel... Decidiu que
Cecil poderia limpá-los pelos quatrocentos e cinqüenta dólares.
Jogou o talão de cheques em sua maleta, os livros da biblioteca levou
debaixo de seu braço, e o gato dentro de sua jaqueta. Verônica
deixou o apartamento e nem se incomodou em trancar a porta.
xxxxxxxxxxxx
Rose
abriu os olhos e olhou ao redor, gemendo de dor e se deu conta de onde estava.
Uma jovem enfermeira loura levantou o olhar lhe sorriu.
"Bom dia, Srta. Grayson. Meu nome é Mary".
Tirou um termômetro digital de seu bolso, colocou uma capa
protetora sobre a ponta, e o colocou na boca de Rose.
"A senhorita sofreu um grave acidente".
Envolveu
o velcro da pressão arterial ao redor da parte superior do braço
de Rose e bombeou, colocando o seu estetoscópio contra o interior do braço
da jovem. O termômetro apitou e Mary o retirou, fazendo a leitura. "Bom".
"Com
licença...". Rose inalou agudamente enquanto a enfermeira fazia
anotações em sua prancheta. Sentia-se tonta, mas assustada ao
mesmo tempo. "O que... o que aconteceu?".
"A
senhorita foi atropelada por um carro ontem à noite. Foi muita sorte
que sua chefe passasse próximo e a visse. Ela a trouxe ao hospital".
"Minha
chefe? Kim me encontrou?".
"Oh,
não sei o seu nome, querida. Não estava aqui ontem à noite.
Trabalho no turno do dia". Cuidadosamente limpou a pele ao redor da ordenada
fileira de pontos no rosto de Rose. "A senhorita esteve na cirurgia durante
bastante tempo e está no quarto de recuperação agora. Só
precisamos nos assegurar de que esteja estabilizada, e então será
levada ao seu quarto".
"Minhas
pernas?" Tentou se levantar, mas isso só serviu para aumentar a
intensa dor que sentia em suas extremidades inferiores.
"Ambas
pernas estão quebradas. Os cirurgiões trabalharam durante horas
ontem à noite, colocando os ossos de novo em seu lugar".
"Isto
doe". Rose levantou a cabeça para ver o desolador gesso branco em
suas pernas.
"Estão
lhe dando algo para a dor em sua intravenosa", a enfermeira disse. "Vou
informar ao médico que a senhorita acordou".
Quando
a enfermeira saiu do quarto, Rose começou a chorar. Seu rosto e costelas
doíam, mas não era nada comparado à terrível agonia
de suas pernas. Inclusive não queria pensar na conta do hospital, que
sem dúvida aumentava com cada hora que passava ali. Esticou seu braço
para se servir de um copo de água da jarra de plástico colocada
ao lado da cama, mas o movimento lhe causou tanta dor que não conseguiu
terminar a tarefa. O que quer que seja que estavam lhe dando para a dor, também
fazia com que sentisse os membros sumamente pesados e não demorou muito
tempo para que Rose caísse novamente dentro de um inquieto sono.
xxxxxxxxxxxx
Verônica
parou o Mazda perto do seu caminho de entrada e o estacionou ao lado da garagem.
Para sua grande irritação, tirar a chave da ignição
não desligou o motor. Mesmo assim o carro continuou ligado e ofegando
durante mais de um minuto, até que finalmente morreu. "Bom,
gato, acho que com certeza o próximo lugar que este pedaço de
merda irá será para o depósito de sucata".
"Mrrow?".
O felino respondeu quando tentou subir sobre o colo da alta mulher.
"Não,
não, não. Agora não há tempo para mimos". Meteu
o gato debaixo do braço e abriu a porta. "Vamos, vejamos se Maria
pode encontrar algo na cozinha para você comer".
Quando
saiu do carro com o gato em reboque, Verônica deu uma olhada sobre seus
três carros na garagem. A porta estava meio aberta e através da
meia lua da janela viu seu Porsche. Silenciosamente agradeceu a seu primo Frank
por tê-la ajudado. O gato se retorceu no seu braço. "Oh, não
você, não. Não vou correr toda a vizinhança atrás
de você".
Ronnie
abriu a porta de correr e entrou na cozinha. Uma vez dentro colocou o alaranjado
e branco gatinho no chão. "Maria? Maria, está aqui?"
As chaves do carro azul foram lançadas sobre a bancada.
"Estou
aqui", uma voz respondeu da sala.
"Temos
companhia", disse Verônica.
Maria
era uma mulher idosa que já trabalhava há trinta anos para a família
Cartwright e era próxima e querida ao coração de Verônica.
De meia idade, o cabelo antes negro, agora estava há
muito tempo grisalho, e sua idade média fazia seu
regaço ser perfeito para os meninos e meninas virem sentar nele. Maria entrou na cozinha. "Não é
bom passar a noite toda fora, Ronnie", a repreendeu. "Se sua mãe
ficar sabendo...".
"Não
estava fora piranhando por aí, Maria" - respondeu, satisfeita com
a chocada reação na cara da mulher mais velha. Desabotoou sua
jaqueta e a lançou sobre uma das banquetas ao lado da plataforma da cozinha.
"Temos
alguma coisa para alimentar... "
"Mrrow?".
"...um
gato?" – Ela finalizou.
Maria
baixou o olhar aos pés de Verônica para ver o alaranjado e branco
felino esfregar-se contra ela.
"Oh, meu... você trouxe um gato para casa?".
"Não
é uma coisa permanente. Ele ficará aqui alguns dias, enquanto sua
dona está no hospital".
A
governanta se agachou e pegou o agora ronroneador felino. "Odeio lhe dizer
isto, Ronnie, mas ele é ela. Qual é seu nome?".
"Não
sei. Chame-o de gato por enquanto".
"Oi
doçura, que linda gatinha você é", Maria arrulhou,
sustentando o feliz animal em seu amplo peito. "Gostaria de comer um pouco
de atum?" Levou a gata à dispensa e tirou uma lata. "Humm,
não parece que está delicioso?".
"Não
acho que ela alguma vez tenha comido atum. Acho que só come alimento seco".
"Oh...
então", Maria colocou a lata no balcão e deixou a gata suavemente
no chão. "Não é bom mudar direto de alimento seco
ao enlatado. Seria muito demasiado forte para ela. Posso misturá-los".
"Não
trouxe nenhum. Acho que teremos que lhe conseguir um pouco de alimento".
"Bom,
já fiz as compras desta semana, mas se quiser posso sair agora. Posso
começar a fazer a comida quando voltar". Limpou suas mãos
em seu avental e alcançou para a alça.
"Não,
tudo bem. Sairei e trarei um pouco de alimento para ela. Acho que vamos precisar
de uma caixa também".
"Pegou
um gato sem trazer uma caixa de areia? Ronnie, o que vou fazer com você?".
"Bom,
sua caixa estava suja e não estive nem perto de tocá-la".
Verônica protestou. "Olha, só me faça uma xícara
de café enquanto tomo um banho e me troco. Logo saio e compro as coisas
que a gata precisa".
"Vou
lhe fazer uma lista. Conhecendo você, pegará a caixa e se esquecerá
da areia".
"Engraçadinha",
foi a sarcástica resposta, embora nem tenha pensado em trazer outras
coisas além da caixa cama. "Volto logo. Tente manter a bola de pêlos
fora do sofá e longe das antiguidades, OK?".
xxxxxxxxx
O
shopping estava abarrotado para uma tarde de quarta-feira e Verônica terminou
tendo que estacionar no fim de uma fileira. Uma rápida pressão
no botão em seu controle e as portas azuis brilhantes do Jipe Cherokee
se fecharam e uma luz de advertência sobre o painel indicou que o sistema
de alarme estava ativado.
Levou
quinze minutos percorrendo o shopping até encontrar a loja de animais.
Uma vez dentro, caminhou até as estantes até que encontrou os
suprimentos para os gatos. Os cabides e estantes tinham de tudo, desde falsos
ratos e postes para arranhar, para morder e colares que competiam por sua carteira.
Verônica odiava fazer compras e quando a jovem atendente se ofereceu para
ajudá-la a escolher as coisas para sua nova mascote, a mulher de cabelo
escuro aceitou de boa vontade. O resultado foram setenta e cinco dólares
pela caixa, areia, jogos, alimentos, catnip, e vários outros artigos
que a jovem garota insistiu que eram necessários para fazer um gato feliz
e sadio.
Após
finalizar suas compras, Verônica foi ao hospital para saber de Rose. Ela
não estava em nada preparada para o que viu. O lençol que cobria
as pernas da jovem mulher contornava a completa largura do molde. Havia um aspecto
horrível na fileira de pontos, rodeadas por um igualmente aspecto horrível
na contusão que cobria uma das bochechas e marcas secas de lágrimas
se destacavam em seu rosto. Um intravenoso, com várias bolsas estava
pendurado ao lado, o qual dava a lesionada mulher os fluidos e os medicamentos
para a dor que ela precisava. Um cateter desaparecia debaixo do lençol.
O coração de Verônica doía ao ver a dor pela qual
Rose estava passando e pela qual teria que passar quando se recuperasse. Interiormente
estava ciente de que sua imprudência atrás do volante era a única
razão da jovem estar aqui. Como se sentisse sua presença, a cabeça
loura girou e os olhos verdes se encontraram com ela.
"Olá". Disse educadamente, sua voz um pouco
rouca.
"Olá,
Rose. Como você se sente?".
"Agradecida
de estar viva, suponho", balbuciou, seus olhos se dirigiram à jarra
de água. Verônica imediatamente se aproximou e lhe serviu um pouco
em um copo amarelo plástico.
"Aqui".
Deu-lhe o copo, mas rapidamente o segurou quando viu a mão da jovem mulher
tremer. "Deixe-me ajudar". Juntas conseguiram que a metade do copo
baixasse pela garganta de Rose antes que Verônica o devolvesse a pequena
mesa. "Você se lembra de algo sobre o acidente?".
"Não,
não realmente. Eu estava correndo... alguns homens me perseguiam... eu
fugia pelo parque e saí correndo pela rua... É tudo o que me lembro
antes de acordar aqui".
"Não
lembra nada sobre o carro que lhe atropelou?" Verônica pressionou.
"A cor, o tipo de carro, o motorista, nada?".
"Não,
nada. Desculpe. A senhora é da polícia?".
"Não".
Por dentro Verônica suspirou com alívio. Rose não podia
lembrar o que aconteceu. Com um pouco de sorte ela poderia consertar isto.
"Oh,
então suponho que está aqui para me falar sobre a conta?"
Rose perguntou, achando que a bela e bem vestida mulher era a administradora
do hospital, apesar de usar um casaco. Talvez estivesse no seu dia de folga,
Rose pensou.
"Na
verdade, preciso falar com você sobre isso, mas...".
"Eu
não tenho dinheiro", interrompeu. "Não tenho filhos,
eu não me qualifico para nenhum programa". Deu um suspiro de derrota.
"Vou lhe dar o que puder cada semana, mas temo que isto não serão
mais que cinco dólares". Resignou-se a entregar seu dinheiro do
ônibus para ajudar a pagar a incrível conta.
"Não
precisa fazer isso", Verônica disse, surpresa que alguém obviamente
com pouco ou nada de dinheiro estivesse tão rapidamente tomando a responsabilidade
financeira da conta do hospital. "Talvez seja melhor eu lhe explicar".
Rose concordou. "Meu nome é Verônica Cartwright. Sou proprietária
de Cartwright Corporation. Eu um... eu a encontrei depois do acidente e a trouxe
para cá. Quando me dei conta que não tinha seguro, lhes disse
que trabalhava para mim. Cartwright tem um excelente pacote de benefícios
incluindo cobertura médica. Você não terá que pagar
um centavo por sua assistência médica, eu prometo".
"A
senhora? Mas eles me disseram que minha chefe..." Então entendeu.
"A senhora lhes disse que era minha chefe?".
"Sim".
"Oh".
Rose parecia meditar sobre a informação. "Assim que em vez
de dever o hospital, deverei a senhora?".
"Não,
não, não. Até o final do dia seu nome será acrescentado
à lista do seguro. O colocarei na lista antes do acidente e estará
coberta".
"Mas
isto não é fraude?".
"Não,
só se não trabalhasse para mim". Maldição,, por que ela tem ser assim tão difícil? Não poderia
somente aceitar que a conta será coberta?
Verônica não podia entender por que alguém que não
tinha nada estava questionando uma boa coisa quando esta estava lhe sendo oferecida.
Talvez tenha calculado mal só porque a jovem mulher era pobre. Precisava
de mais informação. "Diga-me, onde você trabalha agora?".
"Eu...".
Rose baixou o olhar, claramente envergonhada. "Trabalho meio período
como empacotadora no Money Slasher. Devo dizer que trabalhava meio período.
Estou certa de que eles não vão conservar meu trabalho até
que eu possa caminhar outra vez".
"Tem
alguma habilidade? Quero dizer, pode digitar ou anotar alguma carta ou algo
assim?". O abatido olhar na cara da jovem mulher lhe respondeu a pergunta.
"Bom então, acho que será uma auxiliar. É um trabalho
de iniciante, mas é melhor do que empacotar comida".
"Mas
não posso trabalhar". Baixou o olhar aos moldes que cobriam suas
pernas. "Não posso inclusive nem caminhar".
"O
trabalho estará lá quando você estiver pronta. Até
lá, só concentre-se em se recuperar". Isso era
tão simples, por que estava ela fazendo tão difícil? Verônica
não previa isso.
"Senhora
Cartwright?".
"É
senhorita, mas, por favor, me chame de Verônica".
"Por
que está fazendo isto? Quero dizer, a senhorita nem me conhece".
Após uma vida de debaixo de luta e metida em um poço
fundo, um ato de tamanha generosidade era muito para que ela pudesse acreditar.
Teria que haver algo a mais em tudo isto. Tudo tinha um preço.
A
morena
pensava rapidamente, lembrando das histórias
que havia inventado em sua mente à caminho dali, se desfazendo de todas
por serem tão pobres.
"Acho que é só porque quero ajudar. Vi você
atirada na rua e agi. A única maneira de você ter seguro era lhe
fazer ser uma funcionária. Dirijo uma corporação grande
que opera várias outras pequenas. Acrescentar você a lista não
é um grande esforço. Desculpe, eu não tenho uma melhor
explicação". Outra explicação implicaria em
dizer a verdade e Verônica não podia se permitir isso. "Não
se preocupe com o porquê de eu estar lhe ajudando. Só me deixe
fazer. Agora, há alguém a quem devo contatar para informar que
você está no hospital?".
"Um...
Acho que Kim deveria saber, para que ela possa empregar alguém na minha
vaga". Rose disse de maneira reservada, triste pela perda do trabalho que
havia lutado tão duramente para conseguir. Receber uma oferta de trabalho
de uma companhia tão grande como a Cartwright Corp. era muito para se
poder acreditar. "Ela é a encarregada da noite no Money Slasher
central. Tenho que devolver o avental para receber meu último cheque".
"Era
a coisa
cinza que usava debaixo da jaqueta?"
Rose assentiu. "Temo que o médico na sala de emergência o
cortou em partes, quando estavam lhe atendendo".
"Oh".
Outra abatida olhada. "Eles descontam oito dólares pelos aventais
estragados".
"Não
se preocupe com isso", disse Verônica, não entendendo muito
bem como importante era a pequena quantidade de dinheiro para a jovem mulher.
Para Rose, esse era seu salário semanal, o qual gastava
na loja de comida e
cuja metade ia para a comida de gatos. Através
da droga que a
levava às nuvens, um pensamento veio
à ela.
"Tabitha!".
Exclamou. "Oh meu Deus, alguém tem que cuidar de Tabitha"!
"Seria
ela sua gata?".
"Sim.
Como sabe?".
"Encontrei
sua chave na carteira e fui a seu apartamento esperando encontrar um nome ou
um número de alguém para contatar para você".
"Você
a alimentou?" Sua preocupação de que alguém tivesse
ido em seu apartamento foi eclipsada por sua preocupação sobre
a única coisa que
trazia um pouco de alegria à sua vida.
"Sim,
fiz isso", Verônica respondeu quando Rose virou a cabeça,
deixando que um longo silêncio se formasse entre elas. Uma solitária
lágrima desceu pela bochecha da jovem mulher. "Hei, o que foi? Sente
dor? Precisa que eu chame a enfermeira?". A mão de Verônica
alcançava já o botão da campainha.
"Não",
a jovem mulher aspirou, limpando a errante lágrima. "É só
que..." Aspirou outra vez, "... se não estiver lá para
cuidar de Tabitha, eles a eliminarão".
"Não,
não, não. Ninguém levará Tabitha para longe de você.
Eu prometo. De fato, ela está na minha casa agora mesmo. Ela pode permanecer
comigo até que você esteja totalmente curada".
O
coração de Verônica deu um salto com o pensamento de como
havia destruído facilmente a vida de Rose. Em um momento, havia tirado
da jovem mulher seu trabalho, seu lar, e muito mais, uma dor que ninguém
merecia ter. Agora estava sentada ali, mentindo para proteger a si mesma.
"Juro que ninguém eliminará Tabitha".
"Eu...
eu posso lhe dar um cheque para sua comida. Não come muito. É
muito cômoda ". As palavras rodaram fora da boca de Rose e a mulher
mais velha não pôde deixar de perceber o desespero em sua voz.
"Não
se preocupe com isso. Por favor, concentre-se em melhorar. Tabitha ficará
bem comigo. Vivo sozinha, estou certa de que desfrutarei da companhia".
A
mulher morena estava para dizer algo, quando umas fortes batidas na porta provocaram
que ambas se virassem. O coração de Verônica saltou batendo
forte, ao avistar o uniforme azul e a placa brilhante.
"Desculpem
senhoras. Estou aqui para um relatório sobre o atropelamento e a fuga
de ontem à noite". Entrou e tirou um pequeno livrinho de sua camisa.
"Senhora Rose Grayson, correto?". Continuou sem esperar por uma resposta.
"Agora, entendo que isso aconteceu na avenida
Madison por volta da meia-noite?".
"Acho
que eram mais de doze e trinta", Rose disse.
"Sim,
doze e trinta", ele repetiu. "Agora, há algo que a senhora
possa me dizer, como a marca e o modelo do carro que a atropelou, o número
da placa, a cor?".
"Não,
nunca o vi". Virou sua cabeça até Verônica. "A
senhorita recorda?".
"A
senhorita também estava lá?". O oficial perguntou. Ninguém
havia lhe dito que havia uma testemunha.
"Eu
um... eu devo ter chegado lá justo após o acidente. Não
vi ninguém".
"Isso
certamente foi por causa do inferno da tormenta à noite. Que estava fazendo
fora de casa tão tarde, senhorita...?".
"Cartwright, Verônica Cartwright. Tive um
jantar de negócios com o Encarregado Grace no Sam’s e estava me dirigindo
para minha casa".
"Cartwright,
dos lava-jatos Cartwrights?".
"Sim,
entre outras atividades", respondeu, irritada por ver que depois de todo
seu trabalho duro a parte mais conhecida de sua companhia fosse o estúpido
lava-jato do primo.
"Bem...
então". Dirigiu novamente sua atenção a vítima
na cama. "Suponho que teve bastante sorte de que houvesse tido ela para
se encarregar de você. Parece que a golpearam bastante. Provavelmente
um motorista bêbedo. Difícil de acreditar que o bastardo não
teve a coragem de ficar e se assegurar de que a senhorita recebesse ajuda, mas
suponho que tudo o que importa é que a senhorita está viva".
"Sim,
foi muita sorte que a Srta. Cartwright aparecesse. Quem sabe quanto tempo estive
ali".
"Bem,
pode me dar seu endereço e número de telefone para o relatório,
estaremos estabelecendo tudo. Tenho que lhe dizer que não há muito
que fazer, assim então não lhe darei esperanças. A menos
que esse indivíduo seja bastante estúpido para dirigir por aí
com toda a parte dianteira danificada e admitir que estava na Madison à
noite, não há muito realmente que possamos fazer".
"Entendo"-
Rose disse reservada. Não esperava que eles encontrassem o homem que
a atropelou. "Não tenho um telefone, mas meu endereço é
rua Morris, 98".
As emoções de Verônica se encontraram entre
o alívio de ter um policial tão desinteressado em investigar o
acidente e a culpa pelo fato de que mentia para proteger sua própria
pele às custas da paz mental de Rose.
"Bem,
se houver alguma coisa que eu tenha passado por alto, creio que podemos encontrá-la
aqui. Pelo aspecto de suas pernas, acho que a senhorita não vai a nenhuma
parte por um tempo". Verônica se arrepiou com o comentário,
mas este não pareceu afetar a Rose.
"Obrigada",
a jovem mulher disse. O policial dirigiu-se para a porta e viu um amigo seu
caminhando pelo corredor.
"Hei
Jonh, espera. Senhoritas, obrigado. Estou certo de que tenho tudo o que preciso".
Saiu antes que as duas pudessem responder algo.
"Eles
não vão encontrá-lo, você sabe", disse Rose
silenciosamente. "Sei que a vida não é como na televisão.
Inclusive não sabem nem que classe de carro procurar".
Moveu-se levemente, gemendo pela dor que agora era sua companheira
constante.
"Não importa de qualquer maneira", suspirou.
"O mal já está feito. Inclusive se o encontrassem, isso não
faria com que minhas pernas sarassem mais rápidas".
Verônica
não sabia o que dizer e estava agradecida quando entrou a provadora da
televisão.
"Boa tarde senhorita...". Olhou sua prancheta. "Grayson.
Gostaria que eu ligasse sua TV?".
"Não
obrigada", disse Rose rapidamente.
"Por
que não?". Perguntou Verônica, embora estivesse certa de que
sabia a resposta.
"Não
gosto de televisão".
"Huh,
uh". A mulher morena se virou até a provadora. "Vire ela e
a deixe ligada enquanto a Srta. Grayson estiver aqui".
"São
três dólares por dia, vinte dólares por semana".
"Certo".
Verônica pegou sua maleta do chão e tirou sua carteira. "Aqui
está". Deu a mulher da televisão duas notas de vinte dólares.
"Certo".
Fez uma anotação em sua prancheta, então estendeu o braço
atrás da TV e abriu a tranca da caixa. Alguns segundos depois o televisor
cantarolou a vida com a Juíza Judy gritando ao acusado na côrte
de julgamento, no programa de tv.
"Aí
está, agora você terá algo que lhe ajude a passar o tempo",
disse Verônica depois que a provadora saiu.
"Você
não precisava fazer isso", Rose respondeu, se sentindo muito incomoda.
"Poderia ter ficado bem sem isso. Você esteve em meu apartamento.
Sabe que não possuo uma TV". Suspirou. "Além disso,
o que quer que eles estejam me dando para a dor me cansa. Não sei quanto
tempo estaria assistindo-a. Certamente não por vinte dólares".
"Vamos
fazer um trato, Ok? Você precisa de ajuda e desejo ajudar. A televisão
está paga agora. Pode aceitar e desfrutar dela ou pode deixá-la
desligada e olhar fixamente para a tela desligada o dia todo".
O
barulho da televisão interrompeu sua conversa.
"...
E se o senhor pensa por um minuto que acreditei que algum estranho se meteu
em seu apartamento destroçando-o e roubando tudo o que pertencia ao seu
companheiro de quarto aqui, e deixou todas suas coisas no lugar, então
o senhor é um completo idiota. Não nasci ontem, senhor Richards.
A pena para o demandante é a quantia de seiscentos e cinqüenta e
três dólares e doze centavos. Caso encerrado". Verônica
virou-se para ver Rose observando com completo interesse.
"É
como estar em um julgamento", a jovem mulher disse, não deixando
de dar atenção ao televisor.
"É
um bom programa".
"Tem
toda semana?".
"Todos
os dias, Rose. Pode assistir todos os dias ao meio-dia". Sorriu e sussurrou
de maneira conspiradora. "Estou muito ocupada para assistir quando está
passando, mas o gravo e o assisto no fim de semana".
"Obrigada",
a jovem mulher disse sinceramente, seus olhos verdes sorriram a Verônica.
"Isto fará com que seja mais fácil passar o tempo aqui".
"É
o mínimo que eu podia fazer". Reclinou os braços no corrimão
da cama."Então vai me dizer a quem eu posso contatar além
de seu trabalho, para
dizer que você está
aqui? Com certeza alguém deve estar sentindo sua falta".
O
pequeno sorriso que havia estado no rosto de Rose desapareceu. "Não
há ninguém a contatar".
"Ninguém?
Nem sequer um amigo?" Rose deu um triste sorriso.
"Não
vivo em Albany há muito tempo", disse, não desejando revelar
a verdade, de que havia evitado deliberadamente fazer amigos porque os amigos
iriam querer ir à sua casa visitá-la e estava muito envergonhada
das condições em que vivia. Ela mudou de posição
e uma dor
queimou em sua perna esquerda, fazendo com
que ela gritasse.
"Oh
Deus, isto dói !" - silvou.
Verônica
imediatamente pressionou o botão de chamada várias vezes.
"O
que foi?" Mary perguntou quando entrou no quarto.
"Ela
sente dor. Não pode lhe dar algo?".
"Ela
está recebendo uma quantidade apropriada através de sua intravenosa,
mas se precisar de mais posso lhe dar uma injeção". Olhou
para Rose, que estava tentando dificilmente não chorar. "Srta. Grayson?".
"Sim,
está. Você não vê que ela está sofrendo?".
Replicou Verônica de maneira irritada.
"Srta.
Grayson?"
a enfermeira repetiu.
Rose contra a vontade assentiu, a dor era muita para resistir
mais tempo. Para sua surpresa, uma mão grande envolveu a sua própria.
Outra pontada de dor disparou através dela e então ela agarrou
a mão de Verônica firmemente. A enfermeira saiu e voltou um minuto
depois com uma agulha. Ela puxou o lençol pouco cerimoniosa e a bata
de hospital para trás, expondo o quadril direito de Rose onde enfiou
a agulha dentro. "
Isto
arderá um pouco". A mão da jovem mulher agarrou a de Verônica
mais forte quando a medicação foi injetada. "Pronto, tudo
feito". A enfermeira levantou o olhar para a mulher de cabelo negro. "Provavelmente
cairá adormecida em poucos minutos".
"Não
vou ficar muito tempo".
A enfermeira assentiu e saiu, não se incomodando de puxar
o lençol novamente para seu lugar. Verônica utilizou sua mão
livre para cobrir o quadril de Rose com o linho branco.
"Quer que eu fique mais um tempo até que você
adormeça?".
"Não,
é...". ela não pôde conter um bocejo. "... Está
bem...eu estou muito bem".
A
potente droga atuava rapidamente, fazendo com que sua cabeça pendurasse
de lado e seus olhos adquirissem um brilho vidroso.
"Tem
certeza de que você não é
um anjo?" Perguntou, adormecendo quando suas pálpebras cederam.
"Você parece
um anjo...” outro bocejo, "... age como um..." Seus olhos se fecharam
e a mão que havia estado segurando a de Verônica caiu de maneira
frouxa ao lado.
Verônica
esperou vários minutos até que esteve certa de que Rose estava
adormecida antes de se colocar de pé e remeter a manta ao redor da mulher lesionada.
"Durma bem, Rose", ela sussurrou.