No prefácio, o Autor informa: "Este livro, como POEMAS, foi, quase todo, vivido e escrito na minha aadolescência. (...) vem assim a lume NOVOS POEMAS. Novos poderia ser eles, para mim, na época em que foram vividos e escritos. Hoje, parecem-me velhíssimos. É que, às vezes, quando releio estas páginas, nem conheço mais aquele rapaz lírico, de cabeleira boêmia... Destes poema ao CANCIONEIRO DE VIRA-MUNDO há uma separação de alguns anos; uma longa viagem feita pelo ideal, numa distância muito sensível. A vida..." O crescimento do Poeta, assim, reflete-se em sua obra, que o leitor pode conferir da leitura deste volume, do qual extraímos os versos a seguir. |
Após o livro "Poemas", de 1942, que recebeu o Prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca, Camillo tem publicado este volume, quase que em edição de bolso, com o título de "Novos Poemas", e consigna ter sido "mandada fazer pelos amigos do poeta". |
Release |
CAMILLO DE JESUS LIMA: NOVOS POEMAS |
Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2003 |
Vivendo o mundo os horrores da Segunda Guerra Mundial, a revolta e o clamor do poeta se fazem vívidos, qual uma "Guernica", assomando nos versos seguintes: |
A Nostalgia dos Bois |
Morre, aos poucos, a tarde em angústia silente. Cessa o rijo labor da casa-da-vivenda. Braços caídos, surge, extática, a moenda Do verde canavial, vaga e indistintamente. E os grandes, mansos bois, seguem, placidamente, Chifres curvos no ar, pela espinhosa senda Que vai dar ao curral longínquo da fazenda, Clamando sem parar, filosoficamente... O horizonte é carmim e opala. Na retina De cada boi, que mais se abre e se ilumina, Destaca-se, fiel, a paisagem nativa: Pastos, morros, currais e moendas... Depois Ouvem, longe, aboiar... Mugem os grandes bois, Tendo em cada mugido uma súplica viva... |
Quando Assassinam as Crianças |
Flameja, olho feroz, um sol de brasa. Voa no céu lúgubre coorte De asas negras de aviões lançando a morte. Troa e atroa a metralha e tudo arrasa. Dir-se-ia que Satã, no roçar da asa, Semeara o mal e o horror, de sul a norte. A terra é tinta de um vermelho forte, _Sangue que mil veias extravasa. Vozes pede socorro, desvairadas. Pernas sangrentas... carnes laceradas... Trágicos trismos de mil bocas tortas... E a sirene gargalha, em voz tremenda, Ogre mau e fatídico de lenda, - Vendo as feridas de crianças mortas... |
Mesmo em curtas poesias Camillo provoca no leitor o sentimento que retrata, e isto se traduz sem favores - pois o poeta fala por si, alheio e acima dos adjetivos: |
Meditação |
Quando eu pus os olhos no chão E fitei as pegadas de Cristo, Vi o rastro de todos os mártires Da maldade humana e da incompreensão dos homens... |