FHC e o Consenso de Washington

Cumpriu tudo o que havia sido acertado para benefício dos interesses externos
Artigo do jornalista Hélio Fernandes, jornal Tribuna da Imprensa, Rio, 14/11/2008

Esse acordo tenebroso, traidor e que pode e deve ser chamado de CRIME HEDIONDO começou assim que FHC tomou posse em 1º de janeiro de 1995. (Primeiro mandato, mas já estava garantido que o FMI faria o possível e o impossível para conseguir o segundo. O FMI não teve o menor interesse nas pretensões de Menen e Fujimori, apesar de apoiá-los).

Mas o FMI tinha 3 fortes razões para ficar entusiasmado com a REEELEIÇÃO de FHC.

1 - Era o Brasil.

2 - FHC era CONFIÁVEL.

3 - Estivera presente nos "consensos" de 1983 e 1992.

Logo depois da posse, FHC começou a executar o que o FMI botou em cima de sua mesa, e que ele já conhecia muito bem das reuniões de 1992 em Washington. Nessa reunião, DESMORALIZADAMENTE, todas as reivindicações, esperanças e, digamos a palavra certa, E-X-I-G-Ê-N-C-I-A-S do FMI foram exibidas. Durante muitos anos ficou em sigilo-confidencial-secreto.

Vejamos então, resumidamente, o que o FMI COMBINOU, CONTRATOU ou COORDENOU com FHC e foi integralmente cumprido pelo doidivanas (que Lula agora chama de aloprados do PT-PT) do PSDB. Leiam com atenção os itens abaixo, constatem: TUDO FOI FEITO INTEGRALMENTE POR FHC.

1 - Aumentar as importações em 17,5% para que ficassem nos níveis de 1994. No segundo ano a redução seria de 40%. (É isso que se chama "criar emprego lá fora e não aqui dentro").

2 - Reduzir 20% da força brasileira de trabalho, o que seria facilitado pelo aumento das importações. (A equação é conhecida: MAIS importação, MENOS emprego).

3 - Mudar o sistema de INDEXAÇÃO de salários, baseado num PLANO GENIAL, segundo o FMI, "a grande âncora para o progresso".

4 - De acordo com o FMI, essa iniciativa da PROSPERIDADE teria que ser baseada na ÂNCORA CAMBIAL e numa INDEXAÇÃO da inflação, FALSA e FRAUDULENTA. (Assim foi feito).

5 - Drasticamente, acabar com todos os planos e projetos da indústria pesada no Brasil.

6 - Reduzir ao máximo possível a construção de plataformas marítimas, estações hidrelétricas e termoelétricas.

7 - Desistir completamente dos projetos de desenvolvimento com os Tigres Asiáticos.

8 - Cortar todo e qualquer crédito subsidiado para a agricultura e indústria reprodutiva.

9 - Esses subsídios deveriam sofrer, no mínimo, no mínimo, um corte de 10 BILHÕES DE DÓLARES.

10 - Facilitar o mais possível que ESPECULADORES estrangeiros comprassem o controle de empresas brasileiras.

11 - As melhores compras seriam a de empresas brasileiras, urgentemente precisando de capital.

12 - Mas essas empresas estrangeiras que viriam para o Brasil não trariam capital, obteriam aqui mesmo. Em reais, que remeteriam em dólares.

13 - Com isso, aumentaria incessantemente a DÍVIDA INTERNA, na maior parte com as multinacionais.

14 - Acelerar o processo de privatização, começando pelas maiores empresas.

15 - Manter os juros no maior patamar possível, "pois isso permitiria a ENTRADA de capitais".

16 - As privatizações deveriam começar obrigatoriamente com a Vale do Rio Doce, de acordo com o encontro de Washington.

17 - Depois viriam Petrobras, Banco do Brasil e todos os bancos estaduais, empresas elétricas como Furnas, Chesf e outras.

18 - Reduzir o mais possível o aumento da população. Quanto maior a população, maior a necessidade de emprego.

19 - Com a população crescendo e o emprego diminuindo, seria quase certa uma revolta popular, que anularia o plano.

PS - Impressionante: tudo foi rigorosamente cumprido. "Eles" desistiram do terceiro mandato para FHC, por dois motivos. 1 - Consideravam que poderia haver repercussão altamente negativa.

PS 2 - Já haviam perdido o medo de Lula, consideravam que o ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO seria uma espécie de festa de 31 de dezembro nas praias brasileiras.

A Vale não falha. Vai instalar usina a carvão. Na Amazônia. Além do mais, carvão importado da Colômbia. Por que isso? O carvão é o maior poluidor do mundo. Quem estaria por trás?

Dentro da nova realidade mundial (o CAPITALISMO-SOCIALISTA), a Vale deveria ser REESTATIZADA. E teria que indenizar tudo o que ROUBOU do cidadão. E a intermediária, Merril Lynch, também.

O Brasil, cada vez mais surrealista. Numa entrevista à repórter Sheila D'Amorim, publicada hoje (ontem) na Folha de São Paulo, Fabio Barbosa (ex-secretário do Tesouro Nacional no início do governo FHC, hoje presidente do Santander e da Federação Brasileira de Bancos), afirma que é apenas lenda o que dizem que os bancos particulares ganham com a compra de títulos do governo.

Ora, eles lastreiam a dívida interna de 1 trilhão e 298 bilhões de reais. Se não ganhassem, não absorveriam os papéis.

Outra coisa. O saldo das cadernetas de poupança está em torno de 230 a 240 bilhões. Para os clientes, as aplicações são diferentes. Para os bancos, as mesmas. Os 230 bilhões das contas de poupança estão nos fundos de investimento.

Só que enquanto as cadernetas giram com 0,6 por cento ao mês (no máximo), os fundos com 0,9 por cento no mesmo período. A diferença é de 0,3 por cento. Em cima de 230 bilhões, dá em torno de 700 milhões mensais.

Confiram. E quem fica com essa DIFERENÇA de 700 MILHÕES? Lógico, D-I-V-I-D-I-D-A.
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O Banco do Brasil não quis comprar o Unibanco, essa era a intenção do governo.

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Agora o BB entra no mercado comprando, e fazendo propostas (tentadoras) a vários bancos pequenos. A direção do BB já fez contatos com o Banco do Piauí, o Banrisul (Rio Grande do Sul), Nossa Caixa (essa bem maior), Bando de Brasília e até o Votorantim, da família (e das empresas) Votorantim, dos Ermirios de Moraes.

Curiosamente, o BB, que não queria ser comprador, agora quer crescer "em massa", a qualquer preço. Então por que não comprou o Unibanco, "que nem parece banco?" Essa nova orientação (?) do BB será um obstáculo enorme no caminho do Bradesco, que pretendia comprar exatamente esses bancos, e já começara a conversar.

Não existe a menor dúvida de que os bancos "compráveis" serão beneficiados, com a existência de dois grupos compradores. O Bradesco pode fazer proposta e cumpri-la. Não é a mesma situação do BB, que não tem autonomia para isso. Tem que consultar (e atender?) muita gente. O mercado ficará atraente.

Clube dos 20 tenta derrubar o monetarismo neoliberal do FMI


Artigo do jornalista Pedro do Coutto, Tribuna da Imprensa, 14/11/2008

Reunido no final da semana passada na capital, o agora chamado Clube dos 20, reunindo países que representam 85 por cento da economia mundial, entre eles o Brasil, apresentou como consenso a necessidade de aumentar os gastos públicos e reduzir os juros para conter e superar a crise financeira que se espalhou pelo mundo. A reportagem sobre o assunto, de Clóvis Rossi, está publicada na "Folha de S. Paulo" de 10 de novembro.

Sinal dos tempos, pode-se interpretar. Aliás, de novos tempos. Isso porque de 1945 para cá, o Fundo Monetário Internacional, por exemplo, sempre defendeu a corrente oposta. Ou seja: no monetarismo contra o desenvolvimentismo. A dualidade, em nosso País, inclusive, esteve em confronto no governo Juscelino. Foi a razão, vale lembrar, em 1959, da demissão de Roberto Campos da presidência do BNDE, hoje BNDES, e de Lucas Lopes do Ministério da Fazenda. Não existia dívida interna, vejam só os leitores. Ela hoje é de 1 trilhão e 298 bilhões de reais.

A dívida externa, nos anos dourados de JK, mesmo com as despesas com a construção de Brasília, não chegava a 2 bilhões de dólares. Mas os monetaristas, Hermógenes Príncipe conta em seu livro sobre JK, propuseram ao presidente da República paralisar as obras para que o Brasil não desabasse no abismo inflacionário. Juscelino, segundo narra Príncipe, respondeu que não admitia passar à história como criador de elefantes brancos. A expressão é textual. No dia 21 de abril de 59, em conferência sobre petróleo no Clube Militar - eu estava cobrindo para o "Correio da Manhã" -, anunciou a demissão de Campos.

Foi mais discreto em relação a Lopes, seu velho amigo de Minas. O demitiu da Fazenda, substituindo-o por Sebastião Paes de Almeida, mas nomeando-o titular de um cartório de notas e ofícios. Além de amigo, JK tinha uma dívida de gratidão com Lucas Lopes.

Em 1955, ele era ministro dos Transportes do governo Café Filho. Quando Café anunciou o rompimento frontal com a candidatura Kubitschek, Lucas demitiu-se da pasta. Foi substituído pelo engenheiro Marcondes Ferraz, indicado pelo governador Jânio Quadros, como um dos preços para apoiar Juarez Távora. O outro preço foi a nomeação de José Maria Whitaker para o Ministério da Fazenda. Withaker substituiu Eugênio Gudin. Mas estas são outras questões.

O fato é que, pelo que vejo, os conceitos econômicos mudaram muito. Entre eles os que regeram a ditadura militar que se instalou no País em 64 e durou até 85, quando José Sarney substituiu o general João Figueiredo na presidência da República. Só se falava em conter gastos públicos e reduzir salários, sanear a moeda, aumentar os juros, fazer crescer o bolo para depois dividi-lo. Roberto Campos foi o primeiro ministro de fato de Castelo Branco. Delfim Neto, de Costa e Silva e Médici. O FMI comandava o espetáculo da modernização num primeiro estágio, o milagre brasileiro no segundo.

A bolsa de valores disparou. O mercado acionário era a principal atração. Isso em 70, logo após a vitória na Copa do Mundo do México. A euforia com o futebol merecidamente permaneceu. Mas com o desempenho das finanças, desabou. Em 72, as bolsas do Rio e de São Paulo (a do Rio ainda existia e era forte) despencaram. Corretoras que bancaram posições foram tragadas, pois os papéis que transacionavam em parte eram apenas virtuais. Não existiam concretamente. A visão monetarista permanecia. E comandava.

Fez história, inclusive. Recuou nas administrações Sarney e Itamar Franco, porém foi retomada a todo vapor nos oito longos anos de Fernando Henrique. Os salários perderam direto para as taxas inflacionárias do IBGE, a favelização tornou-se mais veloz. Os preços dos aluguéis e as prestações da casa própria subiram muito mais do que o reajuste dos valores do trabalho.

Tal política faz-se sentir até hoje. As locações e prestações são regidas pelo IGPM da Fundação Getúlio Vargas. Este ano o índice avançou em torno de 15 por cento. O dobro do que as correções médias dos vencimentos. Como o dólar disparou no segundo semestre, se não recuar, os reajustes em 2009 serão terríveis. Como a população poderá cumprir os contratos de financiamento e de aluguel? A pergunta fica no ar. O avanço do dólar é uma conseqüência direta da crise financeira, que começou com o subprime americano e se alastrou como um terrível vírus do impasse financeiro. O que aconteceu agora?

Para neutralizar a ação perversa desse vírus, em vez de monetarismo, desenvolvimentismo. Ampliação dos gastos públicos, expansão do consumo com apoio estatal, absorção de largas quantidades de ações (pelo estado) de empresas abaladas, queda dos juros, tudo, exatamente tudo, ao contrário do que sempre pregou o FMI em sua bíblia econômica. De forma tão intensa que os países que não se submetessem a tal cartilha eram excluídos da renovação de créditos para cobrir os déficits de suas contas externas.

Agora tudo mudou. Tudo está diferente. Em vez de contenção, ampliação das despesas. Em vez de política monetarista, impulso desenvolvimentista voltado para o consumo imediato logo de cara. Vejo que JK tinha razão. A sociedade universal está muito mais voltada para o consumo do que para qualquer outra coisa. O monetarismo - quem diria? - acabou defendendo soluções estatizantes. Nada como um dia depois do outro. E uma noite no meio.

Os malandros da jogatina financeira e os ingênuos

Artigo do jornalista Carlos Chagas, extraído do jornal Tribuna da Imprensa, Rio de Janeiro, 15/11/2008

BRASÍLIA - Parece um absurdo, e certamente será, imaginar a estatização da General Motors e da Ford, na iminência de falirem. Mas é o que indica o noticiário econômico internacional. Apesar de favorecidos com parcelas dos 700 bilhões de dólares liberados pelo governo dos Estados Unidos, montes de multinacionais estão no vinagre. A GM, por exemplo, precisa receber 14 bilhões de dólares ao mês, para não fechar.

Multiplique-se essa situação por boa parte das megaempresas, exceção por enquanto às petrolíferas, e se terá a receita das proporções da crise mundial. Sem esquecer, é claro, os reflexos aqui nos trópicos, atingindo as sucursais das estrangeiras e muitas empresas nacionais, novamente com a exceção da Petrobras.

Chegou a hora de parar com essa piada de atribuir a crise aos cidadãos americanos que compraram casas a crédito, hipotecadas a bancos e financeiras, agora sem condições de saldar seus débitos e gerando a bola de neve que nos assola. Isso pode ter acontecido, são prováveis, até, que as hipotecas não honradas tenham acendido o rastilho da lambança, mas a verdade é que a crise situa-se muitos anos e patamares acima.

A principal vertente desse horror nasceu da ambição desmesurada de bancos, similares e até de empresas sem objetivos financeiros, de faturar fora de seus objetivos específicos de produzir, comercializar e prestar serviços. Jogaram todos na especulação e no lucro fácil, com base na mentira do fim da História e da prevalência absoluta do capitalismo selvagem. Apostaram no reinado eterno do mercado. Sacaram contra o futuro, dando de ombros para o fato de que aos papéis não correspondia a riqueza.

Em paralelo, através de mentirosa propaganda, valeram-se da ingenuidade do cidadão comum, levado a embarcar no engodo da aquisição de bens muito acima de suas posses e de sua capacidade de honrar os compromissos. Casas, automóveis, eletrodomésticos e quanta coisa a mais eram e são oferecidos pelas telinhas e sucedâneos numa espécie de ciranda do absurdo?

O casamento entre malandros e ingênuos durou algum tempo, desde o fracasso dos regimes socialista-ditatoriais, numa bolha denominada neoliberalismo. Acabou estourando, apesar de ainda assistirmos desesperadas propostas para não deixarmos de trocar de carro ou de comprar apartamentos, tudo a perder de vista. Só que diante dos trouxas ergue-se a sombra da inadimplência e da perda, ampliada com as já iniciadas demissões em massa, responsáveis pela multiplicação da quebra de compromissos e suas conseqüências.

Pois bem, diante da débâcle do modelo volta-se a apelar para a mesma fonte de sempre: o Estado. Cabe a ele, gestor das reservas monetárias da sociedade, acudir os malandros, mesmo sem fazer muito caso dos ingênuos. Porque os tesouros de todos os governos do planeta, quando existem, vêm sendo encaminhados para socorrer multinacionais, bancos e grandes empresas em estado falimentar. São centenas de bilhões e até trilhões mobilizados todas as semanas. Já o comprador que não pode honrar as prestações de casas, automóveis e tudo o mais, esse, coitado, perde os bens antes adquiridos.

Assim funciona a crise atual, com o poder público autorizado a comprar ações das empresas em decomposição, para salvá-las, salvando talvez também parte de seus empregados, mas já diante de outra malandragem: deve ser temporária, restrita a intervenção do Estado. Mesmo que em alguns casos tenham ou venham a ser agora estatizadas determinadas atividades, ao primeiro sinal de melhoria da crise precisará o Estado preparar-se para privatizá-las. Novamente, com dinheiro público, da sociedade, chegando às raias da irresponsabilidade.
Vale repetir: tem gente que não aprende nada. Tem gente que esquece tudo...

A propósito

Conta o neoliberal senador Artur Virgílio, líder do PSDB, uma história capaz de aplicar-se aos parágrafos acima. Um desses potentados, especulador e banqueiro, foi ao interior ver se conseguia faturar um pouco mais à custa da ingenuidade dos outros. Para pagar o mínimo pelo aluguel da canoa que atravessaria o rio começou a denegrir o remador. "Você sabe inglês?" "Não." "Tem curso de computação?" "Não." "Já leu os novos autores da economia moderna?" "Não."

Quando o malandro ia propor remunerar a travessia com apenas um real, a canoa virou no meio do rio. Foi quando o caboclo perguntou: "O senhor sabe nadar?" "Não." "Pois eu sei...".

 

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