Apresentação
A grande insatisfação existencial
das pessoas nos dias de hoje parece mostrar claramente que temos de reencontrar
novamente um significado mais humano para nossas vidas. Reencontrar o encanto
que tínhamos ao ver o nascer do sol ou o vôo de um beija-flor,
quando então experimentávamos uma compreensão intuitiva
que nos preenchia de um certo encanto estético e emotivo muito além
do que nos é dado pelo quadro reducionista da ciência atual
com o seu processo racionalista e lienar de "entendimento" das coisas.
Através da História, em vários
lugares e em várias épocas, homens e mulheres - gigantes
na alma e humildes, muitas vezes, na sua apresentação - nos
deixaram exemplos de vida e nos indicaram caminhos para uma vivência
harmônica entre o eu individual e o meio em que se vive, quer seja
natural, quer seja social. Caminhos que, se certamente foram escolhas pessoais
deles para sua maturação espiritual, certamente nos servem
como referência, como faróis a dizer: cuidado com algumas
pedras no caminho.... Também nos mostraram que a vida pode ser uma
aventura significativa quando assumimos a inicativa de nos descobrirmos
como indvíduos únicos e, ao mesmo tempo, irmãos de
uma grande família universal.
Acredito, pessoalmente, que hoje já não
se faz necessário a busca "gurus" para que nos iniciemos na busca
da auto-descoberta, ou, como diria Jung, para
a individuação. Basta a vontade firme e o desejo do autoconhecimento
para desenvolvermos a sensibilidade para encontrar as informações
que nos façam crescer. No fundo, o nosso desenvolvimento psicológico
é uma obra só nossa. Mas isso não quer dizer que tenhamos
de fazer o caminho a sós. Precisamos sim de companheiros e amigos
de ideais. É sempre bom termos alguém com quem copartilhar
idéias afins, com o olhar voltado a um mesmo objetivo.
Hoje o conhecimento humano está disseminado e
está, em parte, mais acessível, já não se encontrando
tão rigidamente submetido nas mãos de poucos - embora o acesso
às informações mais fundamentais para a maturação
da conscientização política, econômica e espiritual
do homem ainda sejam altamente manipulados, fiscalizados e sujeitos a um
rígido controle pelas classes dominantes, zelosas em manter seu
poder sobre o pensar do povo - o que faz do conhecimento, ou sua guarda,
uma ferramenta de dominação. Podemos encontrar o pensamento
fundamental de todas as principais correntes filosóficas em livros
ou, neste caso, em páginas feitas por pessoas de todas as culturas
e profissões, de modo altruísta, na internet.
Devemos, também, ter cuidado ao nos pormos à
caminho. Como nos fala Clotilde Tavares, existem inúmeros falsos
mestres que nos fazem olhar as etrelas e buscar a transcendência
mas que, ao mesmo tempo, não têm o mínimo escrúplo
de por as mãos ávidas em nossos bolsos, comercializando toda
sorte de quinquilharias e muletas psicológicas, e/ou se fazendo
mestres de um pseudo-conhecimento sobrenatural que se baseia em uma boa
dose de exploração material. Estes fazem parte do enorme
contigente dos hipócritas de todos os tempos. Na verdade, não
há motivos para que se comercializem as coisas santas, a não
ser que se queira exercer algum tipo de poder sobre as consciências
humanas, como sempre o fizeram as instituições religiosas
hierarquizadas de todas as épocas. Nisso também podemos incluir
a ciência, estreitamente vinculada ao universo econômico e
ideológico do sistema capitalista em que vivemos, e que, hoje, também
pode ser considerada uma espécie de religião institucionalizada,
com seus cientistas-sacerdotes que nos impõem sua forma de compreender
o mundo como sendo a única válida - forma este bem concorde
com a ideologia e a forma de ser de uma sociedade industrializada, massificada,
alienada e mecanizada.
Como disse Cristo, o Reino está dentro
de nós, e apenas nós mesmos é que temos a chave para
adentramos em seus encantos. E é a partir de nosso reino psicológico
interno que transformaremos a nossa percepção e, assim, a
configuração da realidade externa.
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
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